Capítulo 1 (não revisado)
Na nave auxiliar Jessy A I, Daniel preparava-se para o combate. Todos os tripulantes estavam de prontidão rigorosa e os reatores iam sendo ligados. Apreensivo, ele pensava se aquela pequena esfera de cinquenta metros de diâmetro poderia cumprir a sua finalidade e enfrentar trezentas naves cilíndricas, a maior parte delas com oitenta metros de comprimento por vinte de diâmetro. Tinha, entretanto, uma fé inabalável nos seus inventos. Se os campos de força não fossem suficientes, a manobridade da nave seria o bastante para que se safasse do fogo concentrado por parte do inimigo. Entretanto, ficaria muito mais tranquilo se a sua nave, a Jessy, já estivesse ali. Para infelicidade de todos, ela ainda não estava terminada. Esperava que desse tudo certo mas não era leviano a ponto de deixar de se preocupar com esses detalhes, apesar de saber que a sua nave auxiliar era superior em tudo às naves inimigas. Sentou-se na poltrona do comandante e observou em volta. A sua tripulação, embora pequena, era eficiente e muito bem treinada. Orgulhoso dos seus homens, os quais ele mesmo treinou, disse:
– Atenção à tripulação, preparar a nave para o combate. Engenharia, mudar os reatores para manual e pôr todos a cem por cento. O intercomunicador passará aficar aberto em toda a nave.
Um forte zumbido fez-se ouvir na esfera e alguns alarmes de alerta dispararam. Todas as janelas começam a fechar, dando lugar a gigantescas telas holográficas que traziam as imagens do exterior com tamanha perfeição que parecia que estavam lá fora. Na calota superior, uma escotilha abriu-se e o canhão bipolar saiu do seu esconderijo.
– Reatores prontos, senhor – disse a voz do engenheiro, que estava no coração da nave, a engenharia, pouco mais de vinte metros abaixo deles.
– Quero um check list completo.
– Armamentos ok.
– Pilotagem ok.
– Navegação ok...
– Armamento, preparar campos de força, mas não erga o campo de supercarga. Quero avaliar o poder defensivo da nave camada por camada. Isso pode ser importante para sabermos os nossos limites ao entrar no atrito.
– Campo repulsor e campo de força ativados, comandante.
– Piloto, eu assumo o controle manual da nave, mas prepare-se para mergulhar no espaço intermediário ao meu sinal. Navegador prepare o curso de um mergulho emergencial para uma hora luz de modo a ser usado em caso de necessidade e não esquecer o de retorno. Comunicações, abrir todos os canais, mas não responder a nada exceto quando eu determinar.
Toda a conversa foi ouvida pela nave inteira porque, em modo de combate, os canais de comunicação e o intercomunicador ficavam abertos exceto quando o comandante queria o contrário. Na opinião dele era mais seguro e poderia salvar vidas em caso de serem atingidos.
Daniel continuou:
– Atenção aos passageiros. Em dez minutos entraremos em combate com os alienígenas. Procurem ficar sentados em lugares confortáveis. Quem quiser vir para a sala de comando, sinta-se à vontade.
– Senhor Moreira – pediu um dos cientistas ao interfone. – Não seria possível adiar este confronto por cerca de uma ou duas horas? É que estamos discutindo um trabalho muito interessante e...
– Sinto muito, doutor, mas terão de aguardar. Saímos em poucos minutos – disse Daniel sorrindo. – "Certos cientistas nunca mudam, mesmo que o mundo esteja acabando, debatem os seus trabalhos" – pensou, alegre, esquecendo-se que também era um deles.
– "Eles são assim mesmo, amor" – afirmou Daniela, que estava sempre sintonizada com ele – "Mas são pessoas sensacionais, Dan, nem imaginas o amor e dedicação que tinham comigo, me ensinando a sua arte."
– "Eu imagino sim, princesa, imagino e sei."
Após cinco minutos, o doutor Chang, três dos cientistas, Chien e os seus três amigos, apareceram e Daniel indicou poltronas para todos.
– Computador, assumo o posto de pilotagem. – Duas bandejas deslocaram-se nos braços da cadeira, surgindo uma série de controles, quase todos virtuais, imagens holográficas de joysticks e vários botões de comando em três dimensões. Apenas alguns poucos controles eram físicos. – Navegação, o mergulho de emergência foi programado?
– Sim, comandante. Estamos prontos.
– Atenção, vou começar. Acionando neutralizadores de inércia e de massa.
A pequena nave tornou-se quase desprovida de qualquer massa, o que lhe permitia acelerações absurdas. Os neutralizadores de inércia impediam que, dentro da nave sentissem os efeitos dela.
– Dez segundos para o tempo zero. Nove, oito... – Nobuntu iniciou a contagem regressiva e, no exato último segundo, a pequena astronave disparou para fora da cratera lunar como que catapultada repentinamente, saindo do seu esconderijo na primeira lua de Terra-Nova. Acelerando a mais de mil g e com uma volta enorme para que os tantorianos não soubessem de onde vieram. Assim que se viram fora da cratera, Daniel ativou os jatopropulsores e os reatores vibraram até a compensação ser equalizada. Em menos de quatro segundos, ela atingiu a metade da velocidade da luz.
O Doutor Chang conhecia muito bem espaçonaves. Como aquela, ele jamais vira. Era a primeira nave em que ele entrou que possuía controles individuais comandados por uma única pessoa, sem falar que eram quase todos virtuais. O rapaz, seu futuro genro, conduzia aquele aparelho como se estivesse pilotando um carrinho esportivo, mantendo uma segurança impressionante e assustadora. Sabia que o jovem era um portador de altíssimo grau, como a filha, e isso fazia dele um ser ímpar, mas, mesmo assim, conceber e criar o que ele fez naquela nave não era para qualquer um. Por isso, observava o genro com admiração incontida.
Com toda a atenção na enorme tela holográfica à sua frente, Daniel conduzia o aparelho para a formação inimiga, rumando desabalado para o meio da esquadra. Ao chegar perto, desacelerou a nave usando o máximo da potência que os jatopropulsores de partículas direcionais permitiam. Um alarme tocou, mas foi logo silenciado.
– Engenharia, relatório. – Daniel não perdia um único detalhe, sendo meticuloso e exigente consigo mesmo.
– Propulsor de partículas a cento e dez por cento mas já está recuperado da pequena sobrecarga, comandante. Reatores normais, a cem por cento. A requisição não chegou a cinco. Nada de anormal e a nave está em ordem.
– Ótimo, porque a coisa agora vai esquentar. Sugiro preparar os equipamentos para suportarem algumas sobrecargas. Mande todos os robôs ficarem ativos e em alerta prioritário. – Sem esperar resposta, falou mais alto. – Senhores passageiros, seremos atingidos por fogo inimigo em breve. Poderemos ter algum barulho, mas mantenham a calma porque não corremos perigo imediato. Esta pequena nave tem campos de força que não há igual em todo o Império do Sol.
Daniel dizia aquilo para acalmar os passageiros, mas tinha um certo receio, já que eram trezentas naves pesadamente armadas que ia enfrentar e sem conhecer grande coisa dos armamentos inimigos, embora soubesse que o potencial energético deles era bastante inferior.
– Comandante – informou o oficial de armas. – A frota avança sobre nós. Dispararam um torpedo, e os sensores indicam que é uma ogiva atômica. Impacto em dez segundos.
– Obrigado – respondeu Daniel. – Um só não é problema. Isso até será muito bom para avaliarmos a nossa capacidade defensiva antes de iniciarmos a escaramuça.
A bomba atômica atingiu o campo de força da nave, provocando um brilho intenso e um zumbido proveniente dos equipamentos solicitados. Salvo por isso, nada aconteceu à nave, que resistiu com facilidade ao ataque, conforme previsto pelo Daniel. Fascinados, os passageiros observavam tudo, mas os tripulantes envolvidos estavam concentrados nos seus instrumentos e telas. Eram forçados a deixar para rever o combate depois, quando reprisassem o filme do ataque. Do contrário, corriam um sério risco de serem aniquilados.
– Relatório.
– Campos de força solicitados em um por cento, comandante. O nosso barco aguenta muito mais do que isto.
– Certo, vamos avançar. – Devagar, ele acelerou a nave em direção aos invasores. Desta vez, foi com aceleração lenta, na intenção de lhes mostrar a superioridade completa. Mais uma vez, foram atingidos, daquela vez por vinte mísseis.
– Afinal, eu tinha razão, os armamentos deles não são páreo para nós, mas nutria uma pequena dúvida.
– Vinte por cento de solicitação, senhor.
– Preparar canhão térmico.
– Senhor, temos duzentos misseis a caminho. Impacto em cinco segundos.
– Erguer campos de supercarga.
– Não dá, comandante – gritou o subordinado – os campos não estabilizarão a tempo.
– Ligar campos – insistiu Daniel. Com um movimento rápido a nave acelerou perpendicular às ogivas, que mudaram o rumo para tentar atingi-los. A seguir Daniel passou a rodar em espirais crescentes para depois dar uma pirueta, deixando os espectadores pálidos quando passou raspando os mísseis, que deram a volta e continuaram a perseguição, aproximando-se devagar. Um zumbido fraco fez-se sentir na nave e no seu exterior formou-se um brilho muito delicado, branco, quase transparente, mostrando o campo de força que tinha cerca de cem metros de diâmetro. Ao fim de seis segundos o campo já estabilizara, mas Daniel teve uma ideia macabra para gerar pânico nas fileiras: acelerou mais ainda, mas com objetivo de manter constante a distância de duzentos metros entre a nave e os torpedos. Com isso, foi manobrando a Jessy A I e meteu-se no meio de um grupo de cilindros, parando com a frenagem máxima. Os mísseis, que não possuíam guias inteligentes, não distinguiram a nave terráquea das tantorianas e alguns deles atingiram-nas, destruindo cerca de cinco cilindros.
As bombas restantes bateram no anteparo energético, sendo arremessadas para o hiperespaço, enquanto explodiam e Daniel ficou mais do que satisfeito com os resultados. Ele decidiu que ia ficar parado ali mesmo para mostrar aos lagartos o poder defensivo da nave e o que ele pensava das suas armas. Os tantorianos riram ao verem o inferno atômico que deveria devorar a nave, mas, quando o brilho reduziu, lá estava ela, paradinha e intacta.
– Artilharia, fogo à vontade, quero dez naves destruídas. Apenas dez.
Os campos de proteção das naves tantorianos eram demasiado fracos e o primeiro tiro acertou o propulsor de uma das naves alienígenas, que explodiu com violência. Quando a quinta nave foi atingida, a Jessy A I era alvo concentrado de quase todos os lasers da esquadra, mas parecia apenas um fogo de artifício. Centenas de misseis foram disparados contra ela com o mesmo resultado nulo.
Para felicidade geral, a frota inimiga era impotente contra a nave auxiliar da Jessy. O líder deles era esperto e mandou todos os navios dispararem sobre um único ponto da esfera, na tênue esperança de sobrecarregarem o campo de força e destruírem o artefato humano, mas foi em vão.
– Mudar para o desintegrador – ordenou Daniel –, que desejo ver o desempenho. Peguem as cinco restantes e avisem assim que terminarem.
– Sim, senhor, trocando o canhão bipolar para a desintegração.
– Engenharia, relatório.
– Comandante, os reatores trabalharam folgados e acho que apenas dez vezes esse número iria sobrecarregá-los.
– E os campos de força?
– O campo de supercarga foi requisitado a dez por cento quando os mísseis o atingiram em massa e um com os trezentos feixes de lasers atacando. Os lasers deles são muito fracos, nada que se compare aos irradiadores térmicos. Pelos meus cálculos, somente uma frota de duas ou três mil destes cilindros pode ficar perigosa para nós. Isso se estivermos estáticos. Em movimento, creio que nem esse volume seria suficiente.
– Isso é excelente, meu amigo. Agora, já sabemos os limites desta espaçonave. A Jessy não será necessária se ainda não estiver pronta ao término do ultimato. Deixem-nos atirar à vontade, quero ver quanto tempo esses idiotas vão levar para se darem conta que somos inexpugnáveis.
― ☼ ―
NA. "g" é o simbolo matemático para a aceleração gravitacional. Um corpo de 80 Kg em um g pesa 80 Kgf ( 80 Kilogramas força ou 80 Newtons), em mil g, esse mesmo corpo pesaria mil vezes mais.
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