Capítulo 3 - parte 5 (não revisado)


Daniel materializou-se na sala, foi até à lareira, puxou uma pedra e disse:

– Computador, abre o cofre.

A máquina identificou-o como o dono da casa e abriu o cofre, fazendo a grande lareira de pedra deslizar para o lado. Um poço com escadas em caracol surgiu à sua frente e ele desceu para um bunker enorme. O subsolo era gigantesco, contendo uma série de salas, algumas de tamanho apreciável. Caminhou por um corredor até chegar ao centro de controle, uma sala com um supercomputador. Apesar do título e da idade avançada, a máquina era menor do que uma pequena geladeira.

– Computador, preciso de informações sobre material bélico.

– Pedido recusado, material classificado como supersecreto, somente com a senha mestra.

– Mas que bosta – esbravejou ele, coisa muito rara. – Que droga de senha terei eu posto aqui? Num relampejo de memórias passadas e presentes, arriscou:

– Computador, informa o pedido anterior. Palavra passe: Daniela Chang.

– Confirmado. O centro de computação para equipamentos bélicos não responde há cento e oitenta anos. Dever ter sofrido uma pane.

– Informar a localização do centro de controle.

– Informação desconhecida. Somente o construtor e o próprio centro de controle sabem. Foi feito assim por motivos de segurança.

– Há alguma informação adicional?

Como se o computador apenas aguardasse essa frase do Daniel, uma imagem holográfica surgiu à sua frente. Espantado, o jovem pensou ver a si mesmo, mas uns anos mais velho. Nesse momento lembrou-se que era muito parecido com o bisavô e concluiu que se tratava de uma gravação dele. A imagem começou a falar e o jovem sentiu como se estivesse falando com um fantasma.

– Olá. Imagino que me dirijo ao meu novo eu, se o plano deu certo. Infelizmente, isto também implica em que a mais macabra das minhas premonições aconteceu e o Império do Sol foi invadido. Estou correto?

Daniel demorou um pouco a reagir, mas acabou respondendo.

– Sim, correto até demais.

– Levaste três ponto dois segundos a reagir. Interessante. Eu sou a manifestação do meu ego em forma de programa interativo. Quando desejaste saber sobre armas, fui ativado automaticamente. Posso te ver e ouvir, mas tenho certas limitações. Por sinal, és demasiado parecido comigo. Qual é o meu nome atual?

– Daniel Moreira, o mesmo nome. Pois então, eu preciso de saber onde estão as armas ou a raça humana estará fadada à destruição.

– Isso eu não sei – respondeu o programa. – Como o computador acusou, apenas eu na minha forma real e o próprio centro sabem o local. Cometi um erro grave ao não me aperceber que poderia haver um problema grave em caso de pane no centro, mas fi-lo porque a humanidade ainda era demasiado desconfiada. Estavam aprendendo a viver como uma única nação.

– E como eu vou descobrir? – A sua pergunta fora apenas retórica, mais para si que qualquer coisa, mas obteve uma resposta:

– Simples – respondeu o Daniel programa. – Tu és uma nova manifestação do meu eu real. Com a tua evolução espiritual, deves ter lembranças do passado. Tenta esse caminho. Mais que isso não posso dizer porque não sei. A rigor, fui criado para uma eventualidade. Precisando de mais informações, basta chamar-me pelo menu nome.

– Obrigado – disse Daniel, desolado, enquanto a manifestação desaparecia. Depois acalmou-se e pensou um pouco para, logo em seguida, sorrir alegre. Saltou direto para a sala do pai, tropeçando no imperador em pessoa.

– Desculpe, Alteza, não o vi.

– Mas de onde saiu o senhor?

– Da minha casa – disse, sem dar explicações. – Pai, o centro de controle sabe da base secreta de material bélico que o meu bisavô criou, mas desconhece a localização. Afirma que perdeu o contato com ela há cento e oitenta anos.

– Estamos perdidos – afirmou o imperador, desesperado.

– Não estamos não, Alteza, porque sei onde foi que o construí.

– Onde foi? – O imperador olhou-o, incrédulo. – Construiu? Como pode ter construído uma coisa que parou de funcionar há cento e oitenta anos?

– Precisamos de lanternas – informou o jovem, sem responder ao imperador. – Esperem aqui.

Do mesmo jeito que apareceu, desapareceu para voltar em dois minutos com quatro potentes lanternas.

– Deem-se as mãos que preciso de contato físico.

Saturnino entendia cada vez menos as coisas e começou a pensar que podia estar meio maluco, mas obedeceu e segurou a mão do presidente da Cybercomp. Viu o avô do jovem colocar a mão no ombro do filho e, logo depois, sentiu que Daniel tocava no seu ombro. No início nada parecia ter acontecido, mas então a paisagem mudou de forma radical. O que antes era a sala da presidência na cobertura do prédio de dez andares da administração, passou a ser uma sala espaçosa, embora escura, e a temperatura parecia ter subido pelo menos uns seis graus. Assustado soltou o ombro do Daniel pai e olhou em volta com mais atenção.

– Aqui? – perguntou o avô, abismado. – Nunca imaginei!

Daniel abriu uma passagem secreta num alçapão em baixo do tapete e apareceu uma escada por onde eles desceram com cuidado. Saturnino estava tão espantado com aquilo que ficou mudo, apenas acompanhando e olhando. O rapaz levou-os com uma segurança cega por vários tuneis escuros, até que parou em uma caverna enorme. Nenhum dos outros seria capaz de encontrar a saída dali. Os fachos de luz mostravam que o pavilhão estava repleto de equipamentos de todos os tipos, tudo desligado. O jovem procurou o problema até que viu que era apenas o reator que teve uma pane.

– Esperem por mim que vou à Cybercomp pegar um mini reator.

– Como se nós soubéssemos sair daqui – disse o avô, com uma risada, mas já era tarde porque Daniel desaparecera novamente.

– Afinal, onde estamos? – finalmente perguntou o Imperador.

– No Pará, na nossa casa de praia. Estas grutas são perfeitas para se esconder isto.

– Como ele fez tudo isto? – perguntou. – Há alguns minutos estávamos na Cybercomp e agora estamos a milhares de quilômetros de lá!

– Ele tem dons especiais, Majestade, apenas não gosta de chamar a atenção para si, então espero que o senhor não o incomode com perguntas desse tipo – pediu o pai.

– Acho que o rapaz jamais me perdoará não é? – perguntou o imperador, desolado.

– Se fosse a sua esposa o senhor perdoaria? – questionou o avô, azedo.

– Confesso que não sei. Mas se vocês soubessem a dor que sinto pela perda dela, talvez entendessem.

– Ele entende, Alteza – disse Daniel, apaziguador e pondo uma das mãos sobre o ombro do seu pai. – Se não fosse por ele, tê-lo-íamos destruído naquele dia. Entende tão bem que nunca se esquivou a ajudar o senhor quando lhe pediu conselhos...

Daniel materializou-se nesse instante e o pai parou de falar. Nas mãos, tinha um reator nuclear de meio metro e conectou-o no lugar do antecessor. Sem transição, uma luz branca, intensa, acendeu-se no recinto, deixando o imperador muito ofuscado. O super-computador do centro de controle começou a se reinicializar. À frente do console, um robô de forma humanoide, mas sem a aparência humana dos androides da casa do Daniel, aparentava estar desligado. Quando tudo se normalizou, a máquina moveu-se e olhou para os visitantes.

– Isto é uma área de segurança máxima e os senhores estão invadindo... chefe, o senhor rejuvenesceu. Como diabos isso é possível? – perguntou a máquina em um tom que se poderia jurar ser de espanto genuíno.

– Olá, Joaquim. Como estão as coisas?

– Más. Aconteceu alguma coisa com o reator e fiquei desativado. Quanto tempo passou?

– Cento e oitenta anos, Joaquim. O chefe morreu. Eu sou o bisneto dele e assumi o controle do centro.

– Você deve informar a palavra passe.

– Daniela Chang. – Pai e avô olham entre si.

– Confirmado. O senhor está registrado como o novo chefe. O que vocês desejam?

– Joaquim, quero um inventário do que há aqui. Precisamos de armas, defensivas e ofensivas porque fomos invadidos por alienígenas e não existem mais armas no Império.

– Tudo aqui é virado para a construção de armas. O antigo chefe previu essa necessidade e montou esta indústria robotizada para construir armamentos, já que a humanidade não os tem mais. Temos pistolas térmicas, desintegradores, espadas energéticas, canhões desintegradores e térmicos, mochilas individuais e um modelo de campo de força capaz de resistir a isso tudo. Foi tudo desenhado pelo chefe, mas ele só permite o seu uso em caso de sermos invadidos por estranhos. Como a situação ocorreu, as portas foram destravadas.

O imperador olhava tudo o que ocorria boquiaberto. Junto, tinha uma sensação de alívio por achar que existia salvação para a humanidade. Agora, ele entendia mais do que nunca quando o garoto dissera que o poder não lhe interessava porque já o tinha de sobra.

Daniel seguiu à frente com o robô ao seu lado e com os demais seguindo um pouco atrás. Tinha lembranças fugazes de várias coisas criadas na sua existência anterior. Quando restauraram a sua memória, muitas outras lembranças também apareceram. Ele pegou uma plataforma antigravitacional que estava na entrada e puxou-a para dentro do paiol. A primeira coisa que viu foi uma caixa de aço com dois metros por cinquenta centímetros. Calmamente, pegou nela e pô-la na plataforma que caiu no chão com o peso porque não estava preparada para aquela massa. O jovem ajustou o gerador para mantê-la a quarenta centímetros do chão, independente do peso que recebesse. O automático passaria a reajustar potência do antígravo sempre que necessário. Enquanto fazia isso, afirmou:

– Isto poderá ser muito útil.

– Deve ser muito pesado – disse o imperador, olhando para a caixa e para os braços do rapaz.

– Não. Para o tamanho até que é relativamente leve. Apenas duzentos e cinquenta quilogramas. – Saturnino engoliu o orgulho.

– O que é isso, filho?

– Uma arma terrível, mas inútil contra nós na atualidade – respondeu calmo. – Foi isso que derrubou o avião da China Airlines em 2095, matando a Daniela Chang. – O pai e o avô olharam-se de novo. – É um poderoso gerador de pulsos eletromagnéticos de alta potência. Tiramos da Megadrug quando a Cybercomp se apossou dela.

Levantou o rosto e olhou para os dois, sorrindo um pouco e dizendo:

– Quando me restauraram a memória dela, muitas outras lembranças da minha vida anterior vieram junto. Pretendo instalar na Jessy A I – A história da Megadrug era de domínio público e muito bem conhecida já que foi por intermédio dela que o mundo mudou de forma radical.

– Que mochilas estranhas são estas? – perguntou o avô, apontando para uma estante cheia de mochilas muito estreitas. – Nada cabe aí!

– Estas mochilas têm um gerador de campo antigravitacional e um campo de força contra armas de baixa e média potência. O usuário pode sobreviver no espaço por dez horas.

– Pode ser útil para os meus agentes – disse o Imperador.

– A única coisa útil para os seus agentes é um bom treinamento, Alteza. Colocar armas nas mãos deles é sinônimo de tragédia ou já se esqueceu o que fizeram com a minha mulher que, por acaso, era a sua sobrinha?

– Não há um dia em que eu não me arrependa. – O homem baixou a cabeça. – Mas não posso retornar o tempo.

– Desculpe, não devia ter falado assim, mas essa é a verdade.

– E quem vai usar isto? – quis saber o avô.

– Agora, os nossos Dragões. Eles são a única força de combate eficiente que a humanidade tem hoje. E talvez os ninjas do antigo Tanaka. No futuro, o exército do Império, quando houver homens para isso. – Daniel pôs vinte mochilas na plataforma. Mostrou umas espadas para o pai e o avô – Olhem; estas espadas são perfeitas para os Dragões. Quando manipuladas, geram um campo energético em volta da lâmina que faz com que o aço seja cortado com tanta facilidade quanto a manteiga.

Pôs cinquenta unidades na plataforma.

– Desintegradores, emitem um feixe de energia que dissocia as moléculas, eliminando a coesão molecular – pegou mais uma vintena – E estas, são pistolas térmicas. Emitem um feixe fino a uma temperatura de até um milhão de graus. O alcance é de cerca de um quilômetro. – Também pegou uma vintena delas e de cinturões.

Nesse momento ele parou de frente a um objeto estranho. Girou em volta, sem entender nem lembrar o que era. Tratava-se de um cilindro de cerca de cinquenta centímetros de diâmetro e um metro de comprimento. Uma das suas pontas, tinha algo parecido com um funil de abertura ajustável.

– Joaquim, o que é isto, como funciona e onde se usa?

– Um canhão bipolar, chefe. Serve para emitir raios térmicos de meio metro de diâmetro ou é um desintegrador de alta potência. Deve ser montado em uma estrutura hidráulica de mira em naves espaciais. O alcance da arma é de cerca de um milhão e meio de quilômetros.

– Quanto pesa?

– Dois mil e duzentos quilos, chefe. Quer ajuda para levantar ou pretende fazer força sozinho até rebentar que nem um balão?

– Engraçadinho, sempre com as piadinhas bobas, né Joaquim. Pai – disse o rapaz, contraindo a musculatura e pegando em um daqueles canhões com os braços, pousando-o na plataforma e deixando o imperador de olhos arregalados e engolindo em seco. Estava ciente que os portadores são muito mais fortes que o normal, já que era um, mas aquele rapaz batia qualquer recorde. – Enquanto eu estiver em Terra-Nova, mande instalar um par deles na calota superior da Jessy e outro na inferior. Ah sim, mais um par na região equatorial. Depois, façam um levantamento de quantos temos aqui para enviarem trezentos canhões para Vega XII de modo a equipar a frota. Aquilo ali deve ser o mecanismo hidráulico de mira e, ali, o centro de controle. – Daniel pô-los em cima da plataforma e virou-se para o robô. – Joaquim, falaste em campos de força mais potentes, que seriam capazes de resistir a estas armas. Onde estão? E o que são estes ovos?

– No fundo da sala, chefe. Os ovos são bombas atômicas com alto poder explosivo e sem radiação.

Daniel pegou uma caixa que devia conter umas mil bombas. O gerador de campo era uma caixa de dimensões similares ao gerador de PEM. Ele pegou um e pôs na plataforma.

– Muito bem, vamos ver se consigo transportar tudo para a Jessy A I. Subam na plataforma.

– Joaquim, o meu pai e o meu avô terão acesso livre e autoridade total sobre estas instalações como se fossem eu, compreendes?

– Sim, chefe. Permite uma pergunta?

– Fala, Joaquim.

– Onde está Manoel, sinto muita falta dele.

– O Manoel já morreu há séculos, Joaquim, mas ele voltou em um novo corpo. O nome dele agora é João Moreira Focault. Deves-lhe a mesma obediência que ao antigo Manoel, entendeste?

– Perfeitamente, chefe. Mal posso esperar para o rever.

– Manda a produção reiniciar e operar com o máximo de velocidade possível. Como vai o estoque de matéria prima?

– Confirmado, ainda temos muito material. Tudo vai depender da necessidade. Os robôs estão, neste momento, produzindo canhões.

– Nós vamos agora. Se precisares, podes contatar o meu pai na Cybercomp, mas mantém esta indústria a trabalhar a todo o custo. Sem ela, estamos perdidos.

– Sim, senhor. Pode ficar tranquilo, enviarei um relatório diário para o centro de controle da sua casa.

Daniel segurou a plataforma com as mãos e saltou. Eles apareceram no hangar da nave auxiliar Jessy A I, mas ele cambaleou, cansado, e o avô ficou muito preocupado.

– Alteza, o senhor já viu que temos uma chance de proteger a humanidade. Deve fazer um comunicado em rede interestelar e explicar isso. É imperativo que a população se sinta segura para não haver pânico, mas as viagens interestelares devem ser evitadas, já que não sabemos se podem ser detetadas pelo inimigo. Eu vou transportá-lo para o palácio.

– Obrigado, mas leve-me para a Cybercomp. O veículo oficial está lá.

– O senhor está na Cybercomp. Vamos, deixo-o no prédio da administração. – O rapaz teleportou com o imperador para a sala do pai e levou-o ao elevador. Quando entrou, o imperador despediu-se. Enquanto descia, ainda olhava para a porta fechada do elevador convencional como se estivesse vendo o rapaz, cuja vida ele arruinou por um capricho idiota.

– Pai – pediu Daniel, quando retornou – vou precisar da sua ajuda. Faça com que a Jessy seja devidamente equipada com todas as armas possíveis, bem como a frota de Vega XII. O doutor Herbert sabe o que fazer. E devemos criar uma frota maior, mas faça o governo ajudar porque não pode ficar tudo as nossas costas. Calculo que, em um mês, a Jessy virá para a vida. Até lá, temos que improvisar e lembre-se de também equipar as naves auxiliares. Além disso, precisamos de criar um exército regular. Sugiro o Mestre Lee para treiná-los. Façam dele um general, mas só depois que eu voltar porque vou levá-lo nesta missão. Se tudo der certo, parto amanhã ou depois. Vô, o senhor pode supervisionar o término da Jessy já que é o único com os conhecimentos científicos necessários?

– Ok, meu querido, sugiro que capturem um ou dois alienígenas para fins de estudo. Se tiverem um cadáver também ajudaria a compreender o metabolismo deles, assim como uma das naves, de modo a obtermos dados dos computadores.

– Boa ideia. – Daniel atirou-se ao trabalho enquanto o pai e avô foram fazer preparativos de todos os tipos. Passou o resto do dia e a noite toda a equipar a nave auxiliar com o novo canhão e o campo de força. Ele estava demasiado cansado, mas era persistente porque sabia que cada segundo perdido aumentavam os riscos.

Quando terminou, deu folga para os auxiliares, que estavam extenuados, e foi ao templo Shaolin. Conversou com Lee e o líder do templo durante uma hora. Eles afastaram-se e um sino tocou, chamando todos os Dragões que, ao verem o seu líder supremo, inclinaram-se para ele.

– Irmãos – iniciou Daniel – como vocês devem saber, Terra-Nova sofreu uma invasão. Eu vou lá para resgatar uma equipe de cientistas e estudar os alienígenas. Tudo o que sabemos é que são muito feios, muito fortes e muito espertos. Preciso de soldados, mas mais o Império não os tem mais. Vocês são os maiores guerreiros que jamais existiram na Terra ou em qualquer outro lugar. Por isso, eu peço a vossa ajuda. Como só posso ir com um grupo pequeno, gostaria de levar seis homens, mas têm de ser Vermelhos ou Dourados. Quem estiver disposto a me ajudar, dê um passo adiante.

Todos, sem exceção, deram um passo adiante.

– Irmãos, agradeço a vossa boa vontade, mas acho que teremos de fazer um sorteio – disse Daniel, sorrindo para aqueles homens que ele conhecia desde criança.

Com os seis guerreiros escolhidos, o jovem mestre apresentou-lhes as mochilas e ensinou-os a usar os equipamentos. Depois, passou-lhes o cinturão com as armas, para praticarem tiro e finalmente as espadas. Quando viram a arma cortando uma pedra, ficaram apaixonados. Após o almoço, Daniel, Lee e os seis Dragões sorteados, partiram para a Jessy A I onde o jovem preparou as suas instalações. A meia dúzia de tripulantes do grupo de dois mil que vinha treinando há dois anos, também aguardava. Quando estavam prontos, um pequeno grupo apareceu para se despedir. Ao lado do pai do Daniel, um homem tão negro que a pele parecia azul e muito alto, olhava assombrado e de queixo caído para aquele monumento de mais de setecentos metros que estava em fase de acabamento. O jovem aproximou-se deles.

– Dan, este é o comandante Nobuntu, da Africa III. Ele pediu para participar da missão de resgate e o imperador Saturnino concordou porque achou que pode ser útil por já ter estado lá.

– Seja bem-vindo, Comandante Nobuntu – disse Daniel, estendendo a mão. – Vejo que aprecia o meu barquinho.

– O que eu não daria para comandar uma coisa dessas. Deve ser fenomenal – afirmou o homem do espaço, com profunda admiração na voz.

– Estamos recrutando gente para a frota espacial do IS, comandante. Em Vega XII há mais cinquenta em construção. Venha, eu comando a ida e depois passo-lhe o comando e veremos como se sai nesta nave que não salta pelo hiperespaço.

– Não!?

– Não, este motor é de um novo tipo. Nós vamos chegar a Terra-Nova em uma hora.

– Uma hora! – perguntou ainda mais espantado. – Só isso? Não pode ser!

– Meu amigo, poderíamos ir para Andrômeda em poucos dias.

– Meu Deus, que maravilha de nave!

O imperador apareceu nesse momento, descendo do seu planador. Ao lado dos pais do Daniel, despediu-se do grupo.

– Tenha cuidado, Daniel.

– Não se preocupe, Majestade. Voltaremos e sairemos vitoriosos. Afinal, somos seres humanos.

Após abraçar o pai e a mãe, Daniel entrou na nave auxiliar. Vestia o quimono cerimonial de um Branco, da mesma forma que Lee e os outros guerreiros, cada um na sua cor. Os Dragões nasceram para lutar contra a tirania dos antigos imperadores. Agora, lutariam contra a tirania de alienígenas.

– Comandante Nobuntu, fique ao meu lado para aprender a controlar esta nave que pode ser conduzida por um único homem. Senhores, preparem-se para decolar, tripulação, cheklist.

– Navegação pronta.

– Comunicações ok.

– Engenharia pronta.

– Armamentos pronto.

– Atenção, testaremos o armamento no cinturão de asteroides.

– Piloto, levantar a nave. Aos mil metros, acelere tudo. Comunicações avise o Salgado filho e Selene. Peça prioridade.

– Senhor – disse um jovem, virando-se para o comandante. – A base na Lua quer saber se o senhor pretende fazer mais piruetas com a espaçonave ou vai comportar-se.

– É mesmo? – Daniel riu. – O que foi que respondeste, Miguel?

– Disse para ele deixar de ser besta – respondeu. – Espero que não se zangue. Ele ficou meio nervoso, mas mandou todo mundo sair da frente porque tinha um louco a caminho.

Todos deram uma risada descontraída e Daniel agradeceu por isso, porque a tripulação precisava de ficar relaxada. Ele não contava que o primeiro voo já fosse um batismo de fogo.

Quando a pequena espaçonave, se é que se pode chamar de pequena uma esfera de cinquenta metros de diâmetro, estava pronta, subiu suavemente e em silêncio. Ao chegar à altura determinada, acelerou com uma violência enorme.

Em terra, os pais e o imperador observam-na ganhar altura.

– Que rapaz! – disse o imperador baixinho. – É preciso muita coragem. Céus, como eu estava errado.

– Ainda bem que reconhece isso, Majestade, para sua informação, jamais vi ser humano tão bondoso quanto o meu filho.

– Eu já notei, infelizmente, não foi a tempo de evitar a catástrofe.

– Acho melhor esquecermos isso, Alteza. Ninguém aqui gosta de se lembrar do que aconteceu. Insisto em afirmar que o senhor não tem ideia do perigo que correu naquele dia.

― ☼ ―

– Erguer campo de repulsão. Acionar neutralizadores de massa. Engenharia, como vão os super-reatores?

– Reatores um a meio por cento. Dois três e quatro sem requisição.

– Mantenha a equipe toda junto a eles, senhor Kami. Afinal, este é o primeiro voo sem ser de testes e, logo de cara, será uma ação bélica. Oficial de armas, erguer campo de força. Engenharia, relatório.

– Reator dois a um por cento.

– Erguer campo de supercarga. Engenharia?

– Reator dois a quatro por cento.

– Navegador vá para o cinturão de asteroides. Ponto nove nove c.

A nave acelerava com toda a potência dos jato propulsores de partículas. A base de controle espacial da Lua estava informada e mantinha o caminho livre para eles que, em poucos segundos já ultrapassavam a órbita da lua, seguindo para a órbita de Marte. O comandante da África III logo viu que aquela navezinha não era normal porque a taxa de aceleração era muito superior ao seu cargueiro, a classe mais rápida da frota mercante.

– Veja, comandante Nobuntu, a poltrona de comando pode assumir todas as funções, embora a nave seja mais vulnerável. – Daniel apontou para os braços do assento, onde uma bandeja móvel tinha todos os controles, a maior parte deles virtuais. – Navegação, armamento e comunicações. A engenharia tem um controle totalmente automático...

– Comandante – interrompei o navegador –, chegamos ao cinturão de asteroides.

– Oficial de armas escolha duas pedras grandes atinja-as. Uma com o desintegrador e outra com o canhão térmico.

Na frente do oficial de armas, uma tela esférica holográfica de cor verde apareceu, com uma mira no centro. O homem apontou o canhão para uma pedra a alguns quilômetros. Quando o desintegrador a atingiu, ela desapareceu dissociada nos átomos que a formavam. Tudo o que sobrou, foi simples poeira espacial. A segunda pedra foi cortada ao meio pelo raio térmico.

– Navegador, escolha uma pedra de uns cem metros e colida com ela. Engenharia, atento aos reatores. Há risco de sobrecarga.

– Reator um a cem por cento e dois subiu a oitenta por cento. Desceu de volta a quatro, senhor. – A pedra foi arremessada para o hiperespaço.

– Perfeito. – Daniel sorriu. – Senhores, vamos para Canopus. Navegador aponte para o nosso destino. Piloto, acelere a c. Ao atingir a marca, acione o motor estelar.

– Atenção para c em, seis, cinco, quatro, três, dois, um, estamos a c. Espaço intermediário em dez segundos... – O piloto começou novamente a contagem regressiva. Aos dois segundos, Daniel destravou o motor estelar. Logo depois, mergulharam.

– C em seis segundos!? – questionou o africano com um pequeno gemido. – E eu que achava a minha nave rápida!

– É um bom barco, Comandante Nobuntu. Piloto, quantos por cento de hiper-propulsão?

– Cinco.

– Engenharia?

– Reator um a dez por cento.

– Piloto, aumente a potência. Quinze por cento. Engenharia?

Uma vibração leve fez-se ouvir na nave, sendo neutralizada logo em seguida.

– Reator um a cem por cento, dois a cinco por cento.

– Maravilha. Estamos a trinta milhões c.

– Como será que estão por lá? – perguntou-se o gigante de ébano. – Faz cinco dias que saímos dali!

– Espero que estejam bem – respondeu Daniel, pensando nas novas lembranças. – Sinceramente, espero que cheguemos a tempo. Preciso de a encontrar.

― ☼ ―


Ver "Dragão Branco – O Despertar de um Herói"


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