Capítulo 3 - parte 4 (não revisado)
– Quem será o maluco que está com tanta pressa assim, para fazer uma decolagem destas – perguntou-se distraído um sujeito da torre de controle, olhando para cima – a aceleração deve ser brutal! Certamente ocorreu alguma emergência gravíssima.
– Ainda não sabes das notícias recentes? – Questionou o colega mais próximo.
– Não, acabei de chegar. Estava na hora do lanche e aproveitei para resolver uns detalhes. O que aconteceu?
– Era o governador e o neto. Solicitaram uma saída de urgência. Todo o tráfego de Vega XII até à lua foi desviado.
– A Terra está em polvorosa – continuou um terceiro controlador –, porque alienígenas invadiram Terra-Nova e atacaram uma nave mercante.
– Minha nossa! – disse o primeiro. – O que será de nós?
– Não sei, mas esse rapaz e o governador têm uma carta na manga. Eu lembro-me muito bem de uma reportagem que ele deu há cerca de dois anos.
– Só espero que dê tudo certo...
― ☼ ―
Assim que saíram da atmosfera, Daniel ligou os campos de supercarga, os neutralizadores de massa e ativou os jatopropulsores de partículas, dando-lhes o empuxo máximo. A pequena nave disparou de um jeito jamais visto e, em três segundos, já estava à metade da velocidade da luz.
– Computador, transferir agora as coordenadas da Terra para o console – ordenou o jovem. – Vô, vamos entrar no espaço intermediário em cinco segundos.
– Dentro do sistema?
– Este propulsor não gera instabilidades da quinta dimensão. Em poucos minutos, estaremos no Sol.
Nesse momento, a tela da nave mudou e as cores quase desapareceram, ficando de um jeito bem fantasmagórico, em um tom de cobalto. À frente via-se uma estrela com um brilho fraco, azul.
– Que estrela azul é essa?
– O Sol, vô. É por causa do espaço intermediário e do efeito doppler. Estamos a quase três milhões de vezes a velocidade da luz. Olhe o painel.
– Barbaridade! – espantou-se o avô com um assobio. – Dois milhões oitocentos e quarenta mil e cento e oitenta e quatro c. A quanto vai isto? Nunca imaginei que as naves auxiliares chegassem a tanto!
– Depende da potência do reator, já que é apenas um campo energético que nos move. Estou usando cinco por cento. Esta nave tem quatro reatores em vez de um. Foi muito modificada.
Cinco minutos depois, estavam no Sol e Daniel reduziu a potência para poucas dezenas de c. Quando cruzaram a órbita de Marte, desligou o motor estelar e usou os jatopropulsores para acelerar até c. De Vega XII até à Terra, levaram apenas vinte minutos.
– Atenção, base Selene – disse Daniel no rádio. – Aqui espaçonave Jessy A I em rumo de emergência para Porto Alegre. Afastar tráfego, por favor.
– Jessy A I, aqui Selene vocês não têm autoridade para isso. Favor entrar na fila de aproximação. Quem fala?
– Selene. – Daniel ativou o video. – Aqui comandante Daniel Moreira com o Governador de Vega, Daniel Moreira. Tarde demais. Nós não temos tempo a perder com discussões. Se não gostou, mande o governo imperial processar-me.
Daniel não disse mais nada, mas permaneceu com o rádio ligado e em voo de aproximação da órbita da Lua quase na velocidade da luz. Cinco segundos-luz antes do ponto crítico reduziu para metade da velocidade da luz. Os alarmes de colisão dispararam de soco e Daniel fez a esfera dar uma guinada violenta, impedindo o choque com um cargueiro enorme. Mal fez isso, precisou apelar para um parafuso de forma a desviar de duas naves de cruzeiro, enquanto o controlador da Lua gritava alucinado:
– Ficou louco, comandante? SEU IRRESPONSÁVEL. Atenção Salgado Filho, afastem todo o tráfego porque um demente está à solta com uma...
– Deixe de ser histérico, homem. – Foi a resposta do Daniel, que reduziu mais a velocidade e penetrou na atmosfera da Terra em um ângulo perigoso mas fora das rotas padrão.
– Da... Daniel – gaguejou o avô. – Há formas mais simples de cometer suicídio!
Na capital ouvia-se o rugido da nave, que parecia uma gigantesca bola de fogo de mais de cem metros que anunciava o juízo final. Quando ela aproximou-se mais e a população viu que o destino da nave aparentemente desgovernada era a Cidade Jardim, o caos reinou por algum tempo, mas ela seguiu a sua velocidade vertiginosa, embora reduzindo devagar, até que, nos últimos metros, ela parou de soco, estendeu as colunas telescópicas e pousou suavemente ao lado da Jessy.
Sem perder tempo, Daniel saltou com o avô para a administração em uma sala que ele sabia estar sempre vazia.
– Acho que acabaste de matar todos de susto, meu filho – disse o avô, enquanto pegavam o elevador e subiam até à presidência da empresa –, inclusive eu. Mais um pouco e precisava de calças novas.
Se o pai assustou-se muito, eles nunca saberiam, porque ele passou para a ordem do dia e contou-lhes tudo. Sentados nas poltronas, debatiam enquanto Daniel pensava. Ao fim de algum tempo expôs o seu pensamento:
– Temos de os salvar, pai. Seria fácil expulsar esses invasores porque são apenas uns milhares de "homens". Os nossos Dragões fariam uma limpeza completa em poucas horas, mas eles voltariam e ainda não temos armas. Acho que a coisa mais importante agora é libertar os cientistas, que podem fornecer dados ao inimigo, bem como tirar mais informações in loco. Temos de falar com o imperador agora mesmo. Ele precisa de se dirigir à população para acalmá-la, enquanto eu irei para Terra-Nova na nave auxiliar, já que a Jessy ainda não está pronta. Quem é a mulher que se comunicou?
– Acho que não deves ir, filho.
– Deve sim, Daniel – respondeu o avô, imperativo. – E agora, diz-lhe o nome da moça.
– Vocês estão-me escondendo alguma coisa? – Daniel estranhou muito o tom de voz do avô.
– O nome dela é Daniela Chang – disse o pai, com um suspiro profundo. – Doutora Daniela Chang.
– Esse nome não me é estranho! Sabem, eu acho que tenho uma lacuna na minha memória. Ultimamente venho tendo sonhos com uma moça chinesa. Agora essa mulher, ainda por cima Daniela! Que estranho! E a Jéssica disse-me que ela não está na Terra. Mas tenho a nítida impressão de que vocês sabem de algo.
– Conta-lhe, Daniel – ordenou o avô, com o ar sério. – Está na hora dele saber tudo.
– Muito bem, filho, tu não te lembras porque eu e a tua mãe apagamos essa informação da tua memória porque achávamos que era a única forma de salvar a tua vida.
Daniel olhou para o pai sem entender nada e franziu o cenho.
– Tu sempre sonhavas com uma menina – continuou ele, que abriu uma gaveta da secretária e tirou um desenho, estendendo-o ao filho. – Fizeste isso aos seis anos.
– Mas é a garota do meu sonho, só que está mais velha!
– Tu e ela mantinham contato mental constante, embora não se conhecessem. Então, uma noite, tu acordaste gritando desesperado que ela, a Daniela, havia morrido. Logo depois, entraste em uma espécie de catalepsia. Quando a tua mãe encontrou esse desenho eu reconheci a imagem. Foi aí que tive a ideia de pesquisar se alguma nave saltou na hora do que te aconteceu. Uma nave de passageiros havia saído com destino a Terra-Nova. O nome da moça é Daniela Chang. O pai, Nelson e a mãe, Meifeng – mostrou uma impressão da foto dos passageiros, onde se via claramente que a menina da foto era a mesma do desenho.
– Porque será que tenho a impressão que isso tudo tem a ver com o fato de eu achar que faltam algumas fotografias na sala dos ancestrais da minha casa?
O pai estendeu as fotografias que tirara da sala dos ancestrais.
– Mas a semelhança é notável. "Para o meu Daniel não se esquecer de mim, te amo para sempre." – Leu no verso da imagem.
– O tetravô dela era irmão do pai da menina da sala dos ancestrais. Ela morreu em um acidente de avião e era noiva do meu avô. Por conta dessas lembranças da vida anterior, nós tiramos todas as fotos. Achamos que o choque que sofreste foi por ter sido, aparentemente, a segunda vez que isso teria acontecido.
– Mas – perguntou, espantado com a atitude dos pais – por que não tentaram me dizer que ela não morrera? Não era mais fácil?
– Tentamos por muitas horas, filho, até esgotarmos as nossas energias. Fizemos isso por seis dias seguidos, sem obtermos qualquer resultado.
– E como apagaram a minha memória?
– Não apagamos. Apenas sugerimos que esquecesses dela. Em 2094, cientistas da Cybercomp, procurando um medicamento para anular efeitos de uma droga altamente nefasta, depararam-se com um produto que, se inoculado, tornava a pessoa suscetível de ser hipnotizada. As ordens, porém, deviam vir de um telepata. Perdoa-me, filho, mas estávamos desesperados e não sabíamos mais o que fazer.
– Tudo bem, pai, eu entendo; mas, para mim, uma lacuna na minha memória é muito ruim e há mais de um ano que me sinto muito estranho por causa disso. Eu gostaria de a ter de volta. É possível?
– Se não fores imune ao medicamento, basta inoculá-lo e sugerir que desconsideres a ordem anterior. Vamos tentar. Tenho aqui a droga. Precisas desbloquear a mente para simplificar.
Inocularam o medicamento no rapaz e ainda fez efeito, mas eles tinham de ser bem velozes porque o corpo do filho tinha uma capacidade de regeneração ultrarrápida. O resultado foi bem positivo.
– Meu Deus. – Daniel vasculhava a sua memória restaurada, lembrando-se de tudo o que lhe aconteceu. – Ela é o meu destino, a mulher da minha vida!
Por cinco minutos ficou calado, de olhos fechados, e, por mais de uma vez, sorriu. Após, voltou a discutir os assuntos em pauta.
– Precisamos de armas. As que eu tenho atualmente são exclusivamente defensivas. Já criei o projeto com canhão transmissor. O teste de laboratório funcionou e estão construindo o protótipo que deve ser instalado na Jessy esta semana. Bombas atômicas, temos aos montes, conforme o vô confirmou. Mas eu preferia armas menos violentas. Então, precisamos de outros tipos de armas.
– Podemos recorrer aos museus espalhados pelo mundo, mas será que ainda funcionarão? – comentou o pai, mas Daniel sacudiu a cabeça.
– O meu pai – disse o avô –, certa vez comentou que previra essa hipótese. Pensa nisso. Tenta lembrar-te.
– Acho que sei onde posso obter essa informação.
– Onde, filho?
– Jéssica disse que o segredo da salvação está na minha casa e o senhor disse-me que ela contém um segredo, lembra-se?
– Sim, mas o que é?
– O centro de controle da minha casa, no subsolo. É independente da Cybercomp e foi desenhado por mim para ser sobrevivente a uma catástrofe de qualquer tipo, até nuclear. Esperem por mim que já volto. Vô, explica para ele.
– Explicar o q... – ele parou de falar, boquiaberto, quando viu o filho dissolver-se no ar. – O que diabo ele fez!?
– Ele é teleportador, filho. – O pai deu um assobio. – Notaste a mudança que ocorreu nele?
– Não poderia deixar de ver isso, pai. – Ele reconheceu a moça na sua memória e sorriu de verdade pela primeira vez. Isso tirou-me um peso enorme da consciência.
– Só espero que ele resolva a charada e que ela esteja inteira.
– Senhor – anunciou a secretária. – Sua Majestade pede para ser recebido imediatamente, ele está bastante nervoso.
– Mande-o entrar, obrigado – disse Daniel, enquanto o pai dele fechou a cara. – Pai, desta vez não o hostilizes.
– Está bem, filho.
O Imperador entrou e sentou-se ao lado do governador sem nem mesmo o ver, de tão nervoso que aparentava, com o olhar apavorado.
– Senhor Moreira. Que nave foi essa que desceu de forma tão catastrófica e deixou a cidade um caos? Será que atacaram mais alguém? – Só nesse momento é que viu o governador de Vega e continuou. – Mas vossa excelência não estava no seu mundo com o seu neto?
– As naves do meu neto, Majestade, são as mais rápidas do Império. Levamos apenas uns minutos a chegar aqui. Essa nave que o senhor viu, era o Daniel pousando com um pouco de pressa.
– Santo Deus! Que motores fenomenais ele criou!
– Pode ter a certeza, Alteza.
– Onde ele está agora?
– Procurando uma fábrica secreta.
– Não entendo.
– Deixe para lá, Majestade. Em breve saberemos se foi bem-sucedido. Para o nosso bem, terá de ser.
― ☼ ―
Aproximadamente 1.500.000 Km.
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