Capítulo 2 parte 5 (não revisado)
De manhã cedo, após meditar, tomou um banho e dirigiu-se para a escola. Daniela estava lá, sorrindo e recomposta do susto. Encontrou o primo de cara amarrada, bem como a Bia no mesmo estado e notou que eles não se falavam. Puxou pela namorada para irem conversar. Sentados em um banco, no pátio, ele disse.
– Daniela. Já te contei sobre a morte da Jéssica, mas faltou uma coisa que não te disse e tu precisas de saber. Quando ela estava morrendo, disse-me que eu precisava de encontrar uma pessoa chamada Daniela, que esta seria o meu destino e não a Jessy. Em uma reunião com a família da qual o João fazia parte, eles ficaram sabendo disso. Deve ter sido esse o motivo do João e a Bia te terem apresentado para mim...
Ao longe, Daniel viu Bia indo sozinha para a piscina e parou de falar um segundo.
– E eu não sou essa Daniela – pressupôs a moça, com os olhos marejados –, não é verdade, Daniel?
– Eu temo que não, Daniela – respondeu. – Tenho muito carinho por ti. Tentei realmente te amar, mas a minha perda é muito recente e acho que, se continuarmos com o nosso relacionamento, acabarei por te magoar muito. A última coisa que eu quero é que sofras ou me odeies. É algo que me perturbaria por demais, meu anjo.
– Eu entendo, vi isso ontem, quando fomos a Alfa. Os teus olhos, enquanto conduzias a espaçonave, brilhavam de alegria, como uma criança com um brinquedo novo. Era o mesmo olhar que tinhas para Helena e dei-me conta que nunca olhaste para mim assim.
– Bem, Daniela, é por isso que acho que devemos terminar o nosso relacionamento. Entendo se ficares chateada ou até mesmo zangada. Nada do que fiz foi por mal e tive um período maravilhoso, enquanto estivemos juntos. Foste tu que me ajudaste a superar uma dor muito grande e te devo muito por isso. Compreendo se não quiseres me ver por um tempo, mas quando estiveres recuperada, quero, acima de tudo, a tua amizade. Desculpa-me, Daniela, por te magoar. Eu te amo, mas não do jeito que precisas. Infelizmente, está mais para algo fraternal.
Ele beijou-a na testa.
– Tudo bem, Dan, quando passar, poderemos nos ver. Não estou zangada. Obrigada por seres tão sincero porque és uma pessoa muito especial. Poucos fariam isso. Agora vai que eu preciso de ficar um tempo sozinha.
– Claro, Daniela – levantou-se, fez-lhe um leve carinho no braço e saiu. Ela esperou que ele se afastasse. Não enxergava direito porque os olhos estavam encharcados de grossas lágrimas, tirando-lhe o foco.
Daniel entrou na sala de aula e viu o primo com muito mau humor. Decidido a tirar isso a limpo, murmurou um pedido de desculpas, deu meia volta e saiu de novo. Quando estava no corredor vazio, teleportou-se para a piscina, aparecendo em uma sala que sabia estar sempre vazia. Encontrou Bia sentada na lanchonete, terminando um refrigerante. A cara dela era tudo menos amistosa.
– Bia, preciso de falar contigo. É sobre o João – principiou o rapaz.
– Não há nada a se falar, Daniel – disse ela, chateada. – Se queres saber alguma coisa, pergunta-lhe.
Ela levantou-se e saiu da mesa. Daniel notou que a garota estava magoada e irritadíssima, mas desejou resolver logo a questão embora, no fundo, tivesse uma forte desconfiança de tudo. Ele, insistente, levantou-se e seguiu atrás dela, que entrou no sanitário. Sem se dar conta, seguiu junto.
– Bia, preciso de saber porque estou muito preocupado. – Só então atinou-se para onde entrou, mas ela não o mandou embora e ele desejava muito confirmar a sua suspeita. – Ele é, para mim, como um irmão mais velho e não se abre. Bia, eu amo muito o João e preciso de saber o que está acontecendo, quero ajudá-lo!
– Talvez ele não mereça essa consideração toda, Dan. – Ela limpou-se e levantou-se para se recompor.
– Bah, não sabia que esta escola tinha não portadores – disse, muito impressionado. – Deves ser inteligentíssima!
– Por que achas que eu não sou portadora?
– Pêlos pubianos – apontou para baixo. – Nós portadores temos muito poucos pelos. As mulheres quase não têm.
– Ah, notaste o meu corpo! Ele agrada-te?
– Mas óbvio que me agrada, tens um corpo muitíssimo bonito e uma beleza invulgar, Bia. Qualquer homem ficaria agradado dele, mas que pergunta tola.
– Irias para a cama comigo, Dan?
– Se não estivesses com o João, o que parece ser a realidade, iria sim.
Ela aproximou-se dele, sensual. Quando chegou perto, deu-lhe uma forte bofetada. Daniel não se defendeu e deixou que ela extravasasse a sua fúria.
– Vocês homens são todos iguais. E eu que pensei que fosses diferente! – afirmou, bem furiosa. – Pobre da Daniela, tu não a mereces.
– Estás enganada, Bia. Eu e a Daniela terminamos. Se continuássemos, ela acabaria por sofrer, que é a última coisa que desejo. Posso não a amar, só que gosto demais dela. Desculpa, apenas queria ajudar o João, mas parece que as coisas tomaram outro rumo. Não entendo por que vocês estão assim. Há pouco tempo pareciam tão bem!
– Nenhuma mulher, quando está fazendo amor, gosta de ouvir outro nome que não o seu, Daniel – comentou ela, cedendo.
– Entendo. – Era a tão desejada confirmação. – E suponho que o nome que ele disse foi o da Daniela.
– Então tu sabias!?
– Cheguei a desconfiar. O comportamento dele começou a mudar na mesma época que nós ficamos juntos. Ontem à noite, comecei a correlacionar os fatos, mas queria ter a certeza.
– No dia do banquete, no festival, quando vocês se despediram, eu tive a certeza. Quando ela o beijou no rosto, eu estava abraçada nele e vi que estremeceu e ficou desnorteado. Depois, quando fazíamos amor, aconteceu isso. Foi demais para mim.
– Obrigado por falares, Bia, e desculpa qualquer coisa.
Dizendo isto, Daniel saiu sem que ela conseguisse falar mais nada. A garota foi atrás dele, mas parecia que o rapaz sumiu no ar.
― ☼ ―
João viu o primo entrar sem a namorada, olhar em volta, pedir desculpas e sair de novo. Sem se conter, saiu logo depois, mas o Dan desaparecera no ar porque o corredor estava vazio. Estranhou isso, uma vez que ele nem deveria ter tido tempo de percorrer metade da distância até à saída, mas desistiu de pensar no assunto e foi à sua procura, sem o encontrar. Contudo, no pátio e não muito longe, viu a Daniela sentada, sozinha. Caminhou até ela e, como qualquer Dragão, os seus passos eram inaudíveis. Ficou assombrado ao ver que ela chorava muito. Colocando todas as cautelas de lado disse:
– Oh, Dani, o que foi que te aconteceu? – sentou-se ao seu lado e abraçou-a. – O que ele te fez?
Ela ergueu os olhos, cheios de lágrimas e encostou-se no seu ombro, chorando mais. Cheio de ternura, João abraçou-a e queria lá saber se era namorada de outro. Tudo o que sabia é que a amava demais e ela estava muito triste. Afagou-lhe os cabelos, abraçando-a.
– Pronto, Dani, acalma-te. – Ela foi se acalmando aos poucos. O contato protetor do João era agradável e calmante. Após poucos minutos, recompôs-se.
– Preciso ir ao sanitário – disse, ainda com a voz tremendo do choro.
Ele acompanhou-a até à porta e disse, antes da moça entrar:
– Encontra-me na piscina que preciso de acertar uma coisa antes.
Acreditava que Daniel estivesse lá e com razão. Quando estava quase chegando, viu o primo caminhando na sua direção. Daniel faz menção de falar com ele, quando recebeu um soco do primo, pegando-o de surpresa e derrubando-o, com o lábio cortado e sangrando um pouco.
– O que fizeste com ela, seu canalha? – A voz dele era aguda, quase beirando a histeria.
Tentou atingir outra vez o primo mas, para seu horror, ficou paralisado e não se conseguia mover. Daniel levantou-se e, mantendo a sua calma de sempre, olhou para ele.
– João, volta à razão – disse, limpando o lábio cortado. – A violência nunca foi solução para nada.
– Solta-me que vou acabar contigo – gritava. – O que fizeste com ela? E pensar que ta apresentei.
– João, vou falar-te tudo o que tem que ser dito e depois solto-te. Então, se quiseres matar-me, vai em frente. – Com aquelas palavras, conseguiu que o primo se acalmasse para ouvi-lo e começou a explicar. – Eu e ela terminamos porque ela não é a minha Daniela que tenho que encontrar. É maravilhosa, mas não a amo, cara, juro que tentei e é muito fácil gostar dela. Por isso, fui ficando. Mas, se eu continuasse com ela, acabaria por lhe provocar muito sofrimento. Pronto, estás solto.
– Mas ela chora, está sofrendo muito. – A sua voz era de tristeza e não mais de raiva.
– Estaria muito pior se fosse daqui a um mês ou mais, maninho. Além disso, agora tens o caminho livre para ti. Se tiveres cuidado, ela vai te amar. Já te ama, mas não se deu conta porque estava obcecada por mim.
– Como sabes o que sinto se sempre fui discreto!
– João, conheço-te desde que nasci. Nunca te vi triste ou chateado. De repente, apareces transformado, justamente a partir daquele dia do churrasco quando ela foi à minha casa. Eu dei uma conversada com a Bia e consegui a confirmação. Magoaste-a muito, cara, muito mesmo!
– Sim, devia ter feito o mesmo que fizeste hoje – aproximou-se do primo e deu-lhe um abraço. – Desculpa, bebê, foi mal. Eu não sei o que aconteceu comigo desde que a vi na piscina.
– Ela gosta de ti, João. Dá-lhe a atenção de que precisa e em breve terás a tua felicidade. Agora vou para a aula.
João continuou o caminho para a piscina. Encontrou Bia logo depois.
– Bia, me perdoa, devíamos ter terminado antes disto acontecer, mas eu estava meio cego.
– Tudo bem, João. Deixa-me lamber as feridas que logo passará. Talvez possamos ser amigos.
– Claro, novamente me desculpa. Eu realmente não sei o que me aconteceu. Não sei explicar.
– É fácil, João, encontraste um amor puro e genuíno. Agora toma cuidado para não o perderes.
– Obrigado pela tua compreensão, Bia. Seguirei o teu conselho. Novamente me perdoa. – Seguiu para a lanchonete.
Bia continuou o seu caminho para a sala de aula. Cruzou com a Daniela que estava de olhos inchados, prova que chorou muito.
– Oi, Bia – disse a garota, ainda com a voz meio tremida.
– Oi, Daniela. Estás bem? Precisas de ajuda?
– Não, Bia, deixa pra lá, era inevitável.
– O Dan não está lá, se é ele que procuras, apenas o João.
– Vocês terminaram?
– Sim, Dani. Ele está apaixonado por outra pessoa e eu saí do caminho.
– Entendo, sinto muito.
– Não sintas, Dani, não sintas.
Uma voltou para a aula e a outra foi para a lanchonete. João abraçou-a, todo atencioso para com a moça.
– Vem, Daniela. Vamos dar uma volta que isso ajuda a acalmar um pouco. – Abraçando-a, levou-a a passear pelos parques em volta da escola.
― ☼ ―
Daniel estava em casa trabalhando no seu projeto até ao anoitecer. Quando tocou a campainha, foi atender para pegar a pizza que encomendara. Não chegou a fechar o portão quando uma voz chamou por ele, a Bia.
– Posso entrar?
– Claro – sorriu gentil. – Queres jantar comigo? A pizza é muito grande para uma só pessoa e gostaria de uma companhia agradável como a tua.
Ela entrou com ele, que estava vestido com um quimono de seda branco, com caracteres chineses esverdeados nas costas.
– Estás machucado, Daniel! – afirmou Bia, tocando o seu lábio.
– Tudo bem – voltou a sorrir. – O João ficou nervoso quando viu Daniela chorando e pensou que lhe fiz mal, mas já esclarecemos tudo.
– Sabes, acho que ficas muito bonito com essas roupas chinesas. Só não sei como não morres de frio.
– Eu gosto delas, que são muito confortáveis, e o frio não me incomoda porque sou portador de alto grau!
– Acho que isso ajudou a Daniela a gostar de ti, não é? Ela é chinesa e tu és mais chinês que brasileiro.
– Achas mesmo? – Ele riu. Sentaram-se na sala de jantar e foram degustando a pizza.
Ela observava Daniel, calada, pensando no que acontecera nesse dia. As coisas foram muito estranhas e rápidas, mas ficou com a consciência pesada por ter agredido o rapaz, fazendo um mau julgamento dele.
– Dan, me perdoa por te bater, estava magoada e descarreguei a minha ira em ti, o que não foi justo – disse, pousando a mão sobre o seu braço.
– Ora, Bia – ele piscou o olho – não há o que ser perdoado, esquece isso.
– Afinal, o que aconteceu entre tu e a Daniela?
Ele voltou a contar a história da morte da Jéssica e a sua última mensagem.
– Então, tu achavas que ela podia ser o teu destino, como dizes?
– Sim, no início. Quando descobri que não era, cometi o erro de continuar. Ela era muito agradável e eu sentia-me demasiado solitário e triste. De certa forma, ajudou-me a superar um pouco da minha dor e devo-lhe muito. Mas chegou a um ponto que ficou insustentável.
– Entendo. – Eles terminaram o jantar e Daniel levantou-se para levar os pratos até à cozinha. Ela ajudou-o. – Dan, falaste sério quando disseste que farias amor comigo?
– Eu jamais minto, Bia – sorriu-lhe. – És muito bonita e tens um corpo maravilhoso.
Ela aproximou-se e beijou-o, encostando-se a ele. Surpreso com a reação da garota, ficou parado, mas acabou por se envolver. O contato dela era gostoso. Levou-a para o quarto e fizeram o que ela quis desde o início, quando foi para a sua casa.
– Meu Deus, Daniel, tu pareces incansável – disse, ao fim de um bom tempo.
– Tenho um bom preparo físico. – Ele fez-lhe um carinho pelo corpo.
– Dan, eu sou uma portadora, ao contrário do que pensas. Só que sou de primeira geração. Os meus pais são recessivos. Tenho grau setenta. Por isso os meus pelos. Eu costumava aplicar um creme depilatório, mas o João gostava, então deixei ficar normal.
– Claro. Acho bonito, diferente. Ele deve ter pensado o mesmo. Bia, tu não vieste aqui transar comigo só para te vingares, não é?
– Não, Dan. Sempre tive uma forte atração por ti, mas a Helena ganhou a parada. Foi tão gostoso, jamais pensei em vingança. Eu sempre gostei do João, mas era uma relação mais colorida, digamos assim. Não havia um amor verdadeiro. Ainda não encontrei isso. Mesmo assim, fiquei chateada com ele por não ter sido sincero.
– Acho que devemos deixar isto entre nós. Não há necessidade de magoar ninguém.
– Claro, gatinho. Está ficando tarde, preciso de ir.
Ela levantou-se e tomou um banho com ele. Depois despediu-se e foi para a sua casa. No portão, disse:
– Dan, devíamos repetir isto, foi bom demais.
– Foi sim, Bia. Podemos, desde que ninguém saia magoado.
– Sabes, não entendo como não notaste que a maior parte das garotas da nossa sala são apaixonadas por ti, mesmo com a diferença de idade. – Dizendo isso, ela virou-se e foi embora rindo, deixando-o bem espantado.
Voltou para dentro e sentia-se leve porque foi uma noite muito agradável. Recomeçou a trabalhar na nave já que havia uns detalhes a resolver.
No dia seguinte, as coisas ficaram mais normais. Bia não estava mais de cara amarrada e o João recuperou a boa disposição de sempre e a Daniela parecia serena. O primo, sempre que podia, ficava perto dela.
Após as aulas, como sempre, ia para a sua nave, trabalhar nela. Nesse período perdeu um pouco da companhia do primo, mas não se importou já que, o que mais desejava era que ele achasse o seu caminho com a Daniela.
Ele era um sujeito muito especial e Daniel tinha a certeza de que ia conquistar logo a garota, ainda mais depois do que ela disse no churrasco do Festival.
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