Capítulo 2 parte 4 (não revisado)

Daniel não esperou resposta e acionou o computador de navegação.

– Computador, obtenha e transfira as coordenadas de Alfa do Centauro. – Um segundo depois, a nave começou a mudar de rumo, apontando para a estrela desejada.

– Vamos mergulhar agora. – Ele acionou um controle e pela primeira vez um zumbido mais intenso dos reatores fez-se ouvir, logo compensado. O automatismo da pequena esfera de cinquenta metros era perfeito. Todo o universo mudou e a maior parte das estrelas desapareceu da vista. A cor do espaço tornou-se um cinza leitoso. No centro da tela, uma estrela pequena surgiu, de cor azul.

– Por quê azul?

– Efeito Doppler.

– Claro, devia ter-me lembrado disso. A quanto vamos agora?

– Cem mil c. Chegaremos em menos de meia hora. Mas eu vou acelerar mais. Já estamos a quatrocentos mil c. Dez minutos. Nesta distância, não adianta acelerar mais.

Daniela viu a alegria estampada nos olhos brilhantes do seu bem-amado. Chocada, deu-se conta que nunca teve esse olhar para si. Sabia que ele gostava dela, mas atinou-se que não a amava, não do jeito que ela queria e desejava. Esperava que um dia ele superasse a perda que teve mas, agora, temia o pior. Suas reflexões foram interrompidas pela voz dele:

– Chegamos – disse, emergindo. Nas telas da nave, o universo voltou ao normal e viram uma estrela vermelha, ainda pequena, aproximadamente do tamanho da lua cheia vista da Terra.

– Que lindo. Nunca estive no espaço! – comentou, esquecendo-se dos seus pensamentos anteriores devido à beleza do local,

– Eu estive poucas vezes nesta vida, mas ele fascina-me demais. – Ligou o rádio de super-onda e chamou a Terra, na frequência da empresa. – Jessy A VI chamando Cybercomp.

Na tela holográfica que ficava em frente a cadeira de comando quando ativada, apareceu o rosto de uma pessoa.

– Aqui Cybercomp, olá, Daniel – disse a mulher a quase cinco anos luz de distância. A comunicação era perfeita. – Como vai o meu Dragão favorito? Estás passeando?

– Oi, Sara. Por favor, chamas o doutor Herbert que ele está na Jessy e fazes a ponte para mim?

– Claro, aguarda...

– Herbert, falando.

– Doutor, o teste foi excelente. Viemos para Alfa em dez minutos. O reator nem chegou a ser solicitado a mais de três por cento. Parabéns.

O rosto do cientista sorriu.

– Ora, Daniel, o projeto é teu, tu é que estás de parabéns.

– Não, doutor, somos uma equipe. Jamais conseguiria sem vocês.

– Obrigado, Daniel. Seria bom testar os teus campos de supercarga com algo grande.

– Sim, vou fazer isso – disse o jovem. – Segundo o super-radar, há uma rocha de cerca de quarenta metros, bem na minha frente. Vou colidir com ela.

– Estás maluco, Dan!? – questionou a garota, assustada.

– Doutor, estou voltando agora, chego em alguns minutos. Desligando.

– Queres nos matar? – perguntou, após ele desligar.

– Calma, Daniela. – Tranquilizou-a, ativando o campo de supercarga e acelerando a nave para dez mil quilômetros por segundo. Devido aos neutralizadores de massa e inércia, nada foi notado, exceto pelos painéis onde aparecia a rocha, um meteoro perdido, fragmento de alguma colisão planetária há milhões de anos. Ele era negro e difícil de ver, sendo detetado apenas pelo radar, embora, às vezes, um pequeno brilho traísse a sua posição, resultante do reflexo da luz solar. A nave avançava sobre a gigantesca pedra e o alarme de colisão começou a tocar, sendo ignorado pelo jovem. Quando a visão do fragmento tornou-se nítida na janela a garota concluiu que aquilo era enorme e o namorado não tinha intenção de desviar. Cada vez mais assustada, agarrou-se ao seu braço e gritou desesperada.

– NÃO DAN, PELO AMOR DE D...

Não teve tempo de terminar o grito porque a velocidade era enorme e a nave colidiu com o pedregulho quase do mesmo tamanho. O meteoro desapareceu do nosso continuum de espaço-tempo, mas inúmeros alarmes dispararam inclusive o de catástrofe, quando o computador começou a gritar por toda a nave:

– Atenção, atenção, catástrofe eminente. Reator e regime de sobrecarga...

Reagindo no ato, Daniel desativou quase tudo na nave, enquanto alguns robôs da engenharia, ao notarem a sobrecarga, ligaram-se e correram para regular a compensação e eliminar o perigo. Dez segundos depois, os alarmes silenciaram e a moça chorava de nervosa.

Daniel verificou os relatórios de danos e notou que nada acontecera de especial exceto pela sobrecarga repentina do reator quatro que chegou a cento e quarenta por cento. Gentil, abraçou a namorada e acalmou-a, enquanto dizia:

– Calma. Não aconteceu nada, mas o teste não obteve sucesso total. Agora vamos retornar.

– Seu demente – gritou Daniela, ainda assustada e dando um pequeno soco nele. – Isso foi insano...

– Daniela – ele sorriu e fez-lhe um carinho – eu sabia o que estava fazendo. Confia em mim.

Mais calma, deixou que ele pilotasse de volta. Ao atingirem a velocidade da luz mergulharam de volta mas em um voo mais rápido, chegando em cerca de cinco minutos. Quando receberam autorização de pouso, desceram e voltaram ao hangar seis.

O casal saiu da nave e encontrou o cientista. Daniela ainda estava agarrada a ele, tremendo um pouco.

– Doutor Herbert – disse Daniel, compenetrado –, o teste com o campo de supercarga não foi satisfatório e teremos que rever as ligações dos reatores. É necessário aumentar a carga de energia para o campo. A nave teve uma sobrecarga feia no quatro. Temos quatro reatores que não podem ser independentes. Hoje à noite, vou desenhar as modificações.

– Ok, Daniel – afirmou o físico. – E o resto?

– O resto é o suprassumo da perfeição – respondeu. – Uma nave perfeita! Bem, vou-me embora e amanhã trarei os novos planos ou mais tardar, depois de amanhã. Devemos fazer a mesma coisa na Jessy. Se o reator tivesse cedido, teríamos sido vaporizados. Adeus, siga em paz.

– Paz para vocês – respondeu o sábio.

– Paz, doutor Herbert.

Eles desceram, pegaram as esteiras rolantes e foram para o estacionamento da administração. No carro a namorada disse outra vez:

– Tu és mesmo maluco, Daniel. Podíamos ter virado picadinho com aquele meteoro.

– Sim, até corremos um certo perigo, mas os reatores aguentam uma sobrecarga de mil por cento por uns segundos, foi um risco calculado, meu anjo. E o passeio valeu a pena, não achas?

– É, valeu – respondeu com meio sorriso –, mas assustaste-me muito, tanto que ainda estou tremendo.

– Calma, pequena, acabou tudo bem, não é? – abraçou-a e beijaram-se por alguns segundos, até que ele pôs o carro em movimento.

Deixou-a em casa e foi para a dele trabalhar. Por umas três horas, ficou compenetrado nas mudanças. Quando terminou, permaneceu sentado no escritório, pensando, até que os seus olhos pousaram sobre uma coisa. Estendeu a mão para o canto da sua mesa, onde estava o computador da Jéssica, pegando-o com carinho. Observou o pequeno paralelipípedo até que o pôs de pé em cima da mesa, à sua frente, e apertou o botão no topo. Uma tela holográfica de vinte polegadas foi projetada e, na mesa, um teclado, também holográfico, apareceu.

– "Inserir senha:" – pediu a máquina.

Ele fez várias tentativas sem sucesso até que, por instinto, escreveu "super-Dan".

Logo apareceram as opções na tela. O ícone "diário", chamou-lhe a atenção.

– "Olha o meu diário" – disse-lhe o subconsciente –, "afinal eu não tinha segredos para ti..." – Essa pequena frase era tão intensa que ele chegou a sentir como se ela estivesse ao seu lado. Olhou para o lado, mas não havia nada nem ninguém. Tocou com o dedo sobre o ícone e ativou o programa do diário. No menu, escolheu a opção "Porto Alegre". Estava tudo em sânscrito, mas ele aprendera essa língua ao compartilharem as mentes.

"PORTO ALEGRE.

Querido Diário: Acabei de descer em Porto Alegre, a Cidade Jardim. O frio é tremendo, especialmente para quem vem do Rio de Janeiro. Esta é uma das cidades mais belas que já vi, muito limpa e toda ela um jardim. Com certeza faz jus ao apelido que lhe deram e deve ser a capital mais bela dos cinquenta mundos. O povo daqui é acolhedor e simpático, tanto quanto no Rio. Fui logo levada à presença do meu tio, que está bastante apreensivo. Mostrou-me uma reportagem que eu já li e achei muito alarmante porque, na minha opinião, o autor está certo... O meu tio quer que eu o investigue, mas, quando vi a fotografia dele, alguma coisa aconteceu dentro de mim. É um homem lindo demais, aparentando dezoito anos, de olhar firme e correto. Foi um baque saber a idade dele porque eu fiquei apaixonada na mesma hora... O meu tio quer que eu me infiltre na sua roda de amigos e conquiste a confiança dele, nem que tenha de o seduzir. Isso deixou-me repugnada e zangada, mas eu estava muito atraída pela imagem dele. Só que o que me espanta mais é que ele parece ter muito mais do que os quatorze anos que o meu tio alegou. Claro que, como portador, especialmente de alto grau, já é adulto, mas não o suficiente para interagir com os nossos padrões. Relutante, aceitei o cargo, embora não saiba como atuar fingindo ter cerca de dezoito anos, que é a minha aparência, apesar dos meus vinte e seis. Pior, como interagir com um rapaz de quatorze? Ele deve ser infantil demais, mesmo sendo um portador de alto grau...

O TREINAMENTO.

Querido diário: O curso relâmpago que tive de enfrentar é assustador. Mesmo a minha memória fotográfica provou ser insuficiente. Se esse garoto tão belo tem tamanho conhecimento, não pode ser qualquer um! Os meus instrutores admitem ser incapazes de entender o tratado de matemática que ele escreveu. Que cérebro este sujeito deve ter. Estou ficando apaixonada por uma criança... e uma lenda!

O PRIMEIRO DIA:

...ao entrar na sala de aula dele, notei que todos são muito mais velhos do que o Daniel. Quando me sentei, um sussurro tremido chegou até mim: Jéssica! Eu assustei-me porque quase ninguém conhece o meu primeiro nome, que na verdade é o meu preferido. Olhei naquela direção e era ele. Olhava para mim como se estivesse desnorteado. Naquele momento, descobri que ele não é normal e pior, estou nas suas mãos porque meu coração bateu muito mais rápido. Sorri-lhe. Ele, tímido, correspondeu. No intervalo, fui cercada por um bando de colegas querendo me conhecer, mas ele sumiu! Eu precisava de o ver porque alguma coisa muito forte aconteceu comigo quando o vi pela primeira vez. Com a desculpa de ir ao sanitário, livrei-me dos colegas e fui procurá-lo, não sem alguma dificuldade, pois a escola é enorme. O instinto levou-me até à piscina e, na lanchonete, ele estava sentado, de olhos fechados e com um pequeno sorriso nos lábios. Céus, como ele é belo! Assustou-se, quando lhe dirigi a palavra, quase caindo da cadeira que estava inclinada contra a parede. Acho que não me esperava. Ele é o homem mais lindo que jamais vi. Convenci-o a mostrar-me a cidade e isso não tinha nada a ver com a minha missão. Eu apenas desejava conhecê-lo mais. Ao contrário do que eu pensava, ele não só não é infantil, como parece mais maduro até que os colegas que são muito mais velhos...

O PASSEIO:

...depois do almoço, uma maravilhosa refeição onde tive a prova da extensão do saber dele ao vê-lo falar com desenvoltura um dialeto chinês com o proprietário que o tratava muito bem, fomos passear, caminhando pelos parques à beira do rio Guaíba. Conversamos bastante e descobri que ele tem dons fenomenais. Também vi que é um doce de pessoa, mas bastante tímido. Só essa história de vidas anteriores é que eu não engulo muito. Ele, entretanto, respeita a minha visão e não fica insistindo em me forçar a aceitar a dele. Em apenas uma manhã e metade de uma tarde, fiquei perdidamente apaixonada por esse fenômeno, coisa que não posso entender. Na verdade, é como se eu já o conhecesse. Daqui a pouco, querido diário, passo a acreditar nessa história de vidas anteriores...

O BEIJO:

Querido Diário: não escrevo há algum tempo. O meu tio anda chateado comigo porque não lhe mando relatórios com regularidade. Como posso explicar para ele que o meu gatinho é a coisa mais especial que existe? Ele é alegre, doce, gentil, educado, inteligente, pacífico e muito, muito bondoso. É assim que eu o vejo e garanto que não tem nada a ver com o que sinto por ele. Por algum tempo tenho tentado me aproximar dele, que não nega a minha presença. Vejo que ele me deseja muito, mas não me incentiva. Quando o procuro, os olhos dele, lindos olhos castanhos, parecem estrelas que brilham no firmamento. Hoje, aconteceu algo inusitado. Enquanto conversávamos, conversa que é muito adulta até para mim, o primo dele apareceu, convidando-o a encarar uma competição de polo, que parece que ele sempre ganha. Quase todos os sábados, Dan e uns amigos reúnem-se na sua casa para jogarem polo aquático na piscina e, depois, fazem um churrasco. Ele, sorrindo, topou na hora. Eu aproveitei e perguntei se havia lugar para mais um. O primo, um conquistador nato, já estava de olho em mim e queria que eu fosse para o time deles, mas disse que seria do time do Daniel. Ele sorriu e deu uma piscadela para o primo. Os dois são muito chegados, como irmãos, e entendem-se bem demais, mas ele viu o que Daniel não se atinou: notou que estou apaixonada pelo Dan. É fácil para uma mulher amá-lo. Ele é muito maduro para a idade e sabe conversar sobre qualquer assunto, mas, mais ainda, sabe fazer com que nos sintamos importantes para ele. É um dom natural que tem. Talvez seja por isso que eu veja que tantas garotas da escola são atraídas por ele, muitas delas me olhando atravessado ao notar que eu e o Daniel estamos sempre juntos. Este dia ficou marcado para o resto da minha vida por uma coisa muito simples: Depois que me deu o seu endereço, disse-lhe que tinha de ir. Ia fazer um relatório para o meu tio dizendo que ele estava errado e queria acabar com isso. Então, ao me despedir, num impulso dei-lhe um beijo no rosto. Só que ele virou-se para falar alguma coisa comigo, algo que jamais saberei, pois o meu beijo acabou nos lábios dele. Aquele toque maravilhoso deu-me um tremendo choque elétrico por todo o corpo e senti um calor enorme subindo pela minha coluna. Sem me afastar dele, fiquei por uns segundos olhando nos seus lindos olhos, muito ofegante. Então, agarrei-o pelo rosto e dei-lhe um beijo na boca, lânguido e forte. Eu tremia toda por dentro. Assustada, saí correndo para o meu carro. Com as pernas bambas, quase não consegui dirigir. Cheguei à minha casa e me encostei na parede, rindo à toa. Meu Deus, nunca na minha vida senti o que sinto hoje. Eu estou irremediavelmente apaixonada por ele. O meu corpo grita por dentro: DANIEL, EU AMO VOCÊ.

O SÁBADO INESQUECIVEL.

Querido Diário: hoje tenho um compromisso para o qual eu mesma me convidei e estou morrendo de medo. Depois do que aconteceu ontem, fiquei muito assustada. Ao mesmo tempo, sinto-me mal porque a minha função é espiá-lo, mas isso vai acabar hoje. Eu tenho de ir ao churrasco com ele e a sua turma, mas, depois do beijo de ontem, estou apreensiva. Desejo ardentemente estar com ele, só que morro de medo. Peguei o meu carro e fui para a sua casa. Parei à frente do portão e fiquei bastante tempo, pensando. Na verdade, pensava em dar meia volta e sair dali o mais rápido possível, contudo concluí que estava desperdiçando uma chance de ser feliz de verdade. Assim, toquei à campainha. Poucos minutos depois, ele apareceu, lindo como sempre, e disse para estacionar dentro de casa. Vi o jeito como ele olhou para mim ao sair do carro. Será que ele notou como olhei para ele? Acho que não. Fiz de conta que nada havia acontecido antes e vi a tristeza nos seus olhos, mas o meu gatinho é intransponível; tem um autocontrole que jamais vi em outra pessoa. Todos já estavam na piscina, brincando. Tirei a saia, a blusa e entrei na água. Eu notei a reação que provoquei em muitos deles, pois assobios e gracinhas, foi o que não faltou. Dan suspirou, mas soube se controlar. Quando ficou só de sunga, foi a minha vez de suspirar e sentir o coração acelerado. Ele é mais belo do que todos os outros juntos e é difícil de imaginar que este gatinho tão meigo e delicado seja o que o primo disse: o maior mestre de Kung-fu do Império.

O engraçado é que o Daniel não gostou da propaganda. É tímido em muitas coisas. Depois do jogo na piscina, fui trocar de roupa porque não gosto de ficar com o biquíni molhado. Como não trouxe mais nada de roupas, fiquei apenas com a camiseta e a saia... ele não para de olhar para o meu corpo e eu gosto disso... mandei um beijo de encorajamento porque ele beirava o desespero em saber se eu ainda o queria. Oh Deus, como o amo... quando os outros se foram, fiquei para ajudar a arrumar tudo. Ele, parecia dormir porque estava há quarenta dias acordado. Nunca vi um portador ficar mais de quinze dias! Comecei a arrumar as coisas e tenho ouvidos super-sensíveis, mas fiquei muito assustada quando uma mão, gentilmente, segurou-me o pulso. Eu não o ouvi chegar. Pegou-me pela cintura e puxou-me para si. Deus, fiquei apavorada porque era a hora da verdade. Ele buscou os meus lábios com um desejo tão intenso que não resisti. A mão dele correu pela minha cintura até às minhas pernas. Eu estava ficando assustada e tentei resistir. Ele segurou-me firme e gentil, Não aguentei mais e entreguei-me porque eu não era mais capaz de pensar e meu corpo era uma tocha de fogo. Ele levou-me para o quarto dele e fizemos amor por muito tempo. Muito tempo mesmo. Ele é incansável. Eu nem sei como definir. Apenas digo que foi maravilhoso. Nunca tinha me deitado com um homem, mas tenho a certeza que não há outro igual a este e o meu amor foi até ao infinito. Dan, meu lindo, como foi bom esperar pela pessoa certa. Não sei como dizer, mas nunca senti algo assim. Até parece que ele sabe exatamente o que fazer comigo. Dan, não me deixe jamais. Eu amo você do fundo do coração. Jamais esquecerei o dia de hoje..."

Daniel sentiu lágrimas correndo pela face ao ler esse trecho porque a lembrança daquilo era forte demais e ainda muito presente. Secou o rosto e continuou lendo.

"NÓS.

Querido diário: Há muito tempo que eu não escrevo. Desculpe-me, mas Daniel tem tomado toda a minha atenção. Nós ficamos quase sempre juntos e estou cada vez mais envolvida com ele. Já conheci parte da família e são maravilhosos. Eles parecem gostar muito de mim, especialmente o avô do Dan. Alias, esse dá cada risada de arrepiar, mas tem um carisma incrível e deve ser por isso que é governador de Vega XII faz seiscentos anos. Também conheci o grande projeto dele. A preocupação que nutre em relação à humanidade é genuína e nada do que ele pense ou faça visa propósitos egoístas. O meu tio não podia estar mais errado e não me sinto nada bem fazendo este papel, escondendo para ele quem realmente sou. Vou ter de conversar com o meu tio. Fui com Dan ao festival dos Dragões. É muito bonito e descobri que o meu gatinho, tão gentil, pacífico e calmo, é o mais terrível lutador que jamais apareceu no Império. O primo tinha razão! O nosso relacionamento é maravilhoso e eu cada vez o amo mais.

...

FINALMENTE LIVRE.

Querido diário: estamos juntos há alguns meses. O meu Dan perguntou-me porque eu ainda bloqueio a mente e comecei a chorar, decidindo que ia acabar de uma vez por todas com isso. Prometi-lhe que na manhã seguinte contaria. Fui ao palácio, falei com o meu tio e disse poucas e boas. Depois, demiti-me. Quando cheguei de volta à casa do Daniel, contei-lhe tudo. Eu morria de medo que ele se zangasse comigo e não me quisesse mais. Afinal, estava no seu direito. Ele, bondoso como sempre, perdoou-me e perguntou-me se viveria com ele. Agora vivemos juntos e as coisas estão cada vez melhores. Nunca tive tanta felicidade. Se melhorar, estraga.

...

O SONHO:

Querido diário: tive um sonho maluco. Sonhei que ia dormir e era transportada para um lugar de beleza indescritível. Uma moça apareceu-me. Ela é muito linda e simpática, chinesa.

Olá Jessy – chamou-me de Jessy –, não te lembras de mim por causa do Plano, mas eu sou a Daniela. O teu destino está indo na direção errada e não devias estar com o Daniel. Ele é o meu caminho, nesta vida. Se insistires nisso, haverá muito sofrimento para todos. Infelizmente, eu e Daniel perdemos o contato quando a nave saltou para o hiperespaço há alguns anos. Toma cuidado, Jessy, ou irás provocar muita dor ao Daniel e, por consequência, a outras pessoas.

Eu não entendi nada daquele sonho, mas uma coisa é certa. Sonho ou não, nada irá me tirar o meu Dan de mim porque ele é a coisa mais importante que existe para a minha vida."

Daniel olhou estarrecido para o que estava ali escrito. Tudo encaixava-se, menos quem era essa Daniela. Obviamente estava relacionada com uma vida anterior.

– Oi, Dan, querido. – Jéssica apareceu à sua frente, vestindo um quimono branco, refulgente. – Que tal estou?

– Estás linda como sempre estiveste, minha amada. Neste Império, não deve haver mulher mais bela do que tu.

– Há sim, Dan, a Daniela é mais bonita, mas deverás encontrá-la. Agora já sabes parte da verdade: ela não está na Terra. Talvez seja isso que o inconsciente te tenha impulsionado a construir a tua espaçonave. Deves corrigir as coisas, senão a outra Daniela sofrerá demais. Eu sinto muito não ter dado ouvidos ao meu sonho. Acabei por te provocar um tremendo sofrimento, mas não imaginava que aquilo fosse real e o meu amor por ti é infinito. Jamais poderia te largar. Eu vou-me embora agora. Eu, tu, a Dani e muitos outros, somos uma grande família espiritual. Adeus, meu amor eterno.

Dizendo aquilo, ela beijou-o nos lábios e desapareceu em um raio de luz. Apesar da tristeza, ele estava em paz.

– "Só espero que a Daniela não sofra" – pensou.

Enquanto nas ondas sonoras o efeito Doppler faz o som ficar agudo na aproximação e grave no distanciamento, nas luz fica azul e vermelho respectivamente.

c – simbolo matemático para a velocidade da luz.


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