Capítulo 4 - parte 1 (não revisado)
No primeiro dia do Festival dos Dragões, Daniel levou a namorada para ver os combates. Em primeiro lugar, como sempre, foram os Dragões Azuis. Havia duzentos concorrentes de diversos lugares do mundo, embora a maioria absoluta fosse da China e de Porto Alegre, onde ficava o maior templo Shaolin, fora do oriente. Estes Dragões, vestiam-se com um quimono preto, sem faixa e, nas costas, tinham o desenho de um dragão azul e um tigre também azul no peito, à esquerda. A moça ficou maravilhada com a beleza e a precisão dos movimentos dos lutadores que eram colocados em quatro grupos, lutando dois a dois. O derrotado retirava-se e o vencedor aguardava a próxima etapa. Com os dez concorrentes finais, ou um número próximo disso, conforme a divisão e a quantidade, eram feitos os desafios individuais. Após, os testes dos alunos que se candidatavam a Azul. A maior parte da plateia, como sempre, era de gente da própria Cybercomp, ou familiares, muitos deles presentes e que aplaudiam com entusiasmo. No segundo dia, era a vez dos Verdes. Como os Azuis, eles usavam quimonos pretos, só que os animais eram verdes. A quantidade de guerreiros era menor, cento e vinte. Jéssica notou que eles eram muito mais rápidos e fortes, sentindo-se fascinada porque aquilo era muito belo de se ver. Absorta, perguntou:
– Você não compete, meu amor?
– Só no último dia. Amanhã vai ficar mais interessante, pois é o dia do combate dos Vermelhos. Um primo meu vai candidatar-se a Vermelho.
– Toda a sua família pratica Kung-fu, Dan?
– Sim, virou uma tradição, criada pelo meu bisavô.
No dia seguinte, ela assistiu os Vermelhos que eram cerca de cem. Os seus quimonos eram compostos por uma calça preta e um casaco de seda branca com um dragão vermelho estampado nas costas e um tigre vermelho no peito. Não entendia os símbolos dos animais, mas acreditava que devia haver um significado nisso. Curiosa, perguntou:
– Dan, por que motivo um dragão e um tigre?
– O dragão, meu amor, simboliza a força interior, a sabedoria e a espiritualidade. O tigre, a força exterior, bruta e descontrolada, como um jovem que ainda não atingiu a maturidade.
Ela observava que os Vermelhos lutavam de tronco nu por causa da seda. Os combatentes eram sorteados e Helena notou que tinham uma velocidade muito elevada e uma força bem superior aos anteriores.
– Dan, chega a dar medo. Se um deles pega você, não vai sobrar nada. Eu estou ficando preocupada. – Disse ela, segurando a mão dele com força. O namorado sorriu e deu-lhe um beijo carinhoso.
– Amanhã é o último dia e poderás me ver lutando. – De noite, ambos foram jantar fora e dormiram juntos, na casa dele.
No dia seguinte, Daniel pediu que ela esperasse na entrada do ginásio porque ia se trocar. Quando retornou, Jéssica olhou-o apaixonada porque o vermelho do quimono com os dois animais brancos era muito mais belo do que os outros quimonos.
– Amor, como você está lindo!
– Vem, minha princesa, vamos ficar junto dos outros Dragões Brancos que é o meu lugar.
Mal chegou perto dos demais, um homem muito alto levantou-se. Aparentava ter trinta anos e era bastante parecido com Daniel. Abraçou o rapaz com força.
– Avô, esta é a Jéssica, minha namorada. Jessy, o meu avô Daniel.
De queixo caído e olhos arregalados, o avô olhava para a garota, mas a surpresa não durou muito. Abriu um grande sorriso e abraçou a Helena com força e carinho, assustando-a um pouco. Quando falou tinha uma voz intensa, retumbante, mas agradável:
– Muito prazer, garota. Mas tu és demasiado parecida com a minha mãe, santo Deus. – Virando-se para o neto, pergntou em mandarim. – É ela, não é?
– É muito possível. Tenho fortes lembranças.
Ele deu uma risada estrondosa e alegre, abraçando os dois, um de cada lado.
– Venham, sentem-se aqui comigo. Vejo que vais combater. Pretendes desafiar alguém, em particular?
– Quantos Brancos temos hoje? – Perguntou o jovem, enquanto acenava para outros parentes, cumprimentando-os.
– Nove, contigo. Estão todos aqui.
– Talvez desafie todos os Brancos e Dourados juntos.
– Você enlouqueceu, Daniel? – perguntou a Jéssica, assustada, quase gritando. – Eles vão matá-lo!
O avô explodiu em uma risada que a assustou.
– Nem em mil anos, querida. Ele é como o bisavô, que jamais foi derrotado.
João chegou nesse momento e sentou-se ao lado da Jéssica, vestido a rigor.
– Oi vô, oi Helena, e daí bebê?
– Ué, mas o Dan não disse que te chamavas Jessy!?
– Só ele me chama assim. Os outros chamam-me pelo meu segundo nome. Eu sou Jéssica Helena.
– Deixa eu adivinhar – disse o homem, rindo com outra gargalhada estrondosa – ele já sabia o teu nome quando te conheceu.
– De fato assim foi, uma coisa que eu não entendo até agora.
Após os combates dos Dourados, vieram os testes para Dourado, apresentando-se apenas um candidato que foi aprovado. Como geralmente os examinandos só eram apresentados para o teste quando o mestre deles chegava à conclusão de que estavam prontos, era muito raro um deles ser reprovado. Antes de começar a nova etapa, as lutas dos brancos, Lee levantou-se e disse:
– Este ano temos duas modificações nas regras: o sorteado passará a ser o desafiante e o teste dos Brancos virá antes dos combates. Temos dois candidatos e, pela primeira vez em quase dois mil anos, um deles não é Moreira.
– Não queres testar um deles, Dan? – Perguntou o avô que era o líder dos Brancos e de todos os Dragões. – Testa o que não é da família que eu testo o outro, vou primeiro.
O homem hepta centenário desceu para o tatame.
– Oi, avô. – Disse o jovem candidato, inclinando-se. – É uma honra enfrentá-lo neste teste.
Jéssica aproveitou para se encostar ao Daniel, passando o braço pelas suas costas e apertando-se a ele.
– Agora, meu amor, vais ver um combate de verdade – disse o namorado.
Abismada, a moça olhava o combate, abismada, pois era incapaz de acompanhar os movimentos dos dois adversários, tamanha era a velocidade. O candidato afastou-se e fez um golpe, que não atingiu o governador fisicamente, mas empurrou o tio-avô para trás uns dois metros. Ele sorriu e contra-atacou, também fazendo o candidato correr para trás. Pararam de lutar e cumprimentaram-se. O candidato tinha o poder do Branco e de suportar um ataque.
– Aquele golpe da força interior que tu viste, amor, seria capaz de matar um Vermelho. Somente os Brancos têm esse poder. É pré-requisito para ser Branco.
– Minha nossa, Dan! – disse ela, apavorada. – Você não os vai enfrentar. Estou com muito medo, meu amor. Não faça isso, por favor.
– Calma, minha linda, os Brancos aguentam a própria carga.
Lee entregou o novo quimono ao candidato, que sentou junto aos Brancos, virado em sorrisos.
– Tomara que o outro consiga – disse Daniel, sorrindo e levantando-se. – Assim, posso desafiar os dez Brancos juntos, o que é muito melhor que os Dourados, já que cada um deles, sozinho, dá conta de todos os Dourados.
– Só pode estar louco – afirmou a namorada para o avô dele, tremendo de preocupação. – Ele não tem condições de enfrentar um desses, quanto mais dez. Sempre tão calminho e pacífico. O meu Dan é um doce de pessoa! Por favor, não o deixe lutar...
– Espera e verás, minha querida. – O avô deu mais uma estrondosa gargalhada porque estava sempre de excelente humor. A garota estranhava o homem, mas simpatiza demais com ele, sem saber o porquê.
Daniel tirou o casaco e ficou só com as calças e logo a plateia feminina assobiou para ele, fazendo a Jéssica franzir o sobrolho. O candidato, um chinês, inclinou-se e falou em cantonês:
– O senhor dá-me uma honra imensa, mestre Daniel. Logo no meu primeiro combate enfrentar o mais jovem e famoso Dragão Branco do mundo.
– A honra é toda minha, mestre – disse, fazendo uma reverência em troca. – Por favor, quando for utilizar o poder interior, use com força total. Preciso de o avaliar, por isso não se preocupe comigo.
– O que ele disse? – perguntou Jéssica.
O avô traduziu e ela ficou ainda mais nervosa, enquanto os dois preparavam-se. Daniel nem achava necessário retesar a musculatura para usar toda a sua força, já que o oponente não estava à sua altura. Além disso, era apenas um exame e não um combate formal. O candidato atacou Daniel, que se defendeu dos golpes sem esforço, enquanto testava a velocidade do chinês, que era maravilhosa. Ele acelerou mais ainda, mas o jovem defendia-se sem o menor esforço, até que passou para o contra-ataque e deu-lhe uma pancada com força moderada, mas que seria o suficiente para derrubar um Dourado. O candidato aguentou o golpe e contra-atacou com a força interior. De novo, o rapaz suportou a carga sem dificuldades. O chinês tinha a força necessária e, desta forma, o Daniel desferiu o seu ataque interior com o mínimo da sua potência. O pobre coitado do candidato voou longe e caiu atordoado, incapaz de se levantar por uns segundos. Por ser um exame, Daniel aproximou-se mas não podia ajudar a se levantar sob pena dele ser reprovado.
Assistindo o namorado, a Jéssica ficou de boca aberta porque jamais imaginou ver uma coisa dessas.
Lee levantou-se, muito sério e triste, enquanto o chinês terminava de se levantar.
– O candidato é rápido e tem o poder da força interior mas não resistiu ao ataque de um outro Branco – disse, pesaroso. – Mestre Daniel, o que tem a dizer sobre o candidato, visto que aparenta não estar apto a ser um Branco?
– O candidato é rápido e forte, mestre Lee, e a sua força interior é boa podendo ser melhorada com o tempo e treino adequados, senhor.
– E quanto à defesa?
– Mestre Lee, ele lutava comigo e não sei usar força menor que aquela. Reprovar o candidato não seria justo. Tenho a certeza de que ele suportaria o ataque de qualquer outro, exceto, talvez, o meu avô Daniel, o meu primo João e o meu pai.
– Então, mestre Daniel, aprova o candidato?
– Sim, aprovo. Ele é um Branco de certeza, embora precise de melhorar.
Sorridente, Lee aproximou-se do candidato e deu-lhe o casaco do Dragão Branco. O chinês, aplaudido por todos, cumprimentou a mesa julgadora e, depois, os Brancos, finalizando com os demais Dragões.
– Mestres, vamos iniciar o combate dos Brancos. O primeiro sorteado é o mestre Daniel, neto.
O rapaz levantou-se e, nesse momento, chegou a mãe dele, que sentou ao lado da nora.
– Olá, Jéssica, é o pequeno Dan que vai lutar? Que bom. Vamos ter um belo show – disse Alexandra, enquanto beijava a garota.
– Pequeno? – Jéssica olhou espantada para a sogra, visto que o filho era bem maior que a mãe, já com quase um metro e oitenta e seis.
– Coisa de mãe, minha querida.
Ao chegar ao tatame, Daniel virou-se para os Brancos.
– Agora somos onze Brancos, mas qualquer combate que eu faça contra um único é desproporcional. Assim, desafio todos os dez restantes a me enfrentarem em conjunto.
– Ele pirou! – gritou Jéssica, muito assustada. – Vão matá-lo, Dan, não faça isso!
– Nem se fossemos o dobro, minha linda – acalmou-a o avô Daniel, levantando-se junto com os demais Dragões e dando uma das suas famosas gargalhadas. – Espera e verás.
– Acalma-te, Jéssica – continuou a sogra, pondo a mão sobre o braço da nora e sorrindo. – Jamais alguém derrotou o Dan. Acho que deve ser impossível.
Ainda nervosa, mas mais tranquila, observou o namorado, enquanto os oponentes agrupam-se. Quando estavam em frente ao desafiante, Daniel preparou-se para os enfrentar e contraiu a musculatura do corpo, parecendo que inchava a olhos vistos. De olhos arregalados, a garota viu feixes de músculos maciços aparecerem por todo o corpo dele e o seu fã clube assobiava e gritava.
– Ai, meu Deus – afirmou baixo, abanando-se – que corpo mais lindo, chega a dar calor.
A sogra sorriu, com orgulho do filho.
– Ele é lindo demais, sim, Jéssica. É igual ao bisavô.
Após os cumprimentos e sem aviso algum, todos atacaram-no na vã esperança de o pegar desprevenido, mas ele não se desviou como era o seu feitio e enfrentou-os aparando os golpes. As suas mãos e pés pareciam estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Boquiaberta, Helena olhou algo que parecia impossível, enquanto o namorado passava a golpeá-los em movimentos tão velozes que não conseguia acompanhar. Abismada, notou a tranquilidade dele em se mover no confronto, para infelicidade dos adversários que tinham de interromper o ataque para se defenderem porque não conseguiam enfrentá-lo, nem mesmo em conjunto. Era fascinante ver como ele combatia de forma tão elegante que mais parecia um bailado, desviando-se com tanta facilidade que nenhum dos adversários tocava nele. Como se tivessem combinado, todos recuaram dez metros e atacaram com a força interior ao mesmo tempo. Daniel, preparado para esse golpe, recebeu um impacto tão brutal que até os Brancos mais fracos morreriam, mas ele apenas recuou um metro e, sorrindo, contra golpeou na força mais baixa que tinha. Todos os opositores foram lançados para trás, atordoados. O combate terminou em menos de dois minutos com apenas um de pé!
– É mesmo o super-Dan – disse a mãe para a nora, sorrindo. Viste que eu tinha razão?
– É verdade, senhora. É super mesmo. – Jéssica estava boquiaberta, de olhos muito brilhantes e olhando aquilo que ela jamais imaginou ser possível. O seu namorado era um fenômeno inigualável e ela ficou cheia de alegria e orgulho.
– Vou ter que esperar até aparecerem mais dez – disse ele, com um suspiro.
O avô deu mais uma gargalhada e levantou-se, abraçando o neto que tanto amava. Sentaram-se nas arquibancadas e Daniel beijou a Jéssica, que o apertou forte. Quando viu a mãe, também beijou-a.
Enquanto os combates continuavam, o jovem casal decidiu sair mais cedo e despediram-se do avô e da mãe. No momento, o pai competia com o João e, muito abraçados, saíram porta fora, com a felicidade estampada no rosto.
– Será que é ela? – perguntou-se a mãe, observando o par.
– É quem, a minha mãe? – perguntou o avô, sem esperar pela resposta. – Acho que sim. O meu medo é quando ele encontrar a Daniela.
– Eu sei que o senhor não aprovou, pai, mas nós estávamos desesperados e ele piorava a olhos vistos. Por isso, tiramos todas as evidências da existência dela. Além do mais se essa moça for a reencarnação da mulher dele, há um destino a ser cumprido.
– Aí é que te enganas redondamente, filha. Lembro que, quando era criança, o falecido mestre Lee, também meu mestre, contava que a Daniela dissera que naquela vida eles não ficariam juntos, mas que, na seguinte, seriam um do outro enquanto ela durasse. Isso quer dizer que ela vai encontrar-se com ele e essa menina vai ter de sair de circulação. Só espero que não haja alguma tragédia. Mas eu quero ver vocês explicarem tudo para ele. Desejo sinceramente que vos perdoe.
– Eu também, pai. Sei que não devíamos ter feito isso, mas ele ia morrer em pouco tempo, o senhor viu, definhava a olhos vistos e o senhor também não conseguiu nada para o tirar daquele estado.
– Eu sei, filha, mas ainda acho que devíamos ter tentado outras soluções antes.
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