Capítulo 3 - parte 4 (não revisado)

Nessa semana, Daniel levou Helena para conhecer a Cybercomp e ela ficou abismada com tudo aquilo. Todos conheciam o porte daquela mega-empresa que, nas mãos do seu bisavô, lançou a humanidade na era dourada e foi decisiva para a Unificação e a criação do Império do Sol, o governo único, o sonho de alguns utópicos que jamais acreditariam que aquilo fosse possível. Contudo, ver aquele complexo gigantesco pela primeira vez é outra história bem diferente. A empresa parecia um parque natural, onde alguém plantou prédios de um design belíssimo, como se fossem árvores em meio a uma floresta. Mais afastado dos complexos havia um espaçoporto particular. O campo de pouso tinha vinte quilômetros quadrados, quase tão grande quanto o imenso espaçoporto Salgado Filho. No seu canto mais afastado, uma esfera cujo tamanho superava os setecentos metros de diâmetro estava em plena construção. Por uma rede de esteiras rolantes no subsolo, podia-se ir para qualquer lugar da empresa. Daniel estacionou na administração e subiram para a presidência por um elevador ao estilo antigo. Na mesa, havia um homem aparentando os seus trinta anos, embora tivesse dez vezes essa idade. Ao ver o filho de mãos dadas com uma mulher de beleza extraordinária, ficou de queixo caído.

– Pai, esta é a minha namorada. Amor, o meu pai, Daniel.

– Prazer, senhor, Helena. – Ela estendeu a mão.

– Oi, Helena, o prazer é meu. Então, gostaste do centro de pesquisas?

– É grandioso, senhor, e jamais vi um lugar tão belo.

– Desculpa a curiosidade, filha, mas de onde és? Esse teu sotaque parece carioca!

– E é, senhor – ela sorriu para o homem – nasci no Rio. Estou aqui há pouco mais de quatro semanas.

– Estás gostando de Porto Alegre, Helena?

– Muito – olhou para Daniel com os olhos brilhantes – muito mesmo.

– Bem, pai, vou mostrar umas coisas para a Jessy. Depois passo no hospital para ver a mãe.

– Jessy?! – Ele espantou-se. – Mas o nome dela não é Helena?

– Sou mais conhecida por Helena que é o meu segundo nome, mas, na verdade, chamo-me Jéssica Helena.

– Entendo. – "É coincidência demais" – pensou o pai –, "e a semelhança assusta." – Vão em paz. Dan, sexta-feira é o festival dos Dragões. Vais participar?

– Talvez, pai, mas estarei presente. Até mais. Vem, Jessy, que te vou mostrar o meu projeto.

Mal saíram, o pai dele chamou a esposa no videofone. Fez-lhe sinal de que queria falar em particular. Ela desligou e desbloqueou a mente.

– "Oi, amor, o que foi?"

– "Alexa, o Dan acabou de sair daqui. Mais tarde passará aí para te ver. Prepara-te."

– "O que foi?"

– "A garota, mas que garota!" – projetou uma imagem. – "É de tirar o folego. Não te lembra alguém?"

– "Mas é parecida com a tua avó!"

– "Até tem o mesmo nome. E ele, meu amor, está feliz, muito feliz. Depois de seis anos!"

– "Que bom. Vou esperar a visita deles. Adeus. Estou um pouco ocupada."

– "Adeus, Alexa."

– Amor – disse Jéssica – posso assistir esse festival dos Dragões?

– Claro, mas terás de torcer por mim, se eu participar.

– Alguma dúvida? – sorriu, beijando-o. – O que é exatamente o festival?

– Um campeonato de Kung-fu, mas muito especial.

– Acredito que vou gostar, acho o Kung-fu muito bonito. Onde estamos?

– Perto – respondeu. Ambos andavam pelas esteiras rolantes de alta velocidade e ela calculou que já percorreram uns oito quilômetros quando ele a fez trocar para uma esteira mais lenta. Ao fim de cinco minutos, ambos desceram e entraram em um poço antigravitacional, subindo para o campo de pouso do espaçoporto. Na superfície, ela viu uma construção esférica titânica. Andaimes gigantescos cercam-na e a moça não a conseguia cobrir com os olhos da posição onde estavam.

– Minha Nossa Senhora, que monstruosidade!

– Esta é a minha nova espaçonave, princesa – enlaçou-a pela cintura. – Este barquinho poderá atingir distâncias nunca antes imaginadas. Toda a tecnologia que eu desenvolvi será usada aqui. Tem setecentos e setenta metros de diâmetro. Aquele anel central, no equador da esfera, contém os sistemas de navegação. Jatopropulsores de partículas direcionais e os hiper-propulsores. Também terá os campos repulsores e de supercarga.

– Supercarga?

– Inventei há pouco tempo. Qualquer coisa que colida com a nave será atirada para o hiperespaço. Serve para defender a nave de um eventual ataque. Ela também terá armas, mas ainda não pensei nisso. Na verdade, as armas repugnam-me muito, embora reconheça que possam ser úteis para proteger a Humanidade. Acima do anel equatorial há hangares com capacidade para uma dúzia de naves de cinquenta metros de diâmetro com propulsores interestelares e trinta naves de pequeno porte de voo planetário. Terá um centro de pesquisas completo e capacidade para mil tripulantes. Vou fazer uma coisa que a nossa gente não faz há muitos séculos: explorar o universo. Quero ir a Andrômeda.

– Puxa vida, meu amor, que coisa grandiosa! Quando termina o projeto?

– Calculo que serão necessários mais dois anos. Vem, vamos ao complexo hospitalar. Quero te apresentar a minha mãe.

– Dan, por quê Andrômeda?

– Algo me diz que a raça humana vem de lá. Não sei te explicar. É apenas uma intuição muito forte.

No hospital de pesquisas, Daniel encontrou a mãe na sala da direção. Ela levantou-se da mesa onde trabalhava e abraçou o filho.

– Mãe – disse ele, com um brilho novo nos olhos –, esta é a minha namorada, Jéssica Helena.

Elas olharam-se por uns segundos, até que a mãe dele abraçou a nora.

– Prazer em te conhecer – disse, calorosa. – Engraçado, mas és muito parecida com a bisavó do Daniel.

– Há pouco descobrimos que eu e o Dan somos primos de sexto grau. A minha tetravó era irmã da mãe dela e o meu primeiro nome é Jéssica, em sua homenagem.

– Impressionante. Se fosses loira, minha querida, passavas por irmã gêmea dela.

– Mãe, nós vamos indo – disse Daniel despedindo-se.

– Adeus, meu filho. – Ela abraçou-o e disse no seu ouvido, em mandarim. – Ela é linda, meu amor, espero que dê tudo certo.

No caminho Daniel encontrou Lee e apresentou-lhe a namorada.

– Muito prazer, Jéssica Helena – cumprimentou-a, sempre cortês e calmo. – Daniel, vais participar do Festival? Posso confirmar o teu nome?

– Sim, mestre, mas só se houver mais competidores. Do contrário não tem graça. Sabe se o meu avô vem?

– Todos os Brancos confirmaram, filho.

– Então confirme, mestre Lee, nós vamos indo. – Daniel fez uma vênia e retirou-se.

O seu mestre via aquela moça com aprovação porque os olhos do jovem voltaram a ter a alegria que tinha em criança. Ele agradeceu a Deus por isso porque amava demais esse rapaz e, apesar de se ter recuperado do que aconteceu antes, jamais voltou a ser a mesma pessoa, rindo muito raramente. Tudo indicava que agora ele tornaria a ter aquela enorme alegria de viver que mostrava em criança.

Algo lhe dizia, e ele acreditava com toda a força, que esse rapaz seria um dos homens mais importantes do Império, tão importante quanto foi o bisavô. Sorrindo muito, o chinês seguiu o seu caminho.

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