Capítulo 2 - parte 1 (não revisado)
Aos dez anos, Daniel começou a estudar hipermatemática. Como sempre, não apresentava qualquer dificuldade, aprendendo tão bem que discutia de igual para igual com os professores, deixando-os alucinados, porque o rapaz chegava a lhes ser superior. Um mês depois, entediado com a aula, ele saiu da sala por um tempo, dando um passeio no pátio para desanuviar as ideias. Ao retornar, o professor perguntou:
– Algum problema, Daniel?
– Não, professor, desculpe, mas era um pouco de tédio porque isso é demasiado simples, banal ao extremo e dá-me sono.
– O quê, simples? – perguntou o matemático, atônito e com os olhos arregalados. – Achas este modelo matemático simples? Mas é o modelo mais avançado da humanidade!
– Desculpe de novo, professor, que não é arrogância o que vou dizer, mas trata-se de um modelo demasiado simples e, na minha opinião, ultrapassado. Na verdade, ando pensando em um novo.
A turma deu uma risada e o professor, impressionado com o comentário do menino prodígio, olhou para ele e perguntou-lhe:
– Por acaso, Daniel, sabes quem criou isto?
– Sei, eu fiz – afirmou, encolhendo os ombros.
– Deixa de brincadeiras, rapaz, foi o teu bisavô quem desenvolveu esta teoria. Ele foi o maior cérebro que já apareceu no Império. Na verdade, ele foi um dos criadores do Império. E o menino vem dizer que vai conceber um modelo novo!
– Isso mesmo, professor, espere e verá. Esse está ultrapassado.
Alguns colegas caíram na risada ante o comentário do rapaz, mas o primo, que o conhecia muito bem, permaneceu sério e atento. Ele sabia que Daniel jamais se vangloriava ou mentia.
O jovem, aparentava ter quatorze anos de um sapiens. Após o choque que sofreu, perdeu grande parte da sua alegria de vida, mas não o caráter. Ele costumava meditar e tentava entender por que se sentia tão triste e incompleto. Achava que havia uma lacuna na sua memória, mas não entendia o porquê nem como, já que, com a sua tremenda capacidade, isso seria impossível.
No dia do festival dos Dragões que acontecia todos os anos no dia do aniversário do bisavô, algumas vezes até mais de uma vez por ano, os primos convidaram Daniel a ir porque ela evitava competir há dois anos. O rapaz não costumava participar dos combates, embora fosse um Grande Dragão Dourado, talvez o melhor de todos. Adorava lutar, mas perdeu um pouco da paixão que o motivava, bem como tinha medo de ferir alguém. Este evento estava com bastante gente porque todos os Brancos confirmaram a presença, uma vez que alguns deles nem viviam na Terra, como os e tios-avôs do jovem, por exemplo. Eram nada menos que oito, todos parentes do Daniel. O festival era no ginásio de artes marciais da Cybercomp, um lugar enorme, com arquibancadas cuja capacidade excedia as trinta mil pessoas. Entretanto, este festival não era aberto ao público. Os Dragões já foram um grupo secreto e deixaram de o ser, mas permaneceram fechados. Em geral, apenas monges Shaolin, parentes e alguns funcionários eram a única plateia, sempre muito entusiasmada. Ao ver o seu pupilo preferido vestido com o quimono cerimonial, o mestre Lee questionou-o.
– Então, pequeno Dragão, tenho guardado o teu quimono de Branco, quando vais assumir?
– Como o senhor sabe que eu tenho o poder? – perguntou o garoto, espantado.
– Ora, meu querido, vejo claramente que tu moderas a tua força ao combater com um Dourado, mesmo um adulto pleno. Até quando lutas com um portador.
– O senhor tem razão, mestre. Mas ia mudar alguma coisa se eu fosse um Branco?
– Para mim mudaria, meu filho, e esse é o teu título de direito, ainda mais se tu fores realmente a reencarnação do teu bisavô. Faz por ele e por mim; desafia um Branco.
– Tenho medo de os ferir, mestre – disse. – São todos meus parentes desde o meu pai ao meu avô e tios avós.
– Ora, pequeno Daniel. – Lee sorriu suavemente. – Um Branco aguenta a carga de outro, ainda mais a tua que não está plena.
– Engano seu, mestre Lee, nem todos eles juntos poderiam com o meu poder. A minha força é assustadora e olhe que, como o senhor disse, ainda não é total. Quando eu testei pela primeira vez o poder do Branco, explodi uma árvore e era das grandes.
– Céus, filho, quando foi isso? – Perguntou o mestre que sabia que o rapaz jamais mentia nem se jactava.
– Há dois anos, pouco depois de me tornar um Dourado. Desde então, eu fiquei com muito medo de competir. Só aceitei este ano porque os meus primos pediram e o João vai fazer o teste de Branco.
– Mas tu já dominas a intensidade?
– Sim, mas... – parou de falar por uns segundos – mesmo assim, ainda é um impacto muitíssimo forte.
– Então, meu filho, é tua obrigação ser um Branco. Este ano, temos vinte Dourados. Seis deles vieram da China e vamos ter um belo combate. Depois dos combates, vou indicar-te para Branco. Faz isso por nós, meu filho.
– Pelo senhor eu faço, mestre. – Daniel suspirou. – Só espero não matar niguém
No festival que durava de três a quatro dias conforme o número de participantes, havia nada menos do que seiscentos competidores, a maioria Azuis e Verdes. Vermelhos, só se inscreveram cem. Os primeiros dois dias foram dos Pequenos Dragões. Os dois seguintes, dos Grandes. Ao final de cada um desses dias havia os testes para Dragão. Mestre Lee, Grande Dragão Dourado, era um dos líderes e juízes, mas ele decidiu competir na final. Quando chegou a vez do Daniel, o seu tutor perguntou.
– Quem desafia o mestre Daniel?
O segundo mais novo dos Dourados era muito mais velho que Daniel e vários deles não sabiam quem ele era porque estavam ali há menos de dois anos. Nenhum deles quis desafiá-lo com medo de o ferir e porque achava que a luta seria ridícula.
– Se não há desafiante, quem você desafia, meu filho? – Questionou o presidente da mesa.
– Todos.
– Todos?! – exclamou Lee. Os competidores explodiram numa sonora gargalhada, olhando para o rapaz e julgando que este estava de gozação com eles, mas notaram que seu rosto permanecia bem sério e impassível. Aos poucos, o silêncio foi-se tornando maior.
– Sim, desafio todos juntos.
– Um Dragão jamais pode deixar de aceitar um desafio durante o festival, mas está ciente, filho, que enfrentar dezoito Dourados pode ser demais?
– O senhor engana-se, mestre Lee. São dezenove Dourados e oito Brancos. Desafio todos os Dourados e Brancos juntos a me enfrentarem em combate.
– Os Brancos podem recusar o desafio – disse o pai do rapaz, assustado com o que ouviu porque achava que o filho pirou da batatinha.
– Não durante o festival – corrigiu Lee.
– Filho – atalhou o pai, preocupado, embora o avô Daniel estivesse calado, sorrindo bastante – nem o teu avô é capaz de enfrentar o poderio conjunto de todos os Brancos. Somente o teu bisavô foi capaz disso e ele estava no auge da força. Tu ainda és uma criança com o corpo em formação. Bem sei que tens mais força que um portador comum adulto, mas não creio que possas conosco, Daniel.
– Eu insisto, pai.
– Meu rapaz – interrompeu o avô, sorrindo – façamos o seguinte: tu enfrentas os Dourados e, se os venceres sem dificuldades, nós entraremos no combate.
– Pai – disse o pai do rapaz para o avô – estás maluco? Ele é uma criança e, ainda por cima, o teu neto! Nós, juntos, podemos matá-lo. Um de nós já seria suficiente para isso!
– Ele é como o teu avô, vai nos derrotar – respondeu o avô do garoto com um sorriso enorme e uma confiança irrestrita no neto que tanto adorava, o seu preferido. – Espera e verás.
– Combinado – disse Daniel, confiante – vão-se preparando que não demoro.
O avô sorriu, alegre, enquanto Lee descia para o tatame e tirava o quimono, assim como os demais Dourados. Os Grandes Dragões usavam quimonos com calça preta e casaco branco de seda. Nas costas um dragão da sua cor e na frente um tigre do lado esquerdo, também da sua cor. As faixas, de seda, eram da cor do Dragão. Já os brancos tinham o casaco vermelho intenso, com os animais brancos e a faixa era de duas cores: dourada e branca. Quando Grandes Dragões competiam entre si, usavam só a calça porque a seda poderia ser destruída, tamanha era a potência dos seus golpes.
O ginásio ficou em silêncio porque era um absurdo imaginar que o rapaz de pouco mais de um metro e sessenta fosse enfrentar dezenove homens adultos do mesmo grau que ele. Enquanto o pequeno Daniel preparava-se, o pai observava o filho, apreensivo. Devagar, o jovem tirou o casaco de seda do quimono, mostrando um corpo atlético, muito bem definido, mas não aparentando a força que possui-a. Os seus músculos eram bem desenhados sem, no entanto, parecerem hipertrofiados. O rapaz começou a retesar a musculatura e, onde parecia não haver nada, feixes de músculos maciços formaram, arrancando olhares de espanto em algumas das moças que assistiam o combate. O pai observava tudo num misto de medo e orgulho pela beleza do seu filho, que aparentava ter muito mais idade e lembrava demais o bisavô. Quando se cumprimentaram, os dois lados avançaram. Rápido como um raio, Daniel pôs-se no meio dos adversários e atacou-os, movendo-se de tal forma que estes sequer tiveram tempo de pensar no que aconteceu. O jovem era tão veloz com os pés e as mãos que, em cinco segundos, dos dezenove adversários só ficaram de pé o mestre Lee e o primo João, que ia fazer o teste de Branco. Observadores não treinados eram incapazes de acompanhar os movimentos desses três guerreiros. O primo e o mestre Lee afastaram-se dele para se protegerem. Aturdido, o pai ouviu os brancos de pé, aplaudindo o rapaz. Ainda incrédulo, permaneceu parado e fascinado com a perfeição e destreza daquele combate tão singular.
Com um grande sorriso, Lee atacou e o primo foi pelo lado. Ambos eram muito rápidos e pretendiam dificultar ao máximo a atuação do oponente, mas Daniel, sem dar trégua, avançou sobre eles que, por ser mais baixo, tinha de ter cuidado com os adversários quando estivessem ao seu alcance, uma vez que já estariam em condições de o atingir. Assim, só a grande velocidade e agilidade é que o poderiam ajudar. Decidido, avançou sobre ambos e, quando ficou ao alcance dos dois últimos Dourados, abaixou-se de supetão, desferindo com as mãos espalmadas uma forte pancada no peito de cada um e fazendo com que voassem para trás, apanhados de surpresa. Atordoados, ficam alguns segundos caídos no tatame.
Daniel foi o vencedor, que derrotou facilmente dezenove dos melhores lutadores do mundo em menos de um minuto. Preocupado, ele correu a ver se o mestre e o primo não estavam feridos. Depois, virou-se para os Brancos, cruzou os braços e aguardou.
– Filho – disse o pai, olhando para os olhos do Daniel, ainda apreensivo e muito espantado – estás ciente de que aquilo que fizeste não é suficiente contra nós?
– Sim, pai, só espero não vos ferir. Afinal, eu apenas usava a força necessária contra um Dourado, só uma fração do que posso fazer.
O avô deu uma estrondosa gargalhada, que lhe rendeu um olhar gélido por parte do filho. Os oito Brancos avançaram sobre o rapaz mas o pai, com medo de o ferir, ficou mais para trás. Quando o alcançam, o garoto prodígio deu um salto enorme, voando a mais de cinco metros de altura a colocando-se na retaguarda do grupo atacante, sem fazer nada. Sorrindo bastante, o avô, que era um homem muito alto, avançou sobre o neto com uma velocidade assustadora. Era o melhor Branco desde a morte do seu pai e muito mais rápido do que os demais, alcançando Daniel sem dificuldade. Ambos entraram em um jogo de golpes e contra golpes cada vez mais rápidos, até que o avô foi atirado para trás, espantando todos os participantes. A plateia exultava e aplaudia o pequeno guerreiro, que aguardou o grupo voltar ao ataque, o que aconteceu logo. Daniel usou a sua força interior na menor intensidade que sabia fazer e, respirando fundo, exalou e projetou um golpe da garra do tigre. Todos os oponentes foram lançados em várias direções, caindo muito atordoados.
Assustado, o garoto correu a ver se não os feriu, ajudando os oponentes a levantarem-se. O seu avô mais velho, o vô Daniel ainda no chão, começou a rir muito enquanto o jovem era aplaudido de pé por todos os presentes em um barulho ensurdecedor. Encabeçando os fãs, as mulheres que assistiam eram as mais barulhentas.
– És mesmo o meu pai – afirmou, abraçando o neto com toda a ternura – só ele era capaz disto, meu querido.
Lee aproximou-se com um embrulho e um grande sorriso no rosto, estendendo um quimono de Grande Dragão Branco. O mais jovem que o mundo conheceu.
– Filho, por que não nos disseste? – perguntou o pai após a cerimônia de troca de nível. – Pelo que sinto, já deves ter o poder interior há muito tempo.
– Eu não queria, pai, tenho muito medo de ferir alguém. Por isso não costumo competir. Posso vencer todos os Dragões aqui presentes, sem esforço. Usei uma fração mínima da minha força e, mesmo assim, vocês não seguraram o golpe. Só competi, porque o mestre Lee pediu. Embora eu não dissesse, ele sentia que eu era Branco. Se eu usasse a minha força plena, mataria todos e isso dá-me muito medo.
– Muito bem – interrompeu Lee. – Temos mais um Dourado que vai fazer o teste e, como todos os Dourados já competiram, podemos começar. Aproxime-se, João.
Daniel sentou-se junto aos Brancos. Com alegria, ele assistiu o seu primo derrotar todos os dourados e mais cinquenta Vermelhos, a primeira etapa para ser um Branco. O primeiro teste foi criado para proteger a vida do candidato, porque ser derrotado por um Branco podia ser fatal se o examinando não estivesse preparado. Ao terminar a luta, escolheram um Branco para o enfrentar.
– Queres enfrentá-lo, filho? – perguntou o avô, que era o líder dos Brancos. Com uma recusa, o rapaz argumentou:
– Mande alguém mais fraco, vô, senão não seria justo. Esta é a festa dele, não a minha.
– Tens razão, Daniel.
Um dos Brancos, primo de ambos, desceu para enfrentar o João. O combate era equilibrado e durou alguns minutos. Quando ambos usaram o Ki só mesmo tempo, veio a desgraça porque os dois foram atirados para cima e longe, muito atordoados. Ao ver que iam cair de cabeça de uma altura de mais de dois metros, Daniel, assustado, levantou-se e focou os olhos, concentrando-se no par. Enquanto murmúrios de susto vinham dos presentes que nada podiam fazer para evitar a morte dos adversários, algo de fantasmagórico aconteceu e ambos pararam no ar, como se uma mão gigantesca e invisível os segurasse. Levitando com suavidade, desceram até ao solo.
– Quem fez isso? – perguntou o pai do Daniel, olhando em volta muito assombrado.
Jovem ficou calado e sentou-se, mas o avô observava-o de forma discreta e com um sorriso terno no rosto. Ele nutria verdadeira paixão pelo neto, tendo desde sempre acreditado que era o seu querido pai renascido.
Após a sagração do primo, começaram os combates dos Brancos. Daniel avô foi o primeiro e levantou-se, indo para o tatame e, com um grande sorriso, desafiou o neto. Mais uma vez o ginásio ficou em silêncio na expectativa de ver o novo duelo, esperando que fosse tão incrível quanto o primeiro.
Daniel, preparado, aproximou-se do avô. Com um sorriso no rosto, o jovem observava-o com alegria. Os dois eram muito parecidos, tanto no corpo quanto no espírito e o jovem amava demais aquele avô, com quem se identificava tanto. Parou a cinco metros de distância e cumprimentou.
Frente a frente, o homem de setecentos anos e o menino de dez, pareciam desproporcionais. Enquanto o garoto ainda estava em plena formação, o avô era um Dragão no auge da energia, pois ainda nem chegara à meia-idade. O avô pensava como seria este pequeno fenômeno quando fosse adulto completo. Certamente superaria o seu pai em tudo.
Os olhos do Daniel estreitaram-se e ele concentrou-se na imagem do oponente, que se aproximava com uma velocidade absurda, embora fosse demasiado lento para o seu olhar. No último segundo, desviou-se de um soco e ergueu o pé, provocando uma rasteira no avô, que voou por mais de dois metros e caiu com um rolamento, levantando-se sem perder tempo. Ao se virar, já o viu preparado para nova investida, que teve um resultado tão nulo quanto a primeira. Daniel não queria atingir o avô e mantinha-se na defensiva, divertindo-se um pouco com isso.
O Daniel avô observava o neto, impressionado com a facilidade dele. Notou que nada conseguiria usando velocidade, pois o rapaz era muito mais rápido. Sorrindo aproximou-se do neto devagar e atacou-o com meios convencionais, embora não conseguisse penetrar nas suas defesas. Muito alegre, tentou atingir o rapaz sem o menor sucesso. Ele, o melhor lutador desde a morte do seu pai, imbatível em mais de cento e cinquenta anos, sentia-se por demais feliz com o que passava e cada vez mais notava a verdade. Decidiu usar a força interior, mas com uma dose razoável. O impacto que o rapaz recebeu era terrível e ele chegou a ser arrastado para trás por dois metros, mas não caiu nem atordoou. Apenas sorriu e contra-atacou de forma normal. Determinado a testar os limites do garoto, desferiu novo ataque, desta vez bem mais forte. Viu o rapaz receber uma pancada brutal que o arrastou mais uns metros. Novo sorriso e novo ataque convencional. Ele nem acreditava na força que o neto apresentava. Aquele golpe teria morto cem homens normais. Desferiu um ataque ainda mais intenso.
Desta vez o Daniel contra-atacou, rebatendo o golpe que atingiu o avô em cheio. Ele voou longe e o rapaz deu um salto enorme atrás dele, pegando-o no ar, para impedir que ele caísse de cabeça porque estava muito atordoado.
O menino venceu de novo e ninguém mais o desafiou, já que todos acreditavam que a loucura tinha os seus limites, mas Daniel angariou da noite para o dia um fã clube feminino.
Após as festividades e o tradicional churrasco que durou até ao final do dia, a família retirou-se para casa e o pai chamou o filho ao seu escritório. Observou o garoto, sem saber como abordar o assunto. Daniel, impassível, aguardava até que o pai decidiu ser direto.
– Dan, foste tu que usaste algum tipo de telecinésia no ginásio, salvando aqueles dois?
– Sim, pai, mas, por enquanto, não quero que saibam. Fiz só para os salvar. Por favor.
– Desde quando desenvolveste esse dom?
– Acho que pelos seis anos.
– Tens outro dom extraordinário?
– Tenho, mas não me pergunte porque não o direi.
– Tudo bem, filho, é um direito teu.
– Pai, desculpa a minha atitude, mas já é ruim conviver com pessoas muito mais velhas do que eu porque os da minha idade são incapazes de me acompanharem. Só que estes dons iriam me colocar demasiado distante de todos! Eu não desejo isso, pai, porque ficaria um solitário.
– Entendo, filho. Daqui a quatro ou seis anos, a diferença será menor. Quando tiveres a idade do teu avô, ou dos teus tios avós, cem anos não farão a menor diferença.
– Eu sei, já meditei a respeito disso mais de uma vez. Pai, aproveitando que estamos conversando, eu quero construir uma espaçonave, mas quero projetar um modelo novo. Nós temos uma fábrica de naves, não temos?
– Sim, filho, a maior do Império. Mas tu já tens os conhecimentos necessários para isso!?
– Claro, embora alguns deles ainda esteja aprendendo. O propulsor estelar será diferente. Em vez de saltar pelo hiperespaço, ela ir-se-á deslocar nele a uma velocidade milhões de vezes maior que a luz. O voo pode ser visual e sem as interrupções nos saltos, que fazem uma viagem de 300 anos-luz demorar uns dias, já que um salto único é arriscado.
– Interessante, filho. Bem, quando terminares o teu projeto, falaremos novamente a respeito. A fábrica está parcialmente ociosa mesmo. Assim, nós poderemos reprogramar uma das linhas de montagem, embora eu não conheça nenhuma tecnologia capaz de fazer esse tipo de motor estelar.
– Obrigado por acreditares em mim, pai. Esse motor é uma criação minha, mas ainda vou levar um ou dois anos para realizar todo o projeto porque estou desenvolvendo um novo modelo matemático. Além do mais, o Império vai precisar dessa nave para sobreviver. Podes escrever o que digo.
– O que queres dizer com isso, filho?
O rapaz apenas sorriu e saiu da sala, deixando um pai muito pensativo. O filho era demasiado fora dos padrões até para um portador da idade do primo, quatro anos mais velho. Ele preocupava-se com isso, mas a única coisa que podia fazer era dar apoio e compreensão para o rapaz que era bastante maduro e não lhe dava trabalho algum, para sua felicidade.
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