Capítulo 1 - parte 2 (não revisado)
O pequeno Daniel estava sempre tranquilo e calmo, sendo uma criança alegre. Contudo, muitas vezes agia como se esperasse algo ou alguém. Quando lhe perguntavam, apenas encolhia os ombros e sorria. Às vezes, respondia com um suspiro, sorrindo para o interlocutor.
– Ela, espero por ela, mas ainda falta muito tempo.
Se lhe perguntassem quem era ela, voltava a encolher os ombros e sorria outra vez, mas permanecia calado. O que assustava, era o fato desse comportamento não ser compatível com uma criança dessa idade, nem mesmo um portador.
Com quatro anos, aparentava ser muito mais velho do que a idade real, mesmo para um superior. As coisas que fazia, deixavam o mestre impressionado e, na escola, já resolvia equações de cálculo diferencial que deixam atônitos os professores, sendo muito mais rápido do que os próprios a chegar ao resultado e de cabeça.
Nenhum dos garotos da idade dele que lá estavam era capaz de o acompanhar, nem de perto, e eram todos portadores de alto grau.
Ele, porém, era muito gentil e atencioso, ajudando os colegas em tudo o que podia porque tinha uma bondade natural enorme. Não demorou muito para o diretor conversar com os pais e o pequeno Daniel ser transferido para uma turma de alunos cerca de quatro anos mais velha do que ele. Apesar disso, continuava superando todos os colegas, mas os professores não o quiseram pôr em uma turma ainda mais velha para que o garoto não ficasse demasiado deslocado.
A sua maior paixão era o seu primo João, que ele adorava e estava na mesma sala de aula. Onde o João ia, o pequeno Daniel acompanhava-o. Para sua sorte, o primo também amava-o muito, considerando-o como um irmãozinho mais novo e o fato de estudarem juntos, estreitou mais ainda os laços afetivos de ambos.
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O sol de Canopus brilhava com muita intensidade sobre o planeta Terra-Nova. Era meio-dia e, nessa hora do dia, apesar da enorme distância deste mundo do seu sol, ninguém costumava sair devido ao calor e à luminosidade da estrela, milhares de vezes mais intensa do que o Sol. Terra-Nova foi o primeiro planeta colonizado pela raça humana e dista cerca de trezentos e dez anos luz da Terra. A sua colonização iniciou-se no século XXII, pouco tempo depois do propulsor hiperespacial ser inventado. O seu descobridor foi Daniel Moreira, o fundador da Cybercomp durante um dos primeiros voos interestelares da humanidade. Era um planeta pequeno, mas com quase a mesma gravidade da Terra e formado por apenas dois continentes grandes e duas calotas polares, contendo dois terços de água, a maioria nos oceanos e polos. O seu campo magnético era estável e o clima bastante agradável, apesar da forte luminosidade.
Além disso, possuía duas luas, o que fazia com que as noites de luar em que ambas estavam no firmamento fossem de uma beleza agradável, projetando sombras duplas.
A população desse mundo não era grande porque consistia essencialmente numa colônia rural que se concentrava ao longo do continente sul em gigantescos latifúndios. Tinha apenas duas cidades grandes, mas possuía uma quantidade enorme de vilarejos espalhados por todo o continente. O continente sul de Terra-Nova era o único habitado por seres humanos, formado por terras muito férteis e alguns vales maravilhosos. Continha belas cordilheiras de montanhas e uma geografia singular. O hemisfério norte não era habitado, constituído por exuberantes florestas, vales e canyons com grandes cordilheiras montanhosas que se alternavam com savanas, tal como o sul. Era um planeta um tanto selvagem e muito bonito, onde o povo sentia-se muito feliz e orgulhoso do belo mundo que possuía.
A população total era de cerca de cento e quarenta milhões de habitantes, a maior parte nas gigantescas propriedades rurais, todas elas automatizadas com a tecnologia mais avançada do Império do Sol. A colonização inicial deste mundo foi de origem chinesa e brasileira e, mesmo após mais de seiscentos anos, o crescimento populacional era baixo.
Outra característica deste mundo é que maioria absoluta da população é de humanos normais, sem o gene, os ditos sapiens. O povo era feliz e altivo, mas, ao contrário dos outros planetas que o Homem habitava, era o único em que os seus habitantes tinham uma longevidade muito maior que os demais, talvez quarenta por cento maior, fazendo com que o governo central, a pedido do Imperador, enviasse uma equipe de especialistas para estudar esta característica única entre todos os cinquenta mundos do Império.
Em 2807, uma espaçonave de passageiros pousou. Era uma nave esférica de cinquenta metros de diâmetro que, graças aos campos de antigravidade desceu devagar, sem propulsores que não eram permitidos no âmbito planetário a não ser em casos de emergência, por causa da poluição. O silêncio daquele pouso, para um homem do século XX e XXI, seria macabro e assustador.
Por se tratar de um mundo de produção rural, o espaçoporto era gigantesco, cabendo dez naves cargueiras de grande porte juntas. Considerando que o tamanho de uma nave desse tipo é de duzentos metros de diâmetro, podia-se imaginar a imensidão que era o espaçoporto. A equipe de cientistas desembarcou, trazendo uma série de equipamentos de pesquisa e análise. O governador de Terra-Nova em pessoa ajudou-os a se instalarem, retornando a nave para a Terra, com outros passageiros.
Apesar de receberem muitos cargueiros para transporte de mercadorias, não era comum a vinda de naves de passageiros, que apareciam, em geral, a cada um ou dois meses.
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Aos seis anos, a pequena Daniela era uma menina graciosa e inteligentíssima. Aparentava ter uns oito ou nove anos de um não portador. Ela, como o pai, tinha um profundo interesse pela medicina e acompanhava-o nas visitas aos centros de saúde para ver os poucos doentes que existiam no mundo. Em uma dessas visitas, descobriu o seu maior dom, já que todos os seres com o gene a partir de uma determinada intensidade, têm um ou mais deles. Quase todos são telepatas, embora concentrem sempre mais do que uma capacidade, manifestada a partir das tendências da personalidade do portador.
Num acidente feio, uma criança de quatro anos teve uma fratura exposta muito grave na perna e deu entrada na emergência aos berros, cheia de dores intensas, justo quando a Daniela e o pai estavam lá. Desesperada com o sofrimento do menino e sem pensar em mais nada a não ser em ajudá-lo, pôs a mão na cabeça do pequenino que, em poucos segundos, parou de chorar. As dores desapareceram no ato, como se o menino fosse anestesiado. Ainda sem pensar no que fazia e de frente aos olhos atônitos do pai, do médico de plantão e dos pais da vítima, ela segurou o membro fraturado com ambas as mãos, posicionou o osso no lugar correto e concentrou-se um pouco. A ferida da perna fechou-se e o inchaço desapareceu como mágica. Logo após terminar, a menina tombou desfalecida com o esforço. Foi tudo tão rápido que ninguém reagiu a tempo.
O pai, muito assustado, correu e pegou na pequenina ao colo, pondo-a sobre uma maca. O médico de plantão, atônito, observou o garoto que estava curado. Curioso colocou-o no scanner e não havia nem mesmo a marca da fratura.
Ao recuperar a consciência, ela sentia-se muito fraca, tremendo um pouco. A enfermeira trouxe um suco de laranja que a ajudou a melhorar.
– O que foi que fizeste, filha? – Perguntou o cientista, impressionado. – O menininho está curado, como fizeste isso?
– Na hora não sabia, pai – respondeu, ainda com a voz fraca e trêmula – eu não aguentava mais sentir o sofrimento dele e agi por instinto. – Terminou de falar e adormeceu, só acordando horas depois.
– Céus – disse o médico – nunca vi um portador com este dom!
– Nem eu – respondeu o pai – mas ela é cem, talvez a única do Império. Na verdade nunca investiguei nos computadores de registro se há outro.
Levaram-na para o carro e, em casa, o pai contou para a esposa o ocorrido que, aturdida, ouviu tudo com a maior atenção. Depois da filha acordar, chamaram-na para que pudesse ser orientada.
Ela começou a explorar o seu dom, aprender os seus limites, isto ajudada pelos pais que lhe ensinaram anatomia e as bases da medicina. Ela, com a sua super-memória e inteligência, aprendeu tudo tão rápido que impressionava.
À noite, embora também tivesse esquecido a capacidade de sair do corpo, sempre sonhava com o seu bem-amado, quando dormia. Podia ficar muito tempo acordada, mais até do que um portador comum, mas o pai insistia para que dormisse regularmente de modo a poder ter um desenvolvimento mais equilibrado.
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Com oito anos, Daniel já era um Grande Dragão Dourado, tornando-se o recorde do mais jovem Dourado do império. Antes, o detentor da façanha foi o seu bisavô. Aparentava ter treze anos e era dono de uma força física impressionante até para os moldes de um portador, batendo-se com um adulto. Possuía mais capacidades que guardava em segredo, não as revelando jamais. Para desespero dos colegas e amigos, o seu cérebro era intransponível, mais que isso, ele tinha a capacidade de bloquear a mente e, ainda assim, poder ler as dos outros, mesmo com a sua ou as deles bloqueadas. Os amigos passaram a chamá-lo de hacker mental.
O motivo disso era porque ninguém conseguia ler uma mente tendo a sua bloqueada, muito menos era capaz de ler a mente de alguém que a tenha bloqueado. Na verdade, todos os telepatas usavam a telepatia apenas no âmbito mais íntimo, embora as crianças se divertissem explorando essa capacidade fabulosa. Ele, por sua vez, era imune. Por isso, podia guardar os seus segredos com a maior tranquilidade. Por outro lado, a sua boa índole impedia-o de utilizar esse dom para arrancar os segredos dos amigos, que confiavam cegamente nele. Lee, embora tivesse outros alunos, nutria verdadeira adoração pelo pequeno Dan, como era chamado.
Certo dia, durante os treinos de meditação, o professor notou que o seu aluno estava demasiado agitado, incapaz de se concentrar. Sabendo que se tratava de um fato incomum, inquiriu Daniel, cheio de curiosidade.
– O que foi, meu pequeno Dragão? – Essa era a forma como o mestre o chamava carinhosamente.
– Ela está aqui em Porto Alegre, mestre. Eu sinto a sua presença. Sempre senti, mas agora está muito forte.
– Quem, meu filho?
– A minha Daniela, é óbvio.
– Filho, deves direcionar os teus pensamentos de forma prática.
– Eu sei, mestre. – O garoto encolheu os ombros e olhou para Lee, com um olhar firme e reto. – Mas ela é demasiado importante para mim. Eu queria tanto vê-la, só que não sei onde está, apenas que está na cidade. Desculpe, mestre, hoje eu não estou em condições de me focar.
– Está certo, filho – respondeu o professor, condescendente porque o rapaz era, de longe, o seu melhor aluno – da próxima vez, entretanto, terás de vencer isso. Podes ir embora, pequeno.
– Obrigado, mestre Lee, paz. – Disse o garoto, levantando-se e inclinando-se.
– Paz, meu filho – respondeu o professor, fazendo o mesmo.
O pequeno voltou para casa. Como o templo Shaolin ficava relativamente perto, apenas cinco quilômetros da sua casa, ele gostava de ir e voltar correndo porque o atletismo era outra das suas grandes paixões. Enquanto corria, olhava para a paisagem em volta que, embora muito bela por ser uma pequena floresta artificial, não era alvo dos seus pensamentos. A sua cabecinha só pensava em uma coisa: a garota dos seus sonhos, a Daniela.
Chegando à Cybercomp, dirigiu-se para o prédio Residencial I, onde, na cobertura, morava com a família. Ele pensava nela sem parar e sua a imagem não lhe saía da mente, procurando o seu espírito para obter contato mental, embora sem sucesso. Sentado no quarto, após o banho, o jantar e tentar outra vez contatá-la, suspirou e começou a desenhar o seu rosto em uma folha de papel. A moça tinha uma beleza singular, angelical, apesar da pouca idade. À noite, adormeceu, mas mantinha a ligação mental, sonhando com ela e começando a sentir que a menina se distanciava de novo, como se subisse sem parar.
Enquanto dormia continuava conectado à garota, nesse momento com muito mais intensidade, quando um grande vazio atingiu-o de soco, como se a moça se tivesse dissolvido no nada, provocando-lhe um tremendo choque mental que mais lhe parecia um trovão assustador. O barulho do trovão cessou e ficou apenas o escuro. Aterrorizado, o garoto acordou com um grito agudo, desesperado, debatendo-se sem parar e cheio de lágrimas. Os pais correram até ao seu quarto, assustados.
– Meu filho...
A mãe tentou segurá-lo, mas foi projetada para longe, felizmente não se ferindo. O pai, agarrou-o com firmeza e muita dificuldade. Ambos tentam sentir o seu pensamento para entender o que ocorria, mas era em vão porque o bloqueio da criança era intransponível.
– Filho, somos nós, os teus pais – a frase pareceu fazer algum efeito. – Acalma-te que deve ter sido um pesadelo.
– Ela está morta. – Voltou a chorar, agoniado. Em meio aos soluços, continuou. – Estávamos juntos, sentíamos a presença um do outro, mas ela afastou-se como se estivesse subindo sem parar. Depois, como uma explosão na minha cabeça, desapareceu tudo. Não sinto mais nada. Ela morreu...
– Quem é ela, Dan?
– A Daniela. – O grito com que disse o nome da moça foi de agonia e desespero. Depois dessas palavras, chorava sem parar e nada parecia acalmá-lo. Ao fim de algum tempo, ficou deitado na cama, apático, de olhos fechados e sem reagir a qualquer estímulo.
Por dois dias o garoto permaneceu nesse estado, o que levou os pais às raias do desespero. A mãe encontrou o desenho que ele fez e mostrou para o marido.
– Já vi este rosto antes, Daniel. Era diferente, mas a mesma pessoa, só que não consigo conciliar as imagens.
– Meu Deus! – Ele olhou para o papel, atônito. – Eu sei onde viste este rosto. Esta é a imagem mais jovem da moça que morreu num acidente de avião em 2095, que era a noiva do meu avô antes dele conhecer a Jéssica. Essa foto está na sala íntima da casa do meu avô. Agora pasma, mas ela chamava-se Daniela. O pequeno Dan está certo que é a reencarnação do bisavô e as circunstâncias cada vez mais contribuem para confirmar isso. Tive uma ideia: ele disse que ela subia e depois tudo explodiu. Deve ser uma nave saltando pelo hiperespaço.
– Será?
– Com certeza, os fatos são demasiado fortes para negarmos isto. Vem, vamos ao escritório.
– O que pretendes fazer?
– Simples, Alexa, vamos ver se uma nave saiu e quem estava nela.
– Computador, saiu alguma nave daqui há três dias, após as vinte e três horas?
– Sim, uma nave pequena, com destino a Canopus.
– Quantos passageiros havia na nave e de que tipo?
– Doze passageiros, a maioria cientistas.
– Lista na tela os nomes deles. – Aguardaram por dois segundos e apareceu uma relação de nomes. – Aqui, olha, Daniela Chang. Nossa senhora!
– O que foi, amor?
– Isto é macabro: Nelson Chang, Daniela Chang e Meifeng Chang.
– Por quê, amor?
– Porque a noiva do meu avô chamava-se Daniela Chang e o pai dela era Nelson Chang. Meu Deus, isto não pode estar acontecendo!
– Mas está, e temos de lidar com isto. Precisamos de o tirar daquela apatia ou ele acaba morrendo de inanição. Quem sabe se transmitirmos juntos sobre o cérebro dele. Apesar do bloqueio, tenho a certeza de que pode receber e transmitir, mesmo nesse estado.
– Será? Vamos tentar.
O casal sentou-se ao lado do filho e desligou o bloqueio mental, começando a transmitir a mensagem desejada. O esforço que os pais do pequeno Daniel faziam era enorme e ficaram mais de duas horas tentando. Após, cansados ao extremo, pausaram, repetindo o processo durante mais quatro dias. Estavam desesperados e não sabiam o que fazer para salvar o seu filho.
― ☼ ―
– Doutor Chang – disse o governador da China, inclinando-se para o médico e apontando uma poltrona – obrigado por vir a Pequim.
– Senhor, em que posso ser útil?
– Doutor, o senhor conhece Canopus, mais precisamente Terra-Nova?
– Bem, é uma das primeiras colônias. Se não me engano, o planeta foi colonizado por brasileiros e chineses, em uma operação conjunta do imperador da China e a Cybercomp antes da Grande Unificação. Acredito que tenha sido na segunda metade do século XXII.
– Isso mesmo, doutor, é um planeta agrícola. Bem, para sua informação, temos lá uma equipe de cientistas trabalhando em pesquisas há alguns anos, pesquisas estas que, até ao presente momento, foram infrutíferas, mas são de vital importância.
– Posso saber o motivo?
– Deve saber, doutor. Entre os colonos não há seres com o gene, salvo poucas exceções, mas temos homens e mulheres com duzentos e cinquenta anos, até mais, gozando da mais perfeita saúde. A estimativa de vida daquele mundo beira os trezentos e poucos anos!
– Fascinante – doutor Chang soltou um assobio baixo e observou o interlocutor – gostaria muito de investigar isso, porque tal fenômeno, por si só, já é quase um milagre.
– A sua especialidade é a genética e chamamos o senhor por causa disso. Há alguns anos a nossa equipe vem pesquisando sem sucesso e o Imperador Saturnino está preocupado com possíveis mutações que deformem a raça humana. Por outro lado, para os sapiens esta longevidade pode ser uma sobrevida e temos de os ajudar.
– Entendo, excelência, e fico satisfeito com esta oportunidade. O que devo fazer?
– Em dez dias o senhor embarcará para a capital do Império. De lá, sai uma nave para Canopus com mais uma equipe de cientistas que o senhor chefiará. Alguns dos que lá estão, voltarão na nave. Como é um projeto a médio e longo prazo, as famílias estão autorizadas a ir junto, se for o seu desejo.
– Mas é óbvio que é o meu desejo – respondeu com um sorriso suave – do contrário não aceitaria o cargo. Afinal, não sou o único especialista em genética no Império do Sol.
– Mas é o melhor, doutor – disse o governador da China com uma reverência – obrigado por aceitar.
O médico correspondeu à mesura e retirou-se da sala portando um cristal com todas as informações de que precisava.
Dez dias depois, a família Chang chegou a Porto Alegre. Daniela, contando oito anos, acompanhava de perto os passos do pai e estudava biologia, medicina e genética. Ela já era uma grande especialista, apesar de ainda ser uma criança. Entretanto, para os padrões dos portadores, era uma adolescente cujo corpo em evolução assemelhava-se a uma menina do século XX que tivesse quatorze anos. Sentia-se muito feliz em conhecer a capital, uma cidade lindíssima, feita de jardins enormes e que contava com o maior espaçoporto do planeta.
– Sabes, pai – disse ela –, eu gostaria de conhecer a Cybercomp. Ela atrai-me demais, como se o meu destino dependesse dela. O engraçado é que eu deveria me interessar mais pela Megadrug, que lida com a nossa área, mas a Cybercomp me fascina muito mesmo e não entendo porquê!
– Bem, minha filha, a Cybercomp é a dona da Megadrug há setecentos anos. É uma pena, mas não conheço ninguém de lá. De qualquer forma, esta noite nós partiremos para Canopus.
– Quanto tempo vamos ficar lá, pai?
– Alguns anos, depende da minha pesquisa.
– Eu não gostaria de ir, pai. Sinto que tenho que ficar aqui, na capital. É o meu destino, sei disso com tanta certeza que chega a doer.
– Voltaremos, minha filha. Afinal o que são uns oito ou dez anos quando se pode viver mais de mil anos? Pensa bem nisso, ainda mais tu, com o teu grau.
– Para ti, pai, é pouco. Para mim, é uma vida. Afinal eu só tenho oito anos. O tempo é muito relativo, meu pai.
– Tens razão, filhinha – disse o pai, impressionado com o raciocínio lógico da mocinha. – Mas precisamos de fazer isto. É uma forma de ajudar a humanidade e foi um pedido especial do imperador Saturnino.
– Eu sei. – Ela deu um suspiro. – Por isso aceito a mudança sem sofrimento, mas também sei que voltarei e conhecerei alguém muito especial e que me espera. Ele vive aqui.
– Como sabes, filha?
– Nós vemo-nos muitas vezes, em sonhos. Até fiz um desenho dele!
– Bem, meu amor, se isso estiver escrito, assim será, e este pequeno período em Terra-Nova nada mudará, podes ter a certeza disso. Olha, estamos chegando ao hotel. Em cinco horas, vamos embarcar na nave.
A menina aproveitou para passear num parque lindo, que ficava de frente ao hotel. Depois de jantar, a família embarcou em uma pequena nave de passageiros. Era do modelo novo, de forma esférica e com trinta metros de diâmetro. Apesar das naves esféricas serem usadas há mais de cem anos, ainda havia alguns poucos modelos antigos em operação, que eram em forma de disco, embora cada vez mais raros. A criança estava curiosa, porém cansada porque não dormia há vários dias. Quando a espaçonave ligou o reator, uma pequena vibração fez-se sentir, junto com um leve zumbido. Este barulho, acabou embalando a linda menina, que nada viu. Em compensação, sonhava com o seu Daniel.
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O comandante da nave fez a verificação final para decolar. Ao sentir a vibração familiar do reator de alta potência, começou a se sentir mais alegre. Para um homem do espaço, estar em terra sem sentir aqueles pequenos barulhos que são as mensagens da sua querida nave, era bem desconfortável. Poderia ser comparado aos marinheiros de tempos idos, que só se sentiam bem no mar.
Após a tripulação dar o ok em todos os setores da nave e receberem autorização do controle de voo, mandou acionar os campos de GZero. Liberta do seu peso, a pequena nave ergueu-se no ar, devagar. O propulsores de ar comprimido mudaram o seu rumo e ela subia cada vez mais. A viagem estava prevista para durar dois dias através de cinco saltos pelo hiperespaço. Quando atingiu o espaço, os campos de repulsão foram ativados, bem como os neutralizadores de inércia e de massa. Assim que o propulsor de partículas entrou em ação, a pequena nave deu um salto e acelerou alucinada. Dentro, ninguém sentiu nada; mas, em pouco mais de cinco minutos, atingiu a velocidade da luz percorrendo o espaço assim por quatro horas. Ao chegar ao ponto de salto, desapareceu do espaço normal, para reaparecer sessenta anos-luz mais longe.
Nesse exato momento, Daniela levantou-se da cama com um grito desesperado, agarrando a cabeça e gritando pelo nome do seu Daniel, para, logo depois, cair desmaiada.
A sua mãe correu a acudir a criança, que não reagia a nada. Desesperada, chamou o marido que estava na ponte a convite do capitão. Acompanhado do médico de bordo, correram à cabine, para acudir a menina sem, no entanto, saberem o que fazer.
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Ver Dragão Branco – O Despertar de um Herói.
Gravidade Zero – Geradores anti-gravitacionais.
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