Capítulo 5 - parte 3 (não revisado)
O comandante não conseguia acreditar nos seus olhos. Ao lado e muito roxos, estavam o ordenança e o oficial do planador que filmou tudo.
– Isto não é possível, nenhum humano pode ser assim! – exclamou, assustado e incrédulo. – E o primeiro ataque dele, foi com as mãos nuas! Notem que ele pode desaparecer de um lugar e surgir no outro. Nunca vimos um humanoide mais forte do que nós, apenas mais rápido.
– Comandante, eles disseram que são piores que os centurianos e, depois de ver isto, acredito mesmo que seja verdade. Parecem fantasmas.
– Fantasmas são incorpóreos, tenente.
– Mas como explicar isso? – insistiu o oficial. – Eram cinco mil homens, senhor, e eles tinham apenas espadas, sem falar que era o demônio preto que pode viver no vácuo. Eles não podem ser humanos, senhor.
O comandante pensou bastante e tomou uma decisão.
– Mandem um contingente de vinte mil homens para lá, agora.
– Sim, senhor. – O oficial saiu e o comandante, junto com o ordenança, assistiram o massacre imposto aos seus "homens".
– Não sei o que fazer frente a isto.
– Bem, comandante, talvez seja melhor recuar por um tempo, fazê-los pensarem que estão seguros, ou...
– Ou?
– Sair daqui e darmo-nos por derrotados. Sei que é inaceitável, mas, a esta altura do campeonato, parece ser a atitude mais ajuizada.
– Tá maluco? – berrou, enquanto sacou da arma e matou o ordenança, na maior tranquilidade. – Onde já se viu fugir de humanos.
– Acho que o senhor acabou de matar o seu colaborador mais inteligente, comandante.
Estarrecido ele ouviu a voz do humano e virou-se para atirar, mas a arma ficou emperrada. Sem explicação, ela começou a querer sair da sua mão, que a segurava com dificuldade. Devagar, ele foi perdendo a pistola, que se ergueu no ar e apontou para si mesmo.
– Parece que a sua pistola está chateada por matar um inocente, comandante.
Ele ficou roxo, mas não se entregou. Ora olhando a arma, ora o humano, perguntou:
– O que quer, humano da Terra?
– Quero que faça o que o seu ordenança sugeriu: saia daqui.
– Inaceitável, nem que me mate, faremos isso.
– Faltam apenas três horas para a minha demonstração, comandante. Seja razoável, vocês perderam. Não há ninguém naquelas cavernas e nós estávamos lá apenas observando. Os seus homens vão tomar a maior canseira de graça e muitos vão morrer de forma bem dolorosa, eu lhe advirto.
– Vocês são poucos...
– Mas poderosos, comandante, muito poderosos ou o que o senhor acabou de presenciar não lhe basta?
– A única coisa que me ocorre é que querem ganhar tempo.
– O senhor é mais inteligente que o seu antecessor, comandante, mas nós não precisamos de ganhar tempo. Apesar de sermos um povo poderoso, somos pacíficos, só que não gostamos de ver os nossos filhos serem massacrados.
– Filhos?
– Sim, filhos, a Terra é o planeta mãe deste povo. Como pode ver, não deixamos os nossos desprotegidos. Já lhe disse que somos pacíficos e gostamos de viver em paz. As nossas naves comuns nem têm armas, mas as nossas naves de guerra são terríveis, comandante. Se fosse o senhor, não desejaria ver uma delas. Eu lhe disse que vou dar uma demonstração com uma nave auxiliar. Quando a vir, pense bem, pois só terá uns poucos dias antes de vir um cruzador para cá. Quando ele chegar, vamos transformar a sua frota em pó e matar todos os vossos soldados, sem a menor contemplação.
– Não me faça rir, uma só nave contra trezentas das nossas?
– Não sou dado a piadas, comandante, especialmente em situações como esta que criaram. Vocês me obrigaram a matar e eu abomino isso, mas não recuarei enquanto o planeta não estiver livre. Apenas digo isso porque o nosso povo não gosta de matar.
– Pois acho que vou arriscar.
– Como o senhor achar melhor – disse Daniel, com os olhos tristes. – Pensei que poderíamos fazer a paz e acabar com isto. Vejo que estava errado.
– Nunca esteve tão errado, humano.
– Pois bem, considere-se avisado. Nós vamos sair deste planeta, mas deixamos alguns observadores armados e com ordens de reagir à menor provocação. Toquem em um único cidadão e garanto-vos que serão destruídos sem dó nem piedade. – A arma dispara sozinha, atingindo uma mesa ao lado do comandante que estava estarrecido. – Entendeu?
Sem esperar resposta, Daniel voltou para o QG dos rebeldes.
– Não se esqueçam de usar sempre as mochilas e poupem as armas. A carga delas permite meia hora de disparo contínuo, então não abusem porque não poderão ser recarregadas aqui. Somente na nave. Eu trouxe na última caixa, quarenta pentes de carga, ou seja, têm pouco mais de uma hora de disparo contínuo, já que os pentes que estão nas vossas armas foram usados várias vezes.
– Sim, mestre Daniel, teremos esse cuidado.
– Não permitam que nem um desses batráquios faça qualquer mal a um cidadão. Em um caso desses, a ordem é fuzilar. Agora, estamos na reta final e de ofensiva declarada. Boa sorte amigos. Tenham cuidado e jamais deixem este equipamento cair nas mãos deles. Sigam em paz, palavras difíceis nesta época.
– A paz esteja consigo, mestre Daniel. Obrigado por tudo, jamais o esqueceremos.
O Dan fez uma mesura e saltou para a nave.
― ☼ ―
O destacamento de vinte mil "homens" alcançou a caverna. Com cuidado, foram-se aproximando, espalhados. Eles aprendiam rápido e viram o que os humanos diabólicos podiam fazer, mas não lograram encontrar qualquer resistência. Cem entraram na caverna dos rebeldes e vasculharam o local. Não havia nada, nem mesmo pegadas porque o chão era de pedra pura. Em uma das pequenas cavernas interiores, um dos verdes viu algo parecido com um ovo e chamou o oficial que veio seguido de dez outros soldados. Aproximou-se e olhou o ovo.
– Chamou-me por isso, soldado?
– Senhor, isto é a única coisa que encontramos e que não é natural. – O oficial pegou no ovo e olhou. – Senhor, talvez não seja uma boa ideia mexer nisso sem ter melhores conhecimentos.
– Que tolice, sargento, agora pensa que é cientista? – questionou o superior. – Retire-se daqui e vá para as forças lá fora. Está claro que não tem aptidão a esta tarefa.
Indignado, mas subserviente, o tantoriano retirou-se. O oficial comandante observou o ovo e viu vários pequenos botões. Curioso apertou no maior, o vermelho.
No lado de fora da caverna ouviu-se um estrondo assustador e um sopro de ar quente de violência brutal derrubou todos os soldados, deixando muitos mortos e vários feridos. A bomba atômica que o Daniel deixara armada fez o seu trabalho. Quando a poeira diminuiu, os soldados tentaram entrar na caverna de modo a ajudar os colegas, mas descobriram que desmoronou, obstruindo a entrada. O suboficial olhou para aquilo e afirmou:
– Vamos embora que eles não sobreviveram... na certa.
O sargento expulso da caverna alegrou-se por ter sido cauteloso e rejubilava em silêncio.
Na nave, o comandante recebeu mais essa notícia e interrogou o seu "homem".
– Como era esse ovo?
– Do tamanho de um ovo dos nossos, só que branco. Tinha vários botões e eu sugeri que não mexêssemos nele. O tenente ficou zangado comigo e me expulsou. Só estou vivo por causa disso.
– O senhor será promovido por ter demonstrado essa iniciativa. O seu oficial comandante foi leviano e, por causa dele, perdemos quase duzentos homens. A partir de agora, terá um comando seu.
– Obrigado. – Ele bateu com o punho esquerdo no peito, retirando-se devagar.
Sozinho, o comandante pensava.
– "O que farei em seguida? Se o reforço das cinco mil naves não chegar logo, teremos mesmo de abandonar este mundo, mas jamais terei alguma chance na vida, no caso de ser derrotado por humanos."
― ☼ ―
Na Jessy A I, Daniel aguardava. Junto com ele, a sua alma gêmea, abraçada a si, observava tudo. A sala de comando era espaçosa, cabendo vinte tripulantes com folga, mas a pequena nave tinha apenas seis elementos. Ela nunca esteve em uma sala de comando, embora as informações que obteve ao compartilhar com o Daniel, mostrassem que esta era muito especial. Em frente aos diversos consoles de controle havia poltronas muito confortáveis para os tripulantes. Os comandos eram quase todos feitos por realidade virtual, em hologramas tridimensionais que eram interpretados pelos computadores da nave, exceto alguns que não seriam de uso prático. Na parte traseira, uma poltrona mais elevada detinha o lugar de comando, que podia controlar a nave dali, inclusive dirigindo-a sozinho, se necessário.
– Nobuntu, solicite contato com a Terra, Cybercomp.
Em pouco tempo, um painel holográfico, enorme, apareceu no meio da sala. Daniel viu o pai e o imperador. O seu pai notou que o filho estava muito angustiado, mas Saturnino não. Daniela não apareceu porque, minutos antes, saíra para ver os cientistas que estavam nos laboratórios. Eles eram incapazes de ficar parados sem fazer nada e sentiram-se muito felizes ao verem a garota que os acompanhou por tantos anos.
– Oi, pai, Majestade. Como vão as coisas aí?
– Calmas, meu filho, felizmente, mas vejo que o mesmo não ocorre aí. O que te aflige tanto?
– Eu matei muita gente, pai – disse ele, em mandarim. – Muitos milhares deles e sinto-me mal, terrivelmente mal. Sei que foi pelo bem maior e que as tentativas de paz que fiz falharam, mas ainda me dói muito.
– Entendo, meu filho. Infelizmente é o preço a se pagar. Além disso, é melhor que sejam eles, do que nós.
– Ela já me disse isso, pai, mas ainda sofro. Como vai a construção da Jessy? Precisamos dela. Em pouco mais de duas horas, vou dar a primeira demonstração de força bélica, mas acho que estas lagartixas estão aprontando algo.
– Mais uns poucos dias, filho.
Daniel olhou para o imperador e continuou, em português:
– Desculpe, Alteza, falava uma coisa muito pessoal. Majestade, estamos prestes a libertar o planeta. O senhor pode falar com o povo na super-onda já que eles não têm essa tecnologia. Dê-lhe informações que o tranquilizem, pois uma população assustada é muito perigosa.
– Claro, Daniel, não precisa de se desculpar. Todos temos os nossos problemas. Obrigado pelas informações e por tudo o que tem feito. Não sei o que seria de nós sem o senhor.
– Eu dei um ultimato para eles abandonarem este planeta. Tenho pouco mais de seis dias para o fim dele. Depois, com ou sem a Jessy, atacarei a frota deles, que já é de cerca de trezentas naves. Não posso ignorar o prazo porque poderão descontar na população, sem falar que nos julgarão fracos. Em cerca de duas horas, vou atacá-los e destruir dez naves deles, como prometi. Agora, não dá mais para blefar, pai. Deixe um beijo para a mãe e toda a família. Eu acredito que sairei vitorioso, mas, se falhar, não percam tempo. Eles são fundamentalistas ao extremo.
– Filho – disse o pai, muito aflito. – Não os ataques, espera a tua nave.
– Não dá, pai. Eu fiz uma promessa ao batráquio chefe e vou cumpri-la mesmo que custe a minha vida. Jamais me viste mentir, então sabes que preciso de fazer isso. A humanidade está em primeiro lugar. Agora vou desligar. Adeus.
– Adeus, filho, segue em paz.
– Infelizmente, pai, a paz acabou.
– Daniel... – disse o imperador.
– Sim, Majestade?
– Obrigado, em nome da humanidade. Boa sorte e que Deus o acompanhe.
– Obrigado, Alteza. Sei que venceremos, mas serei forçado a matar mais.
Terminou de falar e desligou.
– Nobuntu, quanto tempo para o prazo esgotar?
– Cento e trinta minutos, senhor.
– Obrigado, estarei na minha cabine. – Ele levantou-se e saiu. Daniela estava justamente entrando na sala e abraçou-o pela cintura, seguindo com ele. Nobuntu observou o casal e sorriu. Ele entendeu tudo o que foi dito em mandarim, mas ficou quieto, respeitando o desejo de privacidade do rapaz. Quando estavam perto da escotilha, Lee estendeu o braço para o seu pupilo, pousando-lhe a mão no ombro.
– Não diga nada, mestre, sei o que vai dizer, então deixe assim, por favor.
O chinês retirou a mão e deixou o casal sair, soltando um suspiro.
– Só espero que ele aguente isto – resmungou em mandarim, pensando alto. – Não foi feito para matar.
– Ele aguenta, senhor. – Nobuntu respondeu na mesma língua, para espanto do Lee.
– O senhor fala mandarim!
– Vivi na China por longos anos, amigo.
– Entendo. Mas estou muito preocupado com ele. Este morticínio todo está acabando com a sua paz interior.
– Ele sabe que é necessário, senhor Lee, e ela vai lhe dar o equilíbrio de que precisa...
― ☼ ―
O imperador olhou a imagem sumindo e estranhou o estado do rapaz.
– O que ele tem, senhor Moreira. Por que está tão agoniado?
– Ele matou, Majestade, matou muitos deles e isso o deixa muito agoniado.
– Mesmo sabendo que não são humanos!?
– São seres vivos e nós somos budistas. Para ele, isso é muito doloroso. Alteza, por favor, deixe-me a sós e faça o que ele pediu: acalme a população.
O imperador notou a preocupação extrema do pai daquele rapaz e retirou-se com uma pequena vênia. No elevador, ainda ouviu a sua voz.
– Computador: preciso de contatar o governador Daniel Moreira na Jessy, urgente.
Em poucos segundos a tela da sua sala iluminou-se e apareceu a imagem do pai em tamanho natural, como se estivesse presente.
– Oi, filho, más notícias? A tua cara não é das melhores.
– Pai, estou muito preocupado – contou-lhe como foi o diálogo com o filho.
– Daniel, ele vai superar isso. Entendo o que passa, mas é necessário.
– Pai, acelera logo os acabamentos. Ele precisa muito da nave.
– Já estamos ao máximo possível, Daniel. As equipes trabalham até à exaustão para darem lugar a outras e assim sucessivamente. Não te preocupes que ele não vai cair. Tenho muita fé no meu neto.
― ☼ ―
No aconchego da cabine, Daniela abraçou-o e acalmou-o.
– Não te devias sentir assim, Dan – disse, carinhosa. – Sei que é ruim matar, mas estamos fazendo isso para sobreviver.
– Eu sei, amor – respondeu-lhe, ainda abatido –, mas não me sinto bem.
Ela começou a despi-lo.
– Precisas de relaxar e sei que um bom banho, uma boa massagem e uns carinhos mais vão te fazer muito bem. Dan, somos filhos do Império do Sol, temos de lutar pela nossa união e liberdade, custe o que custar.
– Eu te amo tanto, lindinha.
– Eu também, para sempre.
– Para sempre, Daniela, para sempre. – Com muito carinho beijou-a docemente. Ela correspondeu e massageou-lhe os ombros largos...
― ☼ ―
Quando faltavam vinte minutos para o término do prazo, Daniel apareceu na cabine. Estava com outra aparência, ombros para trás, cabeça erguida e cheio de energia. Falou no intercomunicador:
– Atenção, preparar a nave para combate. Engenharia, mudar os reatores para manual e pôr todos a cem por cento.
Um zumbido forte fez-se ouvir na nave. Alguns alarmes de alerta disparam e todas as janelas começaram a fechar. Nos seus lugares, gigantescas telas holográficas traziam as imagens do exterior. Na calota superior, uma escotilha abriu-se e o canhão bipolar saiu para fora.
– Reatores prontos, senhor.
– Quero um check list completo.
– Armamentos ok.
– Pilotagem ok.
– Navegação ok...
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