Capítulo 4 - parte 4 (não revisado)

– Que horror – disse o comandante verde para o amigo e colega que estava com ele, em visita à sua nave. – Só agora alguns planadores levantam voo! Esses humanos são danados de terríveis. Nem os leônidas foram tão difíceis!

– É verdade, mas não são humanos deste mundo, devem ser aliados daqueles dois demônios que já nos incomodaram e muito.

O almirante pegou no rádio e berrou para o microfone.

– Esquadrão beta, atacar os rebeldes sem contemplação.

Não ouviram nada em resposta.

– Responda, esquadrão beta, informe situação.

– Almirante, o esquadrão beta não subiu. Não há ninguém controlando essas naves. Os pilotos foram mortos ao tentarem alcançar os planadores.

– Mas então quem diabo as controla?

– Fantasmas, senhor – disse o operador, muito roxo. – Não há ninguém a bordo. São esses demônios humanos outra vez.

– Que bobagem, deixe de tolices... – Os dois comandantes olharam aparvalhados os dez planadores subirem e mergulharem sobre a nave. Bateram no casco com uma velocidade incrível, rebentando-se e provocando pequenos danos, embora superficiais.

– O que será que nos espera agora? – perguntou-se o almirante, exasperado. – Primeiro o concreto adquire vida e ataca-nos, agora isto!

Para seu alívio, tudo voltou ao normal, como se nada tivesse acontecido. A única prova do terror provocado pelos rebeldes foi uma série de corpos de soldados mortos e de planadores destruídos. As patrulhas estavam tão inseguras que morriam de medo de sair das naves.

– Não sei, meu amigo, mas talvez tenhamos que destruir todo este mundo.

– Claro que não. Este planeta é apenas um de cinquenta. Temos de descobrir onde fica o mundo central deles. Além disso, acho que estas armas não são daqui porque só agora apareceram.

― ☼ ―

O Daniel encontrou-se com os amigos e pediu que se dessem as mãos para os transportar para a caverna, poupando a caminhada. Ele estava muito sério, ao contrário do que vinha exteriorizando.

Lá, conversou com Chien:

– Amigo, os seus dons de atirador seriam bem-vindos para o Império. Temo que esta guerra seja mais longa do que esperamos e precisamos de gente como o senhor.

– Irei com prazer, mestre Daniel. Eu sou caçador e, por isso, atiro tão bem, já que aprendi ainda um menino muito novo. Não há nada que me prenda aqui, apesar de amar muito este mundo, onde nasci.

– O senhor conhece o continente norte?

– Conheço este mundo como a palma da minha mão. Acho que só a doutora Chang o conhece tão bem quanto eu.

– Mais tarde lhe darei uma ideia boa, que fará do senhor um homem rico na sua aposentadoria, unindo o útil ao agradável.

– Não tenho grandes necessidades materiais, mas a riqueza não é algo que se despreze, mestre Daniel.

– Falaremos quando for o momento – disse o jovem. – Por ora, deixemos esta estúpida guerra acabar.

Na manhã seguinte, sentados em círculo, Daniel expôs os fatos, finalizando:

– Assim, dei-lhes um ultimato. Eu não sei se o poder da Jessy A I é suficiente para enfrentar essas trezentas naves, ainda mais as maiores, mas acredito que possa e bem facilmente. Para nossa sorte, as naves deles são lentas e o campo de força que possuem, ridículo. Podemos golpear e sumir com tamanha aceleração, que não nos pegam. Não têm neutralizadores de massa. Esses cilindros só atingem metade da velocidade da luz e levam dois dias para chegar lá. Têm gravidade artificial, embora os seus neutralizadores gravitacionais sejam ridiculamente fracos, tanto que pousam usando jatos, o que é desconfortável já que devem esperar que o campo em volta fique frio, além de ser poluente. Além disso, descobri que não têm super-onda.

– Podíamos testar o poder de fogo deles usando a nave auxiliar e descobrir quantas podemos enfrentar de uma só vez – afirmou Lee, pensativo.

– Concordo, mas agora não quero fazer isso, como já disse antes. Essa, será a última instância, já que podemos morrer na ação. Prefiro usar o fator surpresa. A minha nave está prestes a ser terminada e ela sim, pode enfrentar facilmente cem vezes esse grupinho.

No meio da conversa, um rebelde entrou na caverna, muito ofegante porque tinha vindo todo o caminho a correr. Enquanto bebia um pouco de água, falava, ainda com dificuldade.

– Eles... estão fazendo... das deles... Pegaram... quatro homens sob... um pretexto falso... e... querem-nos levar para... a arena... Vim correndo... assim que... recebi a notícia. Será ao... anoitecer.

– Muito bem – disse Daniel. – Vamos agir. Arrumem-nos roupas iguais às dos prisioneiros.

Apontou para os seus melhores dragões.

– Vocês os quatro – continuou –, vão trocar de lugar com os prisioneiros. Levarão as mochilas energéticas em baixo das roupas...

Daniel explicou o seu plano, simples e terrível.

Na arena improvisada, um estádio de esportes com um campo de futebol moderno, os prisioneiros esperavam desesperados em um dos vestiários porque sabiam que não tinham a menor chance de sobreviver contra os demônios verdes. Tristes e conformados, debatiam uma possível defesa.

– Podemos correr mais que eles – disse um. – Assim, é só manter distância.

– É, mas eles não se cansam tão fácil quanto nós, meu amigo.

– Estamos perdidos – disse o terceiro. – Nem pude me despedir da minha mulher e filha. O pior de tudo é que não fiz nada. Usaram uma acusação falsa.

– Nenhum de nós pôde despedir-se, amigo. Usaram falsos pretextos com todos – finalizou o quarto. – Vocês notaram que as patrulhas agora são compostas por mais de cem daqueles nojentos? Eles estão com medo, mas eu mais ainda. Aquelas armas de ontem não são nossas. Só faltava uma invasão de outra potência estrangeira. De qualquer forma, não viveremos para ver isso.

– Nada acontecerá a vocês, meus irmãos. – Assustados eles olham para trás. Um rapaz caucasiano, muito alto, aparentando cerca de dezoito ou dezenove anos, estava junto com quatro homens, todos chineses de aspecto altivo e confiante, mas vestidos como simples camponeses, inclusive o rapaz. – Não se assustem que viemos salvá-los dos tiranos.

– Como?

– A Terra não esquece os seus filhos, meus amigos. Esses invasores não serão pário para quatro Dragões Vermelhos, especialmente estes que aqui estão, tranquilizem-se.

Os quatro camponeses puseram-se logo de joelhos perante os recém-chegados.

– Não sejam tontos, irmãos. Levantem-se que não temos tempo. Os Dragões ficarão no vosso lugar e eu vou tirar vocês daqui, mas peço uma coisa em troca: não revelem a ninguém o que vai acontecer e jamais digam algo sobre a Terra. Peço que façam um juramento.

– Nós juramos, senhor – responderam os quatro, ao mesmo tempo.

– Mestre – disse um dos Vermelhos. – Ouço passos. Devem ser eles para pegarem os prisioneiros.

– Também ouço, mestre Tong – respondeu Daniel. Virou-se para os camponeses e apressou-os. – Vamos, não há tempo a perder, deem-se as mãos.

Daniel segurou no primeiro e saltou com todos. No vestiário dos condenados à morte ficaram apenas os seus fiéis Dragões, que iam entregar uma mensagem assustadora e mortal.

– O que foi isto? – perguntou um dos colonos ao se ver na rua, longe do estádio. – Como fez isto?

– Com o meu espírito, eu posso ir para onde desejar, basta querer. Não se esqueçam do juramento.

– Obrigado, senhor. Nunca vimos um ocidental falar cantonês tão bem. Como é o seu nome, você me lembra alguém?

– Sou Daniel Moreira – Disse ele e o homem pôs-se lofo de joelhos em frente ao jovem.

– Levante-se que não podemos chamar atenção.

– Qual o seu parentesco com o Grande Dragão Branco, senhor?

– Depende, somos onze Brancos. A quem se refere?

– O senhor também?

– Sim – respondeu. – Eu sou bisneto do homem que fundou esta colônia.

– Eu vim para cá um bebê. Conheci o seu bisavô, o homem mais amado pelo nosso povo e ainda me lembro muito bem dele.

– Mas que idade tem o senhor? Eu vejo que não é portador!

– Eu tenho duzentos e trinta anos. Quase todos aqui, vivem muito, bem mais de trezentos, em média. Por isso havia uns cientistas, a mando do imperador, pesquisando o nosso povo para descobrir como melhorar a vida dos não portadores. Eu sei disso porque ajudava o doutor Chang, mas a esta hora ele deve estar morto.

– Pois saiba que estão todos salvos menos dois. Estamos lutando para libertar o planeta. Aquelas armas, são nossas, invenção do meu bisavô, caso fossemos algum dia invadidos. Nada temam, mas não se esqueçam: nem uma palavra. Somos poucos e só podemos vencer se usarmos de astúcia.

Um soldado tantoriano entrou na rua e, ao ver cinco pessoas de pé falando, sacou da arma e gritou.

– Alto.

– Vá pró inferno – respondeu Daniel, em cantonês. – Suma-se, seu idiota.

Era óbvio que o soldado nada entendera porque só sabia português, mas, mesmo assim, "pescou" o sentido pelo tom de voz e avançou sobre eles de arma na mão. Quando estava a apenas três metros de distância, fez menção de a erguer.

Daniel, sem lhe dar a menor chance, desferiu um golpe com a força interior dos Brancos. O tantoriano foi projetado para longe com uma violência absurda. Antes mesmo de colidir com a parede do prédio atrás dele e a dez metros de distância por cinco de altura, já estava morto com o corpo todo esmagado. A parede do prédio ficou rebentada no lugar onde ele bateu, formando o contorno do corpo.

– Vão-se, vocês não viram nada, entenderam? Deixem as lagartixas darem tratos à bola para entenderem o que houve, vai ser melhor assim porque ficarão baratinados. Em breve, o vosso mundo será liberto, eu prometo.

– Obrigado, mestre Daniel. Foi um prazer conhecer o maior dos Dragões. – Eles fizeram uma mesura profunda e saíram, antes que a sorte mudasse de lado.

Daniel saltou para o estádio porque teve uma ideia macabra. Ele viu uma tela gigantesca que projetava as imagens da arena. Estava a cerca de trinta metros de altura e era perfeita para o seu plano. Saltou para a caverna e pegou na filmadora que usou para investigar os tantorianos quando flagrou o ato sexual do comandante, retornando para trás da tela. Olha para baixo e viu que o combate ia começar. Nas arquibancadas, milhares de verdes estavam sentados, gritando e aplaudindo na língua deles. Após manipular os contatos do painel, observou o que ia acontecer. Os Dragões Vermelhos foram empurrados para o campo e mandados para o centro, avisados que, quem não fosse, levava um tiro. Serenos e tranquilos, dirigiram-se para lá. Quatro tantorianos saíram da outra entrada. Eles estavam felizes e as bocarras arreganhavam-se em um sorriso de contentamento, enquanto os espectadores observavam e gritavam ainda mais entusiasmados.

Os comandantes das duas naves estavam no estádio, assistindo de uma posição privilegiada. O "amigo" do Daniel estranhou que os humanos não estivessem apavorados como das outras vezes. Empertigou-se e olhou com mais atenção porque notou a patente diferença de comportamento entre aqueles homens e os tradicionais prisioneiros que chegavam tremendo e todos encolhidos.

– Há algo errado – afirmou, preocupado.

– O que poderia estar errado? – perguntou o amigo e comandante da segunda nave pousada.

– Esses humanoides não demonstram medo. O normal e entrarem aqui trêmulos e costumam ser mortos bem rápido.

– Ótimo – retrucou o outro, divertido. – Talvez assim eles nos proporcionem um espetáculo melhor.

– Não sei, amigo, mas este comportamento está mais parecido com os diabos da Terra do que com os nativos deste mundo.

– Vejamos, não creio que possam fazer nada contra nós.

– O senhor está aqui há pouco tempo, então não se anime antes da hora, amigo. Bem, vai começar e espero que tenha razão.

Mas não teve. A luta, se é que se podia chamar aquilo do luta, durou meros dez segundos. Os tantorianos atacaram os Vermelhos sem técnica alguma. Os chineses, desviaram com facilidade e contra-atacaram, derrubando os soldados sem os ferirem. Eram grandes mestres até para Vermelhos. Na arena, fez-se silêncio total e o público ergueu-se, abismado. Furiosos e meio tontos, os alienígenas levantaram-se e atacam de novo, levando uma chuva de socos e pontapés de uma violência nunca antes vista pelos invasores, que viram os seus campeões recuando aos trancos com cada soco que recebiam. Eles não conseguiam se aproximar dos humanos, sendo rechaçados. As pancadas que desferiam sobre os Dragões, eram desviadas e respondidas mais rápido do que poderiam absorver. Os Vermelhos brincavam com eles. Ao fim de alguns segundos, desferiram uma sequência tão feroz e violenta, que provocou a morte dos quatro lagartos quase na mesma hora. Os chineses aproximaram-se da arquibancada dos líderes e gritaram.

– Quatro é pouco. Mandem dez para cada um de nós e eles terão o mesmo fim que estes idiotas. – O silêncio foi absoluto e os tantorianos estavam em choque. Nunca na sua história acontecera tal coisa porque jamais um humano os derrotou num combate corpo a corpo em qualquer dos planetas que escravizaram. Isso aumentou ainda mais a superstição que se formou ao redor daquele mundo.

Daniela observava, escondida do outro lado do estádio, também do alto, mantendo sempre contato mental com o seu namorado. Os Vermelhos voltaram para o centro do campo, cruzaram os braços e olharam desafiadores, com um sorriso de escárnio.

Um minuto depois, não dez, mas sim vinte tantorianos para cada Dragão apareceram no campo, sendo oitenta invasores contra quatro homens. A luta reiniciou e o estrago foi idêntico. Os terráqueos desviavam-se dos ataques muito mais lentos dos adversários sem dificuldade, enquanto descarregavam pancadas mortais. Desta vez, demorou apenas um pouco mais de um minuto, até que estivessem todos mortos. Quando acabaram, começaram a rir, seguindo orientação do Daniel. Furiosa, a maioria dos soldados que estava nas arquibancadas, atirou nos homens. Como foi previsto, necessitaram de usar as pequenas mochilas energéticas para se protegerem. As balas ricocheteavam sem tocar nos Dragões, que, assustadores, ergueram-se no ar e saíram voando, ainda rindo deles.

O almirante observava aquilo, estarrecido.

– São aqueles demônios do tal planeta Terra!

– Bobagem – respondeu o companheiro – deve haver uma explicação para isto tudo.

– Pois então, tente encontrá-la, já que eu não sei mais nada.

– "Agora, Dani, vamos promover um bailado?" – De um lado do campo, dez tantorianos muito roxos e silvando alto ergueram-se no ar com os corpos retesados e encurvados no sentido oposto ao movimento que tomavam, formando uma figura bizarra. Do outro lado, o mesmo ocorria. Eles começaram uma valsa rodeando uns em volta dos outros ora subindo, ora descendo. Sem aviso prévio, viraram aviões de combate, voando em alta velocidade com um grande rasante para, logo depois, subirem até uma altura enorme, colidindo todos entre si. Libertos dos cérebros do casal, caíram como uma pedra. A multidão de invasores estava paralisada de susto, mas o fascínio do espetáculo prendia-os ao lugar, observando aquilo que lhes era inconcebível. Não conseguiam tirar os olhos do fenômeno fantasmagórico. Quando estavam perto do chão, o par segurou-os, deixando-os cair com violência, porém sem ferimentos.

Enquanto ainda estavam paralisados nas cadeiras, Daniel acionou a filmadora em reprodução e, na tela gigantesca, apareceu o comandante entrando no quarto da fêmea. Para os padrões deles, uma belíssima "mulher". Viram o mesmo tirar a roupa que era muito semelhante à dos humanos, embora de couro. Além da fêmea, havia uma outra, não tão bonita. As fêmeas da sua espécie, não usavam roupas. Apenas a cauda delas tapava-lhes o sexo. O ninho, uma cama redonda parecendo uma piscina de crianças, estava vazio. A fêmea, que tinha a barriga azulada porque estava no ponto de ovulação, não podia esperar muito e deitou-se no ninho, estendendo a cauda convidativa.

O comandante da segunda nave olhou para o colega, que estava com a pele bastante roxa, significando palidez ao extremo. No normal, eles eram apenas verdes.

Este subiu na fêmea, penetrando nela, enquanto lhe mordia o pescoço, provocando a contração da cauda que entrou nele. Todos assistiram como ele copulava. E também, quando ela quis terminar a relação e ele não deixou, mordendo-lhe o pescoço e pressionando o ventre. Apesar de demonstrar sofrimento, o almirante ignorou-a. Foi forçando tanto, que dela começou a escorrer uma espécie de gel verde. Os seus ovos rebentaram com o esforço. Ao fim de algum tempo, nem as mordidas eram capazes de a fazer movimentar a cauda e ele largou-a, mandando a outra fêmea deitar-se, e mordendo-a no pescoço. A primeira ficou deitada, encolhida, enquanto os seus ovos saíam rebentados em meio a espasmos, talvez o equivalente ao choro humano ou dor.

O comandante da segunda nave nem pensou duas vezes, levantou-se, sacou da arma e fuzilou o seu almirante ali mesmo, em frente a todos os soldados, vários milhares. Ele cometeu um crime terrível, pelas leis deles.

O rosto do Daniel apareceu no telão. Falando a língua deles, disse:

– Tantorianos, eu avisei para deixarem os humanos em paz. Vocês tinham dito que para cada um de vocês ferido ou morto, matariam dez humanos. Pois bem, eu digo o mesmo. Vocês tentaram matar quatro humanos. Agora, exijo a vida de quarenta tantorianos.

Do nada, raios térmicos atingiram e mataram quarenta deles, deixando-os em pânico.

– Vocês têm dez dias para abandonarem o sistema. Se mais uma nave aparecer aqui ou pousar no planeta, destruirei vinte das vossas naves. Eu sou da Terra, o povo mais poderoso do Universo. Pensem bem e vão-se... enquanto podem.

Talvez ninguém a não ser o comandante tenha ouvido isso porque os demais saíam em debandada, gerando mais mortes pelo medo histérico de que foram acometidos. A maioria deles desejava mesmo era sair daquele mundo mal-assombrado e desaparecer na imensidão da Galáxia o mais longe possível dali, mas nem se atreviam a dizer isso ao comandante.

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