Capítulo 4 - parte 2 (não revisado)

Um dos rebeldes ficava sempre de vigília no equipamento que eles carregaram para a caverna. Ele não entendia nada daquilo, mas sabia o que observar porque foi muito bem orientado pelo Lee. Uma tela holográfica mostrava o movimento no espaço em volta do planeta. O alcance dela era de dez horas-luz. Nela, havia trinta pontos. A sua atenção foi despertada quando um alarme baixo começou a soar. Apertou um botão para o desligar e, ao observar a tela, correu a chamar Lee. O número de pontos dobrara para sessenta. Estes últimos estavam no canto da tela, ou seja, no limite do alcance do super-radar portátil, um aperfeiçoamento recente feito pelo Daniel.

– Mestre, chegaram mais naves. – Lee acompanhou-o até ao monitor.

– Dobraram o contingente. Isto aqui vai ficar quente e complicado. Ainda vão levar cerca de dez ou mais horas a chegar aqui. Espero que não façam nenhum salto curto – disse, mais pensando do que falando. – Precisamos aguentar mais duas semanas e vejo que não vai ser fácil. Por mais que eu odeie destruir vidas, teremos de semear confusão nas fileiras do inimigo, mesmo matando. Continue observando.

Lee voltou até aos Dragões e expôs um plano simples.

– Vocês vão pegar as mochilas e fazer o que mandei – disse-lhes dando a ordem por terminada. – Senhor Chien, o senhor conhece a cidade como nenhum de nós. Pegue dez dos seus melhores homens e vistam o equipamento. Deverão semear a confusão em meio às patrulhas. Como é noite, ficará fácil fazer isso sem serem vistos. Vão e voltem sem deixar pistas.

– Sim, mestre Lee. Não se preocupe com os meus homens. Isso será fácil demais e já temos até experiência.

Cada um deles pegou em uma mochila e nas armas, levantando voo a uma altura de mil metros, que era o alcance máximo dos irradiadores. Naquela altitude, eram quase invisíveis a olho nu durante o dia. À noite nem se falava e alcançaram com facilidade os objetivos definidos pelo líder.

Uma barreira de soldados tantorianos cercava a nave capitânia. Do nada, aos pés do inimigo, seis feixes de raios térmicos começaram a fazer o pavimento entrar em ebulição. Assustados, correram para todos os lados, mas nenhum foi atingido. Os Dragões poupavam vidas sempre que podiam, mesmo do inimigo. Os alienígenas atiravam ao acaso, sem sucesso algum.

Tão rápido como começou e antes que os batráquios conseguissem se reagrupar ou descobrir a origem do ataque, o golpe do mestre Lee terminou, voltando os Dragões para a caverna.

Na cidade, os dez homens dividiram-se em cinco pares, procurando patrulhas. Não demoraram a encontrá-las. A única diferença é que estes homens não atiravam para assustar e sim para matar, porque o ódio deles não tinha limites.

O resultado disso foi um comandante alienígena bem confuso e sem saber como reagir face aos acontecimentos. Não entendia por que motivo na cidade mataram as patrulhas e no porto não.

Por mais que tentasse analisar a situação, chegava a um impasse, mas lembrou-se que o homem de preto também não matou a não ser quando necessário para a sua defesa. Mandou reforçar a proteção à espaçonave e ordenou que as patrulhas fossem mais numerosas e atentas.

― ☼ ―

O almirante tantoriano observava o homenzinho à sua frente. Ele tinha, no máximo, um metro e setenta, quase meio metro a menos que ele. Ao seu lado, dois guardas seguravam-no, de modo a evitarem surpresas. O homem tremia de medo, mas não se curvou ao temor. Ele tinha o orgulho de ser humano, orgulho da sua ascendência chinesa, um dos povos mais antigos do Império.

– Você é um comerciante de armas – disse o Comandante, lacônico. – Viu o que aconteceu hoje?

– Não, senhor, não vi, mas já ouvi falar.

– Olhe – ordenou o comandante, apresentando um vídeo.

O homem observou tudo o que aconteceu e não sabia se ria ou se ficava ainda mais assustado. Aquelas armas não eram terrestres. Só faltava agora outra potência alienígena de olho naquele pacato planeta, ou pior, uma guerra interestelar entre duas poderosas raças, que poderia culminar na destruição do seu mundo.

– Que arma é essa?

– Desconheço, senhor. As únicas armas que a nossa raça conhece são pistolas semelhantes às suas, mas mais simples, arcos, flechas e espadas. Não temos guerras há séculos. As únicas armas que temos, são para caça ou esportes.

– De que planeta vocês vieram?

– Eu nasci aqui, mas os meus ancestrais vieram de Xíngxĩng Dìqiú.

– Já ouviu falar nos centurianos.

– Não, senhor – respondeu. – Deveria?

– E no planeta Terra?

– Também não, senhor – mentiu o homem, concluindo que não seria boa ideia ele saber da sua origem. – Senhor, isso não é obra nossa, não temos armas para isso. Se tivéssemos, vocês não estariam aqui, podem ter a certeza disso.

– Que tamanho têm as naves do vosso sistema central? – O tantoriano concluiu que o homem tinha razão e desistiu de questionar sobre os atentados.

– As naves de passageiros têm, em média, de trinta a cinquenta metros de diâmetro. Os cargueiros, de cem a duzentos metros, todas esféricas. Se deseja saber se são armadas, não são. Nós não acreditamos na violência, senhor, no entanto a nossa raça é criativa e não gosta de ser escravizada. O senhor deveria desistir disso.

– Cale-se, humanoide, se quer ficar vivo. – O comandante ameaçou-o com uma das suas frases preferidas.

Preocupado, ele pensava no rumo que as coisas tomavam. Aquilo que parecia ser uma invasão simples e tranquila que levaria o seu nome para a história de Tantor, tornava-se, aos poucos, um pesadelo. Começou com os rebeldes e suas arma primitivas mas mortais e agora eram essas armas para as quais eles não possuiam qualquer defesa.

– Como desejar – respondeu o humano.

Irritado, o almirante mandou levarem o homem de volta. Ele era inofensivo e não tinha utilidade para nada. O sujeito, que já se via morto, voltou para casa com as pernas tremendo e um medo avassalador.

– "Aquelas armas, de onde serão?" – Cogitava para si mesmo, assustado. – "Que pena, se tivéssemos uma centena delas, esses demônios já estariam mortos e nós livres."

― ☼ ―

Daniel saltou com a namorada nos seus braços até ao fundo da caverna. Abraçada a ele, a garota não resistiu e colou os lábios nos dele. Daniel cedeu aos seus encantos por algum tempo.

– "Amor. Estamos em uma situação muito crítica. Quando tudo acabar, juro que serei só teu por uma semana, ou melhor, pelo resto da minha vida. Mas, agora, temos de fazer isto" – Insistiu.

– "Isto?" – perguntou ela, saltando com ele para fora da caverna e rindo muito. – "É muito mais fácil que a telecinésia. Senti logo, na hora que saltaste comigo na tua mente."

Ele deu uma risada alegre e voltou a beijá-la.

– "Como eu te amo, minha Danizinha do coração. Esperei tantos séculos para te reencontrar!"

– "Fizeste coisas maravilhosas nesse período e estás fazendo agora."

– "Leva-me para o alto daquela montanha" – disse ele, interrompendo a conversa.

– "Puxa, Dan, que corte!" – Ela saltou.

– "Ótimo, amor. Agora vou bloquear a mente e tu vais me seguir." – Ele olhou em volta e viu uma clareira. Saltou, mas para outro lugar de modo a que ela se desorientasse, retornando para a caverna. Um segundo depois, Daniela estava ao seu lado.

– "É fácil seguir o teu salto. Sinto a energia que se forma, como um campo energético mental, amor. Posso seguir-te até ao inferno, se for preciso. O que mais tens para me ensinar dos teus dons?"

– "Posso sugestionar, como uma mini-hipnose e posso prever o perigo, mas isso não te sei ensinar. Olha na minha memória."

Ela viu Daniel dirigindo o seu carro em uma velocidade absurda. Então, sem explicação alguma, travou o veículo com o máximo de frenagem possível, para ver um pequeno animal atravessar a estrada. Depois, ele mostrou como influenciou um dos agentes do imperador e ela deu logo uma gargalhada.

– "Amor acho que senti, mas só saberei se aprendi quando acontecer. E o Kung-fu? Eu luto muito bem. Podemos tentar ver se o teu conhecimento me ajuda."

– "Claro, manterei a defensiva. Podes atacar."

Ela atacou-o com uma força que só viu em um Vermelho e uma velocidade compatível com um Dourado. Como resultado, recebeu uma tremenda pancada, recuando mais de dois metros. Sorrindo, defendeu-se, testando a sua força, que ainda era muito inferior à sua.

Nesse momento e para seu espanto, Daniela usou a força interior, desferindo um golpe fortíssimo que o atirou a mais de dez metros de distância porque não estava preparado para isso, ficando meio zonzo. Assustada, ela correu até ele, que se levantou sorrindo e enfrentou-a de novo, com os olhos muito brilhantes, cheio de alegria. Ela atacava com cada vez mais velocidade. Usou mais uma vez a força interior, que aumentava de intensidade à medida que a experimentava. Ele, preparado, defendia-se sempre sorrindo.

– "Porque não me atacas, Dan?"

– "Morrerias na mesma hora, amor."

– "És assim tão forte?"

– "Olha." – Ele leva-a para fora da caverna e, no vale, aproximou-se de uma árvore enorme. Após um segundo preparando-se, desferiu o golpe da força interior. A árvore literalmente explodiu em pedaços.

– "Caramba, Dan!" – exclamou a garota debochada. – "Ias ganhar um bom dinheiro em uma fábrica de palitos."

Ele deu uma gargalhada alegre.

– "Amor, todos os Brancos são assim?" – perguntou-lhe.

– "Não. Há onze Brancos no Império. Nove são meus parentes. O décimo primeiro é chinês. Eu sou capaz de derrotar todos facilmente. O mais forte depois de mim é o meu avô. Tu, poderias derrotar o chinês, mas jamais algum parente meu, pelo menos por hora."

– "É muito poder, amor!"

– "É sim, assusta. Não gosto de ferir ninguém, nem mesmo esses batráquios."

– "Não nos deram escolha, amor." – Ela deixou de sorrir, pensando nos invasores e no que sofreu.

– "Eu sei, linda, mas ainda assim, não me agrada. Agora, vamos descansar. Amanhã voltaremos para a caverna dos rebeldes e iniciaremos o estrago. Hoje, somos um do outro. Afinal, temos tanto para nos lembrarmos!"

― ☼ ―

Enquanto o casal se curtia no continente norte, muitas coisas aconteceram no sul. Três naves dos tantorianos desceram e largaram um contingente enorme de tropas. Duas tornaram a subir, mas a última permaneceu pousada. Ela era maior, embora não muito. Pequenos planadores patrulhavam o planeta, tornando as incursões dos rebeldes cada vez mais difíceis. Os verdes queriam segurar aquela colônia a qualquer preço porque o Império Tantoriano precisava, e muito, de alimentos.

― ☼ ―

Quando, na manhã seguinte, Daniel e a namorada preparavam-se para voltar, ouviram um barulho destonante com o local. Foram para fora da caverna e notaram quatro planadores voando em formação perto da entrada do vale. Olharam-se rindo e Daniel disse:

– Vamos treinar um pouco?

– Vamos é brincar. – Ela sorriu, alegre.

Os dois transportaram-se para uma posição a dois quilômetros das cavernas e começaram o estrago.

Sem desconfiarem de nada, os tantorianos voavam em uma viagem de inspeção. Alguns deles apreciavam a bela paisagem virgem, muito diferente do seu mundo natal que não possuía mais verde em lugar algum. Tantor era como uma única e ciclópica cidade. Nesse momento de reflexão, o comandante descobriu algumas pedras de tamanho médio, subindo em alta velocidade. Antes que pudesse gritar um aviso, foram surpreendidos por uma chuva de rochas atingindo os aparelhos, mas o que mais os assustava era o fato delas virem do chão.

– O que diabo é isso? – perguntou um deles.

– Não sei, mas é melhor desviarmos – respondeu outro. – Podem ser rochas com núcleos magnéticos que são atraídas pelas naves.

– Não deteto nenhum campo magnético! – disse um terceiro, espantado.

– Vamos sair daqui e rápido – ordenou o comandante. – Tratem de registrar no mapa a anomalia para uma equipe maior vir investigar.

Aceleraram os aparelhos, mas os planadores tornaram-se cada vez mais difíceis de controlar e começaram a perder altitude, pousando com uma certa violência. Abismados e sem entenderem nada, os passageiros desceram, empunhando as armas. Olharam em volta e descobriram que estavam num vale ao lado de um grupo de rochas bem grandes. Cada naveta levava dois invasores. Mal pisaram no chão, assistiram a uma coisa de lhes congelar a medula, se tivessem:

Dois dos planadores começaram a se erguer sozinhos, no mais completo silêncio, e rolavam um em volta do outro, ao som de uma música imaginária. As máquinas afastaram-se e subiram muito alto, sempre dançando a sua valsa macabra, girando uma em volta da outra como se as pequenas asas fossem braços, para terror do lagartos que estavam com o couro muito roxo.

O casal libertou os aparelhos do controle mental e eles caíram como uma pedra, espatifando-se a cerca de cem metros dos assustados invasores.

Como golpe final, Daniel pegou uma das pequenas bombas atômicas e teleportou-se para formação rochosa. Preparou o detonador para cinco segundos e soltou um assobio estridente. Os verdes viraram-se para verem um humano a cerca de cento e vinte metros em cima de uma plataforma rochosa, talvez a cinquenta metros de altura. Prepararam-se para atirar quando ele desapareceu. Em compensação, uma forte explosão tomou conta do lugar. Apesar da potência da bomba não ser absurda, o sopro atômico atirou-os uns bons metros para longe, logo seguido de uma chuva de pequenas pedras. Mal se recompuseram, ouviram um barulho assustador e olharam para trás, vendo uma avalanche de rochas que despencava da encosta muito íngreme. Desesperados, correram o máximo que podiam para fugirem da catástrofe, tarefa bastante difícil por conta das suas curtas patas.

Daniel decidiu deixá-los em paz, para que pudessem passar adiante a informação.

Depois do susto, agruparam-se e começaram a pesquisar em volta, olhando os aparelhos parcialmente destruídos, mas um deles, com uma parte da cabine intacta, permitiu que pedissem socorro. Passaram um rádio para a nave, fazendo um relatório completo, que deixou o pobre comandante ainda mais confuso, e aguardaram. Em meia hora, uma frota de planadores surgiu no horizonte. Trezentos soldados invasores começaram a vasculhar o terreno. O lugar mais óbvio a se procurar era nas cavernas das montanhas próximas. Quando encontraram o que desejavam, apenas viram os vestigos, ainda quentes, de uma fogueira recente, bem como um ovo. Um dos tantorianos pegou-o, olhando curioso. Apertou um botão e ele explodiu, matando quase metade do grupo. Por conta disso, um destacamento gigantesco de soldados foi vasculhar o continente norte, aliviando a capital.

O casal, muito feliz e ainda beijando-se, apareceu no meio da caverna dos rebeldes, encontrando todos em polvorosa.

– Daniel, que bom que apareceu. Já íamos chamá-lo, meu filho.

– O que aconteceu, mestre Lee?

– Calculamos que eles desceram cerca de noventa mil soldados e agora há mais de trezentas espaçonaves em órbita. Não sei o que aconteceu há algumas horas, mas um grande contingente deles saiu em planadores e tomaram rumo norte.

– Arrumamos uma distração para eles por lá. Agora, vão para o norte procurar fantasmas.

– Isso pode ser muito útil, filho. Noventa mil não é um número para se desprezar.

– Sim, pode ser útil e noventa mil é mesmo preocupante, mas, se necessário, darei cabo deles, só que, por hora, não quero mortes desnecessárias. Vamos começar o tratamento de choque. Fiquem de prontidão. Eu vou conversar com o comandante deles. Afinal, já somos amigos íntimos. – Ele deu uma risada debochada. – Dani, queres pôr a cabeça na boca do lobo?

– Onde tu fores, Dan. – Os olhos dela brilhavam.

Lee observava o seu pupilo, que recuperou a alegria de viver.

– "O que uma garota não pode fazer por nós homens" – pensou ele com um sorriso. O rapaz notou e deu-lhe uma piscada de olhos. Tomou a mão da namorada e saltou para a cabine de comando da nave do inimigo.

― ☼ ―

Xíngxĩng Dìqiú – Planeta Terra


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