Capítulo 4 - parte 1 (não revisado)
Junto com eles, levam uma caixa com alguns mantimentos e cobertores, mas Daniel não quis levar armas porque achava desnecessário, frente às forças que possuíam. Entretanto, trouxe as duas bombas atômicas e um comunicador. Na caverna que ela mostrara nos seus pensamentos, deixaram os objetos e Daniel partiu para buscar lenha enquanto a garota arrumava as coisas. Da borda do platô onde estavam, a cerca de duzentos metros de altura, observava tudo ao seu redor. O lugar era belo demais, selvagem, intocado pela mão do homem, mantendo o seu estado natural há milhões de anos. Maravilhado com tanta beleza, aguardou um pouco para saborear toda a paisagem. Acima, havia uma cadeia de montanhas bem respeitável, várias delas, com neve eterna. Para baixo, viu um vale, cheio de vegetação verdejante, apesar do inverno. Singrando pelo ora pelo meio ora perto da rocha escarpada de uma montanha, um pequeno rio repleto de voltas e algumas ilhotas serpenteava o vale até à saída da cordilheira. O lugar era perfeito, sendo apenas acessível de terra por um lado. A distância até à saída era de cerca de cinco a sete quilômetros, segundo a sua apuração. Perto da entrada do vale, uma montanha com cerca de quinhentos metros de altura, toda de pedra e sem vegetação parecia fazer um certo contraste com a paisagem paradisíaca. Concentrou-se em um salto e teleportou-se para um local onde viu umas árvores secas, juntando alguma lenha que precisavam. De volta para a caverna, deu-se conta que não tinham nada para acender o fogo.
– Esquecemos de trazer fósforos – disse, sorrindo.
– E daí, basta esfregar dois gravetos vigorosamente. A fricção fará o fogo – afirmou a namorada, bem-humorada e começando logo a tarefa.
Daniel deu uma gargalhada e ela olhou para o lado, mas ele havia desaparecido.
Surgiu em meio aos rebeldes, na "cozinha" e pegou uma caixa de fósforos, sorrindo.
– Acho que faltou isto – disse-lhes, desaparecendo de novo.
Mal a Daniela olhou em volta à sua procura, o namorado reapareceu.
– Onde te meteste?
– Acredito que assim é mais confortável – estendeu os fósforos, sorrindo. – Pensei em usar um irradiador térmico, mas acho que um milhão de graus ia carbonizar a lenha antes de aparecer o fogo.
Ela deu uma gargalhada e um beijo no Daniel, pegando os fósforos e acendendo o fogo.
– Devias pensar em uma forma de regular a intensidade da arma, meu amor.
– Acabei de pensar nisso e já sei como fazer, princesinha.
Com calma, ela foi alimentando o pequeno fogo, tal como Chien lhe ensinara em criança. Embora ambos pudessem resistir sem dificuldade ao frio, ficava muito mais confortável assim.
– Que lugar mais belo, Daniela!
– É sim, belo demais. Este continente é cheio destas formações. Descobri-o quando fazia pesquisas e recolhia amostras de vegetação. Sabes, eu ficava aqui na beira do penhasco, à noite, tentando descobrir onde fica o Sol, procurando pelas tuas lembranças. Era um momento gostoso, mas triste, porque me sentia incompleta.
– Eu imagino, fiz algo parecido muitas vezes, procurando o que me faltava na memória sem saber do que se tratava. Era uma sensação que chegava à beira da angústia e eu não a compreendia, justamente por me terem inibido as lembranças.
Ela encostou-se a ele.
– Mas agora sabemos, meu Dan.
– Sim, sabemos e voltamos a ser um do outro, após tantos séculos de espera.
Sempre juntos, prepararam uma refeição leve com as conservas que trouxeram e comeram com tranquilidade, felizes por se terem encontrado. Após terminarem e arrumarem tudo, Daniel tomou a iniciativa, mas antes disse:
– Dani, meu amor, como alguém pode gostar desta comida horrorosa? – Ela deu uma gargalhada. – De onde raio saiu isto?
– Comida de hospital, amor.
– Bem, deve ser por isso que quase não há mais doenças no Império. Afinal, quem quer comer esta coisa? – Olhou para a namorada e sorriu, voltando a ficar sério. – Em primeiro lugar, vamo-nos conhecer na íntegra porque acho isso importante para ambos. Já temos um conhecimento parcial mas, se vamos ficar juntos, devemos nos conhecer cem por cento, sem segredos. Vou derrubar as minhas barreiras e compartilhar as minhas lembranças contigo. Quero que vejas toda a minha vida.
– Farei o mesmo, meu gato. Este é o começo da nossa nova vida e deve começar com a mais pura sinceridade – respondeu, séria e feliz.
Sentados frente a frente, deixaram cair as barreiras mentais. As suas mentes começaram a se tatear uma em direção à outra, fundindo-se, como se fossem uma só. A sensação provocou um êxtase muito forte em ambos e o fluxo que partia dos dois, intenso e bastante envolvente, fez com que começassem a compartilhar todas as lembranças individuais.
Ela viu o menino que sonhava e falava consigo ainda muito criança, a comunicação ser interrompida com o hipersalto e o choque que tomou conta dele. Viu os pais, desesperados, tentando tirá-lo da apatia em que entrou, um estado de apatia tão intenso que morreria de inanição em pouco tempo, e aprendeu como inibiram a lembrança dela para o salvar da morte. Acompanhou a recuperação da criança que perdeu boa parte da sua alegria que sempre ostentou, bem como quando se tornou um Grande Dragão e a facilidade que tinha ao combater, assim como quando concebeu a nova matemática e a sua espaçonave. Observou Jéssica aparecendo na vida dele, restituindo-lhe a felicidade e também que ela é era reconhecida por ele como reencarnação da sua mulher na vida anterior, entendendo por que motivo ele apaixonou-se tão de forma tão profunda por ela. Acompanhou a primeira vez que se uniram e como ele se ligava cada vez mais a ela, bem como quando começaram a viver juntos, em uma grande harmonia e felicidade. Depois, viu a prisão e a morte dela. Chorou bastante, junto com ele que, ao compartilhar, sentia tudo acontecendo de novo. Vivenciou o aparecimento dela na noite da sua morte para ajudá-lo a superar o choque e ele reiniciando a sua vida. Também observou a procura pela Daniela que ele deveria conhecer, mas que não se lembrava, e o recomeço dos sonhos com ela, sem no entanto ter contato. Por fim, descobriu como ele recuperou a memória e passou a lembrar de tudo, inclusive que ela é a sua Daniela renascida. Enfim, passou a saber cada segundo da vida dele da mesma forma que Daniel soube dela: as suas pesquisas, solitária, a espera por ele sentada na varanda, procurando a Terra no meio do firmamento e achando que estava maluca por se apaixonar por um sonho, a tentativa de um relacionamento que não foi muito longe porque ele foi morto na invasão. Também acompanhou os trabalhos dela no hospital e como todos a amavam muito pelo seu carinho com os pacientes. Os cientistas, todos muito mais velhos, que a ajudavam e ensinavam, bem como a sua solidão à espera de algo que não conhecia. Observou quando ela ia para o mar, sozinha, nadar contra a corrente e as ondas de um oceano verdadeiramente forte e violento. Viu a aparição da Jéssica para lhe dar algum conforto no mistério dos sonhos. E mais, lembraram-se sobre as vidas anteriores à última, com muitos flashes.
Cheios de lágrimas nos olhos, frente a frente e de joelhos, abraçaram-se com força, sabendo que jamais poderiam ser separados outra vez. Deitaram-se no cobertor e ficaram juntinhos o resto do dia, absorvendo e compartilhando tudo, curtindo-se com muita intensidade.
Quando ambos adormeceram, Daniela acordou sem explicação algum tempo depois. Ao seu redor, uma luz branca, intensa, fez com que ficasse meio cega. Levantou-se sem medo e olhou ao redor. A luz diminuiu e o corpo de uma mulher apareceu para si, sorrindo.
– Acreditas agora em mim, ou ainda achas que era uma insolação?
– Não tenho alternativa, Jéssica, ainda mais depois do que compartilhei com ele. Que estranho ele não acordar...
– Eu não permiti que ele acordasse, Dani. Vim aqui para falar contigo.
– Comigo?
– Sim, Daniela. Ele precisa de ti mais do que qualquer coisa neste universo. A tarefa que o espera é bastante pesada, a menos que estejas perto dele para ajudá-lo a segurar esse peso.
– Jamais sairei de perto dele, Jéssica. Ele é o meu amor de toda a vida.
– Eu sei, querida, da mesma forma que é o meu. O nosso Dan é a coisa mais especial que nos aconteceu nas nossas vidas. Ele sofreu muito com a minha morte, mas, agora que te encontrou, tudo voltou a ser como deveria desde o início. Daniela, ele, apesar de forte, também é demasiado sensível. Só tu poderás ajudá-lo a suportar a árdua tarefa que o destino lhe reservou. Lembra-te disto.
– Tentarei lembrar, Jessy. – Daniela olho a bela mulher se aproximar de si e abracá-la. Deu-lhe um beijo e virou-se para o Daniel, adormecido, tocando-lhe os lábios.
– Até breve, meus amores, esperarei por vocês, quando o vosso destino estiver concluído. Nós somos uma família espiritual maravilhosa e muitos de nós já estão comigo. – Um facho intenso de luz voltou a cegar a Daniela, até que a escuridão reinou exceto pela pequena fogueira, que às vezes crepitava.
Daniel acordou de repente. Ainda sentia o beijo da Jéssica e viu Daniela sentada, pensando. Ela olhava para fora, para a escuridão da noite sem luar.
– Ela esteve aqui, não foi? – perguntou.
A namorada anuiu com a cabeça. Após alguns segundos virou o rosto para ele e perguntou:
– Como sabes, Dan?
– O beijo que me deu... jamais esquecerei. Assim como os teus beijos, são únicos. O que ela disse?
– Nada de especial, Dan, mas peço que deixes isso entre mim e ela. Jessy teve os seus motivos ao não permitir que acordasses.
– Claro, amor, tudo bem. Vem, deita-te comigo que já tenho saudades.
O dia seguinte já ia alto quando ambos acordaram, ainda agarrados um ao outro. Após mais uns momentos românticos e uma refeição leve, ele começou a árdua tarefa de tentar ensiná-la. O ocorrido durante a noite parecia ter sido apagado das suas memórias.
― ☼ ―
Na Terra, o imperador estava tão nervoso que já comera as unhas. Terminou o almoço e pegou seu planador, indo sozinho para a Cybercomp, coisa que, em geral, deixava seus assessores irritados. Encontrou Daniel pai, avô e João que, juntos, discutiam os fatos e detalhes da nave gigante. Entrou na sala e cumprimentou-os. João e o governador de Vega ficaram mais reservados. O pai, contudo, conseguia separar as coisas com mais facilidade.
– O que o traz aqui, Alteza? – perguntou, polido.
– Gostaria de saber se têm notícias porque estou preocupado com o seu filho, senhor Moreira.
O avô deu um suspiro, mas ficou calado. Saturnino sentia-se intimidado com a presença dele, o seu maior opositor, antes neutro.
– Daniel contatou-nos ontem, Majestade. Ele libertou os cientistas e está escondido, aguardando o término da Jessy. Descobriu que a nossa tecnologia é muito superior, mas somos inferiores em quantidade de elementos. Apesar da nave auxiliar já ter o poder de fogo necessário para expulsar o invasor, ele deseja impôr uma derrota fulminante porque teme que eles retornem em maior número. Ganhando tempo, venceremos este confronto com facilidade, segundo ele.
– Será que não corre algum perigo lá, sozinho, no meio de tantos inimigos?
– Não mais do que no jardim do seu palácio, Alteza – disse João, de péssimo humor. – Com licença, tenho detalhes para ver nos sistemas da nave.
Ele retirou-se e o imperador baixou a cabeça. Aquela família jamais se esqueceria de que ele era o culpado pela morte da sobrinha, esposa do Daniel, e sentia isso na pele.
– Bem, se precisarem de qualquer coisa, eu estou à disposição dia e noite. Pelo menos o povo, apesar de assustado, está calmo. Mandei suspender as viagens interestelares, exceto as imprescindíveis.
Ele despediu-se e saiu. Pai e filho ficaram calados por algum tempo.
– Não sei o que faço com este imbecil – disse Daniel filho, suspirando fundo. – Ele dá-me pena, pai.
– É, eu entendo, filho, mas ainda tenho muita raiva dele. Só que há uma coisa que eu vejo claramente: hoje, o verdadeiro imperador é o nosso Dan. Todas as coisas novas que ele fez, são obras do Daniel e tem mais: o congresso e o povo sabem disso muito bem.
– Já notei e prevejo um problema em potencial. Mas, pai, também estou preocupado com ele.
– Não te preocupes, filho, ele é o maior dos homens. Tenho a certeza de que vai tirar isso de letra.
– Queria ter a tua segurança, pai.
– Confia em mim, filho. Olha, eu vou a Vega XII ver detalhes da frota e deixar algumas instruções. Volto em uma semana. Felizmente, a proibição de voo não se estende a nós.
– Não me parece que essa proibição sirva para alguma coisa.
– Serve sim, filho. Um hipersalto gera um curto distúrbio do espaço-tempo, mas muito intenso e que se propaga acima da velocidade da luz, a princípio instantâneo. Com os instrumentos adequados, pode ser detectado com facilidade e localizadas a origem e o destino. Nós têmo-los, mas não sabemos se eles também os possuem. Até breve.
– Paz, pai – despediu-se Daniel pai.
― ☼ ―
No continente sul do planeta Terra-Nova, mais precisamente na cidade de mesmo nome, um grupo de homens andava tranquilo pelas ruas quando foi impedido por uma patrulha tantoriana. Eles puseram-se a revistá-los quando um dos nativos disse algo em cantonês. Como eles não conheciam esse idioma, julgaram que se trata-se de uma imprecação, começaram a surrá-lo.
Antes que pudessem fazer grande coisa, quatro raios vermelhos de intensidade tão elevada que ofuscavam os olhos, acertaram a patrulha, matando-os de imediato. A única coisa que se ouviu nesse momento assustador foi um crepitar, como um raio de tempestade que desceu das nuvens, ionizando a atmosfera e provocando aquele mesmo som antes do trovão. Na verdade, era isso mesmo que ocorria: o raio, muito quente e potente, superaquecia a atmosfera, ionizando-a, e as moléculas de ar superexcitadas produziam esse barulho. A arma, chamada de irradiador térmico, tinha o seu princípio de funcionamento copiado de um sol, onde um micro reator nuclear, criava a fusão a quente dos elementos ativos. Minúsculos campos energéticos condensavam-nos em um feixe fino que se projetava na ponta do cano como um raio semelhante ao laser, mas muito mais potente. Com a temperatura de um milhão de graus, nada resistia ao tiro. Estes mesmos campos de força impediam que o calor do raio se propagasse dentro da arma, que provocaria não só a sua destruição imediata, como a morte do atirador.
Os sujeitos que eram revistados saíram correndo, antes que fossem apanhados por outra patrulha. O que sobrou no chão, foram quatro corpos verdes, com furos de três centímetros de diâmetro no corpo.
Meia hora depois, outra patrulha, procurando os colegas que não retornaram da ronda, apareceu e viu os corpos abandonados no mesmo local, sem as armas.
Chamaram um planador grande e um batalhão inteiro, vasculhando aquela região da cidade e não encontrando nada que pudesse incriminar alguém. Ao fim de algum tempo, recolheram os corpos e foram-se embora sem maltratar a população.
― ☼ ―
– "Danizinha do meu coração. Foca na minha mente. Olha como faço." – Ele ergueu uma pedra que estava à beira da caverna, que subiu sem dificuldade e moveu-se para o lado, descendo sobre o solo, duzentos metros abaixo deles. A namorada concentrou-se, mas nada aconteceu.
Por diversas vezes a garota chinesa tentou sem sucesso e ficou muito frustrada porque já estavam nisso há várias horas. Olhou para Daniel que lhe sorria com ternura. A sua presença dava-lhe a força que precisava para não desistir das tentativas. Ele e a vontade de vingar os amigos assassinados pelos invasores alienígenas, tão cruéis e desumanos.
– "Muito bem, amor, façamos diferente. Concentra-te na minha mente, como uma fusão. Eu e tu somos um só. Sentes? Agora, faz o que eu fizer, começando por sentir a pedra. Depois, vou erguê-la bem devagar."
A ligação mental de ambos ajudou-a a sentir a pedra, como se a estivesse tateando com mãos invisíveis, mãos do espírito. Ela passou a sentir a rocha e, também, o que ele fazia com ela. Devagar, tentou acompanhar. Daniel notou que a garota estava, por fim, chegando lá. Delicado, largou a pedra bem devagar e ela continuou no ar, firme e impassível.
– "Isso, amor, eu não estou mais segurando a pedra" – bastou ele dizer isso e a enorme rocha caiu com um estrondo horroroso, provocando um pequeno tremor.
– "Estavas indo tão bem, Dani!"
– "É como aprender a andar de bicicleta, quando sabemos que não nos seguram mais, caímos."
– "Muito bem, vamos de novo. Eu seguro a pedra, mas tenta erguê-la como se fosses eu."
A enorme rocha começou a tremer, parecendo que estava com febre alta. Devagar, ergueu-se no ar, primeiro de forma um tanto instável, até que ficou firme, apoiada em nada. Aprovando e sorrindo, Daniel disse:
– "Dani, eu menti para ti. Não fiz nada, tu subiste a pedra sozinha. É como andar de bicicleta, meu amor."
Muito feliz, ela atirou-se aos seus braços, beijando-o com força. Um terrível estrondo assustou a ambos, que se viraram para a origem do som. Só então deram conta que foi pedra que caiu quando a Daniela perdeu a concentração. Um segundo depois estavam os dois rindo e voltando aos beijos.
– "Pensei que não mentias." – Ela chegou-se mais a ele, cheia de maldade.
– "E não minto, mas foi por uma boa causa. De novo, amor, nada de sexo agora, senão cansas-te." – Sorriu e ela transmitiu, com doçura:
– "Já estou muito cansada, Dan."
– "Então vamos pausar que não adianta nada ficares esgotada. Vamos comer algo."
– "Boa ideia, amor, mas vamos caçar uma coisa que tem um sabor excelente e, aqui, há aos milhares."
– "Como quiseres, minha princesa."
― ☼ ―
O almirante alienígena sentia-se acuado. Acabara de receber a informação de que uma patrulha foi morta por armas estranhas. Eram armas de raios, mas a autópsia revelou que eram bem diferentes das armas tantorianas, que disparavam um laser finíssimo e de grande potência. O buraco feito por uma arma deles era de cerca de três milímetros, mas os soldados abatidos apresentavam um rombo dez vezes maior. Além disso, à volta de onde o raio penetrara estava tudo carbonizado em um raio de mais de vinte centímetros, como se a temperatura fosse de milhares de graus.
– Os humanoides não fizeram isto, Almirante – disse o legista, olhando assustado para os corpos. – Esta arma é até mais avançada do que as nossas, muito mais. Veja que, por mais de vinte centímetros de raio a partir do centro do alvo, o corpo carbonizou instantaneamente. A temperatura deste raio deve ser de milhares de graus, centenas de milhar. Ouso dizer que pode ser perto de um milhão de graus. Não é um laser comum. Isto, não é obra dos humanos deste mundo, pode ter a certeza. Se fosse, já não estaríamos aqui.
Ainda assustado, o almirante pensou na aparição negra e, depois, no humano que disse ser superior até mesmo aos centurianos e estar de olho neles.
– Era só o que faltava, e nem podemos culpar os nativos!
– De certeza que não, Almirante. Se tivessem este tipo de arma, teríamos sido derrotados logo no início e muito sem dificuldades. Estou certo que esta arma é capaz de perfurar o casco da nave com mais facilidade do que qualquer dos nossos canhões laser de grande potência.
– Obrigado, doutor.
– Almirante, esta arma pode destruir a nossa nave. Talvez seja conveniente o senhor tomar as medidas preventivas.
– Farei isso, doutor, obrigado. – O lagarto chefe retirou-se e foi pensando no assunto, sem sucesso. Coisas muito estranhas passaram a acontecer sem explicação; um soldado deu uma bofetada em um oficial; armas saíam sozinhas dos coldres e mataram um deles... era aterrador, em especial porque os seus homens eram supersticiosos e estavam assustados.
Na sala de comando, chamou um ordenança e mandou pôr um pelotão de mil elementos em volta da nave.
– E mande um destacamento observar ininterruptamente todas as telas dos rastreadores – afirmou para finalizar. – Que sejam revesados, mas não poderão sair de lá nem por um minuto sequer.
– Sim senhor. – O ordenança saiu para cumprir as ordens recebidas.
― ☼ ―
O casal desceu pela encosta até à planície. Ela caminhava sorrateira e ele acompanha-a, fazendo o mesmo. Surpreso, Daniel notou que os passos da namorada, eram quase inaudíveis, como se ela tivesse o treino de um Dragão. Ao longe, viu uns animais que pareciam coelhos misturados com antílopes.
– Com pretendes pagá-los?
– Ora, correndo...
– Façamos o seguinte – disse, interrompendo a garota. – Eu salto para trás deles e grito. Eles correm na tua direção e pegas um.
– Boa ideia, meu amor, dá menos trabalho.
– Dani... – ele ficou reticente – quando o pegares, eu não quero ver. Gosto de carne, mas não tenho coragem de matar para me alimentar, pelo menos deste jeito...
– Ora, amor, que bobagem, mas tudo bem, eu dou conta do recado.
Beijaram-se e ele pulou para trás da manada de cerca de cem animais, que nada notou porque estavam contra o vento. Ergueu os braços e gritou. – Buuuuuuu...
– Os pequenos bichos olharam para trás, muito assustados, e saíram disparados em direção à morte. Daniela começou a correr ao lado deles e pegou um dando-lhe uma forte cutelada o pescoço.
O namorado aproveitou para saltar para um dos picos e olhar o horizonte. A beleza selvagem daquele mundo contagiava o seu espírito e notou que aquele continente era muito mais bonito que o sul, perguntando-se por que motivo os homens colonizaram o outro, deixando o norte virgem, intocado.
– "Fiz várias vezes a mesma pergunta que tu, amor, até que me disseram que o continente sul é muito mais fértil para as nossas culturas. Como a população é pequena, apenas colonizamos o sul." – Contou-lhe ela, que estava sintonizada na sua mente, já que ambos sabiam comunicar-se bloqueados com mais intensidade que qualquer outra experiência que o Daniel tenha tido antes de a conhecer.
– "É, amor, mas isto seria um lugar inigualável para se tirar férias."
– "Tens razão. Vem, o bicho já está assando. Não acredito que um sujeito como tu possa ser tão delicado."
– "Desculpa, anjo" – ela recebeu um sorriso. – "Mas matar desagrada-me, até mesmo esses invasores." – Ele surgiu do nada ao seu lado, com o corpo tão gelado e molhado que ela se arrepiou.
– Onde diabo tu andavas?
– No pico de uma dessas montanhas. O ar é bem rarefeito, mas que vista deslumbrante, ainda mais com o céu assim, sem nuvens. Alcancei até ao mar.
– Caramba, estás gelado e molhado como sei lá o quê. Senta-te ao lado da fogueira para te secares um pouco. E é melhor tirares as roupas.
Ele sorriu e obedeceu. Ao vê-lo sem roupas, sorriu e disse:
– Acabei de ficar com fome de outra coisa.
– Depois, amor. Agora temos um objetivo a atingir.
Após comerem, dormiram um pouco, ou quase nada, mas o suficiente para ela descansar. Quando estava entardecendo, o casal recomeçou a treinar.
Daniela aprendeu a brincar com a pedra e conseguia erguê-la para o ar. Sem lhe dar trégua, o namorado foi aumentando o grau de complexidade da sua nova capacidade. Ela conseguia, com alguma dificuldade, fazer tudo o que ele lhe ensinava e foi ficando com cada vez mais destreza no domínio da telecinese.
À noite, ambos comeram o resto do animal caçado, que tinha um gosto maravilhoso e dormiram juntos, muito abraçados, porque ela estava bastante cansada com a energia que gastou. Mesmo assim, como todo o jovem casal, guardaram um pouco para ambos. Enquanto dormiam, uma aparição silenciosa observava-os com um sorriso terno nos lábios. Ao fim de uns minutos voltou a desaparecer no seu tradicional facho de luz branca.
Na manhã seguinte, continuaram o treinamento. Daniela já conseguia mover, com facilidade, pedras de todos os tipos e tamanhos. Satisfeito, Daniel mostrou-lhe algo novo. Sem dar explicações, começou a pairar à sua frente e, ao fim de dois segundos, saiu voando, fazendo piruetas diversas, deixando-a assombrada. Ele até parecia o super-homem das historinhas em quadrinhos.
– "Como raio fizeste isso!?" – perguntou, fascinada.
– "Meu amor, se podes erguer uma pedra que pesa algumas dezenas de toneladas, podes te erguer a ti própria. Basta praticar."
Por várias horas eles praticaram sem parar, até que ela conseguia voar e erguer um ou vários objetos ao mesmo tempo. Juntos, começaram a fazer uma brincadeira de levantar pedras e lançar umas contra as outras. Divertiam-se imenso enquanto ela aprendia. Depois, ambos passaram a voar em alta velocidade, lado a lado. Muito alto, ela sorriu e aproximou-se dele.
– Dan, a sensação é simplesmente deliciosa. – Ela abraçou-o e sorriu muito, beijando-o – dá vontade de fazer outra coisa aqui no ar.
– Esquece, princesa. No clímax, perderíamos a concentração e cairíamos como uma pedra.
– Que pena!
– Faremos isso – disse, achando a ideia boa. – Basta usar uma mochila energética. Deve ser mesmo delicioso.
Em apenas dois dias a garota dominava com perfeição a telecinese. No fim do dia, muito cansada, pediu que parassem. Alimentam-se com as conservas e passaram o anoitecer juntinhos, abraçados na beira do platô e olhando o pôr do sol sem falarem nada, apenas saboreando as suas novas descobertas. No dia seguinte, iniciaram a nova etapa.
Ele achava que a teleportação podia ser mais difícil de aprender e deixou este dom para o final.
– Agora, vamos teleportar. Saltaremos daqui até ao fundo da caverna. Eu vou saltar e tu agarras-te a mim, entrando na minha mente para ver como faço, depois repetes.
– Será que eu consigo, amor? Parece muito mais difícil que a telecinésia.
– É possível, minha linda, mas sei que vais conseguir. Na verdade, para mim é difícil dizer porque eu sempre soube fazer ambas as coisas desde muito criança. Descobri estes dons antes dos seis anos.
– Tá bom, vamos tentar.
– Dani, tenho a certeza de que vais conseguir. Apenas relaxa.
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