Capítulo 3 - parte 3 (não revisado)
Daniel rematerializou no meio da caverna, onde encontrou o doutor Chang ajudando a filha.
Ela usava o seu dom para tratar os pacientes e já estava esgotada, mas não desistia porque cada um deles era um grande amigo que tinha desde menininha, quando foi para aquele mundo. Como bom observador que era, Daniel preocupou-se com o estado dela, independente dos sentimentos que tinha. Olhou para os enfermos e viu que quase todos estavam em péssimo estado de saúde.
– Daniela, precisas de descansar.
– Eles estão muito fracos, dependem de mim – disse, agoniada.
– Se te acontecer o que me aconteceu quando eu trouxe os homens para cá, não terás valia e eles poderão até morrer.
– Preciso de medicamentos – disse o pai, que também estava preocupado com o esforço da filha. – Assim ajudaria. Apesar de estar cansado e muito fraco, estou em melhores condições do que os outros.
– Bem, isso é fácil de resolver. – Daniel pensou por alguns momentos e disse. – Daniela, hoje de manhã deste-me uma pequena carga de energia e eu senti-me bem mais forte. Não consegues tirar de mim alguma energia para ti?
– Mas... Eu... eu... matar-te-ia!
– Acho difícil, além disso não precisas de me esgotar, até porque preciso saltar para a nave auxiliar porque lá há medicamentos em abundância.
– Então vamos tentar. – Ela estendeu as mãos sobre o peito dele. Após uns minutos sentiu-se muito melhor, mas retirou apenas um mínimo para ele não ficar fraco. – Agora estou melhor.
– Vou com o teu pai buscar medicamentos na nave. – Sem pensar, fez-lhe um carinho no rosto e piscou o olho. – Já volto. Não abuses, gatinha, que o pior já passou.
Emitiu um pensamento tão forte que todos na caverna sentiram, até mesmo os não portadores, que deram um salto, assustados:
– "Nobuntu, vou saltar para a nave, não se assustem." – Doutor Chang estendeu-lhe a mão e teleportam para a Jessy A I, surgindo na sala de comando. Daniel olhou para o seu melhor piloto.
– Jonnas, leve o doutor Chang à enfermaria e dê-lhe todos os medicamentos que ele solicitar, Oliveira, abra uma comunicação para a Terra, com o meu pai. Urgente. – O oficial de comunicações atendeu à solicitação.
– Oi, Daniel, meu filho. Como estão as coisas? – perguntou o pai que estava um tanto quanto preocupado.
– Pai, tudo bem, acabei de salvar os cientistas e estão todos em péssimo estado. Dois deles faleceram e acho que se não os tivesse resgatado hoje, teríamos, na certa, mais dois mortos. Quanto tempo até à Jessy voar?
– Mais duas semanas, no mínimo. Já enviamos armas para a frota do teu avô, mas ele está aqui, supervisionando o término da tua nave, junto com João. Não imaginava que ele conhecia tão bem a nave!
– Quando a Jéssica morreu, ele ficava sempre ao meu lado para me ajudar. Foi uma boa companhia, que precisei muito.
– Bem – o pai mudou de assunto – em um ou dois meses a frota de Vega estará em condições de voar. O imperador abriu um capital gigantesco e mandou os estaleiros da lua começarem a construção de cinco mil naves. A Cybercomp está fornecendo peças e equipamentos porque, graças a ti, toda a nossa linha de montagem já foi modificada, mas agora nem damos conta da demanda. Ele não sai de perto de nós e está muito preocupado.
– Ótimo, porque vamos ter de entrar em guerra com eles. Eu ganhei um tempo ao tirar os cientistas e dar um tremendo susto no comandante. É uma pena que não haja mais ninguém no império com os meus dons. Trabalhei na base do blefe porque eles são muitíssimo mais numerosos do que nós. Agora há trinta naves em órbita. Diga ao imperador que nos safaremos, mas teremos de ser muito cautelosos. Vou redigir um relatório e enviarei mais tarde. Preciso de voltar para a superfície para levar os medicamentos.
– E os rebeldes?
– Estamos instalados com eles. É a base de operações. – O pai viu um brilho fugaz nos olhos do filho.
– Boa sorte, filho. Trata de chutar o rabo deles.
– Obrigado, pai. Vou tentar chutá-los para o outro lado da Galáxia. Adeus, dê um beijo na mãe. Siga em paz, meu pai.
– Paz, filho.
Na Terra, o pai notou o semblante do rapaz. Ele estava sério e preocupado, mas os seus olhos tinham um brilho novo, da alegria pura.
– "Ele encontrou-a, e sabe que é ela" – pensou, aliviado.
O médico retornou para a sala de comando, ajudado pelo piloto, que carregava uma caixa enorme. Daniel pegou nela e doutor Chang segurou o ombro do rapaz. Ambos ressurgiram na caverna, a um milhão de quilômetros de distância.
Daniel chegou bem a tempo de pegar ao colo a garota, que desmaiou de esgotamento tentando salvar a mãe, ainda sem sucesso algum.
– Ponha-a a descansar no colchão, Daniel. – Disse o pai dela, preocupado. – Ela vai precisar de, pelo menos, oito horas de sono, profundo. Nunca abusou tanto como hoje.
– Fique descansado, doutor. Cuidarei dela, já que não entendo nada de medicina e aqui sou inútil.
Levou-a para o "quarto" dela, pousando-a com delicadeza no colchão inflável e sentando-se ao seu lado. Num impulso, fez o mesmo que ela: beijou-a nos lábios e acariciou-lhe o rosto. Ela, porém, estava inerte, desacordada.
Por algum tempo ficou apreciando o seu lindo rosto, sereno, de uma beleza ímpar, e lembrou-se da Jéssica ter dito que havia uma pessoa mais bela do que ela. Esta garota, sem dúvida, devia ser. Muito apaixonado, ficou mais alguns minutos acariciando o seu rosto, até que a razão o trouxe de volta. Sabia que, no momento, a Daniela era muito mais importante do que ele, mas não tinha a menor ideia de como poderia transferir a sua própria energia, que ela tanto precisava. Relutante, entrou na mente da moça, vencendo a sua barreira mental e aprofundando-se cada vez mais para procurar a forma como ela fazia. Por fim, o seu intento foi coroado de êxito e ele absorveu o conhecimento necessário, descobrindo que tinha a capacidade de fazer a mesma coisa.
Pondo uma mão sobre o seu peito e a outra na testa, passou a transmitir a sua própria energia, canalizando-a para as regiões do corpo que estavam esgotadas.
Ao fim de algum tempo, começou a sentir-se mais fraco e um tanto quanto tonto, mas não parava, sempre transmitindo a sua força vital até que ela abriu os olhos e, assustada, tirou as mãos dele de cima de si, antes que ficasse pior do que ela porque estava prestes a cair desmaiado. A moça sentia-se forte como jamais esteve e descobriu que ele ainda estava em contato mental consigo, mesmo com a sua barreira, intransponível a qualquer outro ser vivo. Enquanto olhava para os seus olhos castanhos, serena, uma fugaz troca de memórias e sentimentos passou por ambos em um mísero segundo. Cada um dos dois passou a saber muito do outro. Descobriram quem eram e o que sentiam desde muito jovens, assim como não havia necessidade de recearem a aproximação, pois o sentimento era recíproco.
– "Desculpa invadir a tua privacidade, meu anjo, mas queria aprender a te dar a minha energia, já que tu és muito mais importante que eu."
– "Tudo bem, Dan. Pelo menos agora já sabemos a nosso respeito. Que pena que a comunicação tenha se interrompido quando crianças. Mas o meu amor jamais foi esquecido."
– "Eu só há pouco soube porque os meus pais bloquearam as minhas lembranças. Por isso conheci outra pessoa e me apaixonei, mas perdi-a, também. Agora reencontro o meu amor tão antigo."
– "Eu vejo. Ambos somos de muitas vidas e a última foi triste para nós."
– "Eu te amo, Daniela."
– "Eu também, Dan, para sempre."
Depois de se beijarem, ele disse:
– Dani, preciso dormir, fiquei muito fraco. Vai cuidar dos outros, que o teu pai também está demasiado cansado e não vai aguentar sozinho. No momento eu sou inútil, mas tu és da maior importância.
– Jamais serás inútil, meu Dan. – Ela deu-lhe mais um beijo e saiu com o rosto radiante de alegria, cheia de um vigor que nunca sentiu antes. Encontrou o seu destino, o que sempre esperou. Localizou o pai a cuidar da mãe, tomando a sua pressão e injetando um estabilizante.
– Como te recuperaste minha, filha? Deverias ter dormido a noite toda para ficares em condições!
– O Daniel, pai. Entrou na minha mente e aprendeu como transferir energia para mim. Ele dorme; ficou muito fraco. Mas, santo Deus, que energia que tem e que mente! Jamais vi alguém assim.
– Pelo brilho dos teus lindos olhos, vejo outras coisas, filha. Finalmente interessas-te por alguém. Isso é bom.
– Ele é o rapaz dos meus sonhos, pai, nós já vimos de outras vidas. Quando voltei a mim, compartilhamos uma parte das nossas mentes e pude ver muitas coisas porque ele tem fortes lembranças da vida anterior. Ele era o bisavô, o primeiro Dragão Branco, e eu fui a noiva dele que morreu em um acidente de avião. Estamos destinados e sabemos que nos amamos. Bem, pai, fique quieto para eu tratar do senhor, do contrário vai piorar.
Ela, conseguiu curar o pai sem demora.
– Sabes, filha, o teu nome é em homenagem a ela, e o pai dela era nosso parente. Por isso o teu nome é idêntico. Que coisa mais engraçada o destino.
– É verdade, pai, mas acredito que muito disto já estava escrito. Só espero que nos safemos todos. – A garota sentia-se forte como nunca. Virou-se para a mãe que, ainda estava em péssimo estado, e, com o vigor renovado, conseguiu reverter o quadro dela, que caiu para um sono reparador. Passou um por um os doentes, começando com os mais graves, tratando-os. Todos os ferimentos, dores e marcas das torturas recebidas desaparecem. Agora dormiam e o sono ia terminar o serviço. Quando se levantou, após atender o último deles, sentiu-se bastante tonta.
– Pai, vou-me deitar. Gastei quase todas as energias, mas estão bem.
– Claro, filha, consegues caminhar?
– Sim. – Ela beijou o pai e foi para o seu "quarto".
Nem mesmo tirou as roupas. Deitou-se na cama improvisada e aninhou-se nos braços do Daniel, adormecendo feliz. Muito cedo, foi acordada com um beijo suave nos lábios. Com uma das mãos, ele acariciava-lhe o corpo, sentindo-a no toque muito delicado. Ela sorriu-lhe e beijou-o, apertando-se a ele, entregando-se ao seu amor como só uma mulher apaixonada podia fazer. Voltaram a dormir por mais duas horas. Levantaram-se e banham-se juntos na nascente, em meio a beijos e carícias.
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