51 - Out of mind
51
Noah Urrea
New York, NY
Volto para o setor, querendo acreditar que Any estaria ali e não fazendo seu drama em outro lugar. Porra, por que ela tinha que complicar tanto? O que nós temos é bom, o que sentimos é bom, não precisamos dessas três palavras para estarmos juntos.
Me aproximo de James e pego o copo de uísque da sua mão, bebendo todo o líquido ali em apenas um gole e recebendo um olhar repressivo de James.
- Quando você era pivete não te ensinaram a não mexer com a bebida alheia? - Ele brinca, tragando seu cigarro.
- Não enche, James.
Largo o copo na mesa que tinha ali, sendo observado por James. Ele me olha com a sobrancelha arqueada antes de soprar a fumaça no ar.
- Pra quem acabou de gozar você está com um péssimo humor. - James olha ao seu redor antes de olhar pra mim. - E por falar nisso, onde está a Any? O que você fez com ela?
- Eu não fiz porra nenhuma. - Me defendo. - Só fiz o que ela me pediu quando começamos a namorar: não mentir. Any disse que me ama. - Murmuro a última frase, sentindo a amargura disso.
- Imagino como você deve ter dito que não sentia o mesmo. - Ele zomba, balançando a cabeça em negativo. - Qual é, Noah, você gosta dessa garota ou não?
- É claro que eu gosto dela, se eu não gostasse não estaria nessa porra. - Aponto. - Mas eu não a amo e parece que isso não é o suficiente pra ela.
- Vocês tem uma comunicação de merda. - James resmunga. - Vá atrás dela e resolva isso. Any é sentimental pra caralho, ela já deve estar achando que por não amá-la você não sente nada e tenho quase certeza que o jeito como você falou isso pode ter deixado entender que não se importa. Está na hora de abrir esse coração de gelo pra uma conversa decente, e corta essa de que isso é coisa de menininha porque eu sei que você está louco pra ir atrás da garota.
- Você é um merda quando tenta ser um Hitch. - Reclamo, vendo seu sorriso vitorioso quando eu puxo o celular do bolso.
Claire colocou no meu celular um aplicativo que rastreia o anel da Any, o que facilita meu trabalho agora. Suspiro aliviado ao ver que ela ainda estava por perto, nos arredores da boate.
Deixo o setor mais uma vez, seguindo as coordenadas que me levariam até a Any. Encontro-a sentada no chão entre dois carros, ela olha para frente como se estivesse em choque e seu rosto está completamente molhado com suas lágrimas. Porra, era pra tanto?
- Elly. - Chamo-a.
Any demora alguns segundos antes de piscar algumas vezes, saindo do seu transe e olhando para mim. Alguma coisa parecia estar diferente, alguma coisa tinha acontecido além do "eu não amo você" para ela estar dessa forma.
Ela se levanta do chão e me surpreende quando envolve seus braços em meu tronco, se encolhendo ali em um abraço. Abraço-a de volta mesmo sem entender muito bem o motivo disso, não era suposto ela estar querendo chutar minhas bolas agora?
Travo quando ouço ela soluçar, se encolhendo ainda mais em meus braços.
Não sei bem o que fazer e como reagir. Estou pisando em ovos aqui. Não quero acabar falando alguma merda errada e fazendo-a chorar mais, então decido ficar ali em silêncio a abraçando de volta, dando o conforto que ela visivelmente precisava.
- Ei - Desfaço o abraço, segurando seu rosto em minhas mãos e fazendo-a olhar pra mim. - O que aconteceu?
- Eles o mataram. Peter o matou. - Ela funga, parecendo realmente atingida com isso. Ela completa ao ver minha confusão. - Peter matou meu irmão. Tyler está morto.
Pela primeira vez eu não sei como lidar com a morte de alguém. Eu nunca me importei com isso, e ninguém ao meu redor nunca se importou também. Eu nunca amei ninguém para sentir a morte dela e nunca tive que consolar as pessoas mais próximas de mim por causa de alguma morte. Fui eu quem matou minha própria família, meu pai e um irmão eram as únicas pessoas que constituíam isso e eu os matei em um descontrole de raiva. Eu não os amava, era o contrário, então nunca me importei com a morte deles.
No meu mundo nós não podemos nos afetar por mortes, afinal, elas nos rondam o tempo todo mas Any não pertence a isso. Ela tem uma família, ela tem pessoas que ama, ela nunca tinha sofrido uma perda dessas e eu não faço a menor ideia de como lidar com alguém que acabou de perder um ente próximo.
- Elly... - Me interrompo, procurando a palavra certa. - Sabe... - Paro ao notar que não tinha uma palavra certa para esse momento.
Any se afasta e seca suas lágrimas, ela estava péssima. As coisas estavam acontecendo de uma vez só para ela, sem nem pausa para recuperar o fôlego depois de uma queda.
- Eu realmente não me importo com o plano de vocês, não me importo com o que vocês já planejaram para o final mas teremos uma mudança agora. - Ela me encara. - Quem vai acabar com a vida de Peter sou eu.
Ela não está falando sério, né? Meu sonho é matar Peter com minhas próprias mãos desde que entrei nessa.
- Você está brincando? Eu vou o matar. Sem mudança de planos. - Nego.
- Peter está infernizando a minha vida e me jurou de morte, todo o meu sofrimento atual é por causa dele! - Ela eleva o tom de voz. - Eu vou virar esse jogo e matá-lo. Nem que eu tenha que fazer isso pelas costas de toda a equipe e sair do plano, Peter morrerá pelas minhas mãos.
- Você está louca? Nem pegar em uma arma você sabe.
- Eu aprendo, vocês também não nasceram sabendo. - Ela dá de ombros, cruzando seus braços.
- Any, isso é loucura.
- Eu não estou pedindo para me deixar fazer isso, estou apenas comunicando que farei. - Any resmunga.
Ela parecia irredutível, tinha um olhar e uma postura conhecidos. Any estava tomada pela raiva. Isso é o que faz as pessoas entrarem para esse mundo, Any está dando seu passo inicial e eu não sei o que fazer para impedir isso. Mas talvez ela realmente mereça matar Peter mais do que eu, ela tinha razão quando falou que a causa dos seus sofrimentos é ele. Any só vai conseguir paz agora quando ele estiver morto.
- Com uma condição.
- Qual?
- Você não vai fazer parte do plano. - Negocio. - Você só vai puxar o gatilho mas não vai se envolver nessa merda toda. Não quero uma namorada morta.
- É só o que eu quero.
Bufo. Eu deveria impedi-la de fazer isso? Any se envolver nessa merda é perigoso demais, mesmo que ela só seja a assassina. Acho que nunca confessaria isso em voz alta mas eu me preocupo pra caralho com ela e com o que pode acontecer. Eu não estou com o controle absoluto da situação há muito tempo, qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento e eu não estou afim de perdê-la ou vê-la se machucar.
Mas Any estava decidida, eu sei que ela vai até o fim nessa.
Any Gabrielly
New York, NY
Mantenho meu olhar fixo no pequeno lago situado ali. A água se mexia suavemente com o vento e eu arremessava pedrinhas no lago, torcendo para elas quicarem na água.
O som de passos nas folhas secas caídas no chão são ouvidos mas eu continuo ali. Sinto a presença atrás de mim e posso concluir que é Noah apenas por causa do perfume.
- Vamos lá. - Ele chama.
Suspiro arrastado antes de soltar a pedrinha em minha mão e me levanto dali, dando batidinhas em minha bunda apenas para tirar as folhas secas grudadas em minha calça jeans. Noah tem suas mãos enterradas no bolso de sua calça e me observa com cautela, como se estivesse esperando alguma coisa de mim como uma desistência, o que não haveria. Passo por ele, ouvindo-o suspirar, e caminho na direção de James.
As últimas semanas tem sido difíceis para mim. Quase perdi minha mente há cinco noites atrás, quando eu descobri que Tyler foi assassinado. O que me manteve sã foi Noah, ele já estava acostumado a perder as pessoas e ele me ajudou a lidar com isso. Principalmente, ele está me ajudando a não deixar tudo isso me dominar para que eu possa fazer o que quero fazer. Ele está certo, tudo o que Peter quer agora é me ver perdendo minha mente e implorando por misericórdia e eu não daria esse gostinho à ele.
Nós estamos em uma floresta agora, a floresta onde fica escondido o galpão deles. Nos últimos dias todos da equipe tem me ajudado e me ensinado alguma coisa, eles sabiam que se não fosse por isso eu estaria ferrada caso esbarrasse com Peter por aí. Não tem sido fácil, eu não tinha nascido pra isso, eu não queria isso. Mas eu precisava agora. Eu precisava saber me defender, eu não podia contar que Noah estaria grudado em mim 24 horas por dia para dar uma de herói sempre que eu precisar.
- Você já sabe como é, só nos mostre essa mira, garota. - James me incentiva ao me passar a pistola.
Brad tinha me ensinado a parte teórica de dar um tiro com precisão enquanto eu o observava fazer isso, essa será a primeira vez que eu atiro tendo um alvo.
Me sentia nervosa com a arma em mãos. Um sentimento ruim passava por mim sempre que eu a tocava, como algum tipo de pressentimento. Mas eu tenho que deixar de lado esse meu medo de armas.
Olho para Noah e ele continua me observando, seu maxilar travado. Ele não aprovava nada disso. Noah é o único da equipe que não tem me ajudado em nada, pelo contrário, ele só tem enchido a minha cabeça para que eu desista de tudo isso. Mas eu não podia, tinha virado questão de honra, tinha virado minha única forma de vingar a morte do meu irmão.
Suspiro. Destravo a arma, tremendo um pouco ao empunhá-la e apontar para o meu alvo, que era uma bola vermelha pintada na árvore que havia ali. Meu dedo paira sobre o gatilho mas é como se eu não conseguisse apertá-lo. Olho de canto de olho para Noah e ele permanece ali, parecendo me subestimar. Volto a prestar atenção no alvo, tentando fazer minha mente se concentrar no que era para ser feito ali.
Ouço alguém bufar e passos para se aproximar de mim, de repente Noah está atrás de mim. Ele segura em minha cintura com uma mão e com a outra ele segura em meu pulso, me fazendo firmar o braço. Posso sentir sua respiração em meu cangote.
- Presta atenção aqui. - Ele ordena em um tom baixo, dando um aperto no meu pulso. - Você vai pensar em toda a merda que Peter já fez pra você. Você vai deixar sua mente repetir cada coisa e alimentar a sua raiva, entendeu? Quero que você se lembre de quando ele te sequestrou, de quando ele te feriu, que ele fez você se separar da sua família, que ele matou seu irmão.
Minha mente parece realmente repetir cada coisinha que Peter fez que eu usei como motivo para começar com tudo isso. Meus olhos lacrimejam, mas pela primeira vez nesses últimos dias não é de tristeza e sim de raiva, raiva de Peter e de tudo o que ele tem feito para infernizar minha vida.
E é como se minha mente tivesse materializado Peter ali, aquele pontinho vermelho que eu tinha como alvo parece ter se tornado Peter e o pontinho estava em sua testa. Um tiro certeiro e ele morria, um tiro certeiro e toda essa merda chegaria ao fim.
Mantenho minha mão firme na pistola e aperto o gatilho, acertando em cheio a testa de Peter. Mas eu não estava satisfeita. Isso tinha feito bem para toda essa raiva acumulada dentro de mim, meu corpo parecia anestesiado e minha voz interior me dizia para continuar com isso. Aperto o gatilho mais uma vez. E mais uma. Perfurando a cabeça de Peter.
- Any. - Ouço Noah quase gritar meu nome e apertar minha cintura para chamar minha atenção, eu abaixo a arma e Noah a toma da minha mão. - Porra, garota. Ninguém te ensinou a controlar a raiva não?
Aperto meus olhos com força, respirando fundo para me acalmar. Quando volto a abrir os olhos Peter já não está mais ali, apenas os furos de tiro na árvore.
- Eu acertei o alvo. - Sorrio, me virando para Noah que parece ainda mais bravo do que antes.
- Você não pode fazer mais isso, entendeu? - Ele me repreende, fazendo meu sorriso desmanchar aos poucos. - Se você viajar na porra da sua raiva quando estiver cara a cara com um deles você morre em segundos.
- Você pode me ensinar a controlar isso ao invés de gritar comigo. - Resmungo.
- E você acha que eu controlo isso, Elly? - Ele ri sarcástico. - O meu segredo é meter bala em todo mundo, eu nunca tenho um alvo certo.
- Para de ser um cuzão, Urrea. - James aparece do nosso lado. - Noah sabe muito bem como controlar isso e ele vai ensinar sim. Não é, Noah?
Noah revira os olhos e resmunga alguns palavrões para James.
- Eu não vou compactuar com isso. Se vocês estão aí se juntando para ensinar a Any a como sujar as mãos de sangue, vocês se virem nessa. Estou fora.
Noah trava o maxilar e se afasta, caminhando em direção ao seu carro parado a alguns metros de distância dali. Cruzo meus braços antes de voltar meu olhar para James.
- Não liga pra isso, Noah só está preocupado com você. - James diz. - Ele nunca precisou se preocupar com ninguém, ele ainda não sabe como fazer isso sem ser um otário.
- Só não entendo qual é o problema em vocês me ajudarem com isso. Eu preciso aprender a me defender e eu quero chegar até Peter, eu preciso saber sobre isso.
- Ele vai se sentir inútil quando você não precisar mais da proteção dele, entende? E como se não bastasse isso ele também tem medo de que alguma coisa aconteça com você no meio dessa merda toda. - James dá de ombros. - Noah se sente responsável por você. Aquele filho da puta gosta de você pra caralho, Any.
James se afasta para ir juntar suas coisas que ele espalhou ali no chão para podermos ir embora daqui.
Minha mente vaga para aquela noite novamente, quando eu disse que o amava e Noah não me respondeu de volta. Aquilo tinha me magoado demais, mas ao parar para refletir sobre tudo isso, eu estava bem em relação à isso. Noah não me amava agora, mas isso não significa que ele não possa me amar em algum momento. Ele tem me mostrado o quanto gosta de mim e isso tem sido mais importante do que qualquer palavra agradável que ele pudesse me dizer agora. E também tem toda a sinceridade, Noah não me iludiu em nenhum momento, ele tem sido transparente quanto aos seus sentimentos e isso é tudo o que eu preciso agora.
Caminho até o carro de Noah, onde ele está encostado distraído olhando para a floresta. Ele me olha ao ouvir meus passos, seu maxilar ainda está travado mas ele está com uma expressão impassível.
Me coloco em sua frente, puxando suas mãos de dentro de seus bolsos e a colocando em minha cintura, vendo sua tentativa fracassada de manter a postura de bravo. Levanto um pouco os pés e beijo seus lábios, vendo-o suspirar derrotado antes de envolver seus braços em minha cintura, me puxando para perto.
- O que você quer que eu faça para você desistir dessa loucura? - Noah pergunta em um tom baixo quando eu envolvo meus braços em seu pescoço.
- A equipe disse que eu estou indo bem, você não tem que se preocupar. - Digo. - Eu vou te deixar muito orgulhoso.
- Elly, essa merda é séria.
- Noah, vai ficar tudo bem. - Garanto.
Ele parece desistir disso, eu estava decidida.
Junto nossos lábios para afastar seus pensamentos ruins, sentindo seu aperto ao meu redor aumentar. Noah inicia um beijo, mexendo seus lábios contra os meus sem pressa, apenas aproveitando esse momento. Era um beijo calmo, nós só estávamos aproveitando um ao outro. E era como se tudo estivesse bem realmente, como se tudo estivesse se resolvendo apenas com isso. E era assim que eu me sentia quando estava com ele, como se nenhum problema existisse mais e tudo estivesse bem novamente.
Encerro o beijo com um selinho, ouvindo um pequeno grunhido seu em reprovação, o que me fez dar uma breve risada.
- Eu amo você. - Sussurro.
Noah parece ficar tenso e me aperta ainda mais, como se estivesse com medo que eu fugisse dele por ele não dizer o mesmo.
- Elly...
- Não precisa dizer de volta. - O interrompo. - Eu só queria te lembrar disso. Você não precisa dizer enquanto não sentir isso realmente.
Ele suspira, me dando mais um selinho.
- Já podemos ir, casal! - James aparece, carregando sua mochila para o seu carro estacionado ali.
Noah e eu nos afastamos para entrarmos no carro. Quando estamos dentro, Noah apoia a mão que não está no volante em minha coxa. Coloco minha mão por cima da sua e ele entrelaça nossos dedos juntos. Noah acelera logo atrás do carro de James, seguindo pela trilha que havia ali.
Nós iríamos encontrar com a equipe no galpão para terminar de resolver algumas coisas sobre o plano. A equipe estava tensa. Eles tinham um grande plano contra Peter e o mesmo estava sendo colocado em prática e seu grande final seria na próxima semana, tudo tinha que correr como o planejado e nenhuma falha seria aceita. Até por que uma falha significa mais sangue do que o calculado.
Peter está mais perto da queda do que pode imaginar.
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