47 - No more secrets

47
Noah Urrea
New York, NY

Minha cabeça parece pesar uma tonelada quando eu me esforço para levantá-la. Tudo dói. Abro meus olhos devagar para me acostumar com a claridade do local, minha visão é turva no início mas consigo ver bem agora, um lugar que não se parece nada com a minha casa. Um cômodo vazio com as paredes de madeira e a claridade natural entrando pelas janelas ali, que davam vista para uma floresta.

Flashes do que aconteceu se repetem na minha cabeça, ativando minhas memórias. Automaticamente tento me mexer mas noto que meus pulsos estão presos para trás na cadeira de madeira onde estou sentado e meus tornozelos estão igualmente presos. Olho ao meu redor para procurar Any, sinto sua presença atrás de mim mas não posso olhá-la por estar preso na merda da cadeira.

- Elly? - Chamo-a.

- O que diabos está acontecendo? - Any responde com a voz baixa e rouca, posso jurar que ela só não está chorando agora porque já não tem mais lágrimas para isso.

- Não se preocupe. Eu vou nos tirar dessa. - Juro, mesmo não tendo certeza de nada disso.

Estamos presos de costas um para o outro. Estico meus dedos e consigo sentir sua mão ali, Any rapidamente entrelaça nossos dedos com força, mais força do que o necessário.

No fundo eu estava tranquilo. Os caras notariam o meu sumiço e saberiam que alguma coisa aconteceu, e então se lembrariam do rastreador no anel que eu dei para Any e viriam atrás de nós. Só espero que eles não se atrasem.

Eu estava um tanto quanto preocupado. Estou cercado por todos os meus lados e não poderia deixar isso afetar Any de alguma forma, como está afetando agora. O anel era para saber todos os seus passos, saber onde ela está caso alguma coisa acontecesse com ela. Brad foi contra isso no início e até me chamou de psicopata mas tenho certeza que deve estar achando bem útil a essa altura.

- Eles fizeram alguma coisa com você enquanto eu estava inconsciente? - Questiono.

- Não. - Ela praticamente sussurra, como se ninguém pudesse escutar o que ela está dizendo. - Eles me apagaram logo depois. Oh, mas antes um deles me acertou um tapa.

- Espero que você tenha gravado a cara dele, bebê, posso deixá-lo para você matar.

- Como consegue ser tão confiante? - Any olha por cima do ombro, como eu. - Estamos mesmo nas mãos deles, eles podem fazer o que bem entenderem com a gente porque estamos completamente vulneráveis.

- Bebê, você já deveria saber que eu nunca fico vulnerável. - Rebato.

- Será que você pode deixar seu ego de lado por um segundo e cair na realidade aqui? - Ela chia. - Nós fomos sequestrados. Sequestrados. Sabe o que significa?

- Caralho, Any, eu já disse que vou tirar a gente dessa. - Rosno. - Para de me encher a porra do saco ou eu juro que chamo algum deles aqui para calarem sua boca com uma fita isolante!

Ela realmente se cala e volta a olhar para frente ao mesmo tempo em que solta minha mão, fazendo o seu típico drama para qual eu não estava com nem um pingo de paciência.

Custava ela apenas confiar em mim e que eu irei tirá-la dessa?

Um rangido da porta se abrindo é ouvido e eu posso sentir a tensão de Any no ar, ela exala medo. Me lembro de quando eu a "sequestrei" e o quanto eu me diverti ao vê-la tremendo de medo, Any é extremamente fraca. Ela não serve para passar por situações como essa.

- Ora, ora, Urrea. - O mesmo capanga da noite passada, Dimitri, para na minha frente com um sorrisinho de merda no rosto. - Para quem se achava o intocável você está aceitando bem sua nova posição, não é?

- Não é tão ruim quanto eu pensava. - Comento, exalando minha superioridade. - Acho que é porque vocês não sabem como fazer isso.

- Não brinque com a sorte, garoto. - Dimitri diz após gargalhar. - Para as coisas ficarem mais divertidas, eu decidi que quem vai pagar pelas gracinhas que você fizer será sua namorada então acho bom você ficar na sua.

- Vocês estão tão baixos assim agora? - Arqueio a sobrancelha, desafiador. - O problema não é comigo? Então por que vocês estão a colocando no meio? Me chamam tanto de "garoto" mas vocês mesmos não conseguem resolver isso de forma madura.

- Tenho certeza que você não aguentaria dois minutos encarando isso da forma madura.

- Por que não paga pra ver?

- Noah! - Any pede.

- Ouve sua namorada e cala a boca, garoto. - Dimitri para mesmo na minha frente, puxando do seu bolso um canivete. - Nós poderíamos jogar um jogo, não é? - Ele diz enquanto roda o canivete no seu dedo indicador próximo ao meu rosto, logo acertando a minha bochecha e fazendo-me esquivar. A ardência do corte é sentida e eu só queria minhas mãos soltas para matá-lo com esse mesmo canivete. - Querida - Dimitri chama Any, rindo. - Você não se importa se seu namoradinho ficar com alguns ferimentos no rosto, não é? Ah, claro que não! Você logo terá problemas maiores do que se importar com a aparência do seu namorado.

O sangue causado pelo corte escorre pela minha bochecha e a sensação me incomoda. Mas eu ainda estava tranquilo, sei que a equipe logo virá atrás de mim e enquanto isso não acontece eu não me importo de ter alguns ferimentos para livrar a Any dessa.

- Infelizmente eu não posso fazer nada com ela. - Ele estala a língua no céu da boca. - Mas a pessoa que pode está a caminho então não se preocupe porque ela também entrará na brincadeira.

Eu sabia que ele estava se referindo à Peter. A primeira vez que Any se encontrará com o pai será nessa situação? Tenho certeza que é de longe a maneira como ela idealizou em sua cabeça, ou não já que para ela seu pai está morto. E como Peter ficaria sabendo que a garota que ele está fazendo refém e um de seus capangas acertou um tapa na cara é na verdade a filha que ele tanto procura? Oh, isso é uma comédia!

Não consigo me sentir comovido com essa história. Eu realmente não me importo com nada disso, Any nunca saberá sobre seu pai de qualquer maneira. Desde que eu decidi deixar meu plano de lado para estar com ela eu venho sabotando a busca de Peter, fazendo-o dar passos para trás nessa. Se a mãe da Any escondeu que Peter está vivo, ela tem um motivo para isso e acredito que ela queira apenas o mesmo que eu: o bem da Any.

- Bom, vou deixá-los sozinhos. Acredito que o casal se sinta mais a vontade a sós. - Dimitri acena com a cabeça e sai do meu campo de visão. Ouço a porta se fechando logo depois anunciando sua saída.

Ouço o um suspiro trêmulo e um leve soluço vindo de Any. Merda, ela está chorando! As coisas seriam bem mais fáceis para mim se Any não chorasse tanto. Qual é, eu sou um filho da puta e raramente me sinto mal com alguma coisa, mas o choro dela consegue fazer isso. Me sinto um filho da puta ainda maior sabendo que tudo isso é por minha culpa, Any só está no meio dessa merda toda por minha culpa.

Eu sei que é nessas horas que alguém sensato decide deixar a pessoa que gosta ir apenas para que ela esteja bem, mesmo que isso custe sua própria felicidade e toda essa baboseira mas eu não posso fazer isso. Sou egoísta demais para deixar que Any seja feliz sem mim, isso está fora de cogitação.

- Elly - Chamo-a, recebendo nada além do que seu silêncio. - Você precisa parar de chorar, essa merda me irrita.

- Oh, sinto muito se não estou acostumada a ser sequestrada porque isso não acontece todo dia. Eu realmente sinto muito por sentir muito, Noah! - Ela é sarcástica meio no meio do seu choro e eu rio nasalado disso.

- Você sabe que isso vai acontecer muito se você continuar comigo, né?

- Está tentando me fazer desistir de ficar com você? - Ela perguntou depois de alguns segundos em silêncio.

- Na verdade, estou só alertando. - Dou de ombros, mesmo sabendo que ela não conseguiria ver. - Não te deixaria desistir de ficar comigo nem se você quisesse.

- Isso soou mais como uma ameaça do que como palavras de amor, só para você saber. - Ouço sua breve risada.

- Que bom. Nunca fiz o tipo romântico.

- Noah - Any parece respirar fundo e se remexe desconfortável na cadeira. - Se não sairmos bem daqui e alguma coisa muito ruim acontecer, eu preciso que você saiba de uma coisa...

Eu conhecia isso, todo esse discurso e hesitação... Any estava mesmo prestes a dizer o que eu não estava nem um pouco afim de ouvir, ela estava prestes a admitir que me ama.

E isso não estava certo. Por que Any insistia em ser tão sentimental e me amar?

- Não continue com isso. - Alerto. - Não diga o que você está planejando, Any. Você sabe que eu não vou dizer isso de volta porque eu não sinto.

Blake se cala, voltando a olhar para frente.

Já sabia que ela ficaria magoada comigo e tudo mais, mas eu estou sendo honesto com ela. Do que adianta ela gastar essas palavras comigo? Ah, a quem estamos tentando enganar? Esse namoro nunca dará certo por eu não poder retribuir tudo o que ela sente, temos que ser honestos e admitir que Any sente mil vezes mais que eu.

Eu poderia quebrar o silêncio e tentar fazê-la me desculpar mas eu prefiro assim, pelo menos evitamos dizer algumas palavras um para o outro e para mim isso está ótimo.

Não faço ideia de quanto tempo fiquei ouvindo o barulho do choro da Any enquanto olhava para a parede de madeira do lugar, só sei que a porta foi aberta mais uma vez. Dessa vez quem entra no meu campo de visão não é um mero capanga e sim o próprio Peter.

Ele tem um sorriso debochado no rosto e parece se divertir com a cena.

- E aí, garoto? - Peter fala comigo, ajeitando sua jaqueta de couro como se fosse superior. - Quanto tempo, não? É bom ter você como convidado aqui no meu santuário! - Ele abre os braços quando se refere ao local.

- Ah, foda-se essa merda, Peter! - Reviro os olhos. - Vamos logo com isso, tenho negócios para tratar.

- Sabe, garoto - Ele se vira de costas para mim, mexendo em um armário com coisas de tortura. - Quando eu era jovem e estava entrando para o crime, eu era assim como você. Mas então eu apanhei muito dessa vida e finalmente aprendi como se faz isso de verdade. É uma pena que você não tenha a mesma sorte que eu e só apanhe, você estará caído na própria poça de sangue.

- Você ficará surpreso quando ver quem realmente vai acabar caído na própria poça de sangue. - Dou de ombros.

Peter ri e nega com a cabeça, tirando do armário um canivete e o mostrando para mim.

- O que acha de começarmos com esse? Estou pegando leve.

- Tanto faz, Anderson. - Reviro os olhos.

Entro em alerta quando o vejo ir para o lado que Any está, Peter faz um sinal para o capanga que está esperando na porta e ele vem até mim, arrastando a minha cadeira e a girando para que eu fique de frente para Any dessa vez. Ela tem os olhos inchados de tanto chorar e as bochechas visivelmente molhadas de lágrimas, vejo em seus olhos todo medo que ela está sentindo agora e o quanto ela está assustada com isso. Para Any tudo isso é novidade.

Me surpreendo quando Peter ao invés de usar o canivete em mim o usa em Any, cravando-o em sua coxa sem dó. Any solta um grito agudo de dor e eu aperto os olhos fechados.

- Caralho! Não machuca ela - Grito para Peter, me sentindo um inútil por não conseguir soltar minhas mãos para acabar com Peter. O máximo que eu consigo são ferimentos no meu pulso por tentar escapar das cordas. - Seu problema não é comigo? Então machuque a mim, porra!

- Oh, que bonitinho! Ele está mesmo apaixonadinho! - Peter ri, ficando ao lado de Any para que eu tenha a visão completa da sua dor. Sua coxa sangra e sua expressão é de pura dor, ela até voltou a chorar. - Aqui vai uma lição de graça: não se apaixone, Urrea. Mulheres são o que te afundam. - Ele diz antes de girar o canivete dentro da sua pele, arrancando mais um grito dela e fazendo-a implorar para que ele pare.

- Você não vai querer fazer isso! Juro que volto do inferno para acabar com você apenas por machucá-la - Rosno, sem desistir de tentar soltar minhas mãos.

- Você sabe que eu nunca curti a tortura, eu gosto é de ir direto ao ponto. - Ele puxa o canivete para fora de sua coxa sem nenhuma delicadeza, o posicionando em sua garganta. Any arregala os olhos. - Alguma última palavra para sua namorada?

- Não faça isso, Peter! Ela é a sua filha! - Eu grito, pegando-o de surpresa. - Any é a sua filha com a Miranda, ela é a pessoa que você esteve procurando durante todo esse tempo!

Peter abaixa sua mão aos poucos, em choque. Any me olha de uma maneira indecifrável agora, completamente perdida com o que acabou de descobrir.

Notas Finais:
Perdão pela demora 🤡

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