42 - I hate you, I love you
42
Any Gabrielly
New York, NY
Nós dois permanecemos calados olhando um pra cara do outro. Noah ainda parece em choque pelo que falou, a única coisa que ele fez depois de pronunciar aquelas palavras foi fazer um gesto negativo com a cabeça como se estivesse se repreendendo e ele chegou a abrir a boca várias vezes pra falar alguma coisa mas desistiu em todas elas.
Me sentindo usada
Mas eu continuo sentindo sua falta
E eu não consigo ver o final disso
Apenas quero sentir seu beijo
Contra os meus lábios
E agora todo esse tempo está passando
Mas eu ainda não consigo te dizer por que
Me dói cada vez que eu vejo você
Percebo o quanto eu preciso de você
Não sei o que pensar agora. Mais uma vez eu cedi, há minutos atrás eu estava em um dos quartos de uma boate com ele e estava gostando disso. É inútil da minha parte tentar lutar contra esse sentimento dentro de mim se toda vez que eu estou progredindo ele aparece para me puxar para baixo novamente. Talvez isso seja uma forma que ele achou de alimentar seu ego, ter uma garota tola aos seus pés.
- Você é inacreditável. - Decido quebrar o silêncio, forçando uma risada. - Me pedir em namoro apenas para manter por perto a garota apaixonada que cede fácil pra você? Ou será que é porque você viu que eu estava fazendo direito isso de superar e a única forma que encontrou de continuar tendo uma transa certa foi me pedindo em namoro?
- O quê? - Ele junta as sobrancelhas. - É isso o que você pensa sobre mim?
- Não precisa se fazer de vítima, Noah. Eu sei como você é, eu sei o quão babaca você pode ser.
Eu amo você, eu odeio você
Eu odeio amar você
Não quero, mas não posso
Colocar mais ninguém acima de você
- Passou por essa sua mente de vadia que eu falei aquela merda porque era o que eu queria?
- Achei que você fosse o fodão que não sente nada por ninguém, principalmente por uma "vadia insignificante" como eu. - Aponto o dedo indicador em seu peito, acusando-o.
- Any, eu... - Ele mesmo se interrompe, balançando a cabeça negativamente.
Eu sinto sua falta quando não consigo dormir
Ou logo após o café
Ou quando eu não consigo comer
Eu sinto sua falta no meu banco da frente (...)
Sente minha falta como eu sinto a sua?
Dormimos juntos e eu me apeguei à você
Amigos também podem quebrar seu coração
E eu estou sempre cansado, mas nunca de você
Cruzo os braços, tentando afastar todas as questões surgindo em minha mente pelo fato de ele ainda não ter explodido comigo, mesmo comigo jogando tudo isso em sua cara.
- Você o quê? - Questiono, mais calma dessa vez.
- Nada. - Ele nega.
Se eu me comportasse como você se comporta
Você não gostaria dessa merda
Eu fui verdadeiro nisso, mas
você não mordeu essa merda
Eu digito um texto, mas então
nunca importa essa merda
Eu tenho esses sentimentos, mas
você nunca quer saber dessa merda
Noah bufa, é como se ele estivesse travando uma batalha interna com ele mesmo. Ele encara a rua quase deserta antes de voltar seu olhar para mim, que abraço meus próprios braços na tentativa de me aquecer.
- Eu não estava blefando. - Sua voz sai baixa, como se ele estivesse contando um segredo que não pode se espalhar. - Sou um idiota com você na maior parte do tempo e não mereço nada que você tem pra me oferecer, mas... Porra, Any. Você me deixa completamente maluco. Eu quero ter você só pra mim, sem ter que ir pro galpão treinar tiros pra descontar a raiva quando Chris chega na mansão de madrugada porque estava na sua casa. Eu estou disposto a tentar, se você quiser namorar comigo...
Tenho certeza que estou com a expressão mais incrédula que alguém já viu. Abro a boca para responder mas volto a fechá-la por não sair nada coerente por causa do meu atual estado de choque.
Eu fumei muita erva e agora Noah está mesmo me pedindo em namoro. Ou é mesmo real? Me sinto em um universo paralelo.
Mantenha isso escondido
Você ainda está apaixonada por mim
Mas seus amigos não sabem
Se você me queria bastava dizer
E se eu fosse você, nunca me deixaria ir
- E eu quero que você saiba que se você me disser um não eu não vou te deixar em paz, não é assim que funciona. Vou fazer da sua vida um inferno. - Ele completa quando eu não falo nada.
Dou gargalhada. Não pelo que ele falou ao certo e sim pelo meu nervosismo atual.
Noah me olha com as sobrancelhas franzidas e eu tenho que colocar a mão na boca para abafar minhas risadas. Ele tenta continuar sério mas eu posso ver que ele está segurando o riso, o canto da sua boca está se curvando em um sorriso.
- Você não é nada romântico. - Me pronuncio.
Ele ergue a sobrancelha, desafiador.
Não me entenda mal
Eu só sinto falta de você nos meus braços
Sinos de casamento eram apenas alarmes
Fita isolante ao redor do meu coração
Você já se perguntou o que nós poderíamos ter sido?
Você disse que não faria mas você fez, porra
Mente pra mim, mente comigo, se ajeita, porra
Agora todas as minhas bebidas e todos meus sentimentos estão misturados, porra
De repente, Noah parece entrar em alerta e olha por cima do ombro para ver o início da rua. Todo o clima descontraído se esvai e os vestígios das minhas risadas não são mais encontrados. Engulo em seco quando um carro luxuoso - igual aos que Noah costuma dirigir - dobra a esquina.
Noah continua encarando o carro azul, o vidro preto é aberto e um cara coloca o braço pra fora com a arma apontada para nós dois. Tudo acontece rápido demais. Noah me empurra para abaixar junto com ele atrás de um banco de concreto situado na calçada, ele passa a mão na sua cintura para pegar a arma mas acaba praguejando ao notar que está desarmado. Me lembro dele colocando a arma em cima da mesa de cabeceira do quarto, na boate.
- Quando eu der o sinal, você corre. - Ele diz enquanto olha ao redor, estudando o local para ter uma reação rápida.
O homem dá mais dois tiros e então o silêncio volta, Noah me lança um olhar significativo e eu assinto com a cabeça. O som da porta do carro se abrindo é a nossa deixa, Noah segura a minha mão e nós corremos em direção a um beco. Não paramos ali, percorremos o beco até chegar na outra rua.
Eu amo você, eu odeio você
Eu odeio amar você
Não quero, mas não posso
Colocar mais ninguém acima de você
Me esforço para não tropeçar nos meus próprios pés enquanto corro, sendo guiada por Noah. Acho que eu nunca corri tão rápido em toda minha vida, nem mesmo quando eu vi Noah matar uma pessoa e tentei correr para fugir dele.
Viramos em algumas ruas e passamos por mais alguns becos. Eu paro de correr quando nós entramos em mais um beco, me sentindo exausta. Noah também para, nossas respirações ofegantes parecem ecoar pelo beco com iluminação precária e eu apoio minhas mãos em meu joelho, tentando recuperar o fôlego.
Meus pés doem. O fato de eu ter largado o meu sapato na boate para fugir de Noah explica eu estar correndo descalça pelas ruas.
Completamente sozinha eu assisto você observá-la
Como se ela fosse a única garota que você já viu
Você não se importa, você nunca se importou
Você não dá a mínima pra mim
- Eles estão atrás de mim. - Noah diz o óbvio ao se aproximar de mim. - Temos que nos separar, cada um pra um lado. Eles não vão te fazer nada, eu acho. Eles querem a mim.
- Você ficou maluco? Eu nem mesmo sei onde estou agora, como vou sair daqui?
Ele passa a mão pelo cabelo, bufando. Noah tira do bolso o seu celular e coloca o aparelho em minha mão, sua mão segura a minha cintura pra me puxar para mais perto.
- Presta atenção - Ele começa. - Liga para o Brad e manda ele vir te buscar, é só manter o celular ligado e perto de você, aí ele consegue rastrear onde você está. Enquanto esperar por ele, se mantenha escondida. Mesmo que você ache que ninguém está por perto, fique escondida até Brad aparecer pra te buscar.
- Mas e você?
- Eu me viro. - Dá de ombros. - Me espera na mansão.
- Por que você não fica escondido comigo esperando pelo Brad? - Choramingo.
- Eu não posso ficar escondido, Any. Preciso agir.
- Noah...
- Relaxa, bebê. - O canto da sua boca se curva em um pequeno sorriso. - Eu sei me cuidar. Não aja como se eu nunca tivesse feito algo assim.
Poderia dizer que eu vou ficar preocupada mas tenho certeza que ele sabe disso. Noah parece conseguir entender até mesmo as palavras que eu deixo de pronunciar, por que ele não pode ser tão fácil de compreender assim?
Afasto toda a sensação ruim e aproximo meus lábios dos seus, pressionando-os juntos. Ele me beija de volta, apertando as mãos em minha cintura. Noah aprofunda o beijo quando passa sua língua em meu lábio inferior, sem que eu dê permissão ele invade a minha boca mas eu não reclamo. Nós somos obrigados a parar por causa da falta de fôlego, eu aperto o celular na mão quando ele afasta o corpo do meu.
- Faça o que eu mandei. - Ele dá passos para trás, em direção à saída do beco. - Te vejo mais tarde, bebê.
Noah se vira e corre para longe, desaparecendo do meu campo de visão em segundos.
Eu amo você, eu odeio você
Eu odeio amar você
Não quero, mas não posso
Colocar mais ninguém acima de você
Me sento no chão, encostada na parede e escondida pela grande caçamba de lixo, e uso o celular de Noah para discar o número de Brad.
- Fala, Urrea. - Brad diz ao atender a ligação.
- Brad, aqui é a Any. - Fungo, tentando disfarçar minha voz embargada. - Tem como você vir me buscar? É que aconteceu algumas coisas.
- Onde você está? O que aconteceu?
- Não sei onde estou. - Seco uma lágrima que escorre pela minha bochecha e respiro fundo. - Tem como você vir rápido, por favor?
- Claro - Ouço o som de alarme de carro sendo destravado. - Só mantenha o celular ligado e perto de você, eu já estou indo.
Finalizo a ligação ao me despedir. Fico segurando o celular e jogo minha cabeça para trás, deixando-a apoiada na parede de tijolos. Meu coração parece que vai ser esmagado pela sensação ruim, as lágrimas escorrem dos meus olhos antes que eu possa impedir.
Parece que até quando as coisas querem dar certo, elas dão errado. Noah finalmente me pediu em namoro - algo que eu sempre quis que ele fizesse - e segundos depois tentaram nos matar à tiros. Essa é apenas uma amostra grátis de como nosso relacionamento seria, do que a minha vida iria se tornar se eu aceitasse namorar com ele. É isso o que eu quero pra mim?
Ouço o barulho de motor de carro e me encolho mais no meu esconderijo. Minhas mãos estão trêmulas e meu rosto deve estar inchado graças ao choro.
- Any. - Ouço a voz de Brad me chamar.
Levanto rapidamente, permitindo-o que me veja, e corro até ele. Brad é pego de surpresa quando eu enrolo meus braços ao redor de seu pescoço em um abraço, afundo meu rosto na curva do seu pescoço e deixo um suspiro trêmulo escapar.
- Ei, calma - Ele acaricia meu cabelo. - O que aconteceu? Onde o Noah está? Pensei que ele estivesse com você.
Me desfaço do seu abraço e seco as lágrimas, mesmo que outras já estejam escorrendo. Um soluço escapa da minha boca quando eu tento parar de chorar.
- Nós estávamos na calçada e então um cara chegou em um carro azul atirando, nós saímos de lá correndo porque Noah estava desarmado e então ele me deixou aqui dizendo que precisava agir.
- Ele está desarmado? - Brad questiona e eu assinto com a cabeça. - Puta que pariu!
- Brad, vamos atrás dele? Por favor! - Choramingo.
- Não se preocupe com isso, linda. Noah sabe se virar, e nós vamos dar um jeito de localizar ele na mansão, tudo bem? - Ele passa o braço pelos meus ombros, me guiando para onde ele estacionou o carro, no final do beco. - Vamos pra mansão.
Entro no carro e Brad acelera, posso notar que ele está em alerta para caso encontre Noah correndo pelas ruas ou, na pior hipótese, deitado na sua própria poça de sangue. Balanço a cabeça para afastar esse pensamento.
Quando nós chegamos na mansão, eu tive que contar novamente o que aconteceu, agora para James e Claire. Chris não estava lá, acho que ele ainda está em Midtown fazendo algum trabalho sujo.
- Peter já deve ter oferecido um bom prêmio pra quem levasse até ele o Noah decapitado. - Brad comenta, colaborando para o meu nervosismo.
- Nós temos que encontrá-lo. Desarmado ele não vai durar muito tempo. - Claire opina.
- E o que vamos fazer? Sair por aí olhando pra cada esquina tentando achar ele no escuro? A cidade é muito grande e não temos nenhuma pista, vai ser como procurar uma agulha no palheiro.
- Mas ficar de braços cruzados aqui não vai nos ajudar em nada. - James rebate.
O toque de um celular interrompe a pequena discussão, todos eles checam para ver que celular é até que James atende o dele, colocando no viva-voz ao ver que é um número desconhecido.
- Quem é? - Ele pergunta.
A pessoa do outro lado da linha tem a respiração pesada e solta grunhidos de dor, me fazendo entrar em alerta.
- James - A voz fraca de Noah soa através do celular. - Rastreia essa porra.
- Onde você está, cara? - James pergunta enquanto Claire começa com o seu trabalho para rastrear o telefone que Noah está usando para se comunicar.
- Eu... - Ele solta um grunhido de dor. - Eu estou no Harlem.
- Você foi até aí a pé? - Brad questiona.
- Não, eu fiz uma... - Ele para mais uma vez para gemer novamente de dor. - Uma ligação direta em uma moto.
- Você está ferido? - Pergunto o principal, que todos ali estavam esquecendo de perguntar.
Noah fica em silêncio ao ouvir minha voz, eu já espero um comentário maldoso dele, mas não vem...
- Não foi muito inteligente roubar uma moto no Harlem. Atiraram em mim, mas pegou de raspão.
- Puta que pariu, cara. Foi ferido por um desses pivetes metidos a fodão aí do Harlem? Fim de carreira. - James zomba.
- Cala a boca e rastreia essa merda logo.
- Já estamos indo. - Claire confirma e James desliga a chamada.
Claire conseguiu rastrear a chamada, que foi realizada através de um telefone público. Eu uso o tempo que nós levamos no caminho tentando sumir com qualquer vestígio de choro, não seria nada legal deixar toda minha fraqueza em relação à ele transparecendo.
Saio do carro quando o mesmo é estacionado, Noah está sentado em um banco de madeira ao lado do telefone público que ele usou para se comunicar. Sua camisa está suja de sangue e ele tenta pressionar o local com a mão. Ele suspira quando nos vê ali, engulo em seco quando seus olhos param em mim.
Os rapazes trocam algumas palavras com ele e Claire permanece dentro do carro, eu continuo próxima ao carro abraçando meus próprios braços para tentar me aquecer. Os caras entram no carro esperando que eu e Noah façamos o mesmo mas Noah se aproxima de mim, ficando em minha frente. Posso ver a sua hesitação.
- Não. - Eu sussurro, fazendo ele franzir as sobrancelhas confuso.
- Não o quê?
- Eu não quero namorar com você.
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