39 - Wounded Pride
39
Any Gabrielly
New York, NY
Observo os machucados em seu rosto enquanto ele permanece desacordado na cama do seu quarto. Claire cuidou de todos os ferimentos, eu estive ao seu lado o tempo todo, incapaz de deixá-lo sozinho e por isso tive que escutar todos os xingamentos de Claire. Ela não mediu palavras para tentar me ofender mas naquela altura eu estava tão em choque que não consegui nem mesmo falar tudo o que eu queria para ela.
Estou até agora tentando entender o por quê de ele não ter batido em mim quando teve a chance. Ele ficou apenas me olhando com uma expressão afetada e confusa. Pude notar que sua mão coçava para colidir com a minha pele e deixar marcas de agressão mas ele não o fez, apenas me encarava como se estivesse com dúvidas.
E foi quando toda a culpa caiu sobre meus ombros.
Não me sinto culpada por ter dormido com Chris e sim por ter aceitado vir para a mansão. Foi uma ideia idiota. Eu já deveria saber que isso não acabaria nada bem e eu podia ter evitado todo esse transtorno.
O som da porta se abrindo me tira dos meus pensamentos, vejo Claire entrando no quarto novamente e revirando os olhos ao ver que eu continuo aqui. Não sei ao certo o motivo do seu ódio por mim, talvez seja ciúmes ou apenas inveja.
- Por que você ainda está aqui, garota? - Claire diz com tédio. - Chris está esperando para te dar uma carona até em casa. A não ser que... - Ela abre um sorriso venenoso antes de completar sua frase. - Você queira esperar James voltar para casa pra abrir as pernas para ele também. - Dá risada, uma risada forçada.
- Você não consegue ficar calada? Sua voz de puta é insuportável. - Reviro os olhos, tentando não me ofender com as coisas que saem de sua boca.
- Qual é a sua, garota? Por que insiste em continuar nessa casa? Já não causou estragos demais? - Gesticula para Noah desacordado.
- Eu não tive culpa. - Me defendo.
- Você sabe que teve, vadia mirim. Nem sei por que você continua vindo até aqui, gosta de andar na linha do perigo? - Claire estala a língua, fazendo um sinal negativo com a cabeça. - Desse jeito você vai acabar morta.
- Qual é a merda do seu problema comigo? - Digo irritada.
- Você quer que eu faça uma lista? - Ela faz uma falsa expressão pensativa, batendo o dedo indicador em seu queixo. - Primeiro, não era nem para você estar aqui. Noah fez a coisa legal de te deixar sair viva depois de ter visto demais mas você parece desejar a morte por continuar sempre voltando para cá e desafiando o Urrea.
- Ou talvez seja porque você se incomoda que eu receba mais a atenção dele do que você.
Claire se cala, parecendo ofendida antes de tentar esconder todos os seus sentimentos atuais com uma expressão superior. Seus olhos se estreitam na minha direção como se estivesse imaginando diversas formas de me matar bem aqui.
O som de uma respiração alta e movimentos na cama despertam nossas atenções e nós corremos até a cama, ficando uma de cada lado observando o rapaz forçando para abrir seus olhos. Algumas marcas em seu rosto ficaram roxas, seu lábio inferior tem um corte assim como o seu supercílio. Chris fez um bom trabalho aqui, se eu não tivesse o empurrado e implorado para parar eu tenho certeza que ele teria quebrado o seu nariz sem nenhuma piedade.
Noah une as sobrancelhas em confusão ao me ver ali, grunhindo baixo de dor por ter franzido a testa. Ele ignora o corpo dolorido para ficar sentado na cama. Claire faz várias perguntas sobre os seus machucados, como ele está se sentindo, se algum lugar ainda dói... Eu permaneço quieta, não sei como está o seu atual humor. E agora eu repenso sobre minha decisão de ter ficado para esperá-lo acordar, eu realmente podia ter ido embora.
- Já disse que estou bem, porra. - Noah rosna, empurrando as mãos de Claire para longe de seu rosto.
- Não faça isso enquanto eu estiver tentando te ajudar. - Ela rebate e pressiona o dedo indicador em seu lábio inferior por saber que ele sentiria dor, apenas em um modo de repreensão.
Ele lança seu pior olhar para Claire. Noah olha para mim quando nota minha presença, sua expressão fria e vazia faz eu me arrepiar temendo o que pode acontecer nos minutos seguintes. Ele mantém seus olhos presos nos meus por alguns segundos, sem transparecer nenhuma emoção, antes de voltá-los para Claire.
- O que essa vadia está fazendo aqui? - Engulo em seco com as suas palavras.
- Eu mandei ela ir embora umas sete vezes. Acho que ela estava pensando que você gostaria de vê-la aqui.
Eles falam como se eu não estivesse aqui. Várias coisas que eu poderia falar agora para marcar presença passam pela minha mente mas o máximo que eu consigo fazer é abrir a boca, sem que nenhuma palavra seja pronunciada. Não sei por que estou tão intimidada.
- Dá o fora daqui, Any. - Noah diz sem se importar em controlar a rispidez em sua voz.
- Eu só...
- Mandei você dar o fora. - Ele interrompe.
- Noah, o que aconte...
- Além de puta agora você é surda também? - Cospe as palavras, Claire dá uma breve gargalhada parecendo divertida com isso.
Engulo em seco, prendendo todas as palavras que eu queria cuspir em sua cara agora.
Me inclino para ficar com o rosto bem perto do seu, vendo seus olhos se estreitarem para mim. Faço questão de manter o contato visual.
- Eu deveria ter deixado ele te bater mais. - Murmuro a centímetros dos seus lábios.
Me afasto sem dar importância para a sua reação, caminhando com pressa para a porta do quarto e batendo ela com mais força do que o necessário ao sair, como uma criança birrenta. Encosto a minha cabeça na porta fechada e suspiro tentando afastar toda a vontade de chorar que está crescendo dentro de mim. Quantas vezes mais Noah vai ter que me provar ser um idiota para que eu finalmente caia na real?
Noah Urrea
New York, NY
Bronx. Eu nunca gostei desse lugar. Aqui tem muitos pivetes e imprestáveis achando que são fodas no que fazem mas não passam de marionetes para as pessoas que realmente mandam nessa porra. Não estaria aqui se não fosse mesmo importante, dar o troco em Peter valerá a pena.
Algumas pessoas que andam na rua encaram o carro por estarmos parados aqui há muito tempo. Decidimos vir com carros simples para não chamar muita atenção. Eu e James estamos no Ford Fusion enquanto Chris, Claire e Brad estão no Chevrolet Malibu.
Um cara sai do depósito que estamos observando e faz um sinal para nós. Deixamos nossos carros para entrarmos no depósito, vendo todas as toneladas de cocaína sendo colocadas dentro de caminhões para entregas. Chris carrega a mochila com o equipamento necessário.
- Vamos renegociar, Urrea. - O cara do Bronx dono de toda a cocaína diz, parando em frente às portas do caminhão com os braços cruzados tentando de alguma forma ser intimidador.
- Você já deu o preço e nós já fechamos isso. - Digo sério. - Sem mudanças agora.
- É muito pouco! Eu estou arriscando a minha vida, cara. - Bufa. - Se Peter colocar as mãos em mim eu vou ser morto da forma mais lenta e dolorosa possível.
- Aí já não é um problema meu. - Dou de ombros.
- Qual é...
- Trato é trato, Johnson. - James o interrompe.
- Okay, cara. - Ele desiste. - São esses dois caminhões. Peter pagou uma grana preta pela branquinha mas é para consumo próprio, ele não está pensando em revender.
- Vai servir para o que queremos. - Chris diz animado, tirando a mochila das costas com cuidado.
Claire joga para Johnson a mala que contém a grana prometida à ele. O cara negro abre a mala apenas para conferir se as notas são verdadeiras e faz um sinal positivo, saindo dali para termos liberdade para fazermos o que planejamos.
- Vamos fazer isso. - Digo ao ver que ficamos sozinhos ali.
Abro um lado da porta enquanto Brad abre o outro. Chris pega da mochila que trouxe seus equipamentos, me deixando surpreso pelo seu lado nerd. James fica encarregado de vigiar o local para que ninguém nos atrapalhe ou nos veja fazendo isso, apenas Johnson sabe que nós estamos preparando um presente para Peter.
Chris tem luvas isolantes protegendo suas mãos e usa uma pinça para fazer as ligações dos fios soltos. Foi ele quem montou toda aquela bomba, cada mínimo detalhe foi feito por ele. Chris já é conhecido nesse ramo pelas bombas fodas que ele consegue projetar, qualquer armamento em suas mãos vira um ouro letal. É por isso que ele está na equipe, eu quero os melhores ao meu lado.
Quando todos os fios estão ligados ele fecha a bomba, ela parece um objeto inofensivo com o tamanho e formato de uma bola de beisebol mas nós sabemos o estrago que ela pode causar. Chris sorri orgulhoso pela sua criação e a prende com cuidado na parte interna da porta da traseira do caminhão.
- Tem certeza que isso vai funcionar? - Claire questiona quando fechamos as portas novamente.
- Absoluta. - Chris afirma. - A bomba vai ser ativada com o movimento que a porta vai fazer ao abrir. Sem nenhum barulho que denuncie que ela está ali, os capangas de Peter terão uma surpresa explosiva essa noite.
- Espero que isso sirva de lição para a próxima vez que ele decidir roubar uma carga minha. - Resmungo.
Johnson volta para nos apressar a sair dali e assim nós fazemos. Cada um entrando no carro que veio, dou partida no meu carro vendo o carro que Brad dirige vindo logo atrás de mim.
Esse ataque precisa dar certo. Nós estamos muito atrás de Peter e a cada ataque dele nós enfraquecemos mais, não podemos perder tudo o que conquistamos até agora. Sabemos que não será Peter que vai receber a carga essa noite mas será alguns de seus homens de confiança, já é o suficiente para mim. Esse é só o primeiro passo.
Pelo retrovisor eu vejo o carro do resto da equipe desviar do caminho, me fazendo unir as sobrancelhas em confusão.
- Pra onde o filho da puta do Brad está indo? - Pergunto para James.
Ele pigarreia como se não quisesse contar, mas acaba respondendo minha pergunta.
- Acho que ele foi deixar Chris no lugar de sempre.
Reviro os olhos.
O lugar de sempre, também conhecido como a casa da Any.
Eu não a vejo desde que levei uma surra, dias atrás. Chris tem estado com ela quase todos os dias mas não na mansão, ela não voltou lá desde que eu mandei ela ir embora. Não estou por dentro do assunto sobre o relacionamento dos dois mas pelo que eu soube ao ouvir algumas conversas - ou que Claire fez questão de me contar -, Chris tem frequentado a casa dela e agido como um bom garoto para a sua mãe. Isso é ridículo. Qual é, ele tem vários crimes nas costas e está tentando se fazer de boa pessoa apenas para impressionar a mãe de uma vadia e não ser proibido de vê-la. Patético.
Mas agora Any tem tudo o que queria. Um cara que leva ela a sério e consegue estar em um relacionamento estável.
- Sabe, cara - James começa. - Você ainda pode ir atrás dela.
- De quem?
- Não se faça de desentendido, nós dois sabemos que estou falando da Any.
Mantenho meus olhos na estrada, não querendo realmente entrar nesse assunto.
- Ela está com o Chris agora, duvido que eu consiga alguma coisa.
- Até o próprio Chris sabe que ela não gosta dele, não dessa forma.
Olho rapidamente para James antes de voltar a focar meu olhar na estrada.
- Sei onde você quer chegar com isso. - Reviro os olhos. - Eu não gosto da Any, cara.
- Não disse nada sobre isso. - Vejo pela minha visão periférica ele colocar as mãos para cima em rendição. - Você que está pensando dessa forma.
- Não confunda a minha mente.
Piso mais fundo no acelerador querendo chegar mais rápido na mansão para fugir desse assunto.
James gosta de dar uma de Hitch, só que algumas vezes ele esquece que nesse caso não há amor para ele aconselhar em algum ponto. Qual é, eu não sinto nada pela Any. Talvez ela ainda sinta alguma coisa por mim mas isso já não é problema meu, ela alimentou isso sozinha.
- O aniversário dela é hoje. - Ele comenta após alguns minutos de silêncio.
- E daí?
- Chris comentou comigo onde ela vai estar. - James estala a língua. - Ele tem aquele trabalho para fazer em Midtown então ele não vai estar com ela, por isso ele foi até a casa dela agora para dar o presente que comprou e tudo mais.
- Onde você está querendo chegar, cara?
- É a sua chance de fazer alguma coisa. - Ele continua. - Você pode deixar tudo como está por causa do seu orgulho ou pode procurá-la para consertar toda essa merda. E não precisa gastar saliva falando que não está nem aí para ela porque eu te conheço há tempo o suficiente para saber que você está.
É a terceira conversa desse tipo que nós estamos tendo em três dias. James só está colaborando para a minha confusão mental. Tudo começou quando eu não consegui bater nela e meus pensamentos começaram a dar um nó, me causando uma dor de cabeça insuportável uma vez ao dia. Todas as hipóteses consideráveis para essa minha confusão mental causada pela Any não soam bem para mim, mas eu preciso tirar todas as minhas dúvidas sobre o que está acontecendo e, pela primeira vez, ter alguma certeza em relação à Any.
Preciso tê-la. Uma última vez. Se a confusão mental parar depois disso eu vou ficar aliviado e deixar ela de vez para viver esse romance de merda com o Chris. Se não parar eu estarei com sérios problemas...
- Onde ela vai estar?
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