9. Segredos omitidos pela noite

Os corredores luxuosos da mansão já não me incomodavam tanto quanto antes, a iluminação ainda não fora desligada e isso trazia-me alívio, não era como no primeiro dia em que a escuridão nos acompanhava deixando-me inseguro, principalmente por tê-lo ao meu lado.
Seus passos estavam mais devagar, ele tentava não manter grande distância e eu sabia o motivo; Eu. Seus olhos agora fitam-me de um modo tão misterioso, seu sorriso esconde tantos segredos e quando ele comporta-se desse modo - gentil, simpático e educado - tenho calafrios.
Pergunto-me diariamente se ele é bipolar, no entanto algo me diz que não e tudo continua assim, sem respostas.

– Percebo que não é mais manipulado pelo mundo virtual – sorriu ele, confesso que meu coração disparou sem minha permissão, não sentirei algo por alguém que me machuque, mais do que já machucou aliás. – Não precisarei tomar atitudes drásticas novamente...

Reviro os olhos, e não respondo, apenas sigo em frente, seu sorriso diminui, como se estivesse decepcionado comigo... ou consigo mesmo?
Respiro fundo e tento não prestar atenção no delicioso aroma que escapa dele, o leve e refrescante perfume que torna-se minha tormenta, minha tentação diária. Observo sua mão e lembro-me do delírio, quando a mesa se desfez ao seu toque, será que ele faria o mesmo comigo? Será que ele me mataria?

– Boa noite Sr. Darkness. – cumprimentou a ruiva que usava um vestido curto prateado, seus olhos correram por todo o corpo do bilionário que a-retribuiu com um sorriso descarado. Cerro os punhos, uma mistura entre raiva e ciúmes corre pelas minhas veias; raiva por eles terem feito aquilo com Anna, ciúmes por haver a hipótese de Luce e Adrian ainda agarrarem-se pelos cantos da mansão... E qual o motivo? Porque eu iria me importar?

– Srt. Hale, poderia-me dizer se Melissa já foi com Isabelle? – perguntou ele discreto, mordo os lábios pensando em qual seria o motivo desta pergunta, ele quer conversar com nós três?

– Sim, senhor. – afirmou ela com a cabeça, ele olhou-me de esguelha, logo fingi observar o quadro posto na parede, não posso correr riscos e se eu olhar em seus olhos estarei correndo riscos... entre eles o de amá-lo – foram mais cedo para a boate.

Minhas órbitas cresceram quando a-vi encarar diretamente para sua calça, exatamente no lugar onde haveria um volume se ele estivesse excitado, no entanto acho que tal não percebeu ou apenas ignorou. Mas ela estava lambendo seus lábios e eu prestes a surtar de raiva e frustração.

– Então, até mais ver... Adrian – Tento não gritar, engulo em seco e respiro fundo, quando lembro sentir sua mão deslizar levemente pela minha virilha fico enfurecido, eu não quero mas é impossível, não devia ter ciúmes do homem ao qual odeio. Eu sou uma maré repleta de coisas confusas, sentimentos, pensamentos, ações...

Vejo-a desaparecer pelos corredores e após ter certeza que ela não irá voltar, deparo-me com seus olhos curiosos que fitam-me, seu silêncio é capaz de transmitir tantas coisas que não consigo imaginar, apenas sentir.
É tão estranho.

– Acho que já conhece as gêmeas. – diz subitamente, não faço idéia de como ele adivinha tudo, talvez envolve sua maldição. – quer dizer, especialmente Anastácia Hale.

– Sim, a-conheço – respondo seco, não ouso demonstrar o que sinto, não mais. Quando você mostra o que sente, é como se entregasse seu coração, sua vida, suas emoções e há o risco de serem usados contra mim.

– Muito bem – ele me olha pela última vez, duvido que já não saiba de tudo o que penso, talvez ele leia mentes, ou alguém passe informações... Não confie em ninguém.

Chegamos á sala de estar e percebo que o silêncio já tomou conta de todos os cômodos, alguns criados devem ter ido para suas casas, ou estão em seus quartos, como Anna, que aliás, não a-vi depois de ter se irritado comigo.
No decorrer do caminho até seu carro - que desta vez tivemos que atravessar abaixo daquele longo arco de galhos cobertos de neve -, Adrian falhava em suas tentativas de tirar algo da minha boca, eu não queria falar com ele, não queria me sentir inseguro e sendo assim, prefiro o silêncio. Seus olhos brilhavam á luz da lua fitando-me às vezes, observava e eu nada dizia. De vez em quando, sentia um leve arrepio em minha nuca, ou cócegas suaves em alguma região sensível do corpo, mas nada me tirava a seriedade, não estava ali para ser novamente usado como brinquedo e logo após ser jogado feito lixo como aconteceu em minha chegada. Sentimentos podem ser dádivas ou desgraças para a vida, e na minha, temo que não seja a primeira opção.

O portão fora aberto por ele, que com seu "Cavalheirismo" deixou que eu saísse primeiro. Não. Eu não acho que ele tenha se tornado bom da noite pro dia, é impossível... a cada olhar, palavra ou movimento que ele faça, fico atento na espera de que retire sua máscara e mostre a péssima pessoa que ele é. "Sim Sr. D, você despertou tudo que eu temia... a paixão e o ódio".
Quando chegamos ao seu carro que estava estacionado próximo á uma moita, ele abriu a porta e sentou-se no banco do motorista, engulo em seco ao ser alertado pelo meu celular, uma mensagem havia chegado. Pego-o de meu bolso e vejo o perfil do número não salvo, é a Srt. D2. "Will vocês vão demorar?" Após ler, respondo-a com um "Não, já estamos indo." E guardo o celular novamente.

– Se quiser – Começou ele dando-me um pequeno susto, um sorriso bastante descarado e provocador estampou o rosto do bilionário enquanto seu rosto inclinava levemente para seu colo. Eu não sei o motivo dele ser tão... Atraente e ao mesmo tempo sombrio. – Pode escolher a segunda opção.

Reviro os olhos com sua jogada descarada, lembro-me do que ele disse para mim. Algumas pessoas adorariam que um homem como o Adrian, rico, atraente e charmoso as-notassem; Eu pelo contrário, desejo ser ignorado.

– Prefiro ir caminhando á pé se for por isso. – Digo breve e curto, sem expressar nenhum sentimento ou emoção. Frio, seja frio como eles. – Já fui uma vez, posso ir novamente...

Quando dou meu primeiro passo em direção á cidade, sou surpreendido por um toque inesperado, sua mão segurou a minha, sem nenhuma intenção, sem raiva, sarcasmo ou algo do tipo, e uma onda invisível de alegria percorreu minhas veias de um modo que eu não sabia explicar. Temi que meu escudo estivesse prestes a cair.

– Desculpe – sussurrou ele, sua voz honesta era tão verdadeira que eu chegaria a ponto de acreditar... Mentiras só servem para machucar os outros e encobrir a verdade, mas e se ele estiver falando a verdade? – Eu prometo que não faço isso denovo.

– Dá pra parar? – mordo os lábios tentando engolir o choro, encaro-o em seus olhos, mas não por muito tempo e sou levado á olhar para o horizonte. – Você me pediu e eu vim, em nada disse que poderia me atormentar com seus teatrinhos infantis, então se quiser ser um pouco mais arrogante, mais normal... Agradeço.

Desabafei, não alterei minha voz, não houve socos nem nada parecido, apenas o sorriso safado daquele imbecil.

– Eu não vou te machucar – respondeu o perverso – Não que você não queira.

Dou-lhe as costas e sigo caminho como na primeira vez. Não irei com ele, é idiota da minha parte ter pelo menos um pouco de esperança nele. Quando estou distante do veículo, ouço a porta do seu carro abrir e passos rápidos ecoarem direto sobre o asfalto, antes que vire-me para vê-lo sou acalentado por seus braços, sua pele quente e sedosa me faz desejá-lo muito mais, no entanto a batalha entre a razão e a emoção continua em minha mente. Viro-me e deparo-me com seu corpo bem longe de mim, parado, espreitando-me. Suspiro e volto a caminhar, e no fundo eu penso que um mágico não pode apresentar o mesmo truque em todos os shows.

– Will – sua mão pressiona meu braço na tentativa de me segurar, rangi entre dentes, ele quer me enlouquecer, só pode! – Will, olhe para mim.

Preparo-me para vê-lo em seu carro, rindo em zombaria, esperando minha volta, como da última vez, no entanto eu... Seu corpo está próximo ao meu, o seu perfume misturado a brisa fria deixa-me em êxtase e seu toque completa tudo. Estamos parados, ele segura minha mão e... eu estou delirando? Novamente?

– Isto não é um delírio. – declarou ele para minha surpresa, mas como ele sabia disso? Quanto mais respostas consigo mais confuso eu me sinto. – Agora, eu te peço, você pode por favor - Ele apontou para o carro ao longe – Entrar no carro e relaxar?

– Relaxar... – repito a palavra para mim mesmo, quantas vezes disseram-me que meus dias num lugar luxuoso seria bom e poderia "relaxar", no entanto, o que acontece é totalmente ao contrário.
– Há quando tempo não consigo?

Não tenho uma direção exata, olho para o céu, o asfalto, as árvores, ele, mas nada faz sentido. Absolutamente nada.

Sinto uma lágrima escapar e deslizar pela minha bochecha e logo ser interrompida pelo toque suave de seu polegar, eu não sei mas eu me sinto tão fraco, sensível, e chego a pensar que seria bom deixar tudo para trás, sem respostas; voltar para casa e tentar pelo menos. Sua expressão de cuidado me faz um pouco feliz, não realmente pois algo me diz que é mentira, ou talvez seja verdade e eu não sei... Eu não sei.
Apenas não sei.

De repente fui acalentado por seus braços, e desta vez não era um truque mas sim, realidade, lágrimas ousam escapar, meu rosto pousa em seu peitoral e penso que devem estar molhando sua camisa, tento, mas não consigo segurá-las.

– Eu sei que você está confuso – sussurrou ele próximo ao meu ouvido, meu corpo estremece com o arrepio – Mas eu juro, juro pela minha vida, que logo você saberá de tudo.

– Por favor, me diz – imploro em meio ao choro – porque eu não entendo; eu mal tinha chegado aqui é você fez aquelas coisas, dizia gostar de mim e então ria de mim, ria dos meus sentimentos que... Merda, eu não sei o motivo mas...

– Estou apaixonado por você. – completou ele esboçando um sorriso, hesito afastar-me por medo mas não o-faço – É o destino. O destino faz coisas loucas.

– Não! Isso não é o destino. – retruco um pouco irritado, mesmo assim, minha voz sai embargada – Você não precisa fazer isso, o destino não controla, mas sim você...

– De ambos os modos você será abraçado pelo destino – riu ele, reflito suas palavras – O destino é, por mais que você tente fugir... o destino.

– Você está mentindo... – acuso-o em baixa voz, levanto meu rosto e o-encaro – Você sempre mente.

– Talvez... mas não agora. – E então seus lábios tocaram os meus de um modo tão suave, simples e viciante que eu não consegui evitar.

As luzes coloridas iluminavam o ambiente e a música não parava de tocar, as vozes podiam ser ouvidas de tal modo que se alguém não estivesse completamente bêbado poderia ouvir os segredos mais sujos de Westford, no entanto, não era por esse motivo que as duas garotas haviam vindo, havia algo mais importante a ser debatido,. Aproximando-se á uma mesa próxima, a morena pegou seu celular e chamou a amiga para tirarem algumas fotos, afinal, ela precisava ostentar sua beleza; E com a sua prima, seriam a inveja das outras mulheres, o desejo dos homens e a influência dos gays afeminados... pelo menos era assim que Melissa via o mundo.

– Olá senhoritas – um simpático rapaz juntou-se á elas, olhos verde-água, pele bronzeada e cabelos castanhos dourados, "Não era de se desperdiçar" pensou Melissa, no entanto ao lembrar-se do seu namorado que logo iria chegar, desistiu da idéia – Posso fazer companhia à duas belas donzelas em apuros?

Isabelle olhou por cima do seu celular e continuou em silêncio, sabia que seria uma tragédia se Melissa e Adrian terminassem, afetaria todo o projeto e isso não era discutível... exceto para a caçula, seus planos eram outros.
Ela os-tramava em segredo.

– Eu não estou vendo nenhuma donzela em apuros. – respondeu ríspida enquanto tirava o braço do rapaz que pousava em seu ombro num ato ousado – pode se retirar?

– Irritada você... – O hálito misturado á champanhe, vinho e um pouco de licor era um incômodo para a garota – Gosto assim...

Prestes a perder a paciência, a garota sorriu friamente para o homem, já tal fazia uma careta diante da dor, uma bela, lenta e horrível dor que o-deixaria sem companheira de noite por um tempo. Divertindo-se com o momento, Isabelle riu do estado no qual o rapaz saiu enquanto pegava duas taças com vinho tinto da bandeja do garçom.

– Nossa Melissa, você não pode ser tão rude. – Comentou a garota em puro sarcasmo, era o que mais adorava fazer, provocar sua amiga e também às vezes, inimiga. A inveja gratuita que a caçula sentia pela prima era o bastante, desde garotos á sorte familiar, afinal, o peso de carregar o sobrenome Darkness nas costas não era fácil, e em sua adolescência, foi menos ainda, principalmente ao fato de seu irmão...

– Não seja irônica, Izzy – respondeu a morena mostrando um sorriso falso, ambas odiavam-se mas ainda continuavam juntas, uma relação de amizade e ódio. – Isso não combina com uma Darkness.

Próximo á elas, a ruiva encarava-as com uma leve curiosidade, não havia muitos clientes no balcão então podia descansar um pouco, não exatamente, mas ela queria muito ir lá, no entanto não tinha certeza. Apesar de seu humor alterado, Alisha sabia com quais pessoas poderia se relacionar, e aquelas duas não estava na lista de sociáveis.

– Sabe quem são? – A voz um pouco aguda e forçada do garoto ao seu lado a-assustou – A irmã do gostoso... quer dizer, Adrian Darkness e sua prima – Ele juntou-se á ruiva para observar as "Kardashians de Westford" como apelidou o garoto – Como eu queria ter esse dna... E queria ter o Adrian também...

– Será que eu vou? – perguntou a si mesma mordiscando os lábios – Não, é melhor não.

– Alisha? Você está interessada nas Dark... ? – gritou o garoto surpreso, a sorte fora que o volume estava alto o suficiente para abafar sua voz.

– Claro que não, viado. – retrucou ela com os olhos arregalados, se as damas tivessem ouvido seria um horrível modo de se começar uma conversa. – Meu amigo... melhor amigo na verdade, ele está morando na mansão Darkness, e eu não o-vejo a dias...

_ Não me diz que ele já pegou os três? – riu o garoto tentando abafar a risada com as mãos. Percebendo que sua piada não fez efeito na ruiva, ele se recompôs. Apesar de não entender muito, Paul ficava pasmo ao fato de que algumas pessoas mal fazem um esforço e sai homens até do esgoto dizendo ser seus pretendentes, já ele, que há muito tentava conseguir algo com seu colega de trabalho, nem atenção conseguia. – Tipo, pois aquele Adrian não deve ser rejeitado por mulheres; nem por heteros.

– Sim, nem por héteros. – confirmou a garota, ainda pensativa sobre ir ou não perguntar pelo seu amigo...

– Você viu que as Darkness vieram aqui? – a voz grave do loiro assustou-a, fazendo que Allie batesse sua mão num copo e tal se espatifasse no chão.

– Merda! Mas que merda, Thomas! – exclamou ela irritada pelo susto - Virou o que? Fantasma? Por que se for, já deve estar amando dar sustos!

– Desculpa – Ele riu desajeitado. – Mas você ouviu o que eu disse? Se elas estão aqui, Will devia estar aqui...

– Devia? – perguntou-se Alisha, bem no fundo ela estranhava os modos de seu amigo, William nunca a-deixava sem respostas e agora quase nem mexe em seu celular, e, se ele estivesse trabalhando já teria avisado-a.
– Eu acho que ele deve estar com outra pessoa...

– Só saberemos perguntando. – respondeu o loiro que, decidido a ter respostas, foi em direção á mesa onde as duas garotas estavam...

– Vagabundo descarado! – rangiu ela, "Thomas pode ser uma boa pessoa e tals, mas às vezes ele é tão, mas tão burro." Pensou – O que você faz aí embaixo? Virou rato? Barata?

O garoto segurava um caco de vidro que logo seria colocado junto aos outros na cesta de lixo.
Ele parecia uma criança aos pés da ruiva.

– Sou empregado, recatado e do lar – respondeu irônico fazendo a ruiva rir.

O terno lhes caía bem, o-deixava bonito, elegante, e era uma visão bem diferente que Will conhecera quando foram a cafeteria e o loiro foi completamente doce e gentil, já ao usar essa roupa, o-deixava mais sério, importante até.
Haviam tantas ligações entre as pessoas de Westford que na maioria das vezes, tais fingiam não se importar, afinal, todos precisam de um tempo para descanso.

– Olá damas. – cumprimentou ele com uma voz uniforme, conforme seu cargo permitia. Ouvindo um suspiro como resposta de uma das garotas ele não se irritou, sabia lidar com pessoas mimadas, já a outra, para sua surpresa, arregalou seus olhos castanhos como se encontrasse um antigo conhecido.

– Thomas – disse Melissa sorrindo, o típico sorriso fingido que mostrava às pessoas que não gostava, não se conheciam muito bem, mas o que sabia já servia como um empecilho. – Você é... hmm... o quase namorado do Will Storment?

– Namorado? – Ele franziu o cenho confuso, achava que Will queria algo mais devagar e no entanto, tem uma surpresa dessas.

– Desculpem o incômodo, garotas – A voz alegre e agora forçada da ruiva adentrou a conversa – É que meu amigo queria saber se o William Storment veio com vocês.

Ambas se entreolham.

– Ele disse que iria vir mais tarde, com meu irmão – disse Isabelle deixando seu celular de lado – No entanto já deviam ter chegado.

Alisha e Thomas se entreolham pensativos, até que então uma mulher sorriu ao ver as duas garotas, ela usava um vestido formal, seus cabelos estavam soltos e junto á sua pele escura eram iluminados pelas luzes coloridas da boate, o modo como caminhava até a mesa era mais elegante quanto as amigas. Percebendo que não poderiam ficar ali, Thomas e Alisha se despediram discretamente e voltaram aos seus postos, ainda confusos com a ausência de Will.
Apesar da distância, foi possível que ouvissem as primeiras palavras da mulher.

– Olá senhoritas – seu sorriso era frio como gelo, ela parecia-se muito com as outras meninas... – Digam-me as novidades.

Havia um fila enorme em frente ao estabelecimento, e pelo que noto, o restaurante deve estar lotado de clientes, a estrutura erguida á minha frente era pintado em tonalidades claras, uma porta de vidro refletia a luz da lua, e era possível ver os casais jantando lá dentro, felizes e sorridentes, era tão lindo e romântico... Porém apesar de estar admirado com a beleza, não era este o lugar exato, eu deveria estar na boate, com Melissa e Isabelle, e também com Alisha... Thomas, eu devia estar com ele.

– Bom, podemos ir? – perguntou Adrian ansioso, penso em perguntar o motivo de não estarmos na boate, mss então lembrei-me de ter aceitado seu pedido para um encontro á sós... Não pensava que seria exatamente no mesmo dia.

Andamos até a entrada e fiquei surpreso por não termos sido barrados, sequer estávamos na fila de espera, ele cochicho algo com um segurança que me fez pensar em Thomas, eu me sentia mal por, querer estar com alguém e estar apaixonado por outra pessoa... Eu não quero e não posso ser idiota a chegar nesse ponto de me apaixonar pelo...
Eu sou um idiota.

Não sei exatamente explicar qual foi a sensação de ser tomado por uma grande e viciante adrenalina, haviam garçons servindo os pratos que certamente estavam dentro daquelas bandejas, o aroma delicioso que vinha da cozinha também ajudava e quando senti minha mão ser tomada pelo Adrian, eu quase me desequilibrei, meu coração disparou e eu tentava respirar normalmente, mesmo que fosse difícil, naquele momento eu queria aproveitar a noite da melhor forma, mesmo que ao amanhecer, tudo volte ao normal e eu seja taxado novamente de idiota.

– Venha, por aqui – guiou-me ele enquanto atravessamos o salão, na lateral próxima á porta da cozinha, iniciava-se uma escada que daria para o segundo andar, foi quando percebi a maravilha que era aquele lugar. Um frio veio subitamente quando dei meu primeiro passo sobre o chão de vidro, era assustador ver as pessoas abaixo de nós, sentadas e era inevitável pensar no pior, que o vidro se quebrasse e... Não. Isso não vai acontecer.

– Nossa mesa está aqui perto – Adrian procurou com sua visão 360 graus até que finalmente a-encontrou, mostrando um sorriso que era minha morte; É impossível se sentir seguro com alguém que sempre errou.

Sentamos na mesa e dei um olhada ao redor, haviam alguns vasos artesanais colocados na decoração, pinturas enfeitavam nas paredes limpas e brancas, tudo belo e luxuoso... como o próprio Adrian.

– Este lugar é lindo não é? – perguntou ele vendo minha admiração, eu confesso que sempre fui uma pessoa fácil de surpreender, minha vida era simples e normal, como a de qualquer um, mesmo que meu pai fosse um dos mais ricos da região, não me tornava esnobe, e foi por isto que ele mandou-me para Westford, conseguir o futuro como ele conseguiu; Sem falar que a família Darkness é influência aqui e em alguns países. – Meu pai me trazia aos sábados com minha irmã, sempre.

Engulo em seco, lembro que meu pai ficou arrasado ao saber o que acontecera com o Sr. Alexander.

– Eu sinto muito – digo-o, deve ser horrível perder uma familiar, ainda por cima um pai.

– Não sinta – respondeu esboçando um sorriso fraco – O passado precisa ser deixado, há um futuro a nossa espera.

Ele tentava desviar o assunto e não o-julgo, ele ainda não estava preparado para falar disso.

– Se você quiser conversar sobre isso – Eu não sei como e nem porque falei aquilo, foi instantâneo, como se eu quisesse ajudá-lo... – É só pedir.

Ele assentiu com a cabeça e sorriu, um leve e pequeno sorriso que me fez gritar por dentro, era como se o problema estivesse se resolvendo aos poucos. Um nó sendo desenrolado.
Num ato bastante rápido, ele pegou os cardápios e começou a olhar, e foi estranho, era como se ele estivesse prendendo-se, segurando seus impulsos, olhei-o de esguelha mas nada o-disse, faço o mesmo e tento manter minha atenção na lista de pratos, a maior parte deles está escrito em outras línguas no entanto, antes que eu pudesse escolher, ouvi a voz grave do Adrian dizendo algo para o garçom que chegou e eu mal havia percebido.
Após fazer seu pedido, ele perguntou o que eu iria escolher no entanto eu não sabia, felizmente, ele percebeu a situação e pediu que o garçom trouxesse o mesmo para mim.

– Tenho certeza que você vai gostar. – garantiu ele, talvez para me confortar. Adrian era tão estranho, temperamental até, e quem sofre com suas mudanças repentinas sou eu, o idiota apaixonado. Não ficaria surpreso se do nada, Adrian usasse seu poder para quebrar o vidro e todos cairmos.
Exceto ele obviamente.

Foram-se alguns minutos até que finalmente trouxeram os pratos, nesse meio tempo ele perguntou algumas coisas sobre minha vida em Rostawn, eu disse o necessário, nada que ele já não saiba, afinal, Alexander deve ter dito algo sobre meu pai.

– Bón apettit – brincou sorrindo, tentei não rir mas foi impossível, não consigo ficar sério por muito tempo quando ele faz essas coisas... gentis, e sei que devo aprender a controlar meus sentimentos, ou senão irei cair em outras armadilhas... como esta.

Levo uma garfada á minha boca e saboreio o que é que seja, não sei o nome, mas senti um leve ardor, portanto deve ter algum tempero picante, após um tempo foi aliviando e logo apenas sentia o sabor delicioso e levemente salgado, foi então que uma leve lembrança me veio, quando eu era pequeno e minha mãe fazia uma massa e dentro havia um recheio, era... tacos. Uma comida mexicana, no entanto essa não tem literalmente nada a ver com tacos. Sinto-me idiota.

– Aceita vinho, senhor? – outro garçom ofereceu, Adrian assentiu e logo a garrafa foi aperta, fito-o em silêncio, talvez ele não saiba, mas não bebo.

O líquido escuro caiu em direção á taça de vidro enquanto pequenas espumas formavam-se no alto, então ele me olhou, seus olhos verdes viam algo que eu não sabia, o que será que ele pensa?

– Eu iria te oferecer – diz com sua voz grave e um pouco rouca, talvez tenha seja início de um resfriado, ele deveria tomar um... preciso parar de me preocupar com pessoas que não merecem. – Mas sei que você não bebe e não vou obrigá-lo.

Suas palavras são como uma onda de emoções que me fizeram estremecer, e eu não sabia como reagir a isto, á ele.
Eu tenho por mim que tudo não passa de uma atuação, como uma miragem em meio ao deserto. Não se pode confiar em ninguém, e o Sr. D não é uma exceção.

Ele beberica e antes que eu diga algo, o garçom põe uma taça de sorvete em minha frente, franzi o cenho sem entender o porque ele havia pedido isso, eu não sou uma criança.

– Olha – suspiro vendo a cobertura de chocolate, deve estar muito gostoso... mas não vou sequer experimentar. – Eu não sou uma criança...

– Eu sei que não. – um leve sorriso misturado com safadeza toma seu rosto e eu sinto minhas bochechas queimarem
– E logo o meu irá chegar, é apenas a sobremesa.
Quer dizer, não exatamente.

Abaixo meu rosto para a taça e então ataco-a, os flocos de gelo que derretem em minha boca é uma sensação tão boa e o gosto adocicado é melhor ainda...

– Adrian Darkness? – A voz do homem tira minha atenção, logo minha consciência diz "Como que um garoto de vinte anos poderia estar comendo sorvete feito uma criança?". Quando ele passa seu polegar na lateral da minha boca certamente limpando vestígios de chocolate, fico constrangido com a situação. Sem querer, guiado pelos meus sensores de perfume, encarei o rosto do homem, ele usava um terno azul-marinho bem luxuoso, e mesmo assim eu já conseguia imaginar o corpo abaixo do tecido, braços musculosos e abdômen definido, como o Adrian, no entanto ele era um pouco mais forte e sorriu para mim - diferente do Adrian na minha chegada -, seus cabelos negros combinam bem com seus olhos e fico pasmo com a similaridade entre os dois, é como se ele fosse uma versão mais velha do Adrian, com olhos escuros ao invés de claros... – Que bom te encontrar aqui.

Vejo uma expressão irritada crescer no rosto do Sr. D, como se estivesse com... ciúmes? Mas de que? De quem? Não é de mim. Tenho certeza.

– Oi? – perguntou o homem para mim, mas eu estava tão distraído com o resmungão Adrian que nem percebi.

– Quem? Eu? – tento ficar o mais atento possível. Mas aqueles dois homens atraentes tiravam minha atenção. – Oi. – retribuo com um sorriso sem graça, típico de Will Storment.

– Você é William não é? – perguntou curioso, olho para Adrian que se mantém calado.

– Não. É a rainha da Inglaterra. – respondeu o Sr. D ríspido e irônico, como era comigo. – O que deseja camponês?

O homem olha-o de soslaio mas nada diz, talvez já esteja acostumado com as grosserias do Adrian.

– Se me permite, umas palavras com a rainha – senti minhas pupilas aumentarem, prestes á saltar dos meus olhos, eu não sabia o motivo mas parece que tudo gira em torno de mim... É tão clichê.
O homem sorriu para mim e completou
– Queria te apresentar á algumas pessoas.

Não sei o que fazer, vou ou não? Adrian parece incomodado com a presença dele; E mais uma vez, Will Storment se mete em confusão.

– Eu te espero aqui ok? – avisou Adrian para minha surpresa, assenti com a cabeça.

– Não se preocupe – soltou o homem – Não irei tomar sua rainha. – por um momento ouvi um sussurro de algo como "Não ainda", era como se eu fosse uma peça de um jogo, uma partida de xadrez onde eu era manipulado.

Descemos a escada de vidro e fui guiado pelo homem, e eu não sabia como reagir ou dizer, eu estava perdido.

– Meu nome é Daniel. Daniel Grayson – apresentou-se, tento descobrir para onde ele está me levando mas não faço idéia de onde seja.

– Você conhece o Adrian? – pergunto sem noção alguma, não tenho motivos para isso.

– Desde pequeno. – riu ele como se lembrasse da infância – Somos primos.

Um Darkness suponho, já percebo que ele não é igual ao Adrian, arrogante e frio, ele é simpático. Daniel Grayson não deveria fazer parte dessa família. Ele é... diferente. Não alegre em excesso como Thomas, mas, normal.
Um Darkness nunca mostra seus reais sentimentos.

– Eu queria te apresentar á minha tia, Selene Gillfyrtten. – de longe, pude ver a mulher, ela estava de costas e conversava com um homem, ela usava um vestido formal preto, ela me lembrava muito á Melissa, mas seus olhos eram... azuis, idênticos aos do Adrian – Quando te vi entrar com meu primo, não pude deixar de cumprimentar-los.

– Ela se parece muito com a filha – comento ainda desconfortável, era como se eu estivesse sendo apresentado como um familiar sendo que na verdade, eu era um intruso.

– Apenas a aparência... – respondeu Daniel, e pelo seu olhar percebi que algo estava a minha espera e não era tão gentil quanto.

Fui recebido pela mulher que ao me ver, levantou-se, sua aparência era jovial e, se eu já não soubesse, poderia confundi-la como a irmã de Melissa.
Ao seu lado, uma garota de vestido dourado estava sentada, entretida com seu celular, suponho que tenha uns quatorze anos, sua pele era escura e seus cabelos eram longos com cachos volumosos, ao me ver apenas revirou os olhos e continuou com seu entretenimento virtual.

– Sr. Storment – Saudou-me a mulher e quando pôs sua mão em meu ombro, um calafrio percorreu pelo meu corpo, acho que é o efeito da maldição. – Soubemos que está residente na mansão do meu amado sobrinho...

Ouvi uma tosse falsa ser entoada pelo homem atrás de mim.

– Nós apenas queremos saber como está sendo sua estadia – completou ela deixando de lado o incômodo pela interrupção de Daniel – Afinal, seu pai foi um bom homem...

– Continua sendo – disse á mim mesmo, meu pai ainda está vivo e sempre estará.

– Desculpe? – Foi então que dei-me conta que estava sendo um pouco rude, não poderia ter corrigido

– Ele quer dizer que está muito bem. – Fui salvo por Daniel, seu rosto ameaçava se partir pois tal segurava suas risadas. mordo meus lábios que já estão secos, culpa do nervosismo. – E que foi bem recebido.

Assenti com a cabeça, mesmo que isso seja um grande e bela mentira.

– Poderia sentar-se conosco. – Eu realmente estava desconfortável, aquela mulher era como sua filha, e eu não sabia como dizer não sem ser taxado como rude ou mal educado... – E antes que eu me esqueça, deixe-me apresentar minha filha caçula, Jasmine.

– Olá Jasmine – cumprimento-a, a garota olhou de relance e logo após sorriu.

– Olá Will, gostando do inferno? – respondeu, engulo em seco abismado, como ela sabia meu apelido sem sequer me conhecer? E como ela sabe o que eu acho da mansão? Será que eles falam de mim?

Olho para Selene que apenas esboça um sorriso desconcertante e continua com suas gentilezas.

– Venha querido, sente-se. – Era agora ou nunca, respiro fundo xingando a mim mesmo por fazer isso.

– Desculpe-me senhorita. – tento ser o mais doce possível – Mas eu vim acompanhado, agradeço pelo convite, talvez algum outro dia?

Vejo que ela e Daniel se entreolham, não sei o que pensam e temo por isso. Estou sendo mais cuidadoso, principalmente tratando-se dos Darkness.

– Sim, você está com meu sobrinho, Adrian – Ela disse um pouco ríspida, como se não gostasse do Adrian; desconfio. – Pois então, é um prazer te conhecer Sr. Storment.

– O prazer é todo meu. – respondo-a com total educação. Sinto que, á cada passo que eu dou, vou adentrando na escuridão, sozinho e perdido nela, sem uma luz para guiar-me. Mas com o tempo, estou acostumando-me com ela, conhecendo-a para aprender o caminho que devo seguir para sair.

– Selene, eu irei acompanhar o Sr. Storment de volta á mesa. – avisou Daniel antes de seguir-me, quando de repente fui puxado, não, arrastado até a lateral do restaurante. Irritado, puxo minha mão bruscamente para que ele solte, e então percebo que meu pulso está um avermelhado, olho para o homem, abismado e assustado pelo seu ato estranho. Essa família é de loucos, tenho certeza absoluta.

– Desculpe, eu não pensei que tinha apertado... – ele hesita em tocar no local mas afasto-o. Não quero-o perto, nem Adrian, nem Thomas, não quero continuar em Westford! Não quero! – Will...

– Você não me conhece, e não adianta, eu já aprendi minha lição uma vez... – Lembro-me da minha chegada onde fui tocado sendo que ninguém estivesse próximo de mim. Tenho certeza que Daniel sabe, afinal, ele é um deles.
– Agora me deixe ir. Sozinho.

Suas mãos puxam-me para perto, meu rosto está contra seu peitoral e sou obrigado a empurrá-lo, não quero mais problemas em minha vida.

– Will... – disse ele sério e sombrio como o próprio Adrian – Eu te conheço, você não se lembra? Eu só quero te proteger...

Tento recordar mas não faz diferença alguma, nunca o-vi em toda minha vida.

– Sai de perto de mim! – resmungo irritado, afasto-me dele e subo as escadas de vidro para voltar do lugar onde não deveria ter saído. Olho ao redor e procuro pelo Adrian mas não há vestígios, não faço idéia de onde esteja. Pergunto á um garçom se ele o-viu e xingo ao saber que Adrian tinha saído.

– William?! – ouço a voz do Daniel que vem em minha direção, não faço questão e desço as escadas novamente, causando um suspiro de frustação á ele. – Will espere...

Saio do restaurante e olho ao redor, o carro ainda está ali ou seja, Adrian deve estar próximo, foi então que vi a silhueta de um homem ao longe, ele adentrava a floresta que ficava logo ao lado do restaurante e pelo seu terno, eu tinha quase certeza que era o Adrian. Respiro fundo e corro ao ouvir a voz de Daniel, não o-quero perto, e não consigo pensar, sigo a silhueta, meus passos vão ficando lentos cada vez mais que a floresta fica mais densa, o ar gélido dificulta minha respiração e a escuridão noturna não ajuda em nada, mas continuo, é como se eu estivesse em busca de respostas e essa fosse minha última chance. As folhas no chão são amassadas pelos meus passos e fazem barulhos, meu peito cresce e diminui na tentativa de prosseguir e estou ofegante, meus olhos focam apenas na silhueta.

– Sr. D? – grito ao ver a silhueta parar em meio às árvores, fico confuso por esse suspense idiota que o Adrian faz, é tão desnecessário e ridículo... Olhos quase que prateados resplandecem em meio á escuridão, dou um passo para trás, meu corpo estremece, o frio e o medo tomam conta de mim. Ouso dar mais um passo atrás quando num salto, a silhueta se transforma em algo como um animal, e em seguida rangindo feito um... Lobo. Eu não sei o que fazer, meu coração está disparado e desta vez, não é por paixão. É por medo. – Adrian?

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Olá gente, gostaram do capítulo novo? Espero que sim pois foi um presente de aniversário, sim, hoje no dia 23 é meu niver e quis presentear vocês com o que vocês me pedem kkkk teorias estão batendo com os acontecimentos? E esse final, o que é aquilo? E qual o motivo de Daniel ficar fazendo aquilo com Will? E pq Adrian está... legal? Em breve mais capítulos pra vocês ok? Não esqueçam do voto e comentário, e meus parabéns por ter lido 5K de palavras. Beijos de luz e até mais.

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