7. Consequências da maldade

Você tem duas opções, errar ou acertar, e como a maioria das escolhas da vida, não é possível ter as duas. Estava anoitecendo e um leve chuva havia caído pela manhã, ainda assim, o cheiro da terra molhada se estendia por toda a casa. Desço as escadas de madeira, observo cada detalhe na tentativa de gravar uma imagem em minha cabeça apenas para nunca esquecer o lugar de onde nasci, cresci e agora irei deixar. Meu pai estava sentado no sofá, ao seu lado, meu irmão Pietro assistia á um programa, ele realmente não parece em nada comigo, tanto que, quando dizíamos, ninguém acreditava. Seus olhos escuros são idênticos aos do meu pai, a pele é naturalmente bronzeada, e ele é muito mais alto que eu. Quando chego á sala de estar, lá estão eles, minha mãe deveria estar na cozinha pois o cheiro que vem de lá está ótimo. Respiro fundo colocando aquele aroma de brigadeiro na minha caixinha de lembranças.

– Pronto para a viagem? – perguntou meu pai tirando a atenção da TV e direcionando a mim – Meu filho irá morar na mansão Darkness.

Ele sorriu orgulhoso, talvez não pelo fato de eu, Will Storment está indo para um lugar cheio de esnobes, mas sim, por eu ser seu filho e apesar de não falar, sei que ele vê essa viagem como uma chance de que eu consiga um bom emprego e tenha um bom futuro. Mesmo que seja verdade, isto não me agrada em nada. Deixo a mala apoiada ao lado do sofá e sinto-me junto a eles, suspiro antes de começar.

– O senhor não vê o poço valioso que tem ao seu lado? – Meu pai divide os olhares entre eu e a TV que aliás passava um jogo da semana passada. Ou será essa? Não entendo de esportes mesmo. – Pietro bem que poderia ir no meu lugar e ser um grande advogado, médico...

– Eu sou construtor Will – adentrou Pietro na conversa, sem sequer olhar para mim ou meu pai – Se eu quisesse ser outra coisa eu teria sido. Mas não quis.

– Então você é construtor mas poderia ser gay? – brinco com as palavras. Aonde é que alguém vai ser o próprio trabalho?

– Você entendeu idiota – Ele riu de lado, observando bem, ambos, meu pai e Pietro se parecem muito. – E aliás, eu já tenho minha namorada.

Elly é uma garota descendente de japoneses, começou a namorar Pietro quando ele ainda estudava e apesar das brigas rotineiras, continuam juntos. Ele já pediu ela em casamento mas tal não aceitou. Não a-julgo; também não teria tanta confiança em meu irmão, as outras garotas de Rostawn vivem babando por ele.
Não falo muito com Elly por falta de tempo, ela trabalha numa agência de modelos e muitas vezes não consegue tempo nem para se alimentar. Ela recebe broncas não só de sua mãe, como também da quase sogra.

– Quem quer brigadeiros? – a voz maternal cantarolou entrando com uma bandeja de pequenas bolas de chocolate cobertas de granulado, após ela pôr a bandeja na mesa de centro, dei espaço para que ela sentasse. – obrigada querido.

Eu tinha um grande semelhança com minha mãe. Olhos cinzentos eram a marca de sua família, meus cabelos castanhos também. Mal pensava quanta falta sentiria daquele conforto familiar, era tão bom sair de casa e fazer uma caminhada á noite, ir a praia, sim, e para minha sorte é que ela dificilmente era visitada, as pessoas certamente não dão valor ao que tem, apenas quando o-perdem. Eu sentava-me no alto rochedo que ficava metros acima do mar, podia ver a lua cheia, sentir o vento bater em meu rosto e não sentir-me incomodado ou angustiado, eu sentir-me feliz, feliz por que, apesar de minha vida não ser completa de luxúrias, eu tinha a mim, minha família, e percebi que não havia lugar melhor que ali. Ouço um choramingo baixo, volto ao momento, do meu lado, minha mãe está cabisbaixa, nada diz mas compreendo, pisco os olhos algumas vezes, tento não chorar.

– Sentirei saudades – resmunga ela, engulo em seco e então percebo que lágrimas já descem – Você sabe que eu te amo, meu filho, sempre.

Ouço um pigarreio, deve ser meu pai ou meu outro irmão, eles ainda acham que não se pode chorar por tudo e lutam contra, é meio cômico ver seus rostos formando caretas segurando as lágrimas.

– Eu também te amo, mamãe – nem percebo que falei "mamãe", desde meus quatro anos eu parei de chamá-la assim. Ela ri – sempre.

O celular vibra em meu bolso, avisando que já devo estar atrasado para o voo, respiro fundo e solto o ar abafado

– Eu... – engulo em seco mais uma vez – preciso ir, para o aeroporto.

Meu pai balança a cabeça em compreensão, levantando-se e pegando as chaves de seu carro que, não é da última geração mas já tem o meu carinho. O terno fica bem em meu corpo, minha mãe falara que eu deveria aparentar uma pessoa direita ao chegar lá, terna e educada, como se eu não fosse educado. Saímos de casa e então chega o real momento da despedida, primeiro, sou envolvido pelos braços de minha mãe, sinto aconchego, lembro-me de minha infância e sou trazido aos momentos mais felizes da minha vida, também os ruins como quando fiquei de castigo por ter comido biscoitos sem sua permissão, eram tantas memórias que eu trazia comigo, não quero esquecê-las. Após ela me soltar, meu irmão aproxima-se com seu jeito de "machão", seu sorriso sem graça chega á ser engraçado, e antes que percebesse, seus braços musculosos espremeram meus braços ao tronco

– Não vai se empolgar com macho não – aconselha rindo, por um momento eu acho que ele está chorando. Assenti com a cabeça e quando ele se afastou, o-vi limpando os olhos, antes que eu dissesse algo ele respondeu – Odeio essa merda de poeira, um cisco entrou no meu olho.

Reviro os olhos com sua mentira mal contada, e então sinto uma mão tocar meu ombro

– Temos que ir – disse meu pai, seus olhos lacrimejam mas nenhuma lágrima ousa cair assenti com a cabeça e fui levado ao meu destino.

***

– Eu posso te fazer uma pergunta – ouço a voz do garoto loiro, seu sorriso esconde grande curiosidade. Aceno com a cabeça dando permissão – Aquele homem que chegou na cafeteria, ele não é o dono da mansão em que você mora?

– Sim – respondo, olho para o céu, apesar de ainda estar claro é provável que esteja próximo da hora do almoço, o que mais posso fazer para evitar falar ou pensar naquele maldito homem? – é sim.

– Então por que não falou com ele? – sua pergunta foi mais certeira quanto uma flecha, penso no que responder, não posso dizer que ele é um bipolar, masoquista e não sei mais o que. – Não que você seja obrigado...

– Por nada – digo abruptamente, ele pausa boquiaberto, percebo que soei rude e minto – Apenas não quis incomodar.

Depois daquele momento, continuamos a conversar sobre o que pensávamos, queríamos para o futuro, nosso passado, e a conversa fluía naturalmente, afinal, estou conversando com Thomas, o garoto que me chamou para sair com um curativo em sua testa. Ali estou eu, sozinho novamente, em frente ao portão do que alguns poderiam chamar de inferno, outros não, acho que talvez, há pessoas que dariam tudo para passar uns dias na moradia do bilionário, ele é sexy, é bonito, rico, tudo que agrada em uma mulher, exceto sua ignorância. Ponho meu primeiro pé adentro e já estremeço, olho para cima e vejo os galhos que inclinam-se formando um arco, sou coberto por quase todo o caminho de volta. Em frente á mansão está a fonte seca, penso qual o motivo de ter uma fonte e não usá-la corretamente.
Esgueiro-me pelo ornamento e subo os degraus, respiro fundo e suspiro.

Apenas um toque na campainha foi preciso para que um de seus criados abrisse a porta, sempre séria como todos os que trabalham aqui, o homem de pele escura e olhos castanhos fita-me dos pés a cabeça. Sem uma palavra, entro desconcertado, há algo de estranho, não sei explicar, quando viro-me para trás novamente é que vejo uma pequena marca no pescoço do garoto, batom, não preciso nem adivinhar com que ele estava antes. De repente sou encarado por olhos desconfiados, esboço um sorriso sem graça sem saber o que fazer

– Deseja alguma coisa, senhor? – nego com a cabeça, ele assentiu com a cabeça e seguiu para algum outro cômodo da mansão, sento-me no estofado do sofá e fecho os olhos, confesso que estou um pouco cansado, em apenas uma manhã é possível acontecer coisas assim? Depois dos dois primeiros dias não duvido mais de nada.
Passos ecoam da escadaria, o estalo do salto agulha em contato com o chão é estridente, minhas duas hipóteses são que, ou seja Melissa, ou a Srt. D2.

– Bom dia Sr. Storment – a voz formal da garota faz-me entreabrir os olhos, ela usa uma roupa simples, mas ainda assim continua belíssima, a calça preta combina bem com sua branca, suas mechas castanhas estão soltas e caem sobre seus ombros dando um certo alívio em seu traje formal. – como foi seu café da manhã com seu, "talvez novo namorado"?

O que? Como ela sabia disso? Ela sequer estava no momento exato, Anna havia dito que ela também tem poderes, será que ela lê os pensamentos alheios? Olho em seus olhos á procura de algo, algo que possa explicar como sabe disso...

– Foi bem... – até certo ponto foi mesmo, mas confesso que tudo foi por água abaixo quando Sr. D chegou – mas por que "Talvez novo namorado"?

Seus lábios vermelhos formaram um pequeno sorriso, alguns passos elegantes e ela chegou á poltrona, e com grande delicadeza sentou-se sobre o estofado e pousou suas mãos em seu colo, ela realmente é muito elegante, como uma princesa.

– Isabelle perguntou aonde você estava, aliás, ela disse que quer conversar com você – assenti com a cabeça e foquei nas palavras que saíam de sua boca – continuando, Adrian disse que você tinha ido encontrar seu "Talvez novo namorado"... – ela pausou, respirou fundo e continuou – e, não sei se devo contar...

Ela ficou cabisbaixa, mas o que ela tinha de me contar poderia ser tão perigoso? Pressiono os lábios na tentativa de umedecê-los

– Eu prometo que não conto á ninguém – digo abruptamente, preciso saber o que houve.

– Promete? – aceno com a cabeça, sei que não podemos prometer o que iremos cumprir, mas as circunstâncias não permitem passos em falso. Num gesto, ela joga suas madeixas onduladas para as costas e completa – Adrian é um bom homem, mas confesso que não é perfeito e... logo após dizer isso, resmungou palavras um tanto, ofensivas.

– Pode me dar um exemplo? – meu coração acelera numa mistura de ódio e decepção, o que não entendo pois, como eu posso sentir tais coisas por alguém que me faz tão mau?

– Ele falou coisas do tipo "Não quero dois viadinhos em minha casa", "Já não basta um e agora me vem dois" – ela suspira demonstrando o quanto também se sente incomodada com a situação – Eu só, quero que perdoe a ignorância do meu namorado. Você o-perdoa Will?

Perdoar. O que é perdão? Não acho que posso perdoar alguém que erra tantas vezes, alguém que adora ver o sofrimento das outras pessoas, a dor, aflição alheia, isto não é ser alguém, é ser um monstro.

– Sim... – Não, eu não o-perdoo, ele fez tantas coisas ruins a mim que ela nem mesmo deve saber, e se soubesse, mataria-me. – Ele está perdoado.

Um silêncio se formou ao nosso redor, eu olhava para o nada, sem direção, pensava no que eu faria para afasta-lo, não posso viver com ele impedindo minha felicidade. Simplesmente não posso.

Nunca vi algo tão estranho acontecer, senti uma imensa pressão sobre meu pulso, como se algo o apertasse com pura fúria, eu tentava mover meu braço mas a força invisível impedia e então lembrei-me, meus olhos vão em direção às órbitas da garota, ela observa a tela brilhante de seu celular como se nada estivesse acontecendo, volto a olhar para meu braço que agora está avermelhado... Estou prestes a gritar.

– Will, você está bem? – pergunta a morena, seu cinismo é tão irritante que sinto meus dentes pressionados, a dor aumenta mais e mais.

Presenciei o momento mais confuso e assustador da minha vida. Numa diferença de minutos, Adrian abriu a porta da mansão e entrou segurando sua maleta de trabalho, seus olhos verdes correram pelo cômodo e pousaram em mim, logo após, sua irmã aparece acompanhada do seu segurança, ela está com a expressão séria como a do seu irmão, talvez estressada. Minha mente gira em grande confusão, olho para Isabelle, depois para Melissa e então Adrian, três pessoas com poderes, um machucado em meu braço. Se não posso confiar em ninguém, irei entrar em loucura.
Sem palavras, Adrian subiu as escadas, Melissa deixou seu segurança de lado e juntou-se a nós no sofá; e eu não sabia o que fazer, aceitava a amizade de Isabelle? O que Melissa queria sendo tão legal comigo? E Adrian? Anna? Thomas?
Eu estou prestes a surtar.

– Bom dia Will – cumprimentou a garota com um sorriso gentil, penso se ela realmente está sendo gentil, não posso confiar em ninguém.

– Bom dia Isabelle – digo um pouco hesitante, não sei sequer como me comportar ao seu lado, ela parece ser tão legal e simpática, não posso acreditar que a irmã do Sr. D seja assim.
É impossível.

– Eu queria conversar algo com você depois – resmungou ela, parece não querer ser ouvida. Uma tosse fingida tira minha atenção e encontro uma morena de braços cruzados, talvez com ciúmes da amiga?

– Você pode ser mais discreta querida Isabelle? – perguntou irônica, antes que Izzy pudesse se defender, Melissa completou – E cuidado, você pode ser enganada por si própria, afinal, a falsidade é algo tão perigoso...

Um suspiro final fez Isabelle se encolher no estofado, envergonhada, olho para a garota que sobe as escadarias com elegância e ternura. Tenho quase certeza que ela irá reconfortar seu querido namorado... pare Will.

– Então Izzy – começo, do modo que Melissa saiu frustrada e aquela resposta afiada, duvido que tal saiba o que dizer – O que você quer falar comigo?

Ainda desconcertada, ela abriu um sorriso forçado e respirou fundo, assim aliviando a tensão em seus ombros

– Carter – apenas esse nome foi necessário para que eu lembrasse o garoto que me olhou desconfiado quando cheguei – Nós tivemos uma discussão. Assim, ele quer se apresentar para o meu irmão como meu namorado, e eu não quis, agora ele acha que tenho vergonha dele...

– Porque você teria vergonha dele? – franzi o cenho, realmente não entendia, ela ajeitou as mechas de seu cabelo um pouco pensativa.

– Por nada, talvez seja mais um psicose dele e seu complexo de inferioridade – Agora entendi, mesmo que ninguém o veja desse modo, inferior, ele se sente assim, é até complexo. Não se trata de você ser tratado como inferior, mas se sentir... entendo bem o que ele sente, diferente.

– Mas você explicou á ele a verdade? – Será que o Adrian, além de arrogante, é racista? Isto só faria com que eu tivesse completo nojo por ele – Seu irmão é racista?

A pergunta escapou, não contive minha curiosidade, estou atrás de mais respostas sobre alguém que não queria conhecer.

– É óbvio que não – bufou assustada ou surpresa por minha pergunta – Adrian é idiota mas não repugnante.

Talvez não racista, mas homofóbico sim.

– E sim, eu falei a verdade pra ele  – completou a garota mexendo no pequeno anjo de cristal pendido em seu pescoço, era um belo pingente – Mas ele não me deu ouvidos, e ainda foi ignorante comigo.

– Quem foi ignorante com você? – Estremeço, a voz grave e sensual ainda ocasiona um estranho efeito em mim, como se uma onde de energia corresse pelas minhas veias, preciso parar de sentir isso.

Fito os olhos confusos da garota, ela fica boquiaberta por alguns segundos enquanto pensa numa boa e considerável resposta.
Se tiver sorte, ele irá acreditar.

– O atendente da loja, muito irritante ele – mentiu a garota revirando seus olhos – Não queria pegar o número de sapato que eu queria...

– Quem está trabalhando é ele, você não tem o direito de se intrometer – respondeu o homem que eu, William Storment conheci, o que foi um grande idiota comigo na minha chegada.
Vi ela se encolher novamente e engolir em seco, mas porque não o-respondeu?

– Pronto amor, podemos almoçar? – Ali estava ela, a princesa querida, Melissa, ao lado de seu namorado, sua mão desliza pela gola de sua camisa e acaricia seu peitoral. Confesso que senti uma pontada, mas com o tempo, irei me acostumar. Acho cômico que seu nome já condiz com a personalidade dada pelas fanfics que já li, ela é um clichê ambulante.

Seguimos para a mesa e sentamos, logo pensei que iria me encontrar novamente com a irmã gêmea de Anna, no entanto sequer vi seu rosto. Os pratos foram servidos, não sentia muita fome então comi apenas um pouco, apesar do grelhado estar delicioso, detive-me com o necessário. Certo, eu estava ansioso pela sobremesa.

– Adrian, eu estava pensando se nós podíamos sair hoje á noite – comentou Izzy, ela já tinha posto seu prato de lado e fazia o mesmo que eu. Somos viciados em doce. – tipo, conheço uma boate ótima, a Light house...

– Estarei muito ocupado – cortou a frase de sua irmã, ela suspirou entediada com a arrogância do seu irmão. Não vou mentir que desejei ir visitar minha amiga no seu trabalho, sempre penso em vê-la mas nunca vou. – Só vou chegar mais tarde.

– Então nós iremos – falou a garota autoritária, seu sorriso triunfante era o sinal que havia cortado a vibe de seu irmão, deixo escapar um sorriso fraco – Eu, Melissa e Will.

Melissa tentou recusar mas foi impedida, acho que Izzy quer se desculpar por hoje cedo, não tenho certeza.

A maior parte da minha tarde foi chata, assistir TV, comer lanches, ler um pouco e relaxar, não há nada legal para fazer aqui, não até agora... Eu tive uma sorte imensa de me encontrar com Luce, a irmã gêmea de Anna, tal estava aspirando pó num dos corredores, após desliga-lo, encarou-me com sua já conhecida expressão "O que você quer agora?"

– O que você quer agora? – Seu uniforme lhes caía bem, apesar de ser muito parecida com Anastácia, Lucinda é mais jovial, não há uma cicatriz sequer em seu rosto, apenas a linha reta de seus lábios que me entristece, porque deve ter acontecido para ser tão mal-humorada? Além do caso com Adrian...

– Você pode avisar a Anna que preciso falar com ela pessoalmente? – sou o mais gentil que posso, mas é bem difícil quando há alguém desinteressado bem na sua frente

– Aonde e que horas? – sua voz expressa como ela está entediada, como duas pessoas iguais podem ser tão diferentes?

– Meu quarto, às sete – ela finge anotar mentalmente e balançou a cabeça – Obrigado.

Sou retribuído com o estalar de sua língua e devo ter ouvido um "Não por mim", sigo meu caminho de volta para meu santuário.

Horas vão, horas vem, até que finalmente sou chamado pela batida na porta, já anoiteceu e imagino que a neve esteja chegando novamente

– Boa noite Sr. Storment – a ruiva se curvou em cumprimento, ri de sua formalidade – O que deseja?

Entrelaço meus dedos, penso em desistir, esquecer, deixar de lado, mas ficarei atormentado pela ideia. Não há melhor momento do que agora.

– Quero que você me mostre o livro. – digo firme e direto. Ela engole em seco, espantada talvez – O que conta a história do Adrian.

Passos acelerados, nossas sombras nas paredes são nosso rastro, esgueiramos pelos corredores da mansão em busca do que eu quero, e eu sei que é perigoso fazer algo assim, mas é a chance que tenho e irei utilizá-la. Às vezes nos encontrávamos com algum criado, nada tão ameaçador, Melissa saiu para salão e Izzy foi visitar uma de suas amigas, sem dizer que Adrian vai chegar tarde do trabalho. Não há como dar errado. Paramos em frente há uma alta porta, a maçaneta prateada parecia estar fechada mas foi aberta por Anna. Olho para ela desconfiado.

– Peguei às escondidas – respondeu rápida enquanto enfiava a chave para destrancar a porta – Não conte para ninguém.

Poderia rir disto, mas não o-fiz, estava preocupado demais em conseguir as respostas que certamente estarão naquele livro. Num breve rangido, a porta foi escancarada e a visão deixou-me boquiaberto, várias prateleiras cheias de livros, tantos que eu mal imaginava quantos, respiro fundo e sinto o cheiro das páginas, adoraria ler um por um.

– O livro está escondido, sétimo livro da sétima fileira da sétima prateleira, não há erro – avisou ela preocupada, se alguém nos visse, eu iria ser expulso e ela torturada, bom para mim e péssimo para ela. – Eles meio que tem uma obsessão pelo número sete, bem idiota.

Caminho o mais rápido que posso e deslizo meus dedos pelas lombadas

– Eu vou trancar a porta, não estarei muito longe – sua voz está temerosa, amedrontada, sinto pena por ela ser obrigada a morar na casa do seu pior inimigo. – terminar, mande uma mensagem.
Balanço a cabeça em concordância e apenas ouço a porta ranger e então, o som das chaves trancando-me dentro da biblioteca Darkness. Sigo as instruções, não tenho muito tempo para prestar atenção na decoração, sei que há algumas janelas e há também uma escrivaninha. Depois de minutos, encontro o esperado livro, a capa é como as de antigamente, couro tingido de preto, folhas amareladas, deve ser muito velho mesmo. Abro na primeira página e encontro uma pena negra, deve ser a de um corvo, isso me lembra o brasão da família, a pintura de um corvo no quarto do Adrian, leio os primeiros versos...

"Este livro não conta a minha bênção, mas minha maldição, talvez isto ajude as futuras gerações de minha de descendência. Meu nome é Julian Darkness, o primeiro da família. A época de caça às bruxas no mundo estava em grande fama, homens bondosos e honrosos que queria a segurança de suas famílias foram em busca de tais malditas, elas não mereciam viver, deveria ir ao inferno e certamente queimar para o resto de suas vidas, cientes que o melhor modo de enviá-las direto para a perdição seria queimando-as vivas, fogueiras foram acesas para a ceifa, iríamos retirar o joio do trigo e construir nosso pequeno paraíso. Convidado por meus companheiros, embarquei numa navegação até uma velha cidade, em território europeu e eu sabia qual era minha missão, salvar minha família destas pragas. Lembro-me que numa noite após incendiar uma velha bruxa que havia usado sua magia obscura para reviver um homem, se ela poderia usar suas ervas medonhas para a vida, por que ela não usaria para a nossa morte?
Fui atraído por uma bela dama que encarou-me por toda a noite, seus belos olhos violetas tinham um brilho divino, e seus longos cabelos dourados eram de meus delírios, desejava-a e certamente a-teria. Naquela mesma noite, fui acertado no ombro por uma faca, ela tentava me matar e quando enfim percebi as chamas em seus olhos, lutei pela minha vida e com ajuda de alguns bravos homens, conseguimos prendê-la, amanhã ela daria seu último suspiro. Antes que ela fosse executada, deram-lhes o direito de dizer suas últimas palavras, tenho sido atormentado por elas após então, seus rangidos de fúria e ódio demoníaco era expressado e sei décor cada uma que saíra de sua imunda boca: "Pago com minha vida a grande maldição que em ti cairá, o bom em mal se tornará pois a alegria de ti fugirá, de geração á geração, nem eu e sequer a morte será suficiente para findar com sua tormenta."

Desde então, nunca mais senti alegria, não sentia prazer em nada e não poderia mais viver, lágrimas faltam para lamentar a destruição que aquela mulher causou-me, não só a mim quanto a minha família..."

Estou em pé, embasbacado com o que acabei de ler, realmente existe essa maldição, não sei sequer o que pensar; Ele traiu sua esposa que ficou á sua espera, matou várias mulheres acusadas de serem bruxas e quase foi morto por uma verdadeira... é tudo tão, sem noção... viro a página do livro

– O que faz aqui? – a voz faz meu corpo estremecer novamente e o livro cai das minhas mãos trêmulas, lentamente, olho para a entrada, a porta está novamente aberta e o homem de terno fita-me com seus olhos verdes em fúria, não sei o que fazer, respiro fundo e encaro-o. Coração disparado, seu cheiro corre e me faz delirar como sempre, engulo em seco...

- Apenas quero te conhecer.

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Olá pessoas, neste dia 7 de Dezembro eu venho dar meu presente de Natal e réveillon para vocês ou seja, um capítulo novo de Darkness que sei muito bem o quanto vocês queriam, foram 4000 palavras o que é meu máximo, comentem, votem e meus sinceros abraços e beijos, agora capítulo novo só em Janeiro mesmo, como diz no capitulo passado. Beijinhos de luz

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