21. O vidro estilhaçado
"Escolhas, a tênue linha entre o certo e errado. A emoção e a razão. O bem e o mal. A dor ou a paixão."
A frase estava grifada, pela caligrafia deve ter sido escrita pouco tempo, talvez por ele. Meus olhos correram pelas páginas recheadas de palavras, segredos sem indicação do que é verdadeiro ou falso, uma fonte de informações e armadilhas, tudo mantia-se igual, a divisão entre duas opções e apenas uma a escolha, assim como Adrian, eu também precisava fazer minha escolha. Sento-me na poltrona e deslizo o dedo sob as páginas, devorando cada linha e questionando as mesmas. Ao que se parece, Adrian e Isabelle são de mães diferentes, filha de uma amante que morreu exatamente após o seu nascimento, Elisabeth, mãe de Adrian, não teve outra escolha senão cuidar da pequena.
Seguindo as páginas, descobri também que Adrian e Daniel já tiveram um relacionamento escondido que não durou muito mais que apenas dois meses, infelizmente Daniel tinha trauma após a morte dos seus pais, que aliás foram mortos por Julian exatamente por isto, sua mãe desapareceu deixando o bebê com Jeremy que junto a seu namorado cuidou do garoto até quando seu pai descobriu, abalado pela morte do seu companheiro, Jeremy cometeu suicídio. Anos depois, Adrian também se envolveu com um garoto chamado Victor amenizou a dor da maldição com seu extraordinário amor, porém o mesmo foi diagnosticado com câncer e não resistiu. Haviam várias páginas contando coisas que me deixavam ao mesmo tempo que abalado, revoltado; Como por exemplo o fato dele ter passado tudo isto e nunca ter contado a ninguém, suas dores cobertas por uma fachada;
É difícil escolher.
De repente a porta do escritório se abriu e ali estava ela, usando uma calça jeans e blusa carmim, Isabelle correu os olhos pelo cômodo até encontrar os meus, seus cabelos negros caindo sob seu ombro direito e as órbitas azuis, agora entendo o motivo dela usar aquelas lentes. Num silêncio quase atormentador, o tilintar do seu salto em contato com o chão, ela se aproximou, sorrateira como uma cobra antes de atacar.
- Então Will... Está se divertindo? - Subitamente, sua expressão séria desapareceu e um largo sorriso cresceu, como anteriormente, porém agora podia ver algo psicopata nele. - Logo que toda a história da família está em suas mãos.
Olho para o diário agora fechado - eu realmente não lembro de tê-lo fechado. Respiro fundo enquanto a mesma se acomoda num outra poltrona. Desvio meu olhar para a estante mais próxima, observando cada volume porém continuo em silêncio, qualquer gesto ou palavra pode vir contra mim mais tarde.
- Você é adotada? - Por um momento vi surpresa em seu olhar, então a mesma deu de ombros e cruzou as pernas.
- Minha mãe morreu quando nasci, bruxa que ajudava meu pai nos seus "Negócios". - Certamente foram as tentativas e assassinatos tentando quebrar a maldição, os Fray me disseram que vários inocentes morreram nas mãos deles, sacrifícios inúteis e entre outras catástrofes em busca da resposta que só foi conquistada após a destruição de uma vila inteira, a partir daí souberam que um "Destinado" sendo morto iria quebrar a maldição, ao que se sabe a própria Jasmine confessou ao ser invocada. - Você sabe o que quer dizer?
- Acho que sim. - Menti, não deixarei ser manipulado mais uma vez. - Será que poderíamos ir a algum lugar hoje?
Ela abriu um sorriso e ergueu a sobrancelha.
- Dê um exemplo. - Umideci os lábios pensando num lugar.
- A boate em que íamos aquele dia... - Antes que eu dissesse mais alguma coisa ela me interrompeu.
- Quando você é Adrian nos deixaram pra transarem num hotel? Sendo que Melissa... - Tento não arregalar meus olhos, ele deve ter contado tudo o que aconteceu... Que vergonha - Parece que sempre estive certa sobre você, concorda?
Assenti com a cabeça em concordância.
- Uma pena eu não estar certo sobre você naquela época. - Retruco, pego o diário que estava na mesa e me retiro do cômodo.
Horas, minutos, segundos, o tempo passa mais rápido do que eu possa imaginar, dando uma olhada no diário, descobri que Alexander não morreu, quer dizer, ele cometeu suicídio, se enforcou na árvore mais próxima da mansão... As ilusões que eu tinha, então o Adrian nunca se inforcou e sim o seu pai, e Elisabeth após encontrá-lo daquele modo, perdeu tudo, consciência, noção, e esteve internada num hospício até encontrarem seu corpo caído ao lado de um balanço.
Pelo que Adrian conta nas linhas, ele meio que evitou falar desses assuntos por um longo tempo, se sente culpado por ambos e seu maior desejo era esquecer, por isso tanta ligação entre Izzy.
- Will? - A porta do quarto se abre e o rosto de Daniel aparece, seus olhos castanhos brilham ao me ver. - O que você está... Fazendo?
Olho para a folha e em seguida vejo sua expressão mudar, como se estivesse desconfortável.
- Por favor, não falaremos sobre isto. - Digo abruptamente antes que ele ouse comentar, Daniel apenas recua com as mãos abertas. - E eu não estou sendo arrogante, está bem?
Ele assentiu e em seguida se aproximou, tomou o livro das minhas mãos e folheou como se estivesse a procura de algo, alguns minutos depois a página parou exatamente onde falava um pouco sobre... Eu?
"Os olhos cinzas como o céu nublado antes de chover, como uma tempestade o coração se tornará neblina e no inverno frio como gelo, porém como as estações, o verão chegará destruindo a dura frieza e transformando-a em lágrimas, não há como fugir, ele, você, está preso ao destino. Destinado."
Aquele parágrafo me fez arrepiar, cada palavra ressoava em minha cabeça como os sinos de uma igreja, não tenho certeza mas acredito que isto tenha sido escrito para mim.
- Quem foi que... - Olhei de relance para Daniel, ele unideceu os lábios secos e respondeu:
- Celeste. Ela disse a Melissa num sonho. - Assim como Derek me conversara comigo... Será que foi Celeste se comunicou pois Melissa estava envolvida com meu primo distante?
De repente Daniel folheou novamente e parou exatamente numa foto de seu pai, Jeremy, acompanhado de um homem de órbitas cinzas igualmente as minhas, não consegui evitar e logo me veio uma lágrima a cair, a única. Não consigo chorar.
- Eu sinto muito. - Falo engolindo em seco, Daniel esboça um sorriso e balbuciou um "Obrigado". Puxo-o para mais perto e envolvi-o num abraço, sinto que ele guarda tantas coisas porém sente medo de jogá-las fora.
Olho pela janela e vejo o céu escurecendo aos poucos, o manto escuro cobrindo a luz do dia, as estrelas brilhando, a lua cheia prestes a entrar em seu auge, seria uma noite perfeita se eu não estivesse nessa mansão, meu cérebro parece estar prestes a explodir e por mais surpreendente que pareça isto não influencia minhas ações, cada passo é dado com bastante cuidado e um único suspiro me deixa vigilante, tudo parece estar normal por fora mas dentro de mim há uma montanha-russa de emoções. Eu não posso explicar.
Fecho os olhos por alguns segundos e tento manter foco, consigo sentir as chamas percorrendo minhas veias e minha pele formigar, minha respiração ainda mais leve até que eu entre em êxtase, logo a melódica canção ecoa como sussurros pelo meu inconsciente, no entanto ela me trás uma paz extraordinário, uma sensação de liberdade que dificilmente um ser humano conseguiria sentir, algo puro e sem egoísmo, malefícios, intenções. Seria tão bom se todos conseguissem sentir isto.
Rapidamente sou despertado pela voz fraca e feminina, abro meus olhos e encontro uma garota me observando, sua pele negra refletida pela luz da lua que entra pela janela, seus cabelos são como as ondas marítimas, Jasmine com certeza é uma obra prima, e confesso que não é uma novidade afinal, tem o sangue dos Darkness, mas vejo algo diferente nela, inocência? Humanidade?
- Olá Jasmine. - Ela não me respondeu, sentou-se a beira da cama com seu vestido de seda e sorriu, um singelo sorriso que me despertou certa curiosidade... Como seria ser uma adolescente com sangue Darkness?
- Eu quero te mostrar algo. Will. - Levando sua mão á minha, após tocá-la fui levado novamente ao inconsciente, mas desta vez não o meu e sim o dela. Vejo ela pequenina, usando um tutu rosa e sapatilhas de balé, ela sorri enquanto desliza pelo salão, porém de repente a mesma escorrega e sua perna sofre uma torção, ao aproximar vejo o osso deslocado e a mesma gritando por ajuda, uma corrente de lágrimas caem enquanto uma mulher chega e a-pega nos braços, foi então que vi seu rosto, Selene completamente preocupada. Num flash, o lugar muda e agora estamos num quarto adolescente, pôsters de artistas colocados na parede, inclusive de algumas garotas coreanas, então ela aparece, maior, sorridente usando fones de ouvido, ela pega a toalha que estava sob a cama e entra no banheiro, de repente ouço um grito angustiante, como se a mesma sofresse uma dor bastante intensa, não foi muito tempo e Daniel abriu a porta:
- Jas? O que aconteceu? - Ele não sabe exatamente o que fazer, afinal não iria entrar no banheiro com sua prima nua. Os gemidos abafados pela toalha são a resposta. - Você precisa de ajuda?
- Minha mãe. - Daniel sai e logo após volta com Selene que após olhar no banheiro o-expulsa do quarto... Com cuidado, ela ajuda Jas a se levantar e entrar no chuveiro, o sangue espalhado pelo banheiro, a garota chora enquanto as gotas d'água caem sobre seu corpo, o sangue que cai, as súplicas de Selene para que Jas se acalme porém a garota não entendia, a dor era o bastante para fazê-la perder os sentidos... A maldição Darkness, a dor era triplicada.
Abro meus olhos sem reação, observo as órbitas da garota que mantém seu sorriso gentil, não sei como me sentir á não ser angustiado.
- Jasmine... - Fico boquiaberto e tento me aproximar, no entanto a mesma se afasta. - Eu sinto... Muito.
Sua expressão sorridente não mudou.
- Não sinto, Will. - Então, com seus olhos direcionados para a janela, onde a lua ilumina, ela completa. - Você vai acabar com tudo isto. Obrigada.
Eu nunca me senti tão assustado, suas palavras pronunciadas com alegria se tornam sombrias o bastante para me fazer estremecer. Permaneço sentado até me recuperar e enfim, devo devolver o livro ao lugar de onde saio; Abro a porta do meu quarto e caminho pelos corredores indo em direção a biblioteca, mas antes dou uma olhada na sala para ter certeza que estão longe, de esguelha observo Izzy conversar com uma alta mulher, pele negra e fios prateados pela idade, a mesma segura entrega uma peneira dos sonhos para Jasmine, que agradece.
Volto às pressas e sigo para o meu destino, a biblioteca, está tarde e já são quase onze horas da noite.
Evito ser visto pelos criados e com sorte, consigo girar a maçaneta facilmente; A escuridão toma minha visão no entanto após me acostumar, consigo enxergar utilizando a luz da lua que invade o enorme cômodo.
Meus passos são contatos em sete a partir do carpete, olho para a sétima prateleira e em seguida o sétimo livro a partir da esquerda, com a escada, subo e retiro o livro, a capa velha e desgastada, as páginas amareladas pelo tempo e a letra um pouco fosca, com um pouco mais de esforço consigo enxergar "A guerra entre a luz e a escuridão" e um arabesco logo abaixo, trata-se de crônicas da cultura regional, onde o filho da escuridão se apaixona pela filha da luz porém ambos não podem ficar juntos por serem prejudiciais ao outro, assim como o sol não pode encontrar a lua... Mas apenas o eclipse permite que os apaixonados se unam.
Esboço um sorriso ao pensar que isto é tão melodramático e lembra muito Romeu e Julieta... Será que eu gostaria de viver um romance desse tipo?
Desço a escada e ponho o diário e o livro sob a escrivaninha, logo irei dar uma olhada neles mas antes preciso encontrar algo... O livro de Marina Naptelli, tenho certeza que está por aqui, eles trouxeram após massacrarem a antiga vila e torturá-la em busca do antídoto, a mesma não fazia idéia e foi morta cruelmente, enforcada.
Quando eu estava prestes a pegá-lo, de repente um grito angustiante ecoou por toda a casa, fazendo minha mão estremecer. Passos estrondosos, grasnar de corvos, gemidos altos de dor... Melissa. Meu celular vibra no bolso com a quantidade de mensagens que chegam, corro para a janela e vejo as luzes da ambulância entre os galhos das árvores, Melissa deve estar tendo as dores do parto. Antes que eu pudesse raciocinar, a porta da biblioteca abriu-se num estrondo e meus olhos arregalados encontraram as órbitas azuis e frias do Adrian, meu coração disparado ao ver seu corpo másculo parado, sinto medo. Seus olhos vão em direção ao livro que está em minha mão, mas antes que eu fizesse algo, rudemente o livro foi puxado por uma força invisível e as páginas se abriram ao tocar o chão, no título escrito: A ruína e ascensão.
Ainda sem ação, dou passos para trás enquanto Adrian se aproxima, seu corpo exala seu perfume venenoso que me coloca em êxtase e perigo.
- Achou que ia escapar? - Engulo em seco, então de repente seus braços fortes me puxam contra seu peitoral e nossos lábios se chocam, tento me afastar mas sua força é maior, tento me desviar de suas mãos mas é impossível, tento respirar mas está abafado. - Will? Você gosta disso?
Ele se afasta e acaricia o membro que pulsa dentro de sua calça, e sinto o meu sendo tocado por ele mas não sinto excitação, pelo contrário, sinto medo. Minha cabeça dói tentando entender o que acontece, nada parece ter sentido... Melissa, ela está morrendo e ele... Sendo controlado pelo "corvo".
As forças invisíveis tentando controlar meu corpo contra minha vontade, no entanto treinei o suficiente para não desistir; Ele franziu o cenho sem entender, pega minha mão e põe sob o seu peitoral e então deslizou-a até sob o seu membro, o suor do nervosismo escorre pela minha testa e a dualidade do calor e frio é afiado, apesar de todo o treinamento e ódio, Adrian ainda consegue me fazer estremecer.
- Adrian, me solta!! - De repente vejo uma faísca do verdadeiro Adrian, no entanto foi tomada pelo outro novamente. - Me solta!
Com uma força que eu não conhecia, minha voz foi capaz de derrubar todas as prateleiras da biblioteca e as lâmpadas se quebrarem, ele me observa calado, embasbacado até. Sua voz fez meu corpo estremecer novamente e eu odeio que isto aconteça.
- Você ativou sua magia.
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Enfim, penúltimo capítulo de Darkness chegou, o final está perto amores ❤😢 Queria agradecer por esperarem tanto, Darkness não seria nada sem vocês, meu coração dói só em pensar em finalizar rs. Quero pedir que se puderem, recomende Darkness a algum(a) amigo(a) que tenha interesse, e por favor comentem o que estão achando, desculpe pela minha falta aqui no Wattpad e novamente, obg ❤😍 XOXO
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