19. Tempestade de corações quebrados

Não é preciso saber exatamente ao que se teme, o medo é uma ação involuntária, uma tentativa do cérebro de te avisar em relação ao perigo; Você pode sentir medo sem motivo aparente ou apenas compartilhar do temor de alguém, e afinal, o medo não é algo ruim e sim, a rara chance de fugir.
Nossos olhos se encontram em profundo temor, o grasnar do corvo desperta os mais sombrios pensamentos e em junção com o toque suave e ao mesmo tempo angustiante sob minha mão transforma o momento num silencioso pesadelo.

- Devo me preocupar? - Ouso perguntar, Adrian apenas assentiu e então baixando a cabeça. Ele estava mais frio que o normal. - Adrian?

Ele respira fundo e solta todo o ar, não uma mas várias e várias vezes, franzi o cenho sem entender o que estava acontecendo, qual o motivo daquele corvo estar ali? Por que o Adrian está tão aflito?

- Will... - Sua voz é interrompida por si mesma, ele engole em seco e é como se ele estivesse numa batalha interior. Não tenho ação. - Fuga. Agora.

- Se você não me dizer o que está acontecendo... - Ponho minha mão em seu ombro, seu rosto cabisbaixo vira-se aos poucos e então percebo as órbitas douradas reluzindo em meio á escuridão.

- Eu... Mandei... Você... Fugir... - Sua voz grave e intensa me trás arrepios, pisco algumas vezes tentando encaixar as peças. O corvo, os olhos... A ruína. - Eu não quero...

Observo a altura e certamente é impossível, não posso saltar pois estamos no ponto mais alto.

- Adrian, por favor... - Seguro seu rosto entre minhas mãos, ele pisca algumas vezes mas suas órbitas continuam douradas. Meu coração acelera o dobro e tento não pensar nisso, procuro por meu pingente mas não o-encontro, juro que eu o-usava na noite anterior. - Você...

- Eu não fiz nada. Eles fizeram. - Suas palavras soam como adagas, cada uma cortando o que resta do meu coração. - Eu te amo, Will.

Tento me afastar mas ele me puxa usando seu poder, sinto que neste momento eu deveria estar chorando no entanto algo bem no fundo sempre me alertou, porém não dei ouvidos. Olho para baixo e vejo resquícios negros esvoaçando de sua mãos, está tão perto que sinto a pele formigar como se fagulhas queimassem.
De repente o ruído do mecanismo nos assusta, olho para baixo e lá está o garoto loiro próximo a caixa de controle, cerro os olhos sem ter certeza de quem estou vendo... Thomas.

O toque ardente queima e não consigo conter meu grito, Adrian sorri de um modo estranho como se minha dor fosse seu prazer, minha raiva fosse sua paz e talvez, minha morte a sua vida. A cada relichar do metal mais desespero sinto, quando sua outra mão toca delicadamente minha nuca sinto lágrimas escorrerem mas não é como se eu estivesse chorando, a dor é maior que a decepção, melancolia.
- Beije-me Will. Nós nos amamos.

Quando seus lábios tocam os meus, sou obrigado a olhar para o céu diante da dolorosa sensação.
O corvo sobrevoa-nos.

- Eu... Te amo, Adrian. - Sussurro com todas as minhas forças, fecho meus olhos e avanço, sinto o calor insuportável queimar enquanto meus braços o-envolvem num abraço e então com impulso, apunhalo-o com a adaga.

O sangue jorra e escorre de suas costas, ele tenta se afastar mas o mantenho abraçado, seu corpo estremece diante da dor. Deslizo minha mão até o bolso de sua calça e então retiro a borboleta prateada. O barulho mecânico avisa que estamos em terra.

Levanto a barra de segurança e caminho em direção a Thomas, no entanto não o-encontro assustado e sim impressionado.

- Eu pensei que... - Ele não completa a frase, mas sei que veio me ajudar... Mas por que?

- Como você sabia que eu precisava de ajuda? - Cruzo os braços e o mesmo me fita sem responder. - Agora vai ser igual ele? Esconder as coisas de mim?

- Segredos devem ser guardados, William. - A voz reconhecível me assusta e antes que eu pudesse me virar para vê-lo, a dor insuportável me faz cair, é possível sentir o osso da minha perna deslocado.
Ainda no chão, tento não fazer muito movimento mas ainda consigo ver Thomas sussurarem palavras estranhas e então pequenas faíscas saírem de suas mãos... Ele é um Darkness?

- Então nos encontramos novamente, Harry Potter. - Em seus olhos eu podia ver o mesmo Adrian que conheci ao chegar em Westford, o malvado e vilão Adrian Darkness.

Thomas não respondeu á provocação, já Adrian se divertia desviando os ataques. Como ele conseguia ir contra o poder de um bruxo? Eu deveria estar surpreso?

Tento me levantar mas cada ação faz minha perna esquerda latejar, até que vejo os cabelos ruivos vindo em minha direção... Alisha?

- Oi sumido. - Foi impossível não arregalar os olhos ao ver Anna sorrindo, porém ela estava atrás de uma barraca cheia de ursinhos de pelúcia, olho para trás e vejo Thomas e Adrian lutando, agora corpo a corpo, ouço o estalar de ossos quando o loiro acerta a mandíbula. Rastejo-me até ela sem entender, ela morreu ou não?

- Anna? Mas... - Ela fica cabisbaixa e eu não entendo.

- Luce está morta. Os Darkness não sabiam como nos identificar então... - Demoro um pouco pra raciocínar até que tudo vem a tona.

- Você tomou o lugar dela!? - Exclamo baixo, a mesma assentiu triste, deve ser duas vezes pior, além de perder a irmã, tomar o seu lugar.

Antes que pudéssemos falar algo, vi o vulto de Thomas voar e cair sobre alguns brinquedos, a gargalhada eufórica e assustadora do Adrian ecoar. Rapidamente Anna me levantou, apesar da dor enorme pude me apoiar em seu ombro, quando estávamos quase saindo pude ouvir a voz malévola dizer:

- Onde está você Will, podemos ter um final feliz... - Eu não conseguia piscar os olhos, tudo aquilo parecia um filme de terror.

- Ele está sendo controlado. - Anna sibilou, foi daí que entendi o motivo daquele corvo ter aparecido do nada.

Seguimos o mais rápido possível, ela contou algumas coisas no percurso, e pelo que entendi, Thomas é meu primo longínquo, ele me conhecia e sabia de tudo é por isso precisava encontrar um modo de se aproximar para me proteger, como Alisha é minha melhor amiga, esta foi sua única opção.
Para minha surpresa, quem nos aguardava no carro era Alisha é uma bela garota negra de cabelos volumosos, ambas saíram do carro para nos ajudar, logo colocaram-me no banco traseiro.

- Temos que ir rápido. - comentou a garota, Alisha apenas arfou enquanto procurava algo na caixa de pronto-socorros. - Ele vai aparecer...

- Foda-se. - Tive que respirar fundo enquanto o tecido apertado pressionava a região que no momento estava inchada. - Mas que caralho, Will. Como você é idiota.

- Não é o momento para discutir. - Replica a garota, foi então que percebi os olhos violetas da garota negra. Extraordinários. - Devemos ir.

- Eu já mandei o foda-se? - Pergunta Alisha em ironia. - Não me enche garota senão...

- Senão o que? - Replicou a mesma, viro-me para Anna que dá de ombros.

Finalmente, Alisha termina e podemos ir. Após todos nós entrarmos no carro de Thomas, Alisha acelera mas o carro não se move, olho para trás e vejo uma garota de órbitas douradas parada, seus cabelos escuros voam contra o vento e seu vestido é como a escuridão noturna que nos envolve ainda mais. Antes que eu dissesse algo, Isabelle caiu inconsciente.

- Você... - Sibilo. A garota de órbitas violetas lançou um sorriso jovial enquanto o carro seguia em disparada.

- Sou Beatrice, irmã de Thomas. - Antes que eu fizesse outra pergunta, a garota prosseguiu. - Sim, eu sou uma bruxa.

Passamos a maior parte do percurso em silêncio, a dor na minha perna havia diminuído e talvez seja por culpa do meu "sangue", deve ser por isso que sempre me recuperei facilmente de machucados na infância.
Nesse momento, tudo poderia ser uma bagunça duas vezes maior mas todas essas situações que me trouxeram até aqui iluminaram algumas dúvidas, e entre elas está, o motivo de tanta empatia relacionada a Izzy, afinal agora a mesma tentou nos impedir de fugir. O que deve ter acontecido com Thomas? Ele estava usando magia, mas então ele é um bruxo, como sua irmã...
Em meio á este caos fica a pergunta, como será minha vida daqui pra frente?

- Chegamos. - avisou Anna, estamos em frente á uma casa desconhecida, em sua frente vejo vários vasos de plantas ornamentais, sua porta de carvalho branco e os degraus deixam a essência pura, em junção com as luzes de tonalidade amarelada se torna um deleite para os olhos. - Will, venha eu vou te ajudar.

Tomo apoio nos seus ombros, Anna usa uma blusa verde-escura e calça jeans, demoro a me acostumar por dificilmente ter visto-a sem o uniforme dos Darkness. Alisha nos deixou, disse que iria guardar o carro num lugar seguro, enquanto isso ficamos eu, Anna e Beatrice lá dentro.

- Então, como tudo isso aconteceu? - perguntei, as meninas me observaram em silêncio, minha perna havia sido enfaixada após o banho. - Eu não faço idéia, ninguém me dá respostas.

- É pra sua segurança... - Beatrice coçou a região de seu braço, parecia estar preocupada. Sem dúvidas, Thomas ainda não apareceu.

- Minha segurança? Eu já não tenho segurança há tempos. - Minha voz se altera mas daí a voz cansada de Alisha me repreende.

- Para de drama, Will. Sabemos que você está confuso e blá blá blá, estamos correndo riscos pra te proteger e você não pode apenas ficar quieto? - Sua voz, diferente de mim, não se alterou, dou de ombros e tento ficar o mais tempo possível, quieto e mudo.

Eram altas horas da madrugada, as meninas decidiram por colchões na sala de estar e dormir ali mesmo, na cozinha haviam algumas caixas de pizza e comida japonesa vazias, tudo estranhamente quieto. De repente, acordo ouvindo batidas na porta, tento acordar às garotas no entanto aparentam estar num sono profundo, levanto-me do sofá e pulo com um único pé até a porta, apoio minha mão na maçaneta e com esforço, giro a chave dando entrada para o garoto loiro, o mesmo está coberto de suor e rastros de sangue.

- Thomas... - tento me aproximar do corte em sua testa, no entanto o mesmo esboça um sorriso sem graça.

- Não precisa. Estou bem. - Assenti, agora eu que estava sem graça.

Volto para o sofá, Thomas disse que ia tomar uma ducha e então iria dormir. Observo o teto branco até cair em sono.

Vozes, rangidos, estalos, a mansão Darkness estava uma grande bagunça. A garota de cabelos escuros lançava objetos contra a parede enquanto seu irmão mantia-se quieto sentado em sua poltrona, sua mão massageando suavemente a testa mostrava que tinha uma horrível dor de cabeça. Isabelle, gritava em puro ódio por não ter conseguido cumprir sua tarefa, sendo que a mesma deveria ser cumprida por Adrian, ela imaginava o que sua tia iria pensar, que ela é fraca e não poderia ser uma Darkness pura.
Adrian era uma tempestade confusa, sua cabeça doía e o mesmo não lembrava quase nada apenas de ter sido atingido por algo, certamente por trás dele e portanto não conseguiu identificar. Rastros de memória via Will cair, o corvo, a escuridão em sua mente, gritos, no entanto a única coisa que ele não entendia era aonde Will estava, em seu coração havia um desejo súbito de encontrar o garoto do qual ama, no entanto algo lhe diz que sim, o que mais temia aconteceu.
Em sua família, o corvo não é apenas o animal símbolo mas também o conjurador da maldição e da morte, é mais comum o mesmo aparecer no momento de sua morte do que para ativar o pior lado, e pode-se dizer que conseguiu, Adrian quase matara Will, e seria impossível reverter.
Ele perdera Will para sempre.

Próxima a escadaria, Melissa observava o caos, ela sabia e apesar de tudo estava um pouco aliviada pelo fracasso dos irmãos, Will não foi capturado. Para si mesma, esta é a chance de conseguir o perdão. Daniel? Decidiu fugir antes da explosão, certamente deve estar pegando sol nas praias de Rydwike.
Felizmente pode ter um momento de paz estando longe do Adrian, assim suas ligações ficam mais fracas e o mesmo não irá acordar com uma cicatriz nova em seu corpo. Anos atrás, os filhos mais velhos - os únicos sobreviventes da maldição que não se mataram ao completar seus sete anos. - Utilizaram uma espécie de magia para ligar seus filhos, esta ligação iria permitir que os mesmos pudessem compartilhar a dor, sofrimento e a aflição, assim não iriam cometer suicídio. Foram-se várias tentativas que falharam, sacrifícios que não serviram para nada, este seria o motivo de seus únicos filhos terem nascido tão tarde.
Esta manhã foi encontrado o corpo de sua criada, Luce, Melissa viu o corpo e foi a única a perceber a diferença, Anna tinha uma pequena mancha próximo ao antebraço enquanto Luce não, ela viu a mesma se passar pela irmã falecida no entanto continuou em silêncio. Pela tarde, deu-lhes dinheiro á Anna e pediu que a ruiva ajudasse o garoto ameaçado, Melissa era a única que sentia algo estranho por Will, pode-se dizer que maternal, talvez por ter se identificado com Celeste, a lamentável história da garota que confiou no amor.
Um suspiro, Melissa levanto-se da escadaria e seguiu para o seu quarto.

A enorme mansão se estendia, o gramado verde e brilhante, a luz forte escaldante do sol junto a refrescante bebida, o verão havia chegado. Alisha voltara para Westford junto com Anna, a mesma conseguiu um emprego numa empresa e agora ambas moravam juntas, repartindo as contas entre si. Fui abraçado pela gentileza dos Fray, descobri que nossos ancestrais eram irmãs, Celeste e Diana Fray, eles disseram toda a história da família e além disto, sou idêntico a Christian Fray, apesar dele ter olhos azuis e não cinzas, ele é o bisavô de Thomas.
A genética da família é surpreendente, Thomas se parece com sua mãe ao todo, exceto pelos olhos azuis, seu pai morreu dois anos atrás. Beatrice é idêntica ao pai, porém tem os olhos de Daphne. Até o momento, estou tentando seguir minha vida, apesar deles terem deixado claro que minha estadia em sua mansão seria de bom agrado, sinto que não devo. Na noite anterior, Thomas e eu conversamos, ele pediu desculpas por não ter me contado nada mas que também estava magoado por eu ter deixado-o pelo Adrian; Um complexo sem nome.
Decidimos que, se for para acontecer algo, irá acontecer e que não precisávamos acelerar isto. Era o certo a se fazer.
Beberico o refresco e ponho de lado, Beatrice aparece acompanhada usando um biquíni, na piscina seu namorado a-espera, sem que eu percebesse fui pego pelos braços musculosos de Thomas e lançado direto na água, foi então que as palavras ressurgiram em minha mente:
Ascensão. Ruína. Esperança.

Esforço-me para voltar e é um alívio quando o oxigênio adentra meus pulmões, ouço murmúrio é algo está errado, Thomas conversa com seus pais e então se aproximou.

- Temos visitas. - Engulo em seco. - Ele quer conversar com você.

Enxuguei-me com uma toalha e vesti uma camiseta, estremeço quando uma leve brisa passa, meu coração está prestes a sair pela minha boca, não sei o que pensar dessa visita, inclusive por não saber quem é. Quando chego na sala de estar, não consigo evitar e fico boquiaberto ao encontrar ele, suas mãos entrelaçadas demonstra que também está nervoso...

- Daniel? - Pergunto.

*****
Olá pessoas lindas, gostaram do capítulo? E da capa deste mês? Então, infelizmente Darkness já está em sua reta final e eu queria fazer uma dinâmica com vocês...

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