Capítulo 9 - Tão doce quanto sangue


    Derek se afastou caminhando até a janela, sentindo-se embaraçado olhou por um tempo a paisagem verde do lado de fora, do seu quarto conseguia ver a densa floresta loteada de árvores que cercava as montanhas e boa parte da sua casa. O silêncio então tomou conta de ambos até que ele o quebrou:

— Me diga o que está acontecendo de tão apavorante.

— Não sei explicar — ela respondeu sem jeito. — É como se tudo estivesse diferente.

— Diferente como?

— O ar está pesado, o sol me queima por dentro e barulho inflama meus ouvidos...

— Qual barulho?

— Qualquer um. É tão estranho... Passei a ouvir as pessoas falando claramente; como se estivessem perto de mim. Ouço os corações batendo — Contou aflita.

Derek permaneceu de costas.

— Pode ouvir meu coração bater?

— Não, eu não posso.

— Realmente não poderia...

— Por quê? — inqueriu curiosa.

— Simples, o coração de um vampiro não bate.

— E como pode ser?

— Internamente a temperatura do nosso corpo é muito baixa, logo não precisamos dele... De qualquer forma, bem vinda ao meu mundo.

— O que você quer dizer com isso?

— Que no fundo você faz parte de um mundo bem parecido com o meu.

Os olhos de Alina se arregalaram. Ele a fitou notando a pequena aflição que surgia.

— Queria dizer que sinto muito, mas não sinto.

Os olhos dela se encheram de lágrimas, seu peito estava se inflamando de dentro para fora.

— Não precisa levar isso tão a sério agora — ele disse, aproximando-se. — Conheço alguém que talvez consiga dizer o que você é.

— Então vamos até ele!

— Não ele, é ela. Uma mulher! Vou trazê-la até você...

— Quando? — perguntou ansiosa.

— Quando eu encontrar ela, tá legal?

Alina desviou o olhar rapidamente.

— E enquanto isso o que eu faço? Estou meio perdida.

— Faça o que você quiser — disse fazendo uma pausa —, tanto faz.

Mais uma vez ele endureceu seu coração, não se permitindo sentir. Se afastou, precisava de uma fuga para longe dos olhos marejados dela, naquele instante o barulho da porta tomou seus ouvidos e deu fim na conversa, aproveitou-se do tilintar para se retirar, caminhou, apalpou o bolso da calça jeans pegando a chave de sua moto e saiu sem nada dizer; Alina estava atordoada e não ousou falar ou segui-lo, apenas se sentou na ponta da cama e respirou fundo, uma lágrima solitária escorreu do seu olho direito e algumas outras ameaçaram cair. Como poderia ela mesma não saber o que era?

Derek desceu a escadaria, a sala estava vazia, mas de lá pode ver quando Lissa abriu a porta, ele decidiu então seguir pelos fundos. Lá na frente a loira fitava surpresa a lustre visita.

— Bom dia Senhorita, sou o Xerife Steve...

— É um prazer, mas o que lhe traz aqui? — inquiriu.

— A senhorita não disse seu nome.

— Lissa Campbell.

— Estou investigando o sumiço de um corpo, não saberia nada a respeito, não é?

Ela arqueou as sobrancelhas.

— Porque eu deveria saber?

— Ontem um homem foi atacado por um animal e pela noite o corpo sumiu do necrotério. Isso nunca aconteceu na cidade e sua família é nova aqui, entende a minha linha de raciocínio?

— Pensa que fomos nós?

Atrás do Xerife surgiu uma sombra que disse firme:

— Não temos nada a haver com isso. Ficamos em casa ontem, o dia inteiro.

O homem se virou rapidamente.

— E você, quem é?

— Derek Campbell. E o senhor?

— Xerife Steve Pacheco!

— Você não gostaria de entrar, Xerife? Sei que vai gostar de falar comigo — Derek sorriu.

Stive entrou, cauteloso, sua mão direita repousava em cima da 38  que carregava na cintura.

— Xerife, gostaria de beber algo?

— Apenas conte o que sabe.

Derek se aproximou com expressão fria.

— Como quiser — suas íris se tornaram maiores e dominantes. — Você dirá a todos que foi um lastimável ataque de um cachorro feroz, e sabendo disso pela madrugada você enviou o corpo para família. Afinal, eles precisavam ter algo para enterrar.

Steve assentiu, tomado pelo controle mental de Derek, do outro lado da sala Lissa observava tudo atentamente.

— Agora você pode ir Xerife, mas antes peça desculpas a minha irmã.

— Sinto muito senhorita.

— Está desculpado — Lissa respondeu, vendo-o partir. — Por que tenho a sensação que isso tem haver com a magrela  que está no seu quarto?

Derek caminhou até a porta.

— Aonde você vai agora?

— Não é da sua conta!

— Idiota — retrucou. — E se o Xerife voltar?

— Não vai.

— Pelo menos me diz por que você vai ajudar essa garota?

— Não tenho tempo para isso, Lissa. Só não faça nenhuma besteira, está bem? Eu preciso dela viva.

✣✣✣

    Alina permaneceu no quarto, mas sentia que não era bem vinda; meia hora haviam se passado desde que Derek tinha saído, e foi nesse momento em que saiu do quarto também, desceu as escadas e passou pela sala vazia. Lá fora o ar quente tocou seu rosto como fogo, sentia-se fora de si. Indo direto para um pesadelo manso, que começava a consumi-la por dentro; ela fechou os olhos ao sentir a brisa fresca tocar seu rosto. O vento brincou brevemente com alguns fios de seus cabelos, ao seu lado parou uma velha senhora, atordoada — seus olhos se cruzaram aos de Alina — e a garota sentiu os pelos de seus braços se eriçarem.

— Você é um monstro — a mulher falou sem rodeios, pegando-a no braço. — Uma pequena criatura do mau.

— Mamãe — ela chamou assustada.

— Mas o que a senhora pensa que está fazendo? Solte minha filha agora mesmo — exigiu.

A mulher continuou, gritando sem dar atenção a pequena aglomeração que se formava.

— A escuridão está em você! A escuridão está em você! Está em você!

— Mas qual é o seu problema? — Meredith tomou a frente. — Minha filha é só uma criança! Está louca?

A velha sorriu astuta e da mesma forma que chegou se foi, como se nada houvesse ocorrido.

— Filha, você não deve ligar para o que essa velha louca disse — as lágrimas cobriam o rosto de Alina — Está me ouvindo?

— Mas mamãe...

— Esqueça isso!

Ela chorou em silêncio. Ao fundo, um som rouco se aproximava e a tirou de sua lamentável recordação, era um Maverick V8 — 302 Canadense de 1978, preto.  O som potente do motor do carro combinava com o rosto jovial do motorista, que nunca ira envelhecer. Sua pele tinha um leve toque de palidez, seus cabelos eram loiros e estavam arrepiados, seus lábios finos esboçavam um sorriso.

— Se lembra de mim?

— Sim, mas não fomos apresentados.

— É verdade — sorriu maroto. — Me chamo Miguel Campbell, e você Alina, não é?

— Alina Donavan.

— Ok, aonde você mora, Alina?

— Aqui mesmo — disse tamborilando com os dedos, tensa.

Miguel olhou para os lados.

— Só tem mato de um lado a outro nesta estrada — sorriu mais uma vez —, não precisa me dizer se não quiser...

— No centro da cidade — falou finalmente.

— É uma boa caminhada até lá. Posso te dar uma carona...

— Não — recusou temerosa —, estou bem caminhando só.

— Você tem certeza?!

Os olhos verdes dele brilhavam como rubi. Definitivamente se parecia muito com Lissa, mas possua o ar desdenho de Derek.

— Sim.

— Olha, eu não sei o que aconteceu quando você conheceu meu irmão, mas eu não sou ele. Não precisa ter medo de mim.

Alina permaneceu em silêncio e Miguel continuou:

— Acha mesmo que será melhor andar sozinha nesse momento? Você não parece estar muito bem. O que me diz, é só uma carona — sorriu.

— Tudo bem.

Alina deu a volta e entrou no carro.

— Sabe, eu não pude deixar de ouvir a conversar de vocês, lá em casa, sinto muito...

— Por quê? — questionou.

— Porque você não está feliz.

— Está tudo bem...

— Se consegue acreditar nisso, mas não deve confiar no Derek.

— Talvez eu não deva confiar em você também — Alina rebateu —, mas estou aqui, como uma presa fácil.

— É, talvez não deva confiar em mim, mas me responda uma coisa... Acha mesmo que ele vai te ajudar a troco de nada? Porque eu o conheço bem e uma pessoa que mata quem dizia amar, não é bem uma pessoa confiável.

A respiração de Alina ficou mais tensa e seus olhos fitaram Miguel intensamente.

— Se não acredita em mim, pergunte você mesma a ele. Pergunte o que aconteceu com a Aivy.

— O que aconteceu com ela?

— No fundo você sabe... Ele a matou — respondeu com amargor na boca.

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