Capítulo 5 - Fração de segundos...
Havia um pequeno ruído vindo do andar de baixo o que fez Alina descer a escada, ao cruzar a soleira da sala sentiu de imediato como se brevemente sua alma houvesse saído do corpo. Gelou encarando aquela aparição a sua frente, perplexa.
— Finalmente você desceu — ouviu a voz de sua mãe surgir atrás de si —, temos uma visita.
— Olá, Alina — a voz rouca dele ecoou pela sala como um velho som sonoro que recentemente ela conhecera.
Pelo simples fato de ainda estar viva, ela havia cogitado que não voltaria a vê-lo tão cedo, mas ali estavam, frente a frente de novo.
Para ela a pele dele parecia ainda mais pálida que antes, seus olhos mais profundos, os lábios roxos — quase sem vida — e havia algo na respiração dele que lhe dava aparentemente um ar de cansaço, diferente de antes.
— Seu amigo Derek Campbell, estava me falando que você se ofereceu para mostra-lhe a cidade, é mesmo?
Alina estava tão surpresa que nada disse.
— Não me diga que se esqueceu? — ele perguntou, aproximando-se.
O assobiar da chaleira no fogão a fervilhar a água se fez presente tomando o pequeno e simples cômodo, livrando Alina do olhar da mãe.
— Eu já volto... Com licença — Meredith fala, retirando-se.
Derek acenou gentil, e os olhos de Alina seguiram a silhueta de sua mãe até que a mesma não pudesse ser mais vista.
— Você era uma graça quando mais nova — ele comentou olhando para um dos quadros em cima da lareira. Seu sorriso sínico estampava o rosto.
Quando finalmente conseguiu falar, Alina disse:
— Pensei que você me deixaria em paz...
— Em paz? — ele fez menção em se aproximar, mas parou. — Eu nunca disse que faria isso.
— O que você quer agora?
— Ei, só quero conversar um pouco.
— Por que está fazendo isso comigo?
— Não estou fazendo nada — se defendeu. —, mas olhe para mim, pode ver o que você fez comigo?
Ela ergueu a sobrancelha, olhando para o semblante dele. Derek de fato estava diferente; parecia fraco, nada tinha da aparência de um ser saudável, mas isso não era culpa dela. "Era?". Se perguntou silenciosa.
— Disse que poderia confiar em mim — sussurrou. — Será melhor para nós dois...
— O café está pronto. Gostaria de tomar? — Meredith fala adentrando a sala.
— Não. Muito obrigado.
— Não gostaria mesmo de tomar um café? — insiste.
— Não — Derek indaga dando um breve sorriso. — A cafeína me deixa muito agitado. Se não houver problema para a senhora, gostaria que eu e Alina fôssemos de uma vez.
— Oh, claro.
Alina olhou para Meredith, sem acreditar no que ouvira. Sua mãe só poderia estar hipnotizada, pois em nada se parecia com a mesma que a pouco em seu quarto se preparava para dar-lhe uma bronca. Estava nítido o poder que Derek tinha sobre as pessoas.
Ao cruzar a porta de entrada Alina amaldiçoou a noite em que o virá na floresta. Lá fora o sol estava fraco. A rua Gleent estava quase vazia, o que deixava-a incomodada. Apenas seu vizinho idoso estava lá cortando a grama, e do outro lado duas crianças corriam; uma delas dando gargalhadas. Era um lugar tranquilo de se viver, ao seu lado Derek caminhava silencioso.
— Aonde vamos?
— Por aqui — ele apontou para um beco no final da rua.
O silêncio se instalou. Alina não entendia o motivo de Derek estar ali ao seu lado. Sentia uma sensação estranha, mas não era medo. Do fundo do seu coração ela não temia a morte, no entanto tinha medo da dor, temia uma morte lenta e dolorosa.
— E agora? — inquiriu.
— Alina, sei que você olha para mim e vê um monstro, mas não é bem assim.
— Porque está me dizendo isso? — questionou.
— Só quero que saiba.
Ele para bruscamente, sentindo suas pernas bambearem.
— Você está bem?
Derek a encara ponderando se poderia ou não confiar nela.
— Seu sangue está me fazendo mal — disse por fim.
— Por quê?!
— É o que eu gostaria de saber, apenas algumas gotas desceram pela minha garganta — falou ele, lentamente. — Seu sangue é ardente, como veneno.
Alina se sentiu incomodada com tal afirmação.
— Como poderia ser?
Ele deu de ombros.
— Sua vida sempre foi normal? — perguntou.
— Igual a vida de qualquer outra pessoa...
— Sei — a encarou.
— Se não fosse o meu sangue... Teria me matado, não é?
— Já disse que não. Qual é o seu problema com a morte?
Ela nada disse.
— Olha, um humano saudável tem em média; de três a seis litros de sangue. Claro que isso varia conforme a altura e peso, contudo você poderia perder até quinze por cento, sem nenhum efeito imediato — disse Campbell, passando a mão no queixo, detendo-se para olhá-la nos olhos. — Então acho que um pouco não iria te fazer falta, não é mesmo?
— Você parece tão certo. Como sabe disso?
— Apenas sei, tá legal?
— É isso que faz com as pessoas? — perguntou tensa. — Rouba-lhes "um pouco" da vida delas?
— Está me testando ou só querendo me irritar? — Derek perguntou sério.
Ela engoliu seco.
— Nenhum dos dois.
— Ótimo.
— Então estamos aqui por que o meu sangue te intriga?
Ela sentiu seu corpo queimar pela forma seria que ele a olhou. Não sabia qual era o problema, apenas não conseguia ficar quieta.
— Eu juro que não sei qual é o problema comigo, mas eu deveria imagina que tinha um — Alina confessou.
— Ah é... Por quê?
— Não sei dizer.
"O que você é?" — Ele sussurrou para si mesmo, sua curiosidade era tamanha que não o permitia partir.
— Acho que isso é seu — ele falou tirando um celular do bolso.
Alina o pegou surpresa, nessa altura já passavam pelo beco no final da rua. Ali Derek parou olhando para os lados. Um grande muro coberto por trepadeiras verde musgo o impedia de chegar ao seu destino desejado.
— Desde quando esse muro está aqui?
— Desde sempre.
— Nem sempre...
— Então faz muito tempo que você não vem à Fortilen City.
Ele nada disse tendo a sensação de estar sendo observado, o que o fez desviar o olhar e fitar um homem robusto que vinha em sua direção a poucos metros de distância.
Os olhos sérios daquele sujeito pareciam estar pousados fixos em Alina. Derek parou ficando de costas para ela, impedindo-a que desce mais um passo, foi quando sentiu algo lhe perfurar de imediato; Alina que estava atrás só conseguiu ouvir o baque seco do corpo de Derek que caiu ao lado no chão. Uma flecha acertara em cheio seu ombro, fazendo-o cair com o impacto da velocidade. Tudo foi muito rápido e em fração de segundos — como em um piscar de olhos — Derek já não estava mais caído. Um vulto preto e lépido foi tudo que os olhos dela conseguiram ver, pois ele se movera com tamanha velocidade. O homem que lhe atingira já preparava outra flecha quando o vampiro parou do outro lado da rua.
O rosto daquele indivíduo queimou com o soco inesperado que o jogou longe, com uma força incomum, aquele tombo lhe rendeu algumas costelas quebradas, fora o queixo que pinicava em dor. Caído ele mal conseguia se mexer, mas disse petulante:
— Você é uma criatura do inferno, eu o abomino.
Derek riu mostrando suas presas afiadas.
— Não brinca — zombou —, mas você nem está aqui por mim, não é?
Por um segundo o homem desviou o olhar para Alina que estava totalmente imóvel, exceto por seu coração disparado. Do outro lado Derek se aproximou sem pressa, seu oponente permanência ao chão.
— Estou um tanto decepcionado — Derek admiti. — Ou você é muito amador ou não é muito inteligente...
— Vá se danar — o homem respondeu tentando alcançar a arma que cairá longe no momento de seu tombo.
Derek sorriu ardil.
— Corajoso você... Entretanto, burro.
O vampiro parou ao lado do sujeito, seu corpo se inclinou e seus olhos semicerrados fitaram o que seria agora sua mais nova refeição — seu corpo precisava e ansiava por sangue — rapidamente suas feições faciais se transformaram dando vida a criatura que no íntimo habitava seu ser. Calmamente Derek segurou o cara pela gola da camisa, e sussurrou ao seu ouvido:
— Ninguém lhe disse que deveria acertar o coração? Hã? — Derek prosseguiu sem murmúrio. — Sinto muito por você... Amigo.
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