Capítulo 31 - Laços
Ao chegar em sua casa, depois de algumas horas caminhando, Alina fitou a frente da residência e se lembrou do primeiro dia em que esteve ali, parada, perdida e assustada com seus medos infantis...
A vampira fechou os olhos rapidamente e naquele instante pôde visualizar a cena, tão clara como a luz do dia; chovia e ventava tão forte que a garota mal conseguia segurar o guarda-chuva com sua mão pequena, ela estava amedrontada, era sua primeira vez naquele lugar, com pessoas que nem conhecia direito. A mulher que segurava em sua mão esquerda lhe encorajava a subir os degraus e ir até a varanda.
— Não tenha medo querida — a mulher disse com voz suave. — Esse é seu novo lar agora.
A garotinha olhou para a mulher com receio, mas deu um passo para frente e mais um; e outros, até que finalmente estava parada em frente a porta, poucos segundos depois fitava com os olhos brilhando o interior da casa.
Lembrava-se de acordar na floresta, suja e sozinha, sem se recordar de nada que ocorreu antes em sua vida. Não sabia seu nome e nem quem era o "lobo mau" que poderia existir nas redondezas. Era uma criança boba, mas agora estava dentro de uma casa e tudo parecia novo para ela.
Uma mulher de cabelos vermelhos se aproximou e disse baixinho:
— Meu nome é Meredith, serei sua mãe se assim permitir...
Ela olhou atentamente sem saber o que dizer.
— A doutora ali, me disse que você não sabe qual é o seu nome... É verdade?
— É — sua voz era doce e um tanto trêmula.
— Então seu nome será Alina — disse, abaixando-se até a altura da garotinha. — Você gosta desse nome?
Alina balançou a cabeça, assentindo.
Algo rapidamente tomou seu corpo, como num choque elétrico, se espalhando, no entanto era uma sensação leve que a fez sorrir, sentiu-se naquele momento, em casa.
Agora a vampira se encontrava parada ali, com um leve meneio balançou a cabeça para os lados afastando da mente suas lembranças. Sua mão tocou a maçaneta calmamente e ela rumou para dentro.
— Oi Flora.
— Oi — sorriu.
— A minha mãe está em casa?
— Lá em cima — disse se aproximando. — Eu estava lhe esperando. Acho que é melhor eu ir para outro lugar...
— Por quê? — inquiriu séria.
— Não quero atrapalhar você.
— Não diga bobagem — Alina disse rapidamente. — Fique, por favor, temos muito o que conversar ainda...
A bruxa hesitou por um momento, pensativa.
— Olha, eu tenho que falar com a minha mãe agora, me espere aqui conversamos quando eu descer — disse, rumando para cima.
Flora assentiu, sentando-se no sofá.
A cada passo que dava rumo ao quarto de Meredith, Alina sentia sua barriga gelar por dentro.
— Oh! — a mulher murmurou assustando-se. — Você chegou de fininho como um gato!
— Me desculpe... Mãe — a jovem disse, quase que em súplica. — Precisamos conversar, sobre quem sou.
— Como assim? — questionou nitidamente curiosa e aflita. — Entre e fecha a porta.
— Você nunca me escondeu que não era minha mãe. Digo... Minha mãe biológica...
— O que você quer saber Alina?
— Como eu cheguei até aqui, você nunca procurou saber da onde eu vinha? Onde eu estava quando me acharam? Quem me achou?
— Minha filha você quer mesmo saber isso?
— Eu preciso...
— Por quê agora? — questionou aproximando-se.
— Minha mãe... A mulher que me colocou nesse mundo, está na cidade e quer me ver... De repente comecei a questionar algumas coisas, tem tantos buracos na minha história, gostaria de saber de tudo.
Um arrepio tomou a espinha da mulher, fazendo seus pelos se eriçarem. Por alguma razão que Meredith desconhecia, ouvir aquilo lhe deixou desconfortável. A ideia de talvez perder Alina não foi o que lhe atormentou, afinal, isso não seria possível, ela sem dúvida nenhuma era mais sua mãe, do que a mulher que lhe deu a vida. O problema estava na sensação, no presságio ruim que sentira.
— Eu achei você na floresta, sozinha; suja, fraca, assustada como um bichinho acuado, com manchas secas de sangue em sua roupa — ela disse fitando a filha nos olhos. — Meu coração se partiu em milhares de pedaços, você era tão pequena, tão indefesa.
Alina ouvia tudo atentamente.
— Te levei ao hospital e me cadastrei para adotá-la.
— É só isso?
— Não... — ela disse, levantando-se rapidamente. — Foram meses de investigação. A polícia procurou por seus pais na floresta, em todos os lugares. Uma foto sua estampou o jornal da cidade e apareceu na TV. Analisaram as manchas de sangue, mas não tiveram resultados em nada. Todos os caminhos eram cheios de perguntas, mas vazios de respostas.
A vampira balançou a cabeça, depois de um longo silêncio meditativo ela disse seriamente:
— Eu preciso te contar uma coisa, mas por favor, não tenha medo de mim, não me odei...
— Querida, você sabe que te amo, não é mesmo? Eu sou sua mãe de coração... — seus olhos estavam cheios de lágrimas. — Nada, jamais mudará isso.
Então Alina começou a falar, não queria esconder nada dela, a relação das duas sempre fora muito boa. Claro que Meredith fazia muito bem o papel de mãe e quando era preciso usava suas cartas na manga; como suas broncas exageradas, mas vez ou outra, elas conversavam sobre todos os tipos de assuntos e nesses momentos até pareciam apenas amigas.
A vampira viu a mulher empalidecer conforme lhe contava sobre seu verdadeiro eu, e quando não havia mais nada a ser dito o silêncio tomou o cômodo, fazendo o ar ficar denso, frio e cheio de expectativas.
— Mãe, diga alguma coisa — suplicou.
— Não sei o que dizer...
— Não acredita em mim, não é? — suspirou.
— Acredito — sua voz saiu trêmula.
— Está com medo de mim, não está?
Meredith fitou a filha rapidamente.
— Não! — falou séria. — Mas Acho que preciso de alguns minutos querida...
— Tudo bem — Alina disse saindo do quarto.
Fechar a porta atrás de si e deixar as coisas daquela maneira, mesmo que por ora, foi a coisa mais difícil que fizera. Seu coração se pudesse bater, se partiria ao meio.
No andar de baixo Flora esperava pacientemente.
— Me desculpe a demora — Alina disse avistando a sobrinha.
— Tá tudo bem?
— Contei tudo sobre meu novo eu para minha mãe — disse soltando um suspiro.
— E ela acreditou em você?
— Acho que sim — respondeu pensativa. — Bom, é isso ou ela está preparando-se para me internar em um hospício.
Ambas gargalharam por um breve momento, mas a vampira tinha um olhar distante.
— Vai ficar tudo bem, Meredith gosta muito de você — Flora falou, na tentativa de animar Alina. — Você tem muita sorte em tê-la em sua vida. Pudemos conversar um pouco quando ela chegou e posso afirmar que não importa o que aconteça, ela sempre ficará ao seu lado. Não se preocupe tanto.
— Não tenho dúvidas quanto o amor dela por mim — disse séria. — Eu também a amo muito e sei que precisa de um tempo para digerir tudo, eu também preciso, tudo tem acontecido muito rápido — fitou a bruxa. — Mas, o que está mexendo comigo no momento é a Isobel...
— O que tem ela? — questionou franzindo a testa.
— Ela está na cidade...
Por alguns segundos o ar faltou nos pulmões de Flora, que rapidamente arregalou os olhos, parecendo ter visto um fantasma.
— O que a Isobel falou?
— Comigo nada. Ela conversou com o Derek... Disse a ele, que quer me ver.
— E você vai vê-la?
— Não sei ainda... Acho que sim — suspirou exaurida — Mas... Será que eu devo?
Flora balançou a cabeça lentamente, falando logo em seguida:
— Alina, eu não posso decidir isso por você, afinal, ela é sua mãe — disse levantando-se rapidamente, para se sentar ao lado da tia. — Mas tem que saber de uma coisa; Isobel te entregou para a Lilite, ela nunca lutou por você.
A vampira fitou o chão, sentindo sua respiração acelerar.
— Como sabe disso? — questionou seriamente.
— Lilite tinha um diário, eu nunca o vi, mas tenho conhecimento de algumas coisas confidenciadas nele.
— Onde esse diário está?
— Não sei... Perdido há muitos anos — respondeu rapidamente. — Acredito que Aivy a "ovelha que se desgarrou", tenha o roubado do túmulo de sua mãe... Lilite.
— Hum... — murmurou.
— O que me faz pensar no Derek...
Alina olhou para Flora com curiosidade e a bruxa continuou a falar:
— Ele pode saber onde ela escondeu o diário, talvez o tenha visto um dia ou até lido — fez uma pausa. — Não gostaria de saber o que é falado sobre a Isobel antes de aceitar vê-la?
Ela rapidamente assentiu.
— Sim... Vamos para a casa do Derek!
— Agora?
— E por que não?
— O dia já está no fim, qual a diferença em esperar até amanhã de manhã?
Alina suspirou exasperada.
— Não poderei dormir hoje, minha mente não cessa um minuto sequer — respondeu. — Eu vou agora mesmo, e então nos encontramos pela manhã.
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