Capítulo 29 - Distração
O sol batia timidamente na vidraça da cafeteria, os raios solares a atravessava, tocando na pele dos dois vampiros sentados à mesa.
— Olá, o que desejam? — perguntou a atendente, com um sorriso amarelo.
— Dois cafés — Isobel falou.
— Na verdade apenas um — Derek se apressou em dizer.
A vampira fitou a moça parada em frente à mesa, fazendo sinal para que ela fosse embora.
— Não acredito que não vai tomar café comigo.
— A cafeína não me faz muito bem — ele disse, olhando rapidamente a sua volta. — Então... Pode falar.
— Direto ao ponto... Ou devo deduzir que você não suporta a minha companhia?
— Não... Apenas prefiro ir direto ao assunto.
— Tudo bem — sorriu. — Eu não sei se você sabe, mas Alina completa 18 anos daqui a três dias...
Ele franziu a testa, dizendo logo em seguida:
— Não sabia...
— Pois é. Temo que neste dia algo possa acontecer com ela.
— Por quê? — Derek inquiriu com um misto de curiosidade e temor.
— Como já deve saber aquela bruxa horrorosa chamada Lilite fez uma magia de sangue, que foi quebrada por você, mas não totalmente — revelou. — Minha filha pode morrer, se a outra parte sobrenatural dela não surgir. Por sorte, nesta data em questão, será lua cheia.
— E...?
Isobel mexeu seus lábios levemente carnudos, pronta para responder, mas parou notando a presença da atendente, que rapidamente serviu seu café, forte e quente, como gostava. Na verdade, para ela, nada nunca poderia ser frio e ralo.
A vampira fitou a garota seriamente, até que a mesma se afastou incomodada.
— Bom, precisamos fazer algo — disse pegando sua xícara, observando a fumaça subir do líquido preto.
Derek ficou quieto por alguns minutos, pensativo. Então ela continuou.
— Como você também deve saber, uma magia negra pode ter diversas consequências inimagináveis, não posso ficar de braços cruzados e esperar para ver — falou com lágrimas nos olhos. — Não quero perder ela, pelo contrário, quero estar ao lado dela nesse momento e em muitos outros, quero criar laços com minha filha, me doí ter que ficar longe.
Derek balançou a cabeça, coçando seu maxilar.
— O que você tem em mente? — ele inquiriu.
— Fazermos um ritual para acabar logo com isso e aflorar o lado lobisomem dela — disse rapidamente. — Não acha que é melhor prevenir do que remediar?
— Acho que tem razão, mas quem tem que decidir isso é a Alina.
— Imagino que ela ainda esteja pensando se quer ou não me ver, não é mesmo? — Isobel questionou, bebericando em seguida seu café.
— Na verdade eu ainda não tive a oportunidade de falar sobre você.
Ela respirou profundamente, fingindo estar chateada.
Na verdade ouvir aquilo a deixou furiosa, afinal, o que ele estava esperando?
— Ela não está morando com você?
— Não.
— Ah! — expressou, arqueando as sobrancelhas. — Quando acredita que pode falar com ela sobre mim?
— Hoje mesmo.
— Ótimo — falou abrindo a bolsa, de dentro tirou uma caneta, e começou a anotar algo em um pedaço de papel. — Aqui está meu número, estarei esperando sua ligação. Peço que perdoe minha agitação e até a aflição, mas preciso mesmo fazer algo, estar com ela...
— Eu entendo — o vampiro respondeu pegando o papel.
Os olhos castanhos de Isobel brilhavam como uma pedra preciosa, fazendo Derek se lembrar de Alina.
— Tenho que ir agora — ele falou.
— Tudo bem. Não quero tomar mais do seu tempo — falou, abrindo um largo sorriso. — Agradeço por me ouvir. A união de mãe e filha está em suas mãos. Conto com você.
Derek respirou profundamente, sentindo-se pressionado. Odiava isso, mas sabia a importância do que tinha que fazer, embora sentisse que algo ali estava muito errado. Ele se levantou pronto para ir embora, mas não antes de ouvi-la dizer com ar intimidante:
— Até breve, Derek.
E assim ele rumou para fora.
✣✣✣
Alina arrastou Marina para o vestiário feminino, após um longo discurso, tentando explicar que ambas precisavam de privacidade total. Com sua mente extremamente fértil Marina logo imaginou o tipo de indecência que sua amiga iria lhe contar, somente por isso aceitou sair do refeitório e ir.
— Preciso que prometa que vai me ouvir até o final sem fazer pouco de mim.
— Prometo! Caramba... — murmurou impaciente. — Começa a falar!
— Bom, eu conheci o Derek naquela noite na floresta — parou respirando profundamente. — E... E ele me mordeu...
Marina começou a rir, mas parou logo em seguida, sentindo o olhar raivoso de Alina, pousado em si.
— Desculpa. Ele te mordeu e...?
— Olha, ele só me mordeu porque é um vampiro e... — Alina parou bruscamente, sendo interrompida por uma longa e proeminente gargalhada. — Que droga Mari!
— Desculpa. Continua por favor...
A vampira então começou a contar o que se passou desde então, mas sem muitos detalhes, apenas os fatos realmente relevantes e quando terminou sua amiga lhe fitava seriamente, imaginando que ela havia enlouquecido.
— Não vai dizer nada? — questionou.
— Lina, o que aquele cara fez com você?
O sangue começou a ferver dentro de Alina. Estava arrependida. Maldita boca, pensou. Era óbvio que Marina não acreditaria nela, ninguém acreditaria.
— O que acontece então se eu me machucar assim? — Marina perguntou, furando o dedo com um alfinete, que retirara da blusa.
Uma minúscula bola de sangue rapidamente se formou no dedo dela.
A vampira fechou os olhos tentando não olhar, para não ser tentada, mas o cheiro doce daquele liquido viscoso tomou suas narinas.
— Se afaste de mim! — pediu alarmada.
— Alina, para! — falou revirando os olhos. — Por favor, poupe-me dessa loucura.
— Não estou louca! — gritou, encarando a amiga nos olhos.
Marina deu um pulo para trás, sua respiração acelerou, seu coração começou a bater mais rápido e seu cérebro gritava: perigo!. Ela estava com medo, a maior prova disso era suas mãos que começaram a tremer.
Alina se afastou velozmente, fitando-se em um espelho logo em seguida. Em seu reflexo pode ver o motivo do pânico de Marina. Seus olhos estavam completamente vermelhos escarlate, com grandes veias roxas em volta e suas presas encontravam-se à mostra. Aquela visão lhe trouxe uma grande angústia. Sentiu o ar fugir dos pulmões. A vampira desviou o olhar do espelho, seus olhos e face voltando lentamente ao normal, e então começou a chorar.
— Alina? — Marina chamou, aproximando-se, pé ante pé.
A jovem permaneceu de costas, fitando o chão.
Já sua amiga, mesmo alarmada, aproximou-se mais, abraçando Alina que chorou sem se importar que isso pudesse fazer de si uma pessoa aparentemente fraca.
Pouco depois elas se afastaram-se.
— Preciso sair daqui — Alina disse, secando o rosto.
— Tudo bem, vou ajudar você.
As garotas saíram do cômodo. Os corredores já estavam vazios, pois o sinal havia tocado a poucos minutos. Caminharam juntas até o portão, que uma vez aberto tiraria elas dali, só existia um problema... Elisa.
A senhora Elisa era uma velha rechonchuda e rabugenta, que ficava em sua sala, próximo a saída. Era difícil passar sem ser percebido, apesar da velha usar um grande óculos, ela sempre ficava muito atenta e na verdade enxergava muito bem.
— Eu distraiu ela, e você foge! — Marina falou seriamente. — De noite a gente conversa.
Alina assentiu.
A loira deu alguns passos.
— Senhora Eliza?
— O que faz fora da sala? — a velha questionou de modo severo.
— Eu acho que estou morrendo. Não me sinto nada bem — disse encostando-se na soleira da porta. — Está tudo rodando.
— Será que não bebeu demais novamente? — a mulher inquiriu séria.
— Eu não faço mais isso — mentiu. — Aprendi a lição como disse que aconteceria. Preciso de ajuda, sinto minhas pernas fracas. Será que pode me ajudar a chegar até a cadeira?
A velha bufou, indo até a garota. Ambas estavam de costas para a porta e foi nesse exato instante que Alina passou, tão rápido que mesmo sem a distração, Eliza jamais teria a visto.
Enquanto esteve lá dentro, na sala de aula, tivera que fazer das tripas coração para não deixar a fome lhe dominar. Já do lado de fora a jovem avistou Derek parado na calçada e naquele momento ela sentiu uma necessidade absurda de abraçá-lo, então simplesmente o fez, correndo em sua direção.
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