Capítulo 25 - Sobre nós


    O dia finalmente amanheceu e Alina ainda estava ao lado de Derek, encostada em seus ombros largos, compartilhando do silêncio que pairava sobre o lugar e do mesmo ar levemente abafado do quarto. Ficar ali, perto dele dessa maneira, fazia todas as paredes e terminações nervosas de seu pobre coração morto se abalarem. Para ele não era tão longe de ser assim também. No fundo, Derek sabia que quando desejava sentir seu coração bater novamente, na verdade estava ansiando por algo muito mais profundo.

— Eu dormi por quanto tempo? — Alina perguntou, abrindo os olhos.

— Só alguns minutos.

— Pareceu mais — ela disse com voz embargada, ainda sonolenta. Seus olhos se encontraram com os de Derek. — Não queria admitir isso, mas estou com muita fome — comentou, afastando-se lentamente, envergonhada.

— Você ainda é novata, é normal sentir muita fome — revelou, olhando-a fixamente. — Acho até que está indo bem, eu não fui tão bem assim.

— Não? — inquiriu curiosa.

— Não mesmo. Machuquei muitas pessoas — respondeu com pesar.

— Eu não quero nunca mais me alimentar de pessoas — falou seriamente.

— Nunca mais é uma ilusão. Você precisa ter controle, é difícil — Derek se levantou num pulo e conferiu as horas no relógio de pulso. — Eu vou tomar um banho rápido e depois vejo o que acho aqui — ele disse, vendo Alina morde de leve os lábios em decepção. — Ou você pode falar com a Lissa, ela já está acordada e tem um estoque de bolsas de sangue.

Alina respirou fundo. Só de ouvir a palavra sangue sua boca se encheu de saliva, podendo até sentir o gosto antecipado do "alimento".

— A terceira opção é você relaxar e entrar no banho comigo — o vampiro falou com um sorriso malicioso nos lábios.

Ela corou, sentindo-se tentada, mas respondeu rapidamente:

— Vou tomar banho no meu quarto mesmo. Obrigada.

Ele riu caminhando para o banheiro.

Alina cruzou a soleira da porta fitando o corredor. Olhou rapidamente para a porta de seu quarto, de onde deveria estar saindo e para onde deveria ir agora, mas estava faminta demais. Seus passos a contragosto foram forçados pela fome a descer até o andar de baixo, indo ao encontro de Lissa.

Ao descer a escadaria pôde ouvir a voz de Miguel dizendo baixo:

— Tudo bem. Eu entendo, Lissa...

— Olha ela aí — a loira falou assim que viu Alina.

A garota se aproximou, tendo a sensação de que interrompeu algo importante, vendo que Miguel rapidamente se levantou sério.

— Você está bem? — Lissa perguntou.

— Estou. Bom, faminta, mas bem.

— Vem cá, tenho um pouco de sangue aqui — disse, chamando Alina.

A loira seguiu até a cozinha, onde abriu uma porta e desceu por uma pequena escada de madeira, sendo seguida pela jovem vampira.

— Estamos no porão? — Alina perguntou, sem conseguir enxergar um palmo à sua frente.

— Não exatamente, você vai ver — falou tocando no interruptor.

A luz tomou o cômodo, fazendo Alina soltar um "uau" abafado.

As paredes eram revestidas com tijolos de Palimanan que se destacavam e traziam propositalmente um clima rústico ao local, vários móveis de madeira para o armazenamento de bebidas preenchiam o lugar, com muitas divisórias. Uma peça afastada da outra com espaço o suficiente para alguém perambular entre elas com muito cuidado.

— Uma adega? Muito bacana.

— É sim...

— São muitas bebidas — Alina disse rapidamente.

— Não muitas. Algumas prateleiras estão vazias. Homens, bebem demais — comentou rindo.

— Olha, eu atrapalhei a conversa de vocês lá em cima? — inquiriu de repente.

— Não, Alina. A gente já tinha terminado. Está tudo bem agora — falou sem jeito.

— Ok... Mas e o sangue?

— Aqui atrás — Lissa respondeu notando a ansiedade nos olhos castanhos da garota ao seu lado.

Ambas caminharam para os fundos do cômodo, onde havia um pequeno corredor. No começo dele Alina pôde ver o baú de Lissa e logo ao lado um refrigerador.

— Isso mantém consistentemente em uma temperatura ideal — a loira disse. — Assim não preciso correr atrás de sangue todos os dias, quando estou aqui.

Alina abriu o aparelho e viu seis bolsas de sangue. Lissa tomou a frente e pegou uma, fechando a porta logo em seguida.

— Vamos?

A vampira novata olhou para o fim do corredor, dando dois passos à frente, vislumbrando uma grande porta de aço maciço fechada com um cadeado dourado. Tal visão por algum motivo assombrou Alina, que sentiu seus pelos se eriçarem.

— O que tem ali?

— Nada — Lissa falou seria, puxando a garota pelo braço. — Vamos lá para cima.

As garotas rumaram para fora daquele cômodo, parando apenas quando já estavam na grandiosa sala.

— Vou colocar a bolsa de sangue em um recipiente com água quente. Bebemos em alguns minutos — a loira avisou.

Alina balançou a cabeça levemente distraída, ainda pensando na misteriosa porta. Decidiu naquele momento subir e tomar um banho. Pouco tempo depois, mais tranquila e depois de se arrumar, desceu. Encontrando os três irmãos na sala.

— Aqui está seu sangue — Lissa falou, entregando um copo cheio para Alina.

A garota sorriu de lado, notando logo em seguida que todos bebiam também daquela bebida viscosa.

Ela deu um gole se sentindo leve, como se o mundo tivesse parado por alguns segundos e só houvesse ela, o sangue e mais nada ali. Porém essa sensação fora passageira.

— Eu vou até a cidade comprar algumas coisas — Lissa disse de repente. — Gostaria de vir comigo, Alina?

— Sim. Tenho que ver como a Flora está.

— Certo. E os rapazes o que vão fazer?

— Eu tenho que mexer no meu carro — respondeu Miguel. — Tá com um barulho estranho.

— E porque não leva ao mecânico? — ela questionou.

— Eu sei mexer em carros, Lissa — murmurou.

A loira sentiu a indiferença que ainda existia no tom de voz dirigido a ela, apesar da conversa apenas entre eles mais cedo.

— Bom, eu vou na cidade também — Derek falou rapidamente, quebrando o silêncio. — Mas não agora, então vocês podem ir.

— Tudo bem. Eu espero você lá fora — falou para Alina, que assentiu, balançando a cabeça.

Pouco tempo depois e as garotas já se encontravam no carro. Indo para o centro da cidade.

— Aqui deveria ter um Shopping — Lissa disse balançando a cabeça para os lados. — Qualquer cidade que se preze tem um. Não é mesmo?

— Acho que sim. Tenho uma amiga que já me disse o mesmo certa vez — confessou sorrindo, lembrando-se de Marina.

— Acho que eu e sua amiga nos daríamos bem — brincou, gargalhando.

— Talvez — respondeu pensativa. — Olha, eu tenho algumas perguntas, existem muitas lendas sobre os vampiros... Preciso saber o que é verdade.

Ela fitou Alina.

— Então pergunte...

— Já sei que o sol apenas nos enfraquece, mas não mata. Cruz e alho é tudo invenção. Entrar em casas só sendo convidado, a água benta é ácida, nossos sentimentos e sensações são intensificados no começo — ela disse, fazendo uma pausa, recuperando o ar. — O que mais preciso saber?

— Acho que você já sabe tudo — falou pensativa. — Bom, quanto a água benta, ela queima a pele, mas se ingerida ela paralisa a gente por alguns minutos, o que é horrível de qualquer forma.

— Só isso?

— Hum — Lissa murmurou. — Não fazemos sombras, mas temos reflexo em frente ao espelho, o que é um pouco louco. Não dormimos em caixões, pelo menos não os vampiros que conheço — disse gargalhando.

— Ah! — expressou surpresa. — Legal... E-Eu acho...

— Tem mais — avisou rapidamente. — Para transformar alguém você tem que mordê-la sugando todo o sangue dela, isso é importante. A pessoa precisa morrer, então só depois disso você dá um pouco da sua seiva. Existe algo em nosso líquido vermelho e viscoso que traz as pessoas de volta à vida, mas apenas como vampiros, claro.

— Entendo — Alina disse agoniada. Olhando para baixo, seus dedos tamborilaram sobre suas pernas.

— Em relação as comidas normais, elas não têm o mesmo gosto saboroso de antes e não faz diferença nenhuma comer, ou não. O que você precisa é de sangue mesmo e pode ficar no máximo três dias sem beber. É preciso tomar cuidado com o que você consome, sangue contaminado com ervas, drogas e alguns tipos de remédios podem nos deixar doentes — Lissa advertiu seriamente, fitando Alina — O único jeito de morrermos de verdade é com uma estaca de madeira no coração. Também tem a hipnose, não são todos os vampiros que conseguem fazer, assim como nem todos os humanos podem ter a mente controlada.

— Caramba... É muita informação — falou respirando profundamente. — Primeiro, como saber quem pode ser controlado?

— Os fracos! — afirmou. — Você percebe logo de cara.

— Como é a sensação?

— Eu não sei — Lissa respondeu tristonha. — Não consigo fazer — concluiu parando o carro em frente à casa de Alina.

— Obrigada por tudo — falou, sorrindo.

Lissa deu um sorriso amarelo em resposta, no entanto a garota ao seu lado retribuiu dando-lhe um abraço, assim que soltou o fecho do cinto de segurança e logo em seguida saiu do carro, caminhando até a varanda da sua residência.

A loira rumou para longe com seu veículo, pouco depois.

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