Capítulo 17 - Revelações...
Alina e Derek se entreolharam por alguns segundos, ele podia sentir a tensão que a cada minuto se intensificava nos ombros magros dela.
— Está tudo muito ótimo, mas que tal você falar logo o que a garota é? — Derek inquiriu cortando o silêncio.
— Vampiros — a velha resmungou para si. — Sempre astutos. Você por acaso sabe o que significa seu nome?
— Não precisa dizer. Posso pesquisar no Google — ele respondeu seco.
Ela deu de ombros.
— Dádiva divina — insistiu. — É um significado e tanto.
Alina os fitou franzindo a testa, incomodada.
— Olha eu não quero interromper vocês, mas senhora, preciso saber o que sou — ela disse.
— Você tem razão, já perdeu muito tempo — a velha disse encostando a coluna na poltrona. — Você não é uma humana de verdade, sei que seu coração tinha esperança, sinto muitíssimo. Você é a Herdeira Sanguínea.
Os lábios de Derek se afastaram um do outro levemente e seus olhos se arregalaram, surpreso.
— Mas isso é só uma lenda — ele comentou, aproximando-se. Seu semblante era extremamente sério.
— Para muitas pessoas os vampiros também são — ela retrucou, calando-o
Alina fitou os dois em silêncio. Os segundos que passaram nesse momento, pareceram-se com horas.
— O que isso significa para mim? — a garota perguntou com receio.
— Significa que a vida que você conhece nunca mais será a mesma. Significa que essa vida que você teve na verdade nunca te pertenceu — Derek respondeu tomando a palavra, aproximando-se ainda mais delas.
Alina o ignorou, fitando apenas a velha à sua frente. Não era uma opção deixá-lo intimidá-la novamente.
— Me conte tudo que sabe, por favor.
— A história é um pouco longa — a mulher pigarreou, mexendo-se na poltrona que no acento já tinha o molde do seu traseiro gordo. — Acho que o seu amigo vampiro pode colocar a água no fogo para meu chá.
Derek riu como se fosse uma piada, mas Alina o encarou como se sua vida dependesse daquilo e, contrariado, ele seguiu para o outro cômodo a contragosto.
A velha levantou a face, como se estivesse a visualizar toda a história, bem ali diante dos seus olhos cegos, e começou a falar seriamente:
— Em 1788, um bruxo chamado Arquel se apaixonou por uma camponesa, ela era muito atraente, alguns diziam no vilarejo que era como o próprio pecado. O nome dela era Isobel. Ele fez tudo para que ela se apaixonasse por ele, mas ela nunca o amou — a senhora fez uma pausa quando Derek retornou à sala, fitando-a, mas ela prosseguiu em seguida. — O sentimento era obsessivo, ele queria que ela fosse sua. Achou que dando-lhe a imortalidade ela iria amá-lo. Era uma magia negra poderosa...
— E tudo isso por amor — Derek resmungou.
— Mas havia outra mulher — a velha falou alterando a voz. — Uma bruxa também, que não aceitou aquilo; coisa de mulher rejeitada, isso é mais antigo que a própria inveja. A feiticeira garantiu que quando cada um deles tomassem sua dose se tornariam monstros, criaturas das trevas conforme eram seus corações.
— Isso era mesmo possível? — Alina questionou retórica.
Seus olhos estavam vidrados na velha, sua testa franzida.
— A cidade onde vivemos é uma droga de lugar místico, Raio de Sol, qualquer coisa é possível ali — Derek falou mais uma vez, intrometendo-se.
A idosa respirou fundo antes de continuar de onde havia parado.
— O coração amargo e cheio de maldade de Arquel, transformou-o em um lobisomem, condenado a sofrer as dores da transformação todas as vezes que fosse lua cheia.
— Mas ele não descobriu que sua amada, amava outro e matou esse homem? — Derek questionou curioso.
— É. Ele descobriu que ela amava secretamente um jovem que havia acabado de chegar na cidade, mas que misteriosamente morreu. Arquel estava condenado a dor e a solidão e queria desesperadamente ser amado, em uma noite transtornado, invadiu a casa dela e a violentou. Antes que ele pudesse pedir perdão ela tentou fugir e, tomado pelo ódio por saber que ela nunca poderia perdoá-lo e amá-lo verdadeiramente, decidiu que iria condená-la a eternidade de dor como a dele, porém, não aconteceu como planejado. Ao beber sua dose, ela se tornou imortal, mas não era como ele, em seu coração agora tinha muito rancor, e assim a primeira vampira nasceu...
— O que isso tudo tem a ver comigo? — Alina perguntou, agoniada.
— Relaxa, raio de Sol.
Ela fitou Derek furiosa, mas ele nada disse.
— O que tem a ver comigo? — insistiu.
— Arquel e Isobel são seus pais garota — a velha falou pacientemente.
Alina pareceu estar em choque após ouvir aquilo, no entanto começava a se lembrar rapidamente de seus dias recentes, a jovem se preparou para a próxima comoção, que viria como um sopapo na forma de palavras.
Nesse momento a chaleira começou a apitar, fazendo o zumbido tomar toda a casa, quebrando a tensão.
— Você sabe o que fazer, grandão — a velha falou para Derek.
— Espere do mesmo jeito que está agora — disse ele astutamente —, sentada!
Alina se levantou com rapidez.
— Eu vou — ela falou quase que aos gritos.
Segundos depois sua silhueta sumiu das vistas do vampiro, que calmamente se encostou na parede.
— Haverá uma hora — a velha olhou para Derek —, que você terá que se decidir, ninguém gosta de quem fica em cima do muro. Existem os bons e os maus, os dois juntos não existe.
O vampiro rangeu os dentes em resposta, mas ela continuou a falar, sem se importar com a cara feia que imaginou mentalmente vê-lo fazer.
— Eu sei o que você fez por seus irmãos, jogando a culpa para si sobre a morte da Aivy — a idosa falou baixo, mas agora sem o barulho da chaleira, Alina ouvia suas palavras claramente. — Tem coisas que mudam a gente, digo isso porque em breve terá que fazer escolhas, e essas escolhas podem mudar tudo.
Ele nada disse e o silêncio se instalou.
Alina respirou fundo ainda no outro cômodo, fitando a zona à sua frente.
— Ah meu Deus! — ela gritou da cozinha. — Eu não acho nem mesmo uma colher nessa bagunça!
— Tudo bem querida. É aquele velho ditado; se você quer alguma coisa, é melhor ir lá fazer — a velha falou rabugenta.
Derek permaneceu imóvel, calado. Chacoalhou a cabeça para os lados afastando as perguntas que se formavam em sua mente.
Pouco tempo depois as duas cruzaram a soleira da porta, voltando para a sala.
— Continuando — a velha falou. — Arquel criou uma família de lobos.
— Uma alcateia, por assim dizer — Derek retrucou, em meio ao riso irônico. — Solidão ou ambição?
Alina o fitou por um tempo, até que disse por fim:
— Acho que ninguém gostaria de ficar sozinho para sempre...
— Ele provavelmente merecia, era um maldito ditador.
— O que você sabe sobre ele? — ela perguntou friamente, olhando-o de forma severa.
A idosa moveu seu braço direito para pegar a xícara repousada na mesinha à sua direita, soprou fortemente o líquido que fumaçava e em seguida deu um grande gole, tudo isso sem se importar com os dois.
— Sei que ele era um monstro — Derek respondeu.
— E você, o que é? — Alina inquiriu prontamente.
Naquele momento sua respiração ofegante foi a única coisa a ficar em evidência.
O vampiro olhou para ela como até aquele instante nunca tinha olhado, não era com ódio; era uma espécie de amargura, como se o mar que parecia existir nos olhos azuis dele tivessem secado e, de alguma forma, aquele olhar a feriu.
— Eu sinto muito — a voz dela soou trêmula.
— Tanto faz — ele retrucou rapidamente, sem olhar para ela.
— Está bem — a velha disse. — Eu poderia continuar com a história?
— Fique à vontade — ele falou, seco.
— Bom, como eu dizia, com medo de que Arquel aparecesse com sua alcateia atrás dela e soubesse que ela havia engravidado, Isobel decidiu formar uma família de Vampiros, mas como não era uma líder nata, todos seguiram seus caminhos e ela estava só — a velha fez uma pausa, bebericando seu chá novamente.
— Essa é a versão totalmente verdadeira da história? — Derek perguntou.
— Algumas partes dela é, com toda certeza, mas você sabe que com o passar das bocas, palavras são omitidas e aumentadas — a idosa respondeu. — Concluindo, quando enfim o bebê nasceu, Isobel não pôde ficar com a criança, anos depois aquela bruxa... — a velha fez uma rápida pausa, pensativa. — Lilite, usou uma magia de sangue para te aprisionar e garantir que sua herança sanguínea não se apoderasse de você. Ninguém naquela época a julgou por isso, pois todos estavam crentes que você era a pior das aberrações.
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