Capítulo 14 - "Sessão"
Algumas velas e incensos estavam espelhados pala sala, graças à Lissa que os trouxesse rapidamente. Enquanto caminhava pelo cômodo a loira fitou pela milionésima vez a tela do celular verificando que não haviam chamadas perdidas ou mensagens vindas de Miguel.
Naquele momento, Tara se encontrava no quarto, sua perna direita estava cruzada por cima da outra, coluna ereta, as mãos estavam repousadas em cima dos joelhos, em meditação. Ela precisava se concentrar se quisesse mesmo fazer a sessão. Aquilo não era por ela e com certeza não por Alina, seria pelo Derek que fazia as paredes de seu coração estremecer.
Não demorou muito para que ele atravessasse o quarto pela porta entreaberta.
— Tara? Você está pronta?
— Vou estar em alguns minutos — ela falou dando um sorriso.
— Obrigado.
Ela o fitou surpresa.
— Pelo quê? Por tentar ajudar, ou pelo sexo no chuveiro?
— Por hoje — Derek respondeu rapidamente. — Pelo sexo é você quem tem que me agradecer. — Sorriu sacana.
Ele saiu antes que Tara pudesse ter qualquer reação. Rumou pelo corredor indo até o quarto onde Alina estava. Ao chegar em frente ao cômodo viu a garota ainda sentada na cama.
— Estou bem melhor — ela falou quando o notou encostado na soleira da porta, fitando-a. — Obrigada.
Derek deu um leve sorriso.
— Isso é bom.
— Acho que sim — comentou após alguns segundo —, mas o que vem agora?
— Vamos tentar algo — ele revelou caminhando em sua direção.
Alina o fitou curiosa.
— O quê? — perguntou indo para a ponta da cama.
— Um tipo de sessão espirita — falou, sentando-se ao lado dela. — Acha que está preparada para isso?
Um arrepio incômodo subiu rapidamente pela espinha de Alina, antes de responder:
— Isso vai me ajudar a saber o que sou?
— É o que espero.
— Então sim — Alina respondeu. — Estou pronta.
— Tem certeza? — Derek inquiriu, fitando-a nos olhos.
— Não sou uma boneca de porcelana, posso fazer isso.
Ele riu.
— Ótimo, então vamos.
Ambos se levantaram, mas antes que saíssem do quarto, Alina pegou no braço de Derek, fazendo-o parar bruscamente.
— Ah — ele murmurou. — O que foi agora?
— Eu estou com medo — segredou ela. — Um medo absurdo, não da sessão e sim da verdade sobre mim.
— Medo, medo... — ele falou quase melodicamente. — Isso é normal, mas não precisa sentir.
Ela balançou a cabeça, assentindo, no entanto havia uma nítida inquietação em seus olhos castanhos.
Derek se aproximou, a princípio impaciente, a resposta estava ali a alguns passos entre velas e incensos. Aquele drama era humano demais para ele. Colocando os cabelo de Alina por detrás da orelha ele falou:
— Não tem outro jeito. Prefere não saber de nada?
— Não é isso...
— Eu sei, raio de Sol — ele se aproximou ainda mais. — Vou estar com você o tempo todo. — Concluiu sem pensar, sentia que estava amolecendo com ela.
Mas havia, para Alina, algum conforto naquelas palavras, muito embora fosse pequeno. De repente o clima ficou denso, eles se olharam e não falaram nada. A garota sentia que poderia ficar ali, olhando para os olhos dele para sempre.
— Atrapalho? — Tara perguntou de supetão. Fitando-os.
— Não — Derek respondeu rapidamente.
— Então vamos? — ela inquiriu.
— As damas, primeiro — ele respondeu com ironia.
No andar de baixo Derek empurrou o sofá e a mesa de centro, dando espaço para que Tara se aproximasse, ela colocou as velas e os incensos no chão, formando um pequeno círculo.
— Alina, preciso que deite ali no meio — disse Tara, brandamente.
Um novo arrepio tomou a espinha de Alina, fazendo-a frear seus passos por um minuto, Derek por sua vez se encostou na soleira da porta observando tudo com extrema atenção. Lissa parou ao seu lado, esperando ansiosa o show de horrores começar, mas seria algo muito menor do que ansiava.
Tara se sentou, cruzando as pernas serenamente; calma, fechou os olhos e se concentrou. A mulata furou com um pequeno alfinete a ponta do seu dedo indicador, em seguida, marcou sua própria testa, na sequencia seu dedo tocou as têmporas de Alina, manchando-as de sangue também. Isso as manteriam atadas.
— Relaxe — ela pediu a Alina, que já se encontrava deitada —, acabará mais rápido do que você espera.
A vidente estendeu os braços para cima e começou a cantar um cântico, com voz baixa, quase inaudível.
— Que língua é essa que ela está falando? — Lissa perguntou para o irmão.
— Não sei — respondeu tenso. — Nunca ouvi nada igual antes.
Ocorreu naquele instante uma pequena agitação no fulgor, as chamas ora ficavam mais fortes ora mais fracas — como se o fogo que queimava as velas — estivessem dançando ao ritmo do som que vinha dos lábios de Tara.
O corpo da vidente se elevou alguns centímetros, na sala um leve, mas incomodo vento gélido tomou conta do ar, tudo que Tara conseguia ver em sua mente era uma garotinha acuada no canto, num lugar sujo e frio que cheirava a cinzas, petrificada e depois nada. Uma neblina escura surgiu e fez o coração da mulata acelerar bruscamente, trazendo-lhe falta de ar. Ela se encontrava no meio do nada, como se houvesse sido sugada para uma dimensão sem luz e vida. Foi nesse momento que a vidente ouviu algum espectro falar ao seu ouvido — Elóah Vikin — em murmúrio.
Os irmãos Campbell observaram o exato instante em que o corpo de Tara caiu no chão e em seguida as velas se apagaram; sentindo-se zonza, ela se pôs de pé com a ajuda de Derek. Os olhos de todos estavam pousados sobre ela, num silêncio cheio de expectativas.
— Eu sinto muito — disse ela, convicta de que dera seu máximo em vão.
— Droga — Derek resmungou baixo.
— Tudo bem — Alina falou, levantando-se —, o que fazemos agora?
— Precisamos conversar à sós — Tara murmurou para o vampiro.
— Vamos lá fora — ele disse, calmo.
Em meio aos olhares de Alina e Lissa, Derek e a mulata caminharam para fora da casa.
A vidente foi a primeira a cruzar a porta, podendo ver o céu estrelado, ela apertou um braço contra o outro quando a brisa gelada tocou sua pele.
— Sinto muito por não poder ajudar — ela disse, fitando-o, mas Derek fez sinal para que ela continuar caminhando.
Seguiram a trilha por detrás da casa, adentrando na floresta.
— Pode falar agora.
— Esse lugar é muito bonito — Tara desconversou, tentando fugir do assunto. — Deve ter sido bom crescer aqui.
— Nem tanto...
— Eu tenho que ir embora Derek.
Ele a fitou sério.
— O que você viu? — perguntou, aproximando-se.
— O suficiente para saber que precisa se afastar dela também.
— Não posso.
— Não mesmo? — ela questionou séria. — Você só quer ajudar ela não é? Ou existe algo a mais aí dentro? — perguntou, tocando-o no peito.
— Eu dei minha palavra, não existe nada além disso — Derek respondeu apressado, removendo a mão dela de si.
Ela balançou a cabeça como se tentasse se convencer disso.
— Eu sei que você sabe disso, mas preciso que ouça — Tara falou rapidamente —, você ocupa um espaço enorme no meu coração e eu...
— Não faça isso — Derek a interrompeu com voz firme.
Ela tocou na mão dele e ficou quieta por alguns segundos.
— Eu vi uma garotinha enfeitiçada com magia negra, Derek. Não posso dizer com certeza, mas acho que Alina é a herdeira de sangue.
Derek cerrou os dentes.
— Isso é uma lenda!
— Não é só isso — ela confessou —, eu ouvi um nome; Elóah Vikin, ela é uma guardiã sobrenatural, pensei que estivesse morta a um século, mas parece que não. Você precisa falar com ela, essa mulher tem as respostas.
— E por acaso sabe onde encontro ela?
— Em Calãn, eu posso levar você e a Alina até lá.
Ele ficou mudo. O silêncio o tinha dominado por completo.
— Se ela for mesmo a herdeira sanguínea, você precisará se afastar dela antes que isso custe sua vida ou de alguém que você ama.
— Por que fala isso?
— Porque eu me importo com seus sentimentos — Tara falou brandamente. — Sei que existe um cara sentimental aí dentro.
Derek gargalhou.
— Você acha que me conhece? — inquiriu alterando a voz. — Por quê? Por que trepamos algumas vezes?
— Derek! Ah — ela expressou sentida. — Por favor, não precisa ser um cretino agora...
Ele se aproximou seriamente.
— Tem mais alguma coisa a dizer?
Ela negou com um leve meneio.
— Então vamos, amanhã iremos para Calãn, cortar os Ts e colocar os pingos nos is.
Tara girou os calcanhares e rumou para a casa, seguida por Derek, a ideia de Alina ser a herdeira sanguínea trouxe uma onda de tensão sobre os ombros dele e se espalhou pelo corpo ligeiramente. Eles voltaram para a residência em silêncio.
A vidente fitou o vampiro mais uma vez, antes de regressar ao seu quarto. Lissa e Alina ainda estavam na sala.
— Ela te falou alguma coisa não foi? — a garota perguntou.
— Sim, ela falou — Derek respondeu procurando por algo no bar. — Por que o Burbom sempre acaba tão rápido nesta casa? — ele fitou Lissa.
— Talvez devesse parar de beber, e então sobraria — ela riu, subindo a escadaria.
— Por que a pressa?
A loira parou já lá no topo.
— Vou atrás do Miguel amanhã... Eu sei, não consigo ficar longe — deu um leve sorriso, antes de partir corredor a dentro.
— Derek? — Alina chamou. — O que Tara disse a você?
— Ela nos deu um lugar para ir. Partiremos amanhã de manhã.
— Já?
— Sim! — afirmou inexpressivo.
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