Capítulo 11 - Entre irmãos


     O vento forte e gélido parecia cortar a pele a cada quilometro que percorriam, já era noite quando Derek finalmente parou a moto e desligou o motor, o que foi um alívio para ambos.

— Chegamos — ele falou tocando na perna dela.

Tara o soltou e desceu da moto, parou diante dos degraus esperando por Derek, que vinha logo atrás. No céu nuvens carregadas começavam a se formar e relâmpagos cortavam aquela amplidão com grandes clarões brancos, que brevemente iluminavam o chão.

Ela levou um susto com o barulho que vinha lá de cima.

— Vai cair uma tempestade, chegamos na hora certa.

— É — ele murmurou rapidamente, sem dar muita atenção.

— Essa é sua casa?

— É — respondeu sério, indo até a porta.

— Você é um idiota — Tara falou de repente.

Derek rapidamente a fitou.

— Como é?

— Nada, pensei que você estivesse no automático: É... É.

Ele riu.

— Como você está, Tara?

— Toda dolorida — revirou os olhos. — Você poderia arrumar um carro, essa moto é um pavor.

Ele arqueou as sobrancelhas, pasmo.

— Fala sério, a turbinada é super confortável!

A morena gargalhou.

Turbinada?  Certo... Antes de entrar, vai me contar quem é essa pessoa que precisa de ajuda?

Ele engoliu seco.

— Não sei muito sobre ela...

— Ela? — Tara não disfarçou em mostrar seu desapontamento.

Em resposta ele balançou a cabeça.

— Então é isso...

— Isso? Não. É que... — ele olhou para ela. — Por acaso existe alguma raça não-humana que eu não conheça?

— Acredito que não, mas o que tem a ver?

— Ela não é uma humana e eu não sei o que ela é, acho você pode me dizer, mas vamos entrar antes que comece a chover.

Ao abrir a porta Derek ouviu um zumbido vindo da sala, depois de caminhar pelo corredor viu Lissa andando de um lado para outro com o aspirador ligado, sentado no sofá, Miguel segurava uma garrafa de Jack Daniels  e falava com ela:

Qual é o sentido disso Lis?

Derek revirou os olhos e tossiu para chamar atenção, o irmão se virou dizendo:

— Ela está tendo uma crise.

— É, percebi — Derek respondeu seco. — Temos uma hospede. Lissa, são dez da noite, não pode deixar isso para amanhã? — Lis não lhe deu ouvidos, mas ele continuou. — Você não sabe limpar uma casa, só está trocando a sujeira de lugar... Bom, essa é a casa, seja bem vinda, Tara.

A morena o fitou, Derek pegou em sua mão e a levou até o andar de cima.

— Você não me disse que a casa estaria cheia de vampiros — ela falou em protesto.

— Ninguém tocará em você!

— Ninguém? — ela falou séria, mas Derek poderia jurar que havia um pouco de malícia naquela pergunta.

Ele sorriu, a ideia de transar com Tara era instigante, mas ela não estava ali por isso.

— Você deve estar cansada, está vendo aqueles dois quartos ali? Você pode escolher um — Derek disse, afastando-se.

O vampiro caminhou até o quarto, lá dentro tirou a camisa e foi até o banheiro, depois retirou o restante da roupa e começou a tomar banho; estava tenso, podia sentir seus ombros pesados. Pouco tempo depois a porta do box se abriu devagar, fazendo-o se virar rapidamente.

— Será que eu posso tomar banho com você?

Ele sorriu de lado, vendo a figura despida e vistosa de Tara à sua frente, com o braço direito ele a puxou para si em resposta. Logo seus corpos estavam unidos a baixo do gotejar do chuveiro.

✣✣✣

    Tinha sido uma longa noite de insônia; uma voz fraca e amedrontada repetia na mente de Alina que tudo aquilo estava acima do que poderia suportar, encontrava-se encarando o teto quando o despertador tocou e ela se enterrou em baixo das cobertas, mas o sol já brilhava no céu quando finalmente levantou da cama, suas mãos estavam trêmulas. Caminhou até o banheiro e tomou um banho demorado, em seguida se trocou e desceu as escadas, na cozinha sobre a mesa um pote transparente guardava o pão de forma; ela pegou duas fatias colocando-as na torradeira, pegou também um copo de suco na geladeira, andou até a sala podendo ouviu com clareza o som roco de uma moto que passava na rua, a sensação que tinha era de vazio, se sentou no sofá quando em seguida a campainha tocou, Alina foi até a porta imaginando que veria Marina séria com seu semblante rabugento da manhã, mas não era ela, porém, não ficou surpresa.

— Bom dia raio de Sol — Derek falou dando um sorriso.

A garota tentou rapidamente fechar a porta, mas algo a impediu, olhou para baixo e viu o pé dele entre a soleira do piso.

— Qual é? Eu posso ficar aqui do lado de fora, mas você sabe que tenho passe livre, não é?

— O quê?

— Uma vez dentro, posso entrar quando quiser.

Alina respirou fundo e disse:

— Mas temos um pequeno problema, eu ainda não confio em você...

— Raio de Sol, é sério que vamos voltar nisso? — ele fez uma pausa, mas prosseguiu vendo que ela permaneceu muda. — Meu pai dizia que confiança é uma troca mútua, você tem que oferecer para receber, então o que você quer?

— Eu só quero que me conte sobre a Aivy...

O semblante cínico dele se desfez, transformando-se em algo árduo. Sua mandíbula rapidamente se contraiu, seus dentes rangeram e seus olhos ficaram sem brilho.

— Quem te falou dela? — inquiriu.

— Isso não importa agora...

— Nem precisa dizer — ele interrompeu.

— Derek, você me disse que não era um monstro, você se lembra disso? — Alina falou um pouco tensa. — Então, só me diga o que aconteceu com ela...

— Você sabe o que aconteceu ou não estaria me perguntando, não é mesmo? — questionou retorico, fitando-a sério. — Não que seja da sua conta raio de Sol, eu não queria fazer o que fiz, mas a Aivy não era uma vítima, tive que matá-la e você precisa confiar em mim se quiser minha ajuda — falou, afastando-se da porta. — Aquela amiga minha já está na cidade, mas você terá que vir até nós.

Ele deu meia volta e desceu os degraus, caminhando até a moto que estava parada na calçada.

— Derek? — ela chamou abrindo dessa vez totalmente a porta, mas ele nem olhou para trás.

— Agora não raio de Sol, tenho um problema familiar para resolver...

O ronco seco do motor fez o coração dela bater mais rápido, estava arrependida de ter aberto a boca. Os minutos seguintes passaram rápido, Derek chegou e parou a moto em frente à entrada da casa, fitando de longe o irmão caçula perto do portão da garagem, a alguns metros. Seu semblante estava sério e seu punho fechado, desligou o motor e se deslocou até lá rapidamente. Miguel estava de costas, com a mão esquerda abaixou a haste de ferro fechando o capô do carro, um grilo zumbia em alguma parte dos matos altos próximos da casa, o que já estava deixando-o irritado, em um milésimo de segundo se pôs de lado quando recebeu um soco que o acertou em cheio, fazendo-o cair atordoado.

— Você tinha que falar com a Alina, não é? Isso é para você nunca mais se meter na minha vida de novo — Derek comunicou, passando a mão em alguns fios de seus cabelos pretos que vinham à frente do rosto.

Miguel se levantou com um pulo, com o punho direito ele desferiu um soco, mas Derek o bloqueou com o braço esquerdo e com o direito aproveitou para acertar o rosto do irmão novamente.

— É só isso? — zombou.

Zonzo, Miguel deu dois passos para trás, mas se aproximou outra vez investindo em um novo ataque com a direita sabendo que seu irmão mais velho se defenderia, quando isso aconteceu ele girou veloz e acertou em cheio o nariz de Derek com uma cabeçada, fazendo-o cair. De imediato, o sangue escorreu no nariz do mais velho que, mesmo caído, estava atento o suficiente para derrubar o caçula com uma rasteira.

Àquela altura, o Sol já estava forte e fez Miguel semicerrar os olhos na tentativa falha de enxergar algo além de um forte clarão branco enquanto estava caído. Um pouco distante, Derek se ergueu pronto para continuar a briga quando, de repente, recebeu um chute na costela, ao cair longe viu os cabelos loiros de Lissa dançarem com o vento.

— Que merda está acontecendo? — ela inquiriu furiosa, em torno de seus olhos, veias grossas pulsavam.

— Não se meta nisso — Miguel falou, levantando-se, mas Lissa o derrubou com um chute, imobilizando-o com pé sobre sua barriga.

— E você — a loira apontou para Derek, que já estava de pé a alguns centímetros de distância —, não ouse se mexer ou terá que brigar comigo — falou sabendo que nenhum dos dois seriam capazes de bater nela, pois não teriam coragem de machucá-la. — Precisamos conversar — disse olhando para Miguel, ao mesmo tempo em que retirava a perna de cima dele.

— Ainda não terminamos aqui — ele insistiu.

— E eu não fui clara? Essas brigas e as farpas que vocês vivem trocando, acabou agora — anunciou séria, sua voz faiscava.

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