kiss all of your friends.
Yoongi.
Que bonitinho. Jeon Jungkook tinha desencanado de mim.
Sai correndo para entrar na faculdade antes que o portão fechasse, não podia faltar mais ou seria expulso. Não que eu me importasse, na verdade eu só continuava ali para concluir meu curso de música e continuar jogando basquete contra pessoas não tão boas quanto eu.
Basquete e música sempre foram as duas coisas que mais me atraiam, até eu ter que ir um dia no segundo prédio da faculdade e acabar encontrando uma pessoa.
•••
Eu odiava ir naquele prédio porque era cheio de adolescentes irritantes empolgados com a faculdade e cheios de planos e sonhos para o futuro, enquanto eu só queria um jeans novo e dinheiro pra mais um piercing.
Já estava de noite, os corredores um pouco escuros e vários alunos já indo embora. Fui andando apressado até a monitoria para entregar os documentos da minha rematrícula enquanto me permitia ouvir apenas a música baixa em um dos fones de ouvido. Entreguei o que precisava para a mulher do balcão, que acabou me encarando por tempo demais.
― Algo mais, hm... Yoongi? ― ela me deu um sorriso e tombou a cabeça para o lado.
Típico flerte de gente inexperiente, argh.
― Como sabe meu nome? ― perguntei com uma expressão desconfiada enquanto tirava o fone do ouvido.
― Está no documento... ― ela levantou meu RG com a unha apontando para a foto.
― Então aproveita que você sabe ler um RG e faz minha rematrícula logo. ― Ri anasalado e me afastei do balcão, saindo da secretaria e caminhando preguiçoso pelo corredor, ligando minha música de volta.
Estar sozinho ali com todos aqueles armários e prateleiras com troféus e medalhas espalhadas pelas paredes me fez rir por um instante, pensando no quão ridículo era a ilusão que todos aqueles professores criaram para os alunos acreditarem que estão vencendo em algo quando na verdade estão todos ficando pra trás.
Ser alguém na vida já tinha perdido a magia para mim.
Enquanto eu andava distraído julgando as pessoas pela janela pequena da porta de uma sala qualquer, um som de soluços se fez mais alto que a melodia que tocava no meu ouvido. Aquilo me fez desviar o olhar da sala e procurar pela origem do que eu concluí ser alguém chorando, quando vi no final do corredor alguém sentado no chão, encostado no último armário dali segurando as pernas contra o corpo e arrastando o all star surrado no piso.
Fiquei confuso e pensei "por quê deixaram uma criança sozinha chorando nesse lugar enorme?"
Uma parte de mim dizia para ignorar aquilo e voltar pra minha vida, mas alguma coisa me fez ir até ele e me agachar em sua frente com as duas mãos apoiadas nos joelhos.
Suspirei entediado para ele perceber que tinha alguém na sua frente e o esperei erguer a cabeça, com o rosto inchado e os olhos grandes um pouco vermelhos. ― Você está bem?
― Você realmente se importa? ― ele retrucou com a voz rouca e uma expressão cansada, talvez de tanto chorar.
Eu realmente me importava?
― Na verdade não, mas seu choro atrapalhou minha música. ― respondi no mesmo tom de ironia, sem me importar muito se o magoaria ou não.
Mas quando eu dei uma risada anasalada o vi abaixar a cabeça de volta e voltar a chorar baixinho, levando uma mão aos cabelos negros e os puxando de leve.
― Ah, desculpe.... ― sussurrei arrependido por ter feito mais mal ainda, enquanto sentia meu coração se apertar.
Caralho, eu nem lembrava que tinha um coração em mim.
Percebi sua cabeça balançar de um lado para o outro em negação com alguns soluços escapando então decidi fazer as coisas do meu jeito, já que ele não tomaria nenhuma iniciativa.
― Garoto, presta atenção. Eu não sou muito fã de pessoas e eu também nem te conheço mas não quero te ver assim nesse estado. ― falei sincero, esperando que ele falasse direito comigo.
― Eu tô tão ruim assim? ― ele apontou para si mesmo fazendo uma careta fofa, revirando os olhos quando focou em mim. ― Você parece mais velho, o que faz aqui?
― Eu sou mais velho sim e vim fazer uns negócios aqui que não são exatamente da sua conta.
Vi que sua atenção estava totalmente focada em mim, me analisando por inteiro e desviando o olhar do meu algumas vezes.
Segurei a ponta do seu queixo e levantei seu rosto para me olhar direito. ― Olhe para mim quando eu estiver falando com você, garoto.
― Desculpe, hyung... ― sua voz fraca e manhosa me deu arrepios por algum motivo.
― O que fizeram com você? ― tentei parecer desinteressado mas provavelmente não deu certo, já que eu parei minha vida pra ajudar um desconhecido no corredor.
Um desconhecido bonito pra caralho.
― Meu namorado terminou comigo. ― ele me mostrou a tela do seu celular ainda bloqueada, com uma foto dele e o que eu concluí ser seu ex. Era um garoto alto, de cabelos amarelos e com um corpo de dar inveja.
― Nah, vocês não combinavam. ― minhas pernas já doíam de ficar agachado, então me sentei logo e cruzei as pernas em sua frente. Eu não sairia dali tão cedo, e nem queria.
Achei que ele voltaria a chorar, mas ao invés disso apenas riu baixo e um pouco envergonhado estendendo uma das mãos para mim.
― Sou Jungkook.
E foi assim que eu, Min Yoongi, conheci Jeon Jungkook.
•••
Cheguei no vestiário, que parecia vazio, e joguei minha mochila no canto do banco, indo direto para o meu armário para me trocar e jogar quando ouvi o som baixo de uma das cabines batendo contra a parede e alguns passos. Foquei minha atenção no corredor que dava para os chuveiros enquanto tirava minha camiseta larga e procurava a do uniforme, quando ninguém menos que o próprio Jeongguk passou reto por mim, sem nem me olhar ou cumprimentar, só com uma toalha na parte de baixo do corpo e o cabelo molhado grudando na testa.
Ele entrou para o time de basquete e não me contou, o que me deixou muito intrigado já que ele mesmo tinha me falado que não queria participar porque não queria ter que jogar contra mim. Achei melhor mesmo, ele perderia feio.
― Engraçado, eu estava pensando em você mesmo. ― falei tentando provocá-lo e segurando seu braço, quando me toquei que ele não pararia para falar comigo. ― Me ouviu?
― Quer que eu finja que significa alguma coisa pra mim? ― Jeon disse simples, ainda de costas para mim e tirou minha mão de seu braço ainda molhado.
― Qual o seu problema, garoto? Por quê está me evitando e por quê entrou para o time?
― Te irrita? ― ele falou finalmente se virando para mim, cruzando os braços e levantando uma sobrancelha.
― Muito, as duas coisas. ― falei entre dentes, começando a ficar nervoso.
― Que bom. ― seu sorriso sarcástico me deu nos nervos e eu o acompanhei com o olhar enquanto ele ia até o outro lado do vestiário para se vestir.
Dei um soco no armário fazendo um barulho alto e irritante, quase tanto quanto Jeongguk. Terminei de me trocar e fui para a quadra, me sentando na arquibancada e tentando colocar meus pensamentos no lugar. Ele estava me tratando mal há pelo menos duas semanas.
Eu não poderia ter machucado ele. Nós não fazíamos nada demais, eu queria muito poder tocar naquele corpo e fazer tudo o que eu quisesse com ele, mas ele tinha acabado de fazer dezoito anos e eu sabia que nenhum de seus amigos gostavam de me ver por perto dele enquanto ele ainda fosse considerado uma criança.
Ah, Kim Taehyung.
Ele me fuzilava com o olhar sempre que me via com Jeon ou sozinho, parecia até perseguição. Ele era gostoso, era um prazer sentir seu olhar entediado sobre mim toda vez que eu acenava para ele.
Já os outros amigos de Jeongguk pareciam ter medo de mim, o que também era bom considerando o fato de que eu não dava a mínima pra eles.
Enrolar é uma palavra muito forte, eu usaria "fiz ele se apaixonar por mim" no lugar.
Se ele ainda vinha até mim para me ver, me procurava no vestiário depois dos treinos de basquete, me abraçava até eu ceder e ria de qualquer besteira que eu dissesse, era porque ele queria.
Mas a situação tinha mudado, agora Jeongguk já tinha dezoito anos e eu poderia levar ele para boates, festas e o melhor: minha cama. Aguentar ficar sem nem poder beijar o Jeon já foi difícil, eu merecia uma recompensa por ser bonzinho e respeitar a lei.
A festa dos Kim era a oportunidade perfeita para isso, porém, é claro que o Taehyung estragou tudo e me fez ir até um lugar abandonado só pra perder a festa; ele me odiava, e eu diria que era recíproco.
Fui mandado pro endereço errado, rejeitado e pra melhorar minha cabeça doía como se fosse explodir. Será que eu merecia tudo aquilo?
A voz de alguém me chamando para jogar interrompeu meus pensamentos, então fui fazer a única coisa que me distraía junto com a única pessoa que me distraía, mas Jeongguk me evitou o jogo todo. Quando eu estava livre e ele podia passar a bola para mim, ignorava minha existência e tentava fazer a cesta sozinho, não adiantava eu gritar ou esbarrar nele de propósito.
O técnico sinalizou o fim da partida e nos liberou para ir pro vestiário, enquanto o sinal alto tocou e os alunos começaram a vir para a quadra já que era a hora do almoço. Uma música começou a tocar nos alto falantes.
Hair Too Long - The Vamps
I'll go out, kiss all of your friends
Make a story and pretend
It was me who made this end
― Fominha. ― Silabei sem emitir som nenhum o encarando do outro lado da quadra, ignorando a presença de todos os outros no meio.
― Algum problema, Yoongi? ― ele falou rindo e vindo com a bola na minha direção, logo após arremessando pra mim com uma certa força que eu não sabia que ele tinha.
― Me diz você. ― joguei a bola de volta demonstrando minha irritação, ao contrário dele, que parecia mais leve que nunca.
― Não tenho nada pra falar pra você. ― a bola voltou e ele continuou rindo como se fosse a piada mais engraçada do mundo, eu não entendi o que deu tanta confiança assim pra ele falar desse jeito comigo.
― Do que você tanto ri, hein? ― Joguei a bola no chão e olhei pra Taehyung e Bambam que se aproximavam de Jeon que agora já estava na minha frente, talvez com medo do que ele poderia fazer já que sua risada sumiu e sua expressão ficou tensa.
― De você, porra, eu não quero mais ver você, quando vai entender que eu já te superei?
― Me superou? ― dei uma risada debochada na sua cara e apertei seu pulso com força. ― Com quem?
― Não encosta mais em mim, idiota, qualquer um é melhor que você. ― ele puxou o pulso rápido, massageando o lugar e continuou me olhando com ódio.
Antes que ele viesse pra cima de mim, Bambam segurou seu braço direito e falou com ele, me olhando com desgosto. ― Não vale a pena, Kookie.
Agora eu tinha certeza: ele estava saindo com outra pessoa esse tempo todo. Quem ele pensa que é pra me dispensar assim? Eu não esperei esse tempo todo pra ele me substituir e fingir que nunca foi apaixonado por mim, aquilo me deu nos nervos e tudo o que eu queria fazer era dar um soco no meio da cara de Jeongguk.
Mas não, isso não seria suficiente. Dor não era o suficiente. Ele tinha que sentir outra coisa.
Desviei meu olhar, atordoado com tudo aquilo e minha dor de cabeça só piorando quando eu rapidamente encontrei quem eu queria ver.
Taehyung.
Abri um sorriso que provavelmente foi o mais psicopata que eu já dei e fui correndo na direção do Kim, falando uma última frase. ― É Kookie, não vale a pena!
Segurei seu maxilar com minhas duas mãos e apertei meus lábios contra os seus, o fazendo desequilibrar e dar alguns passos para trás e senti suas mãos em meus braços como um impulso.
― Larga ele, seu filho da puta! ― ouvi Jeon gritar em certa distância e sua voz vir aumentando, então sorri contra a boca de Taehyung satisfeito com a confusão que eu mesmo estava causando. Tentei abrir espaço para usar minha língua e iria até onde for para deixar Jeongguk mais irritado.
O melhor de tudo: em nenhum momento Taehyung me rejeitou. Pelo contrário, ele quase cedeu quando Jeongguk chegou e o puxou com força, me fazendo soltar seu rosto e um som estalado de duas bocas se separando soar alto.
Ri debochado enquanto Jeon puxava o outro pelo braço e os dois saíam pelo portão da quadra, falando alguns palavrões que eu não consegui ouvir direito. Respirei fundo recuperando o ar que havia perdido com aquele beijo e juntei forças para gritar. ― Vai se fuder!
Passei as mãos com raiva pelo meu cabelo, que já estava grande demais e cobrindo meus olhos, e olhei em volta da quadra onde pelo menos metade me encarava com expressões surpresas e até alguns sorrisos maliciosos. Fui correndo até o vestiário, nem troquei o uniforme ou tomei banho, apenas peguei minha mochila e o celular para ligar para Namjoon enquanto ia até o estacionamento da faculdade.
"Oi, beijei seu irmão, eaí?" pensei em falar mas logo ri da ideia absurda, já que sem dúvidas ele iria me matar e pendurar meu corpo no seu quarto.
― Alô? Min? ― ouvi Namjoon dizer do outro lado da linha enquanto mastigava algo.
― Kim? Posso te pedir um favor? ― falei um pouco afobado por estar correndo enquanto meus olhos analisavam a saída do outro prédio, onde Jeongguk, Taehyung e um cara de cabelo loiro estavam conversando.
― Você está bem? Por quê tá respirando tão rápido?
― Quem é o cara que o Jeon tá saindo? ― ignorei sua suposta preocupação, quando parei e apoiei a mão livre no joelho, recuperando o fôlego que eu havia perdido pela segunda vez em tão pouco tempo.
― Eu acho que você não devia se meter, hein... ― percebi o tom meio receoso na voz de Namjoon e suspirei entediado com aquele papinho de irmão mais velho protetor.
― Ah, para com isso, somos todos adultos! ― falei relaxado.
Ele ficou em silêncio por um tempo até voltar a falar na ligação, talvez pensando se seria um boa ideia me dizer o nome.
― É Park Jimin.
― Park... Jimin? ― repeti devagar encarando o cara loiro que ainda estava ali com os outros dois.
― É isso aí, e ele é um dos meus melhores amigos então é melhor você não mexer com ele. ― Namjoon falou com a voz firme.
― E eu? Não sou um dos seus melhores amigos? ― falei debochado.
― Na verdade não. ― senti ele tentar dar uma risada sem graça pra amenizar o peso daquele tapa na cara que me deu.
Eu sempre gostei de Namjoon, ele era um cara reservado mas muito interessante porém eu fiz algumas besteiras que ele não gosta de falar sobre. E, claro, tinha acabado de adicionar mais uma pra lista.
Beijar o irmão mais novo de alguém que me odeia: feito. ✔
― Ai, isso doeu! ― brinquei, colocando a mão no peito como um exagero mesmo ele não me vendo.
Mas doeu de verdade.
― Preciso ir Kim, obrigado pelo nome, até mais.
Finalizei a ligação e fui até o restaurante em frente à faculdade, não precisava chegar cedo em casa mesmo então decidi jantar por ali de uniforme suado mesmo.
•••
Comi rindo baixo às vezes lembrando da cena que eu fiz há poucas horas atrás, quando recebi algumas mensagens de Mingyu. Ele estava de volta na faculdade, finalmente alguém legal naquela maldita escola.
Respirei fundo e me levantei, indo pra calçada da faculdade para ir até o ponto e esperar meu ônibus passar. Já eram mais de nove horas da noite, havia pouco movimento nas ruas e luzes brilhantes nos postes.
Olhei na direção onde os três antes estavam conversando e agora só havia um, e não era nem Jeon e nem Kim.
― Você é o Park... Simin? ― perguntei fingindo curiosidade enquanto ele passava por mim no ponto de ônibus, com chaves de carro na mão.
― É Jimin. ― ele respondeu me analisando e finalmente me reconhecendo, abrindo mais os olhos em uma expressão enjoada.
Quer dizer, não teria como ele me reconhecer já que nunca nos falamos, mas provavelmente alguém já tinha contado sobre mim pra ele.
― Ah é, desculpe, não sou bom com nomes.
― Uhum. ― ouvi seu murmúrio quando voltou a andar até o estacionamento, ignorando minha existência.
As pessoas me odiavam, não era possível tanta rejeição.
― Se cuida. ― falei baixo mas ainda querendo que ele ouvisse, enquanto me encostava no poste e o via se virar, me olhando com um olhar confuso e depois voltando a andar.
Estalei a língua no céu da boca e encarei a rua deserta e as sombras fracas das luzes. Coloquei o fone e continuei ouvindo minha música, esperando meu ônibus.
Tudo era meu, assim como Jeon Jungkook.
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