27
Winter's pov:
Eu não tenho ideia de onde Ningning está. A estratégia óbvia é tentar pensar como Woojin — onde eu prenderia Ningning, se fosse ele?
Ele quer que seja difícil de fugir e difícil de encontrar, raciocino.
Em minha cabeça, procuro reconstituir a planta do prédio, concentrando a atenção nos andares superiores. Provavelmente Yizhuo está no terceiro andar, o mais alto da faculdade — a não ser por um pequeno quarto piso que é mais um sótão do que qualquer outra coisa. Uma escadaria estreita, acessível apenas do terceiro andar, conduz até lá. No alto, há duas salas de aula: uma está vazia e a outra pertence ao laboratório de pesquisas.
Ningning está no laboratório. De repente eu sei.
Movimento-me na escuridão o mais rápido que posso. Subo tateando dois lances de escada. Depois de algumas tentativas e erros, descubro a escada estreita que conduz ao laboratório de pesquisas. No alto, empurro a porta.
— Ningning? — chamo baixinho.
Ela deixa escapar um gemido suave.
— Sou eu — digo, dando cada passo com cuidado, enquanto manobro em torno das fileiras de mesas, sem querer derrubar uma cadeira e entregar minha localização para Woojin.
— Você está ferida? Precisamos sair daqui. — Eu a encontro encolhida na frente da sala, apertando os joelhos contra o peito.
— Jong Seong me bateu na cabeça — ela diz, a voz ficando mais alta. — Acho que desmaiei. Agora não consigo ver nada. Não consigo ver nada.
— Escute. Um cara chamado Woojin cortou a eletricidade e as persianas estão abaixadas. Só está escuro. Segure minha mão. Precisamos descer agora.
— Acho que ele fez alguma coisa. Minha cabeça está latejando. Acho que estou mesmo cega.
— Você não está cega — sussurro, sacudindo-a ligeiramente. — Também não consigo enxergar. Precisamos encontrar o caminho para baixo. Vamos sair pela porta da sala de atletismo.
— Ele acorrentou todas as portas.
Há um momento de silêncio tenso entre nós. Lembro que Woojin me desejou sorte na fuga e agora entendo o porquê. Um calafrio perceptível deixa o meu coração e atravessa o restante do meu corpo.
— Não acorrentou a porta por onde entrei — digo, finalmente. — A porta no canto leste está aberta.
— Deve ser a única. Eu estava com Jay quando ele acorrentou as outras. Disse que ninguém ficaria tentado a sair enquanto brincássemos de esconde-esconde. Disse que era proibido ir lá fora.
— Se a porta leste é a única destrancada, Woojin vai tentar bloqueá-la. Vai esperar nós irmos até ele. Mas não vamos. Vamos sair por uma janela — digo, montando um plano na cabeça. — Do outro lado do prédio, deste lado. Você está com o celular?
— Jong Seong o levou.
— Quando sairmos, devemos nos separar. Se Woojin nos perseguir, precisará escolher a quem seguir. A outra vai buscar ajuda. — Eu já sei quem ele vai escolher. Ningning não tem outra serventia para Woojin, além de me atrair para aqui hoje à noite. — Corra o mais rápido que puder e encontre um telefone. Chame a polícia. Diga a eles que Jong Seong está no corredor próximo a biblioteca.
— Está vivo? — Ningning pergunta com a voz trêmula.
— Não — sussurro.
Ficamos juntas, abraçadas, e sinto que ela levanta a camisa para secar os olhos.
— É tudo culpa minha.
— É culpa de Woojin.
— Estou com medo.
— Vamos ficar bem — digo, tentando parecer otimista.
Yizhuo solta um soluço. Nós duas sabemos que eu estou mentindo. O desejo de vingança de Woojin supera tudo.
Ningning e eu nos arrastamos escada abaixo, mantendo-nos próximas às paredes até chegarmos ao primeiro andar.
— Por aqui — murmuro em seu ouvido, segurando sua mão enquanto caminhamos depressa pelo corredor, dirigindo-nos à extremidade oeste.
Não andamos muito quando um som gutural, não exatamente uma gargalhada, ecoa do túnel de escuridão à nossa frente.
— Muito bem, o que temos aqui? — Exclama Woojin. Não há um rosto acompanhando a voz.
— Corra! — Digo para Ningning, apertando sua mão. — É a mim que ele quer. Chame a polícia. Corra!
Ningning solta minha mão e corre. Os passos desaparecem perturbadoramente rápidos. Penso por um instante se Jimin ainda está no prédio, mas é praticamente um pensamento secundário. Estou concentrada em não desmaiar. Porque, mais uma vez, eu estou sozinha com Woojin.
— Vai levar pelo menos vinte minutos para a polícia chegar — exclama Woojin, o som de seus passos cada vez mais perto. — Não preciso de vinte minutos.
Dou meia-volta e corro. Woojin começa a correr atrás de mim.
Passando as mãos pelas paredes, viro à direita no primeiro cruzamento e corro por um corredor perpendicular. Obrigada a confiar nas paredes como guia, as mãos esbarram nas quinas afiadas dos armários e dos umbrais, arranhando a pele. Entro novamente à direita, correndo o máximo que posso até chegar às portas duplas do ginásio.
O único pensamento que atravessa minha cabeça é que eu posso entrar no armário do vestiário a tempo de me trancar lá dentro. O vestiário feminino tem todas as paredes cobertas com armários gigantes que vão até o teto. Vai levar tempo para que Woojin arrombe cada um deles. Se eu tiver sorte, a polícia vai chegar antes que ele me encontre.
Lanço-me no ginásio e corro para o vestiário feminino. Assim que coloco a mão na maçaneta, fico congelada de terror. A porta está trancada. Tento abri-la de novo, mas não cede. Dou a volta e procuro freneticamente por outra saída, mas eu estou presa no ginásio. Apoio-me contra a porta, fecho os olhos com força, para tentar não desmaiar, e escuto minha respiração se acelerar.
Quando reabro os olhos, Woojin está caminhando para a névoa do luar que penetra pelas claraboias. Amarrou o casaco em volta da coxa. Uma mancha de sangue embebe o tecido. Usa uma camiseta regata branca e calças de algodão. Um revólver está enfiado na cintura da calça.
— Deixe-me ir embora, por favor — murmuro.
— Ningning me contou um detalhe interessante sobre você. Você tem medo de altura. — Ele levanta o olhar para as vigas no alto do ginásio. Um sorriso se abre em seu rosto.
O ar estagnado está impregnado pelo odor de verniz de madeira. A calefação fora desligada durante o feriadão, e está gelado. Sombras se estendem para a frente e para trás no piso polido enquanto o luar desponta atrás das nuvens. Woojin está de costas para a arquibancada. Vejo Jimin se movimentar por trás dele.
— Você não tem medo de um conflito direto com a família de Jong Seong? — Pergunto para Woojin, obrigando-me a não reagir e denunciar Jimin.
— Eu cuidei dessa questão com antecedência. Não gostei da ideia de um anjo caído estar longe do olhos divinos, sabe? A essa altura a família dele é só uma lembrança.
— E a janela do meu quarto? Você andou me espionando enquanto eu dormia?
— Nada pessoal.
Woojin enrijece. Subitamente dá um passo para a frente e puxa meu punho, fazendo-me girar na frente dele. Sinto o que temo ser o revólver apertado contra minha nuca.
— Tire o boné — Woojin ordena a Jimin. — Quero ver a expressão em seu rosto quando eu a matar. Você não pode fazer nada para salvá-la. Está tão impotente em relação a isso quanto eu em relação ao passado.
Jimin dá alguns passos adiante. Movimenta-se com tranquilidade, mas eu sinto sua cautela rigidamente controlada. O revólver afunda-se mais, e eu solto um gemido.
— Mais um passo e ela morre — ameaça Woojin.
Jimin observa a distância entre nós, calculando em quanto tempo poderá vencê-la. Woojin também percebe.
— Não tente — ele exclama.
— Você não vai atirar nela, Woojin.
— Não? — Ele aperta o gatilho. A arma estala e abro a boca para gritar, mas tudo que deixo escapar é um soluço trêmulo.
— Revólver — explica Woojin. — O tambor está carregado.
Está pronta para dar aqueles golpes de boxe de que você tanto fala?, Jimin diz em minha cabeça.
Meu pulso está fora de controle. As pernas mal conseguem me manter em pé.
— O q-quê? — gaguejo.
Subitamente, uma corrente de força me atravessa. Uma força desconhecida expande-se até tomar conta de mim. Meu corpo é completamente vulnerável a Jimin. Toda minha força e liberdade são deixadas de lado no momento em que ela me possui.
Antes que eu tenha tempo de perceber como me aterroriza tal perda de controle, uma dor alucinante irradia-se pela minha mão. Percebo que Jimin está usando meu punho para golpear Woojin. O revólver se solta e tomba. Desliza pelo piso do ginásio, fora de alcance.
Jimin ordena às minhas mãos que joguem Woojin de costas contra as arquibancadas. Ele tropeça e cai sobre elas.
Minha próxima visão é das minhas mãos se fechando em torno da garganta de Woojin, lançando sua cabeça para trás, contra as arquibancadas, com um estalo barulhento. Mantenho-o ali, apertando os dedos contra seu pescoço. Os olhos se arregalam, então se esbugalham. Ele tenta falar, mexendo os lábios de forma incompreensível, mas Jimin não cede.
Não serei capaz de ficar muito mais tempo dentro de você, fala Jimin em meus pensamentos. Não é Cheshvan, e não tenho permissão. Assim que eu for expulsa, corra. Você está compreendendo? Corra o mais rápido possível. Woojin estará atordoado demais para entrar em sua mente. Corra e não pare.
Um zumbido alto corre por dentro de mim. Sinto meu corpo se desprendendo de Jimin. Acontece tão subitamente que fico tonta.
Minhas mãos estão sob meu controle de novo e, impulsivamente, deixam o pescoço de Woojin. Ele rapidamente se afasta, levando a mão ao pescoço como se não sentisse nada além de um incômodo. Jimin está a alguns metros de distância, imóvel.
Lembro-me do que ela disse e saio em disparada pelo ginásio. Jogo-me contra a porta, esperando invadir o corredor. Em vez disso, a sensação é de estar batendo contra uma parede. Puxo a maçaneta, pois sei que a porta está destrancada. Eu passei por ela cinco minutos antes. Jogo todo o meu peso contra a porta. Ela não abre.
Viro-me, sentindo a adrenalina fazer meus joelhos tremerem.
— Saia da minha cabeça — berro para Woojin.
Caminhando para sentar no degrau mais baixo da arquibancada, Woojin sorri.
— Não — ele diz.
Tento a porta mais uma vez. Levanto o pé e chuto a maçaneta. Bato com a palma das mãos contra o visor.
— Socorro?! Alguém pode me ouvir? Socorro!
Olho para trás e vejo que Woojin avança na minha direção, mas Jimin se coloca em sua frente. Fecho os olhos com força para tentar me concentrar. A porta abre assim que eu encontro a voz dele e a varro dali. Procuro em cada canto da minha mente, mas não consigo encontrá-lo. Está em algum lugar, nas profundezas, escondido de mim. Abro os olhos. Eu preciso descobrir outra saída.
Presa na parede sobre as arquibancadas há uma escada de ferro. Subo até o conjunto de vigas no alto do ginásio. Na extremidade das vigas, na parede oposta, quase exatamente acima do lugar onde eu estou, existe um canal de ventilação. Se eu conseguir chegar até lá, posso atravessá-lo e encontrar outro caminho para baixo.
Saio correndo a toda a velocidade e subo as arquibancadas. Meus sapatos batem na madeira, ecoando no espaço vazio, tornando impossível ouvir se Woojin está me seguindo. Coloco o pé no primeiro degrau da escada e começo a escalar. Subo um degrau, depois outro. Pelo canto do olho, vejo o bebedouro lá embaixo. Parece pequeno, o que significa que eu estou alto, bem alto.
Não olhe para baixo, ordeno a mim mesma. Concentre-se no que está acima. Arrisco-me a subir mais um degrau. A escada chacoalha por não estar devidamente soldada à parede.
A gargalhada de Woojin chega até mim, e perco a concentração. Imagens de quedas passam por minha cabeça. Logicamente, eu sei que estam sendo plantadas por ele. Então meu cérebro vacila, e eu não consigo lembrar que sentido é para cima ou para baixo. Não consigo decifrar quais pensamentos são meus e quais são de Woojin.
O medo é tão intenso que turva minha visão. Eu não sei em que ponto da escada me encontro. Meus pés estão bem centrados na estrutura de metal do degrau? Eu estou escorregando? Agarrando o degrau com as duas mãos, aperto a testa contra o nó dos dedos. Respire, digo para mim mesma, Respire!
Então escuto.
O lento e torturante som do rangido do metal. Fecho os olhos para interromper uma crise de vertigem.
As cantoneiras de metal que prendem o alto da escada à parede se soltam. Observo com um grito preso na garganta enquanto a metade superior da escada se solta logo em seguida. Prendo meus braços e minhas pernas em torno da escada, protegendo-me para cair de costas. A escada vacila por um momento no ar e pacientemente sucumbe ao peso da gravidade.
Então tudo acontece muito rápido. As vigas e as claraboias desaparecem em um borrão atordoante. Despenco até que, subitamente, a escada interrompe sua queda. Ela balança para cima e para baixo, perpendicularmente à parede, quase dez metros acima do chão. O impacto solta minhas pernas. As mãos são minha única ligação com a escada.
— Socorro! — Grito, com as pernas balançando no ar.
A escada sacode, caindo mais alguns metros.
Mordo a língua à medida que a dor nos braços aumenta. Eles parecem estar saindo da articulação.
Então escuto a voz de Jimin, que parece estar em um confronto direto com Woojin.
Mantenha-o bloqueado. Continue a subir. A escada está intacta.
— Não consigo — soluço, sentindo o pânico correr por meu corpo. — Vou cair!
Mantenha-o bloqueado. Feche os olhos. Ouça minha voz.
Engolindo em seco, obrigo meus olhos a se fecharem. Agarro-me à voz de Jimin e sinto uma superfície robusta ganhar forma sob mim. Meus pés já não balançam mais no ar. Sinto um dos degraus sob a sola dos meus pés. Decidida, concentro-me na voz de Jimin. Espero até que o mundo se arraste de volta ao eixo. Jimin está certa. Eu estou na escada. Ela está ereta, presa à parede. Recupero um pouco de determinação e continuo a escalada.
No alto, transfiro-me perigosamente para a viga mais próxima. Agarro-a com os braços, então passo a perna direita para cima dela. Está de frente para a parede, de costas para a saída de ventilação. Mas não a nada que eu possa fazer agora. Com muito cuidado, ergo-me sobre os joelhos. Com toda a concentração, começo a engatinhar de costas, para atravessar toda a largura do ginásio.
Mas é tarde demais.
Woojin se desvencilha de Jimin e sobe depressa, ficando a menos de quatro metros de mim. Ele escala a viga. Com uma das mãos após a outra, vem se arrastando na minha direção.
Nós dois estamos agarrados à viga, sentados face a face, a quatro metros de distância.
— Quer dizer suas últimas palavras? — Pergunta Woojin.
Olho para baixo, mesmo sabendo que vou ficar tonta. Jimin está lá embaixo, no piso do ginásio, imóvel como a morte. Finalmente entendo o que ela tem em mente e tenho vontade de voltar no tempo para reviver cada momento com ela. Mais um sorriso secreto, mais uma risada juntas. Mais um beijo eletrizante. Encontrá-la foi como encontrar alguém que eu não sabia que estivera procurando. Ela entrou na minha vida tarde demais e vai partir cedo demais. Lembro-me de quando ela me contou que desistiria de tudo por mim. Já tinha desistido. Desistiu de ter um corpo humano para que eu pudesse viver.
Oscilo num descuido e instintivamente abaixo para me equilibrar. A gargalhada de Woojin chega até mim como um sussurro frio.
— Para mim não vai fazer diferença se você morrer de um tiro ou se despencar daqui.
— Faz diferença, sim — afirmo com uma voz baixa, porém confiante. — Acredito que você saiba o que está escrito no Livro de Enoque.
Os olhos de Woojin estão desprovidos de luz. Examinam-me atentamente, absorvendo cada palavra que eu digo. Eu consigo ver pela sua expressão que ele está pesando minhas palavras. Um rubor toma conta do seu rosto, e eu sei que ele entendeu.
— Você... — balbucia.
Ele escorrega na minha direção em velocidade frenética, buscando ao mesmo tempo o revólver guardado em sua cintura.
Lágrimas tomam conta dos meus olhos. Sem tempo de pensar duas vezes, jogo-me da viga.
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