24
Karina's pov:
Mergulhada em pensamentos negativos e destrutivos, estaciono meu carro perto de um beco. O céu está mergulhado na escuridão e o frio do outono me deixando ainda mais irritada. Meus olhos se voltam para o painel do carro.
Oito e meia da noite.
Eu não deveria estar aqui. Há muito tempo prometi a mim mesma que não me envolveria em nenhum dos seus assuntos. Mas suas atitudes mais recentes definitivamente não podem ser ignoradas. Ele seguiu por um caminho proibido e agora deve pagar por seu erro.
Pelo menos quinze minutos se passam até eu ver Woojin sair do beco, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça. Saio do carro e meus olhos encontram os dele.
— Vejo que ainda lhe resta alguma honra — digo, me aproximando. A luz de um poste ilumina seu rosto e, ao encará-lo, percebo que ele veio até aqui pronto para lutar. — Quando soube sobre Minjeong? — Pergunto.
— Mais tarde do que deveria — responde ele casualmente, dando um passo em minha direção. — Mas eu não estava procurando, estava? Não, foi uma coisinha. Sua expressão quando mencionei o nome dela. Só isso e tudo que disse me fez ver que ela era a garota.
Fico agradecida em saber que ele não descobriu desde o começo. O que quer que ele tenha planejado teve que ser feito às pressas, pelo menos.
— O que pretende com tudo isso, afinal?
— Vingança — ele diz, debochando de mim com uma risada de escárnio. — Mesmo que viva, nunca vai conseguir ficar com aquela garota.
— O que você fez? — Minha voz vacila um pouco, imaginando Minjeong sozinha no apartamento só para ser alvejada no menor descuido, como quase foi certa vez, quando estava em Gwanak-gu.
O sorriso de Woojin é cheio de dentes e satisfação, como se eu estivesse aprendendo uma lição.
— Você ainda tem esperanças sobre aquela garota. Por quê, Karina? Não seria melhor se ela levasse um tiro no peito em sua própria casa? Você não pode acreditar que exista uma chance para vocês duas.
Encaro Woojin, e minha boca forma as palavras antes que eu consiga contê-las.
— Talvez eu acredite que seja hora de deixar o meu passado de lado.
Ele ri ao ouvir isso, um som de surpresa.
— Você acha que Minjeong vai querer ficar com você? Sua tola, você sabe que não. Ela a teme. Desconfia. Ela jamais vai deixar de enxergá-la como ameaça.
Não é nada em que eu mesma já não tenha pensado, mas suas palavras ferem como golpes.
— Aquela garota é sua fraqueza. Mas não se preocupe — continua Woojin. — O fim dela está próximo.
Sinto certa satisfação no fato de que Minjeong já esteve próxima do controle de Woojin, e escapou. Mas todo o resto é horrível. Eu cometi erros. Nesse momento, ela está correndo perigo. Conhecendo bem esse covarde, ele com certeza enviou alguém ao apartamento dela.
— Enquanto aquela garota estiver por aí, minha vingança não vai estar completa — diz Woojin.
— Acho que você superestima os seus sentimentos em relação ao Félix.
Parece uma boa ideia menosprezar o relacionamento deles. A possessividade aparentemente é a força motriz de Woojin. Um sorriso incrédulo aparece em seu rosto.
— Parece que Félix deixou um grande peso em seus ombros — exclamo, com a voz totalmente desprovida de emoção, como eu quero. — Estou surpresa de você não ficar ressentido por ele tê-lo deixado de lado assim que teve oportunidade. Fico surpresa por você ainda querer vingança. Depois de tudo o que ele fez, você não está feliz por ele ter sido eliminado?
— Ele jogou nossa irmandade fora por uma miserável como você — ele cospe, com os olhos castanhos em chamas.
— Ele não fez isso. Não exatamente.
— Ele abriu mão de tudo por sua causa! Ele tinha a mim... Ele tinha a mim! — Ele solta uma gargalhada de desprezo que não esconde nem a raiva nem a tristeza. — No início eu me senti ferido e irritado, e fiz tudo o que podia para esquecê-lo. Depois, quando os arcanjos compreenderam que ele não seria útil e precisava ser eliminado por conta das informações que tinha, eu resolvi agir. Disse para mim mesmo que me vingaria daquela que tinha arruinado todos os meus planos.
— Woojin... — começo a dizer suavemente.
— Ele nem se importava com o fato de que você não sentia o mesmo! Ficou deslumbrado pelos seus ideias e quando achou que poderia salvar a ambos, não pensou duas vezes antes de abrir mão de tudo. É deplorável! — Ele lança o braço diante do rosto, em um gesto dramático. — Desista, Karina. Está na hora de aceitar o seu destino.
Dou um passo para trás. Minha mão vai até o bolso da minha calça por instinto, mas lutar com ele, sendo que Minjeong pode estar em perigo, parece má ideia.
Woojin me olha com incredulidade.
— Vai me desafiar até o fim? Quando eu pegar você, vou mantê-la acorrentada.
— Jamais quis ser sua inimiga — digo. — Mas também não queria compartilhar dos seus ideias. — Com isso, saio correndo pelo beco. Faço a única coisa que falei para mim mesma que nunca faria.
— Não fuja de mim! — Ele grita, um eco horrível de suas palavras ecoa pelo lugar.
Uma lembrança do passado revive em minha mente. A neblina se torna mais densa e palpável. Eu o ouço disparando atrás de mim, o grunhido de sua respiração.
Enquanto corro, minha esperança de despistá-lo diminui. Por mais que eu tente, ele não vai desistir. A raiva troveja no meu peito, e sei que, acima de tudo, não posso levá-lo até Minjeong.
Pelo visto, estou longe de parar de cometer erros.
Puxo a lâmina do bolso e me viro. Como não está esperando pelo meu movimento, ele se choca contra mim. Passo por sua guarda, enfio a lâmina prateada na lateral de seu corpo e acerto seu flanco esquerdo. A sua roupa não consegue amortecer o golpe e o vejo fazer uma careta de dor.
Ele move o braço livre e me dá um soco que me faz recuar alguns passos.
— Você sempre foi boa — ele diz, me olhando. — Só não o suficiente.
Ele está errado. Woojin se esquece do posto que eu ocupava antes da queda. Aprendi muito mais sobre nosso mundo do que ele e estudei durante a maior parte de uma vida imortal. Durante bastante tempo dos últimos meses, estive ocupada aprendendo a ser uma universitária. E o único motivo para eu ter mantido o meu nível de poder é por que em momento algum esqueci da minha origem. Woojin não me conhece.
Além disso, contra a lâmina que tenho em mãos, ele está em desvantagem.
— Você não vai querer tornar esse embate mais justo, vai? — Ele pergunta, se aproximando. Uma mão pressionando o ferimento que sangra em grande quantidade. — Você poderia lutar sem uma arma para deixar as coisas mais equilibradas.
Sorrio enquanto o rodeio.
— E ficar em desvantagem diante dos seus truques sujos? Eu não seria tola a esse ponto.
De repente, ele puxa uma adaga e ataca, minha única opção é bloquear o golpe. Sinto o esforço reverberar por todo o braço. O que ele está fazendo é óbvio, mas, mesmo assim, terrivelmente eficiente. Está me cansando, me fazendo bloquear e desviar repetidamente, e, ao mesmo tempo, me impedindo de me aproximar o bastante para golpeá-lo de forma letal. Ao me manter concentrada na defesa, ele está me exaurindo.
A impaciência começa a me afetar. Eu poderia me virar e correr de novo, mas estaria na mesma situação que antes, correndo para ganhar tempo. Enquanto bloqueio os golpes com minha lâmina, pondero as opções que tenho, que precisam ser o mais precisas possíveis.
Não demora para que eu permita uma abertura. A adaga acerta o tecido que cobre meu ombro, resvalando em minha pele. Mas não me afasto.
Ele hesita, surpreso, e ataco em direção ao seu peito. É um golpe rápido. Mas ele se move por reflexo e acerto o seu braço.
— Você acha mesmo que pode me matar!? Somos anjos caídos, seres imortais!
Eu o encaro por um momento, os olhos arregalados. Completamente surpreso ao finalmente perceber o que tenho em mãos.
— Uma Lâmina de Anjo — Ele faz uma pausa. — Ah, Karina.
Eu já devia saber, mas parte de mim ainda acredita que Woojin não tem conhecimento da minha origem. Ele solta uma gargalhada grosseira, mas sua garganta se fecha e o som é sufocado. Seu instinto entra em ação e o faz dar passos rápidos para trás, aumentando a distância entre nós.
— Eu avisei para que não interferisse nos meus planos — repito.
Sangue jorra dos seus ferimentos, machando suas roupas. Ele precisa de toda a sua energia para cerrar levemente os punhos. Ri de si mesmo, mas não há graça. Não vai conseguir sobreviver se for apunhalado em um ponto vital. Ele sabe da sua situação, mas jura com todas as forças me destruir para se vingar da humilhação.
— Quem é você, afinal? — Pergunta Woojin, e pela primeira vez, desde que consigo lembrar, há medo em sua voz.
Nesse momento, três flechas prateadas voam por mim através do beco silêncioso. Duas passam por cima de Woojin e a outra o acerta no ombro do braço da adaga. Ele grita, muda a lâmina de mãos e procura quem o atacou. Por um momento, sou esquecida.
No alto de um edifício, uma figura aparece, a pele e o cabelo banhados por uma luz ofuscante. Aponta um arco e flecha na minha direção.
Não penso. Avanço rapidamente para a esquerda, mantendo o olhar atento enquanto me esgueiro pelo beco escuro. Examinei a área quando cheguei, mas conhecendo as sombras que me espreitam acho melhor ficar atenta. Depois que tenho certeza de que ninguém está me seguindo, entro no meu carro. Encontro o meu celular no guarda volume e ligo para Giselle.
Ela atende no primeiro toque.
— Alô? Karina? Aconteceu alguma coisa?
Respiro fundo, a fim de encontrar a forma mais rápida de explicar a situação.
— Aconteceu o seguinte... — começo a falar enquanto verifico o ferimento em meu ombro. — Woojin seguiu pelo caminho que temíamos. Consegui atrai-lo para Yongsan-gu, que é onde estou agora. Mas digamos que os céus enviaram um dos seus para nós eliminar.
— Peraí. Você quer dizer que o Woojin está morto?
— Não, mas acredito que ele é o principal alvo da vez — Solto um suspiro de impaciência e dou partida no carro. — Escute, aquele desgraçado não vai cair fácil assim, então não posso afirmar que a situação está resolvida.
— Você acha que Minjeong está correndo perigo? — Ela pergunta.
— Estou voltando para o apartamento dela agora — digo. — Só liguei para que fique ciente do que está acontecendo. Então tome cuidado.
— Vou cuidar da situação por aqui — ela diz.
Em seguida, ligo para o celular de Minjeong. Depois de cinco toques, cai na secretária eletrônica. Piso fundo no acelerador e avanço pelas ruas noturnas de Seul na esperança de que a situação não tenha saído de controle.
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