18

Karina's pov:

Não estou com a menor vontade de voltar para casa hoje à noite, sendo assim resolvo ir para o Moonlight Seul. Enquanto dirijo pela cidade, minha mente vaga para Minjeong e nosso encontro. As coisas correram relativamente bem, embora ainda exista uma nuvem de desconfiança pairando entre nós.

Minjeong não sabe o quão reais são os meus sentimentos. O quanto coloquei em jogo para seguir por esse caminho. Palavras não podem expressar. Então, prometo a mim mesma que vou fazer o possível para que ela entenda isso.

Quando entro no Moonlight, alguém chama minha atenção.

— Yeji? — Falo, caminhando até o bar.

Ela não parece em nada com a guerreira que vem me auxiliando nos meus objetivos há tantos anos. Está com uma roupa casual e seu cabelo está solto. Seus olhos afiados voltam-se para mim e, a princípio, ela parece surpresa ao me ver a seu lado. Lentamente, seu rosto relaxa.

— Karina, oi. O que você está fazendo aqui? Pensei que fosse passar a noite fora.

Deslizo para o banco ao lado dela, para que possamos conversar, mesmo que sua estadia em Seul não seja por fins de diversão. Suas mãos seguram um copo de água com rodelas de limão. Por um momento, inalo o cheiro, e ele me faz lembrar do início da minha história nesse mundo.

— Digamos que minha noite terminou mais cedo e resolvi vir cuidar dos negócios. Posso saber o que faz em Seul?

— Eu escapuli. — O sorriso aparece de um lado só. — Precisava ver você de novo. Venho tentando há algum tempo, mas a segurança, bem, você sabe, não é exatamente frouxa. Os da sua espécie e os da minha... não devemos nos misturar. Mas você sabe disso.

Aceno para o garçom e peço uma bebida. Quando a pego, olho para Yeji.

— Esse é realmente o único motivo da sua visita?

Ela faz uma pausa e esfrega o polegar na borda do copo.

— Não exatamente — diz. Seus olhos estão pesados. Parece que ela está prestes a me dar uma sentença.

— E qual é o real motivo? — Pergunto, sentindo a aproximação de problemas.

— Fui enviada a esse reino em uma missão. — Ela toma um longo gole de sua bebida. — Os céus estão insatisfeitos com o rumo que algumas coisas estão tomando entre os seus.

Coloco uma das mãos em seu ombro.

— Isso tem alguma relação direta comigo?

— Até o presente momento não. — Ela olha para o copo, com a cabeça baixa de relutância. — Como você sabe, eu faço parte da ordem enviada a Terra há cerca de muitos anos para cuidar daqueles que ameaçavam o equilíbrio entre os três reinos. De certa forma também tenho responsabilidade pelo que aconteceu com Félix. — Ela fica em silêncio e esfrega as mãos no rosto.

Eu não sei o que dizer, então não digo nada. Conheço Yeji desde o início da minha existência e, embora ela ainda sirva a Ordem Divina, nosso elo não se rompeu por completo após minha queda.

Tudo pelo que ela passou durante o último conflito foi extremamente significativo. A emoção que está sentindo é mortal. A última coisa de que ela precisa é perder os seus ideias e achar uma maneira de calar os ruídos em sua cabeça.

Eu já vi muitos se perderem dessa maneira. A última coisa que eu quero é que Yeji siga o mesmo caminho de destruição que eu tomei. Ela é a única a serviço dos céus em que posso confiar. O contato que compartilhamos durante todos esses anos mostram como ela se decepcionou com minha fraqueza perante a luxúria desse mundo, mas ao mesmo tempo se mantém imparcial sobre minha existência. Só espero que ela possa permanecer resiliente por toda a eternidade.

Minha mão ainda descansa em seu ombro. Posso sentir seu corpo tenso, enquanto ela continua falando.

— Agora estou aqui. Sinto ter que lhe informar, mas algumas coisas não podem ser ignoradas. Parece que o mesmo erro do passado está se repetindo e o Livro de Enoque esta sendo visado por aqueles que não têm tal direito. Acho que nós duas sabemos como isso vai terminar.

Passo a mão nos lábios antes de pegar meu copo e tomar mais um gole da minha bebida.

— É uma situação difícil.

Ela se vira para mim, os olhos intensos de emoção, e sorri.

— Devia ter dado a você apenas a resposta simples, mas parece que ainda não consigo manter certos detalhes escondidos.

— Onde estão os demais agora? — Pergunto, sabendo, mas ainda assim curiosa para ver qual será sua resposta.

— Espalhados por todos os continentes desse mundo — Sua cabeça permanece baixa. — Não peça que eu te dê detalhes sobre isso, porque não o farei. Eu seria uma escória se começasse a fazer o papel de traidora agora, quando nunca fiz isso.

— Eu entendo. Mas não espere interferência da minha parte — Ela arqueia uma sobrancelha com meu comentário. — Perdi Félix há pouco mais de dois anos. Nossa relação nem sempre foi perfeita, mas era boa. Mas como você deve lembrar, eu não agi quando o encontraram. Eu tenho um objetivo para permanecer nesse mundo, não vou abrir mão dele por conflitos externos. Um dia talvez nos enfrentemos, mas até lá faça aquilo que foi criada para fazer.

Ela assente lentamente, absorvendo minhas palavras e pensamentos. Levanto-me da cadeira e começo a caminhar em direção ao meu escritório.

— Ei, Karina?

Viro-me para ela.

— Sim?

Suas sobrancelhas estão franzidas e ela me encara.

— O que pretende fazer com a garota? Minjeong?

Droga.

Sinto um nó na garganta enquanto olho para aquela que um dia foi minha parceira. Minha mente acelera, funcionando cada vez mais rápido, procurando a melhor resposta no momento

— Tenho uma dívida que precisa ser paga.

Seus olhos felinos baixam pesadamente. Ela está tentando se lembrar de uma de nossas conversas.

— Ela é razão de você querer trilhar por esse caminho? — Pergunto.

Expiro pesadamente.

— Eu realmente não sei, Yeji. As coisas ficaram bem confusas ultimamente. A única certeza que tenho é que irei evitar que o pior aconteça.

— Você sempre foi a mais apegada com a humanidade. — Ela me dá um sorriso triste. — Isso explicaria por que alguém com o seu conhecimento ainda não retornou aos céus.

— Eu nunca desejei reparar o meu erro dessa forma — Balanço a cabeça, enfiando as mãos nos bolsos. Aeri se aproxima de mim e bate as mãos nos meus ombros.

— Será que posso falar com você? — Pergunta.

— Ah, eu já estava de saída — diz Yeji, se levantando e olhando ao redor. — Prometi para Ryujin que seria rápida. Se eu não quiser arriscar o meu futuro e o dela é melhor me apressar.

— Foi bom ver você, Yeji. Apareça sempre que possível — digo enquanto guio uma confusa Giselle para longe.

— O que foi isso? — Ela pergunta.

— Uma velha amiga — sussurro.

— Está relembrando os velhos tempos? — Ela sorri, me dando um empurrãozinho no ombro.

— Não — sibilo. Giselle fica olhando para mim, vendo minha mudança repentina, e espera que eu me explique. Pressiono minha têmpora e faço uma careta. — Ela é alguém do meu passado.

— Ah, entendi.

Assinto com a cabeça.

— E é uma Arcanjo. — Essa é a frase que deixa Giselle de queixo caído. Seus olhos se arregalam e ela fica em silêncio enquanto eu explico o que aconteceu mais cedo. — Sei que posso confiar em Yeji, mas...

— Caramba — suspira Aeri, a palma da mão em sua nuca.

— O quê?

— Você realmente caiu nos encantos da garota.

— O quê?! — Arqueio a sobrancelha, cruzando os braços na frente do corpo. — Não acredito que é nisso que você está focando. Eu tenho problemas maiores e...

— Karina, não me venha com essa besteira de “sou indiferente e não vou expressar meus sentimentos”. Você está apaixonada pela Minjeong. Nunca vi você agir dessa forma com garota nenhuma.

— Eu... — Eu sei que ela está certa. Mas fico em silêncio. Isso já aconteceu antes e não terminou de uma forma positiva. Nós não podemos ficar juntas sem chamar atenção, e eu tenho a sensação de que minha decisão ainda vai causar maiores problemas.

— De qualquer forma, eu não sabia que você mantinha contato com celestiais. — Aeri coloca a mão no meu ombro.

— Yeji é diferente dos demais. De certa forma ela ainda espera que eu recupere o que perdi.

— Você é realmente cheia de segredos — Ela sorri para mim e me empurra. — Sorte sua que já aprendi a lidar com isso.

— As coisas são melhores assim. Agora diga o que queria comigo.

Giselle percebe que não estou com paciência para rodeios.

— Vi Woojin caminhando pelos arredores da faculdade. Não pude fazer nada, você sabe...

Ela faz uma pausa, passando a mãos nos cabelos em sinal de frustração.

— Karina, você não acha que ele começou a agir, acha? — Não respondo. O que já foi resposta suficiente. — Droga — Seus olhos estão cheios de preocupação e medo.

— Você não deve enfrentá-lo de frente, Giselle. Está me entendendo?

Ela franze a testa.

— Pensei que você fosse resolver essa situação o mais breve possível. Ele ameaçou você, não foi?

— O conflito vai ser inevitável, mas não quero tomar nenhuma atitude precipitada. Não estamos mais tão seguras quanto antes.

Conversamos mais um pouco antes de eu me afastar e subir as escadas até o meu escritório, decidida a ocupar minha mente com o máximo de trabalho possível.

O movimento no bar aumenta, como costuma acontecer durante à noite, e horas se passam antes que eu possa encerrar minhas atividades e ir embora. Não que precisasse ter me preocupado. As pessoas que contratei são extremamente eficazes naquilo que fazem.

Quando chego em casa, subo direto para o meu quarto. Embora meu corpo não se canse, minha mente se sente exausta depois de tudo o que aconteceu. Yeji de alguma forma conseguiu me alertar para o que pode acontecer futuramente. Mas fora essa questão, ainda tenho o problema chamado Woojin com o qual lidar. Ele tomou sua decisão, mas não vou permitir que me arraste para a ruína.

Pego meu celular e penso em mandar uma mensagem para Minjeong. Ela deve estar dormindo, mas, se não estiver, espero que esteja em segurança.

Depois de um banho, me jogo na cama, sentindo-me péssima. Yeji está certa. Minjeong é a razão de eu ter mudado meu propósito. Ela merece trilhar seu próprio caminho. Ela merece ter a chance que Sarah não teve.

E eu vou garantir que isso aconteça. Ainda que tenha que desistir de tudo pelo que lutei.

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