15
Winter's pov:
— Acha que Jong Seong assassinou alguém? E que invadiu sua casa?
— Psiu! — falo para Ningning, observando as fileiras de mesas da sala de aula para ter certeza de que ninguém ouviu.
— Sem querer ofender ninguém, querida, mas isso está começando a ficar ridículo. Pelo amor de Deus, Jong Seong? Assassino? Ele parece ser um cara legal apesar de tudo. E você me disse que conhece ele há bastante tempo. Hum... Isso não faz sentido.
— Ele prestou depoimento como suspeito em uma investigação de assassinato — sussurro, sentindo que os olhos da professora de história da arte se desviam para nós duas. Rabisco algumas anotações no meu caderno. — Obviamente, a polícia achou que ele tinha motivo e meios de fazer aquilo.
— Você tem certeza de que é o mesmo Jong Seong?
— Quantos Park Jong Seong estariam matriculados em Seoul National University em fevereiro?
Ningning tamborila os dedos na mesa.
— É que parece difícil de acreditar. De qualquer maneira, qual é o problema de ele ter sido interrogado? O importante é que ele foi descartado. Não acharam que era culpado.
— Porque a polícia encontrou um bilhete suicida escrito pela garota.
— E quem é essa garota?
— O nome dela era Kim Eun — digo com impaciência. — A garota que supostamente teria se enforcado.
— Talvez ela tenha mesmo se enforcado. E se um belo dia ela acordou dizendo "Puxa, a vida é uma droga" e resolveu se amarrar em uma árvore? Isso acontece.
— Você não acha coincidência demais que o apartamento tivesse sinais de arrombamento quando o bilhete foi encontrado?
— Ela morava em uma zona complicada de Seul. Arrombamentos acontecem.
— Acho que alguém colocou o tal bilhete lá. Alguém que queria livrar a cara de Jong Seong.
— Quem ia querer livrar a cara de Jong Seong? — Pergunta Yzhuo. Olho para ela com meu melhor olhar de sarcasmo.
Ningning passa a mão nos cabelos e se apoia no cotovelo.
— Você então quer dizer que Jong Seong arrastou essa tal de Eun até uma árvore, amarrou uma corda no pescoço dela, pendurou num galho e depois arrombou o apartamento para plantar provas que indicassem o suicídio.
— Por que não?
Ningning devolve o olhar de sarcasmo.
— Porque os policiais já analisaram tudo. Se concluíram que foi suicídio, concordo com eles.
— E então, por que poucas semanas depois de ser liberado do inquérito, Jong Seong mudou de faculdade?
— Nisso você tem razão.
— Acho que ele está tentando fugir do passado. Acho que ficou desagradável assistir às aulas no mesmo lugar onde matou Eun. Ele está com a consciência pesada. — Bato a caneta contra os lábios. — Preciso ir até até a livraria Bookshop e fazer umas perguntas. Ela morreu há dois meses. Todos ainda devem falar disso por lá.
— Não sei, Winter. Estou achando uma péssima ideia começar uma operação de espionagem. Quer dizer, você vai lá fazer perguntas especificamente sobre Jong Seong? E se ele descobrir? O que vai pensar?
Olho para ela.
— Ele só precisa se preocupar se for culpado.
— Então vai matar você para garantir seu silêncio. — Diz Yzhuo abrindo um sorriso parecido com o do Gato Risonho. Eu não. — Quero descobrir quem invadiu seu apartamento tanto quanto você — ela prossegue, em um tom mais sério —, mas juro pela minha vida que não consigo acreditar que Jong Seong seja o culpado.
— Muito bem. Talvez ele não tenha invadido o meu apartamento — digo, tentando satisfazer minha amiga, mas sem querer livrar a cara de Jong Seong. — Mas ainda existem muitos fatos contra ele. Para começar, esteve envolvido em uma investigação de assassinato. E depois, ele é bonzinho demais. Chega a assustar.
— Acho que você está exagerando.
Balanço a cabeça e fico tentando achar a explicação que está logo ali, mas eu não consigo enxergar.
— Por que Jong Seong mataria Eun? — penso em voz alta. — Talvez ela tenha visto ele fazendo alguma coisa ilegal. E então a matou para garantir seu silêncio.
Ningning deixa escapar um suspiro.
— Isso está começando a entrar no território das Coisas Que Não Fazem o Menor Sentido.
— Tem algo mais. Algum detalhe que não estamos vendo.
Yzhuo me olha como se minha lógica tivesse ido passear no espaço sideral.
— Acho que você está vendo séries demais. Parece até uma caça às bruxas.
E então, subitamente, eu sei o que está faltando. Aquilo me incomodou o dia inteiro, gritava do fundo da minha mente, mas eu estava envolvida demais com tudo que acontecera para prestar atenção. O detetive Min me perguntou se eu havia dado por falta de alguma coisa. Só agora eu percebo que algo desapareceu. Eu tinha deixado o artigo sobre Jong Seong em cima da escrivaninha na noite anterior. Mas hoje de manhã não estava mais lá. Tinha sumido.
— Minha nossa! — Exclamo. — Jong Seong entrou em minha casa na noite passada Foi ele! Ele roubou o artigo.
Como o artigo estava bem à vista, é óbvio que ele revirou meu quarto para me aterrorizar, possivelmente para me punir por ter encontrado a tal matéria.
Ningning olha em volta e limpa a garganta.
— O que foi? — Pergunto.
Ela ergue as mãos.
— Nada. Nada mesmo. Se você ainda quer botar a culpa disso no Jong Seong... é um direito seu. Um direito maluco, mas é um direito seu.
A professora encerra a aula, e eu me levanto. Reprimo a vontade de dizer que, dentre todas as pessoas do mundo, era ela quem deveria acreditar em mim. Em vez disso falo:
— Tenho uma sessão com a psicóloga e depois vou para a biblioteca, então estou com um pouco de pressa.
Saímos do prédio e atravessamos o terreno que nos separa do estacionamento. Paro subitamente. Olho em volta, em busca do meu carro, então lembro que minha tia me deixou na faculdade no caminho para o trabalho hoje de manhã. E o carro de Ningning está na oficina, estão ela não está dirigindo.
— Droga — ela diz, lendo meus pensamentos. — Estamos sem carro.
Protegendo a vista do sol, estreito os olhos para ver a rua.
— Acho que isso quer dizer que vamos ter que andar.
— Nós não, Winter. Você. Eu até iria, mas meu limite de visitas à biblioteca é de uma vez por semana.
— Você ainda não foi à biblioteca esta semana — lembro-a.
— É. Mas talvez precise ir lá amanhã.
— Amanhã é quinta. Alguma vez na vida você já estudou em uma quinta-feira?
Ningning tamborila com a ponta de uma unha no lábio, com uma expressão pensativa.
— Já estudei em alguma quarta?
— Não que eu lembre.
— Está vendo? Não posso ir. Seria quebrar uma tradição.
\[...]
Alguns minutos depois que saio da clínica, subo os degraus que levam à porta principal da biblioteca. Lá dentro, coloco o meu trabalho de lado e vou diretamente ao laboratório de informática, onde vasculho a internet na tentativa de encontrar mais informações sobre "O Enforcamento na Seoul National University". Não acho muitas notícias. A princípio houve muito alarde, mas depois que o bilhete suicida apareceu e Jong Seong foi liberado, as notícias rarearam.
Está na hora de fazer uma viagem a Gwanak-gu. Eu não vou descobrir muito mais peneirando matérias jornalísticas em arquivos, mas talvez tenha mais sorte fazendo trabalho de campo lá.
Desligo o computador e ligo para minha tia.
— Você vai estar em casa hoje a noite?
— Sim, por quê?
— Estava pensando em pegar um ônibus para Gwanak-gu. Preciso entrevistar alguns alunos da Seoul National University — digo. — É para um trabalho de pesquisa da faculdade.
Não é mentira. Não chega a ser. Naturalmente, ia ser bem mais fácil se eu não estivesse sentindo o peso da culpa de esconder dela o arrombamento e a visita policial que se seguira. Pensei em contar, mas todas as vezes que abri a boca as palavras fugiram.
— Você não pode ir sozinha ao outro lado da cidade. Tem aula amanhã, e logo vai escurecer. Além disso, quando você chegar lá os alunos já terão ido embora.
Solto um suspiro.
— Tudo bem. Daqui a pouco eu chego a casa.
— Sei que lhe prometi uma carona, mas estou enrolada no escritório. — Escuto o som de papéis sendo arrumados ao fundo e imagino que ela está com o telefone preso ao queixo. — Seria demais lhe pedir para ir andando?
O tempo está um tanto fresco. Eu estou de jaqueta jeans e tenho duas pernas. Posso caminhar. O plano parece bem mais razoável na minha cabeça — na prática, a ideia de caminhar para casa me deixa deprimida. Mas, a não ser passar a noite na biblioteca, não há outra saída.
Depois de agilizar meu trabalho, guardo meu material e saio da biblioteca. O céu já está escuro e luzes fluorescentes que brilham com um tom púrpura pálido iluminam o ambiente. Levo um momento para obrigar meus pés a iniciarem a caminhada. É então que sou assaltada pela súbita lembrança de meus pais na noite em que foram assassinados. Fico pensando se eles estavam em uma rua tão remota e sombria quanto essa.
Fique firme, digo para mim mesma. Aquilo foi um ato aleatório de violência. Você passou os últimos dois anos paranoica em relação a todos os becos escuros, todos os quartos escuros, todos os armários escuros. Não pode passar o resto da vida apavorada pela perspectiva de ter um revólver apontado para você.
Determinada a provar que o medo está só na minha cabeça, eu me dirijo para o estacionamento, ouvindo o som dos meus passos no concreto. Enquanto mudo a posição da mochila para o ombro esquerdo, calculo quanto tempo vai demorar para andar de volta para casa. Espero que, ao manter os pensamentos positivos e ocupados, eu não tenha tempo para me concentrar na crescente sensação de alarme.
Ergo a cabeça, e uma silhueta escura está postada do outro lado.
Interrompo o passo e meu coração perde o ritmo. Jimin veste uma jaqueta preta, jeans escuros e botas. Os olhos não parecem nada bem-comportados. O sorriso é um tanto malicioso demais para oferecer conforto.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto, afastando o cabelo do rosto e tentando ver, atrás dela, a saída de carros que conduz até a rua. Sei que está bem adiante, mas muitas das luzes fluorescentes estão queimadas, dificultando minha visão. Se estupro, assassinato ou outras atividades criminosas passam pela cabeça de Jimin, ela me encurralou no lugar perfeito.
Enquanto ela se move na minha direção, eu recuo. Esbarro em um carro e vejo minha chance. Dou a volta e paro do lado oposto a Jimin, com o carro entre nós duas.
Ela olha por cima do carro, as sobrancelhas erguidas.
— Tenho perguntas — disparo. — Muitas.
— Sobre?
— Sobre tudo.
A boca dela estremece, e eu tenho praticamente certeza de que ela tenta reprimir um sorriso.
— E se minhas respostas não a satisfizerem, você vai tentar chegar ali? — Gesticula para a saída do estacionamento.
O plano era esse. Mais ou menos. Talvez com algumas falhas gritantes, como o fato de que Jimin é bem mais rápida do que eu.
— Vamos ouvir essas perguntas — ela diz.
— Como você sabia que eu ia estar na biblioteca hoje?
— Achei que era um bom palpite.
Eu não acredito por um segundo que Jimin esteja aqui por conta de um palpite. Há algo nela que é quase predatório. Se as forças armadas ouvissem falar dela, fariam de tudo para recrutá-la.
Jimin dispara para a esquerda. Eu faço o movimento oposto, fugindo para trás do carro. Quando ela para, eu também paro. Ela está na frente do carro, e eu, na traseira.
— Onde esteve ontem a noite? — Pergunto.
Jimin talvez não fosse a pessoa que está me perseguindo, mas isso não significa que ela não esteja envolvida na recente série de eventos perturbadores. Está escondendo algo de mim. Vem escondendo algo desde o dia em que nos conhecemos. Seria uma coincidência que o último dia normal da minha vida tenha sido a véspera daquele dia fatídico? Eu acho que não.
— Como você deve imaginar, fiquei presa no trabalho.
— Você não tem a mínima ideia do que aconteceu na minha casa ontem à noite?
— Não.
— Não acredito em você.
— É porque você tem dificuldade de confiar nas pessoas. — Ela coloca as mãos abertas sobre o carro, apoiando-se no capô. — Já tivemos essa conversa.
Sinto o sangue ferver. Jimin está mudando o rumo da conversa mais uma vez. E eu realmente não gosto de ser lembrada de que ela sabe todo tipo de informação a meu respeito. Coisas particulares. Como minha dificuldade em confiar nas pessoas.
Estamos mais uma vez em um impasse, o olhar dela fixado no meu, quase como se ela estivesse tentando ler nos meus olhos qual será meu próximo movimento.
— O que aconteceu na ponte Bampo? Você me salvou? — Pergunto.
— Se eu tivesse salvado você, não estaríamos aqui tendo esta conversa.
— Você quer dizer que se não tivesse me salvado nós não estaríamos aqui. Eu teria morrido.
— Não foi o que eu disse.
Eu não tenho ideia do que ela quer dizer.
— Por que não estaríamos aqui?
— Você ainda estaria. — Ela diz quase em um sussurro. — Mas eu provavelmente não.
Antes que eu possa entender o que Jimin está dizendo, ela avança na minha direção mais uma vez, agora atacando pela direita. Fico confusa por um instante, deixo que a distância entre nós diminua. Em vez de parar, Jimin dá uma volta completa em torno do carro. Tento fugir, indo na direção do acesso à garagem.
Chego a passar por três carros antes que ela me segure pelo braço. Ela me vira e me pressiona contra um pilar de concreto.
— O plano falhou — diz.
Olho-a com raiva. Mas há uma parcela de pânico escondido atrás da raiva. Ela mostra um sorriso que transborda intenções sombrias, confirmando que eu tenho todos os motivos para suar descontroladamente.
— O que está acontecendo? — Exclamo, esforçando-me em parecer hostil. — Como é que eu posso jurar ouvir sua voz na minha cabeça? E por que você disse que veio para a faculdade por minha causa?
— Estava cansada de admirar você a distância.
— Quero a verdade. — Engulo em seco. — Mereço saber de tudo.
— Saber de tudo — ela repete, com um sorriso malicioso. — Será que tem alguma relação com a promessa que você fez de me desnudar? Sobre o que estamos falando?
Eu não consigo me lembrar do que estamos falando. Tudo o que eu sei é que o olhar de Jimin parece queimar. Preciso parar de olhar nos olhos dela, então fito minhas mãos. Elas brilham com o suor, por isso as escondo atrás de mim.
— Preciso ir embora — falo. — Tenho um trabalho da faculdade para fazer.
Antes que possa impedi-la, ela aperta a palma da mão contra a minha, juntando nossas mãos. Desliza os dedos entre os meus, prendendo-me.
— Os nós de seus dedos estão brancos — diz, passando os lábios sobre eles. — E você não me parece muito bem.
— Eu estou bem. Se me der licença, tenho que...
— Minjeong — Jimin pronuncia meu nome suavemente, mas com toda intenção de obter o que quer.
— Alguém invadiu meu apartamento na noite passada. — Não sei de onde saiu essa confissão. A última coisa que eu quero é dar a Jimin mais uma janela para olhar dentro de mim. — Satisfeita? Vai me deixar ir agora?
— Do que você está falando? — Ela estreita os olhos para mim. Esses lindos olhos castanhos.
— Não importa. E, de qualquer maneira, tudo parecia em ordem — Tento soltar meus dedos, mas não é essa a intenção de Jimin.
— Conte-me sobre essa invasão — Ela diz.
Eu tenho de admitir que fico surpresa com sua preocupação, até lembrar de tudo o que aconteceu na noite passada. Conto a Jimin sobre a situação, deixando de lado minhas suspeitas sobre Jong Seong, e vejo sua perplexidade se transformar em total descrença.
— Você sabe como ele conseguiu entrar? — sussurra, olhando para mim. Dou de ombros. — Isso pode ser perigoso, Minjeong… — Ela pisca, e quando seus olhos fitam os meus, sinto meu coração acelerar. — Porque não me ligou? Eu teria ido até você.
— Essa nem sequer foi uma das minhas opções.
Jimin parece estar fazendo um esforço enorme para não sorrir.
— Então vou ter que ensinar você a lutar, Anjo?
— Eu sei lutar. — Levanto o queixo, apesar da mentira. Dessa vez ela não se dá o trabalho de reprimir o sorriso.
— Para falar a verdade, tive aulas de boxe. — Kick boxing. Na academia. Uma vez.
Jimin estende a mão, como se fosse um alvo.
— Pode bater. O mais forte que puder.
— Não sou... fã da violência gratuita.
— Estamos sozinhas aqui.
As botas de Jimin estão alinhadas com o bico dos meus sapatos.
— Um cara poderia se aproveitar de você num lugar como esse. É melhor me mostrar que sabe se defender.
Dou um passo para trás, e o carro negro de Jimin entra em meu campo visual.
— Vou lhe dar uma carona — ela oferece como se lesse meus pensamentos. O que não acho ser impossível.
— Obrigada, mas vou caminhando.
— Está tarde. E escuro.
Ela está certa, goste eu ou não.
Mas por dentro eu estou envolvida em um feroz cabo de guerra. É idiotice pensar em voltar a pé para casa, para começar, e agora restam duas opções ruins: ir de carona com Jimin ou me arriscar a encontrar alguém ainda pior lá fora.
— Estou começando a pensar que a única razão para você me oferecer caronas é porque sabe como detesto essa ideia.
Solto um suspiro nervoso, acompanho Jimin até o seu carro e então sento no banco do carona.
Ela parece estar se divertindo.
— Consigo pensar em mais algumas razões.
Jimin segue a toda pela rampa do estacionamento, rumo à saída. Não demora muito para que ela estacione em frente ao prédio onde moro.
— Obrigada pela carona — digo, abrindo a porta do carro.
— O que você vai fazer no sábado à noite?
— Tenho um encontro com meu par de sempre.
A frase parece despertar seu interesse.
— Par de sempre?
— Trabalho da faculdade.
— Cancele.
Eu estou me sentindo bem mais relaxada. Jimin é atraente, direta e tem um perfume fantástico. Parecido com hortelã e terra úmida. Ninguém pulou sobre nós no caminho de casa e há luz em todas as janelas do andar térreo do prédio. Pela primeira vez no dia me sinto segura.
A não ser por Jimin ter me encurralado no estacionamento da biblioteca e, possivelmente, andar me seguindo.
Talvez eu não esteja tão segura.
— Não saio com estranhos — retruco.
— Sorte sua que eu saio. Pego você às cinco.
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