13

Winter's pov:

Volto para casa um pouco depois das nove. Viro a chave na fechadura, agarro a maçaneta e empurro a porta com o quadril. Liguei para minha tia algumas horas antes do jantar. Ela estava no escritório, resolvendo alguns problemas, e não sabia muito bem quando chegaria. Eu espero encontrar o apartamento silencioso, escuro e frio.

Eu estou entrando na sala de estar para ligar o aquecedor quando escuto um farfalhar de tecido e um rangido baixo do outro lado do cômodo.

— Minjeong! — Diz minha tia, jogando para o lado um cobertor e ajeitando-se para ficar sentada no sofá. — O que está acontecendo?

Uma de minhas mãos está sobre o coração, e a outra está espalmada na parede, na qual me apoio.

— Você me assustou.

— Eu adormeci. Se tivesse ouvido você entrar, teria dito alguma coisa. — Ela afasta o cabelo do rosto e pisca sonolenta. — Que horas são?

Desabo na poltrona mais próxima e tento recuperar a frequência cardíaca normal. Minha imaginação havia enxergado um par de olhos cruéis por baixo de um capuz preto. Sinto uma vontade avassaladora de contar tudo para minha tia, do momento em que aquele cara pulou diante do meu carro até a sensação de que estou sendo perseguida. Precisamos de novas fechaduras nas portas. E parece lógico envolver a polícia.

— Então, você se divertiu? — Pergunta Taeyeon, interrompendo minha sequência de pensamentos. — Como está Yzhuo?

Forço um sorriso.

— Sim, me diverti. E Ningning está muito bem, ainda mais agora que conheceu uma garota.

Minha tia sorri ironicamente.

— Que bom que ela está aproveitando a juventude. Caso contrário, não poderia fazer o que sabe de melhor, e posso apenas imaginar como seria decepcionante para ela.

— Para com isso — Digo, sorrindo. — Vou preparar um chocolate quente. — Fico de pé e aponto para a cozinha, por cima do ombro. — Quer?

— Acho uma ótima ideia. Vou acender o fogo.

Depois de uma rápida ida à cozinha para preparar as bebidas, voltamos para a sala. Sento-me no braço do sofá e lhe entrego a caneca.

— Você sabe quando meus pais se apaixonaram? — Pergunto, esforçando-me para empregar um tom casual.

Sempre há a possibilidade, ao falar de meus pais, de começarmos a chorar, algo que eu pretendo evitar.

Minha tia acomoda-se no sofá e pousa os pés na mesa de centro.

— Não. Quando conheci seu pai, ele e minha irmã já namoravam há um bom tempo.

Não era essa a resposta que eu esperava.

— Eles eram felizes, né? Lembro que aparentavam ser sempre que estavam juntos.

— Com certeza — Ela ri. — Sempre que encontrava minha irmã, ela não parava de dizer o quão perfeito era o relacionamento com seu pai. E claro, ele não tinha medo de demonstrar o quanto a amava.

Minha tia dá batidinhas ao lado dela no sofá, e eu me aconchego ali, descansando a cabeça em seu ombro.

— Sinto falta deles — falo.

— Eu também.

— Tenho medo de esquecer como eles eram. Não como eles são nos retratos, mas quando morávamos juntos, sábado de manhã, preparando o café da manhã.

Minha tia entrelaça os dedos dela nos meus.

— Você sempre foi muito parecida com sua mãe. Desde pequena.

— Verdade? — Sento-me ereta. — De que jeito?

— Minha irmã era boa aluna, muito inteligente. Não era exibida nem extrovertida, mas as pessoas a respeitavam. Lembro que ela comentava que seu pai era o extremo oposto.

— Você sabe se papai alguma vez se comportou... de forma misteriosa?

Minha tia parece pensar antes de responder.

— Pessoas misteriosas têm muitos segredos. Seu pai era muito transparente. Mas... posso perguntar como entramos nesse assunto?

Eu não tenho ideia de como explicar a minha tia meus conflituosos sentimentos por Jimin. Não tenho ideia de como explicar Jimin, ponto. Taeyeon provavelmente vai esperar uma descrição que inclua o nome dos pais, a média acadêmica, os esportes que ela pratica e em quais áreas planeja trabalhar. Não quero alarmá-la dizendo que posso apostar meu cofre de porquinho que Jimin tem uma ficha criminal.

— Tem uma garota — digo, incapaz de deixar de sorrir ao pensar nela. — A gente tem se visto muito ultimamente. Geralmente para assuntos da faculdade.

— Ah, uma garota — ela diz num tom de mistério. — E aí? Ela é do Clube de Xadrez? Do Conselho Estudantil? Da equipe de tênis?

— Nada — digo.

— Uma nadadora! E ela é bonita?

Cogito corrigir minha tia, mas, repensando, resolvo que é melhor não tentar esclarecer. Nada, nadar... não tem muita diferença, certo?

O telefone toca, e minha tia se estica no sofá para atendê-lo. Dez segundos de conversa depois ela despenca novamente no assento e bate com a mão na testa.

— Não, não é um problema. Vou passar lá correndo, apanho tudo e levo amanhã bem cedo.

— Seungmin? — Pergunto, depois que ela desliga.

Seungmin é o chefe da minha tia, e dizer que ele liga o tempo todo e pouco. Uma vez, ele a chamou para trabalhar em um domingo porque não sabia mexer na copiadora.

— Ele deixou uma papelada para preencher no escritório e precisa que eu vá ate lá. Tenho que fazer algumas cópias, mas não vou demorar mais do que uma hora. Já acabou o dever de casa?

— Ainda não.

— Então vou dizer a mim mesma que não íamos mesmo passar mais tempo juntas, ainda que eu pudesse ficar aqui. — Ela dá um suspiro e se levanta. — Até daqui a uma hora?

— Diga ao Seungmin que ele precisa lhe pagar mais.

Ela ri.

— Muito mais.

Logo que fico sozinha em casa, tiro da mesa a louça do jantar e abro espaço para os livros. Munida de uma caneta novinha, abro o primeiro livro da pilha e começo a trabalhar.

Quinze minutos depois, minha mente rebela-se, recusando-se a digerir mais um parágrafo sequer sobre qualquer coisa relacionada a jornalismo. Fico pensando no que Jimin estará fazendo depois de sair do Moonlight. Trabalho da faculdade? Difícil de acreditar. Pizza e algum filme na TV? Talvez, mas não parece ser seu gênero. Cuidar de assuntos da sua vida privada é misteriosa? Parece um bom palpite.

Tenho uma vontade inexplicável de dirigir até lá e explicar a ela meu comportamento de mais cedo, mas caio na real bem rápido, pelo simples fato de que não há tempo. Minha tia voltará para casa antes que eu conclua a viagem de vinte minutos até lá. Sem falar que Jimin não é o tipo de garota de quem eu posso ir atrás assim, sem mais nem menos. Até então, nossos encontros funcionaram conforme a vontade dela, e não minha. Sempre.

Sigo pelo corredor para trocar minhas roupas por outras mais confortáveis. Empurro a porta do quarto e chego a dar três passos para dentro antes de parar bruscamente. As gavetas foram arrancadas da cômoda. As roupas estão jogadas pelo chão. A cama foi revirada. As portas do armário estão abertas, pendendo desajeitadamente das dobradiças. Livros e portaretratos se amontoam no piso.

Vejo o reflexo de um movimento na janela do outro lado do quarto e me viro. Ele está encostado na parede atrás de mim, vestido de negro dos pés à cabeça, o rosto encoberto sob um capuz. Meu cérebro fica nublado, tentando começar a dizer às pernas que corram, quando a pessoa dispara para a janela, abre-a e salta para fora com grande agilidade.

Avanço pelo corredor até a cozinha e disco 911.

Quinze minutos depois, um policial bate na porta do meu apartamento. Trêmula, destranco a porta e deixo que os dois policiais entrem. O primeiro é baixo, jovem, de cabelos castanhos. O outro, alto e magro, tem cabelos quase tão escuros quanto a noite, mas aparados na altura das orelhas. De uma forma estranha, ele me lembra um pouco Jimin. Feições perfeitas, rosto simétrico, olhos observadores.

Eles se apresentaram. O policial de cabelos escuros é o detetive Kim Seokjin.

Seu parceiro, o detetive Min Yoongi.

— Você é Kim Minjeong? — Pergunta o detetive Min.

Assinto com a cabeça.

— Seus pais estão em casa?

— Minha tia saiu minutos antes do meu telefonema para o 911.

— Então está sozinha em casa?

Assinto com a cabeça de novo.

— Por que não nos conta o que aconteceu? — Pergunta, cruzando os braços e com os pés afastados, enquanto o detetive Kim caminha um pouco pelo apartamento para olhar.

— Cheguei às oito e fiz um pouco do trabalho da faculdade. Quando fui para o quarto, eu o vi. Estava tudo uma bagunça. Ele virou o quarto de cabeça para baixo.

— Você o reconheceu?

— Ele usava um capuz a cabeça, e as luzes estavam apagadas.

— Algum sinal? Tatuagens?

— Não.

— Altura, peso?

Faço um esforço para consultar minha memória. Não quero reviver o momento, mas é importante que eu me lembre de qualquer pista.

— Altura mediana, só que mais para alto. Mais ou menos a altura do detetive Kim.

— Ele disse alguma coisa?

Balanço a cabeça negativamente.

O detetive Kim reaparece e diz "Tudo tranquilo" para o parceiro. Então vai em direção aos quartos. O assoalho range à medida que ele caminha pelo corredor, abrindo e fechando portas.

O detetive Min abrie a porta da frente e abaixa-se para examinar a tranca.

— Essa porta estava destrancada ou quebrada quando você chegou em casa?

— Não. Usei minha chave para entrar. Minha tia estava cochilando na sala de estar.

O detetive Kim aparece no corredor.

— Você poderia nos mostrar o que foi danificado? — Pede.

O detetive Min e eu subimos a escada juntos. Vou na frente até encontrar o detetive Kim parado na porta do meu quarto, com as mãos nos quadris, inspecionando o interior.

Fico completamente paralisada, sentindo um formigamento de medo tomar conta de mim. A cama está arrumada. O pijama, dobrado sobre o travesseiro, do jeito que eu o deixara de manhã. As gavetas da cômoda estão fechadas, e sobre ela, os porta-retratos cuidadosamente arranjados. As cortinas pendem arrumadas, uma de cada lado da janela fechada.

— Você disse que viu um invasor — diz o detetive Kim.

Ele me fita com uma dureza que não deixa escapar nenhum detalhe. Com olhos especializados em flagrar mentiras.

Entro no quarto, mas faltam ali o conforto e a segurança. Há um sinal de violação e ameaça implícito. Aponto para a janela, do outro lado do quarto, tentando manter a mão firme.

— Quando entrei, ele pulou pela janela.

O detetive Kim espia para fora.

— Bem distante do chão — observa. Tenta abrir a janela. — Você a trancou depois que ele partiu?

— Não. Eu corri para o andar de baixo e telefonei.

— Alguém a trancou. — O detetive Kim ainda me observa com olhar cortante, a boca contraída em uma linha.

— Não sei bem se uma pessoa seria capaz de escapar após um salto desses — diz o detetive Min ao se juntar ao parceiro na beira da janela. — Teria sorte se só quebrasse uma perna.

— Talvez ele não tenha pulado. Talvez tenha descido pela árvore — Digo. O detetive Kim vira a cabeça bruscamente.

— E aí? O que aconteceu, então? Ele desceu ou pulou? Poderia ter passado por você e saído pela porta. Esta seria a opção lógica. É o que eu teria feito. Vou perguntar mais uma vez. Pense com cuidado. Você viu mesmo alguém em seu quarto esta noite?

Ele não acredita em mim. Acha que eu inventei tudo. Por um momento, sinto-me tentada a concordar com ele. O que há de errado comigo? Por que minha noção de realidade está tão turbulenta? Por que a verdade nunca faz sentido? Em nome da minha sanidade, digo a mim mesma que não é culpa minha. É ele. O cara com o capuz preto. É ele quem está "fazendo isso". Eu não sei como, mas a culpa é dele.

O detetive Min rompe o silêncio tenso.

— Quando seus pais estarão de volta?

— Moro com a minha tia. Ela teve que dar uma passada no escritório.

— Precisamos fazer algumas perguntas às duas — ele prossegue. Faz um gesto para que eu me sente na cama, mas balanço a cabeça negativamente. — Você terminou com algum namorado recentemente?

— Não.

— E drogas? Faz ou já fez uso de drogas?

— Não.

— Você mencionou que mora com sua tia. E seus pais? Onde estão?

— Foi um erro — digo. — Sinto muito. Não deveria ter ligado.

Os dois policiais trocam olhares. O detetive Min fecha os olhos e massageia as têmporas. O outro, Kim, parece ter decidido que já desperdiçou tempo demais e está pronto para esquecer o assunto.

— Temos coisas a fazer — ele diz. — Você vai ficar bem, aqui sozinha, até sua tia chegar?

Eu mal escuto. Não consigo tirar os olhos da janela. Como ele fez aquilo? Quinze minutos. Ele teve quinze minutos para dar um jeito de entrar novamente no apartamento e arrumar o quarto antes de a polícia chegar. E enquanto eu estava na sala de estar. Ao perceber que ficamos sozinhos no apartamento, juntos, eu estremeço.

O detetive Min me estende um cartão de visitas.

— Você poderia pedir a sua tia que ligue assim que chegar?

— Pode deixar que nós encontramos a saída — diz, o detetive Kim, já quase no corredor.

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