10
Karina's pov:
Enquanto dirijo pelas ruas de uma Seul noturna, meus pensamentos migram para tudo o que aconteceu nas últimas horas. Principalmente para o fato de que eu estou seguindo por um caminho perigoso.
Nossos olhos se encontraram por um ou dois segundos. Foi só um mero momento em que olhamos uma para a outra, mas a vi engolir em seco, seus nervos à flor da pele. Quando ela me provocou, não resisti a vontade de beijá-la.
Mas isso é errado, não é?
O que está acontecendo comigo?
Achei que a intensidade do que eu sinto diminuiria com o tempo. Mas não. Meus sentimentos só crescem cada vez que a vejo entrar na sala de aula. Às vezes a observo andando com Yzhuo, e o jeito como sorri quando fala com ela me faz sentir algo há muito esquecido. Seus sorrisos são viciantes, e eu me pego desejando que sejam causados por mim.
Odeio que ela bagunce todos os meus ideias. Odeio não poder ser sincera com ela sobre tudo. Odeio que, quando estamos juntas, eu tenha de fingir que ela não está em meus pensamentos.
Odeio o modo como os outros alunos olham para ela. Como a cobiçam. Como a intimidam. Odeio que ela tenha de chorar a morte dos pais sozinha. Odeio que ela se sinta solitária, sem jamais demonstrar isso.
Eu odeio o quanto sinto falta da sua boca. Da sua risada. Do seu sorriso. Eu odeio estar disposta a por tudo em risco por ela.
As nuvens carregadas se dissiparam, deixando uma brisa gélida no ar, que sinto assim que saio do meu carro. Sento-me na beira do cais no Rio Han, vendo a lua refletida nas águas escuras. Sinto-me cansada, esgotada. Parece que cada vez que um momento de equilíbrio aparece, é engolido pelas sombras. Minha história está mesclada nisso, e eu me sinto uma idiota por me permitir esquecer. Mas eu quero esquecer. Eu preciso que as coisas sejam diferentes, só por um tempo.
Os passos que escuto atrás de mim são pesados. Sei que é ele antes mesmo que fale alguma coisa. Eu o chamei.
— É estranho voltar aqui. — Me viro e vejo Woojin andando em minha direção. Suas mãos estão enfiadas nos bolsos. Ele se aproxima e senta-se ao meu lado. — Não venho aqui desde que... — O som de sua voz vai sumindo. Ele coloca os dedos na água, criando ondulações com seu toque. — Vi Giselle aquele dia no bar. Ela está morando com você? — Não respondo. — Disse que estão lidando bem com a situação.
Respiro fundo, e em seguida passo as mãos nos cabelos.
— O que você queria aquela noite que foi me encontrar no Moonlight? O que você quer? — Pergunto, sentindo a cabeça começar a esquentar com sua chegada. Sempre que Woojin aparece, a desgraça aparece também.
Ele olha para mim, limpando as mãos molhadas em seus jeans. Seus olhos parecem perplexos com minha pergunta.
— Estou de volta para descobrir qual deles matou o Félix, Jimin. E estou um pouco chocado por você não ter tentado fazer algo sobre isso depois de tudo o que ele fez!
Levanto a voz rapidamente.
— Eu não o enviei naquela busca... — Respiro fundo. Já tinha imaginado nosso encontro diversas vezes na minha cabeça, durante meses. Esperava que ele tivesse entendido minha decisão de não se envolver, por que não tive outra escolha. — Eu não o envie naquela busca porque sabia de todas as consequências, Woojin. E insistir em um plano de vingança só irá te levar para a morte.
— Não sou burro — sibila ele. — Eu posso resolver...
— Você pode resolver o quê?! Rastrear o Arcanjo que matou Félix bem ali?! — Minhas mãos empurram o cais, e me levanto. Woojin fica de pé quase mais rápido que eu. — Talvez você possa deixar mais alguns Arcanjos cientes da nossa situação e eles matem Aeri e eu antes de acabarem com você também!
— Foda-se, Jimin! Você me deixou se fora. Você escondeu por anos o que havia acontecido. Sou um dos seus! — Grita.
Eu posso ver o ressentimento em seus olhos, seus dedos se fechando em punhos.
— Você é um dos meus! — Grito mais alto, jogando os braços para cima, irritada. — Você é um dos meus. Vou dizer só uma vez, Woojin. Não faça isso. Não desenterre essa confusão. — Eu cruzo os braços. — Já perdi Félix. Não me faça ter que lidar com mais problemas.
— Eu nem estava lá... para lutar ao lado dele. — Ele respira fundo, depois coloca as mãos na cintura. — Eu estou fora do alcance divino.
— Woojin...
— Não. Está tranquilo. Eu podia ter iniciado uma batalha contra os céus, mas não fiz nada. Fiquei na minha, caramba, e agora... Eles não sabem da minha existência. Posso me mover de novo.
— Você realmente acha que eles não estão cientes dos seus movimentos?
Woojin dá de ombros.
— Não me envolvi em problemas quando tive oportunidade. O nome disso é lealdade. Algo que você não conhece.
Enfio as mãos nos bolsos do casaco.
— Olha, Woojin... tenho uma situação para lidar aqui. Podemos evitar mais problemas no momento. — Digo, seriamente. — Você pode continuar cuidando dos seus negócios por um tempo. Pôr as ideias no lugar.
— Minhas ideias estão no lugar, Karina.
— Não estão. — Ando até ele e seguro sua cabeça. — Não estão se você acha por uma droga de segundo que eles não estão de olho em você. Saia da cidade, Woojin. Por favor.
— Tenho que descobrir quem fez isso, Karina — sussurra ele, com os olhos cheios de lágrimas. — Tenho que descobrir quem matou o Félix, e a melhor maneira de fazer isso é estar dentro.
— Por quê? Por que você não pode simplesmente deixar para lá? Ele morreu. Ele não vai voltar.
— Por sua causa! — Ele grita, apontando na minha direção. — Você é razão de ele estar... — Ele posiciona o punho em frente à boca. — Seu sangue, sua morte. É sua culpa.
— Não. — Balanço a cabeça. — A culpa é dele por ter se envolvido com algo que já não era da nossa alçada.
— Não era para ser assim, você sabe — ele fala baixinho. — Era para ele ter permanecido aqui com os demais. Sabe? Félix pensou que encontraria uma saída para a nossa situação.
— E ele encontrou, mas a que custo?
— Eu quero por um fim em tudo isso.
— Woojin...
Ele morde o lábio e se afasta de mim. Apoia os antebraços no topo da cabeça e entrelaça os dedos.
— Se não posso ir contra a Ordem Divina, então farei aquilo que está ao meu alcance. A noite de Cheshvan se aproxima... Já tenho um alvo em mente.
— Um alvo? Que alvo?
Ele vira-se para mim.
— Olha aqui, Jimin. Só preciso de uma ajudinha. Tem um garoto na sua faculdade que...
— Você não pode estar falando sério. Está realmente planejando seguir por esse caminho — Meus olhos se arregalam de horror. Dou um passo para trás.
— Não sou só eu, Jimin. Muitos dos nossos pretendem fazer o mesmo. Essa vai ser a nossa chance. E se eu conseguir um juramento, vou ter mais poder para minha vingança. Irei descobrir o nome do Arcanjo que matou Félix. Se você fizer o mesmo, talvez... talvez possa me ajudar a conseguir realizar o meu objetivo.
— Você enlouqueceu. Presta atenção no que está falando! Você está caminhando rumo ao caos, Woojin! Você acha que eles não sabem da vida que levamos aqui? Acha que eles vão ficar parados aguardando nosso movimento?
— Nós estamos seguros! — Ele promete e mente ao mesmo tempo.
— Já chega. — Faço uma pausa. — Não vou ajudar. E se eu vir você em qualquer lugar perto da minha área, acabo com você.
Ele ri.
— Simples assim, é?
Não respondo.
— Você vai acabar comigo de novo por estar tentando descobrir quem assassinou o nosso irmão? — Ele faz uma pausa e chuta pedras invisíveis. — Não preciso da sua ajuda. Mas se você ficar no meu caminho, vou te levar junto.
— Você é quem está tentando iniciar um conflito que sabe que vai perder, Woojin. Não eu.
— Você está certa. Está totalmente certa — ele repete. — Mas é você quem está ficando com uma humana, não eu. Como é o nome dela? Minjeong? — Cerro os punhos e sinto meu coração disparar. Ele deve ter notado também. — Ah, esse é um assunto delicado? Você parece incomodada.
— Woojin — começo com frieza, mas não consigo dizer mais nada.
— Você tem razão sobre uma coisa, Karina. — Ele puxa um cigarro e o isqueiro do bolso. Coloca o cigarro na boca e o acende. Bate na lateral da cabeça com os dedos. — Depois de todos esses anos, eu finalmente enlouqueci Então não fica no meu caminho. Ou vou acabar com você e sua garotinha. Fico me perguntando que tipo de coisas os outros diriam sobre ela. Como nós dois sabemos, o reino dos caídos pode ser bem cruel.
— Woojin, se isso é por causa da... — começo, mas ele me corta.
— Não! — Suas palavras ficam mais pesadas. — Não estou brincando. Vou acabar com a porra da vida da sua garota.
Ele começa a ir embora, e suspiro pesadamente.
— O que Félix pensaria do que você está fazendo?
— Bem... — Ele não olha para trás. — Acho que ficaria orgulhoso de mim, por eu realmente estar investindo em alguma coisa. Por fazer justiça pela morte dele.
E, como uma doença infecciosa, Woojin está invadindo minha vida de novo. Eu tinha escapado de seus problemas. Mas, de alguma forma, de alguma maneira, lá estávamos nós novamente.
Volto para o carro e dirijo até em casa. Quando entro encontro Aeri, ela está sentado no sofá, trabalhando em alguns desenhos novos. Ela olha para mim.
— Quando Woojin voltou para a cidade? — Pergunta, colocando um dos desenhos de lado.
— Não sei, mas ele está aqui. — Largo o corpo no sofá. Minhas mãos correm por meu rosto.
— Ele parecia bem. Talvez esteja disposto a deixar o passado no seu devido lugar.
Tenho que concordar. Sempre sei quando Woojin está decidido a entrar em problemas; ele fica agitado, inconsequente. Mas quando o vira no bar, ele parecia centrado. Parecia com o Woojin de antes da morte de Félix.
Seu cabelo está bem cuidado e ele está bem-vestido, provavelmente algo arranjado com a fortuna que construiu. Mas eu conheco o Woojin. No fundo sei como ele é frágil, como está despedaçado. Então se o desejo de vingança está lá, não vai demorar muito para que ele faça um movimento.
— Em que você está trabalhando? — Pergunto, mudando de assunto. Aeri pega uma pasta e passa para mim.
— Artes experimentais. Estou tentando criar alguns desenhos novos. Tenho alguns clientes interessados. Sei que você precisa dos meus serviços, mas...
— Quero ver o seu trabalho.
Ela me entrega o papel e corro os olhos de um lado para o outro. Aeri é uma tatuadora e desenhista genial, então eu não tenho dúvida de que seus trabalhos são bons. Mas este desenho é mais que bom. É alucinante.
Uma espada entalhada entre uma lua crescente, como o sussurro silencioso de uma alma entristecida.
— Queria algo um pouco mais pesado. Um pouco mais áspero. A humanidade tem todos os lados sabe?
— Muito mais do que sou capaz de compreender — confesso.
Fecho os olhos e, como sempre, lá está Minjeong. O tempo só a traz mais para perto de mim, dando vida à minha imaginação.
Não posso arruinar a vida dela. E não posso deixar que ela pense que eu não me importo. Mas o que eu posso fazer?
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