08
Winter' pov:
Volto atordoada para a mesa de totó. Jong Seong está curvado sobre ela com o rosto concentrado, demonstrando competitividade. Ningning dá gritinhos e ri enquanto conversa com Aeri. Ela olha para mim quando me aproximo.
— E aí? O que aconteceu? O que ela falou?
— Nada. Disse para ela não encher nosso saco. Ela foi embora. — Minha voz está inexpressiva.
— Ela não parecia estar furiosa quando foi embora — diz Jong Seong, tirando os olhos do jogo. — O que falou para ela deve ter funcionado.
— Que pena — diz Ningning —, estava esperando que a noite tivesse alguma emoção.
— Bom, agora vocês já podem nos pagar — Diz Aeri com um sorriso. — Estou ficando com vontade de comer a pizza que ganhamos.
— Claro, fica fácil ganhar quando são duas contra um — Jong Seong diz. — Estou começando a achar que você não vai com a minha cara, Aeri. Mudou de lado bem rápido. Estou começando a achar que é uma indireta.
— Está brincando? Eu adoro você — ela diz, parecendo se divertir com a situação. — E para provar isso, vou comprar as pizzas com você. Não saiam daqui, garotas.
— Sabe que eu vou matar você, não sabe? — Falo assim que Ningning e eu ficamos sozinhas. Ela ergue as mãos e dá um passo para trás.
— Estava lhe fazendo um favor. Jong Seong está doido por você e essa era a oportunidade perfeita para acabar com as expectativas dele. Depois que você saiu, contei para ele que várias garotas têm ligado para você todas as noites. Devia ter visto a cara dele. Mal conteve o descontentamento.
Respiro fundo e olho para a porta do fliperama.
— Preciso de alguma coisa.
— Você precisa da Jimin.
— Não, preciso de açúcar. De muito açúcar. Preciso de algodão-doce.
O que eu preciso mesmo é de uma borracha grande o suficiente para apagar todas as evidências da presença de Jimin em minha vida. Particularmente, do fato dela falar dentro da minha cabeça. Tremo. Como ela faz isso? E por que eu? A menos... Que eu tivesse imaginado aquilo. Como havia imaginado o cara me perseguindo Há algumas noites.
— Bem que eu também gostaria de um pouquinho de açúcar — diz Yzhuo. — Vi um vendedor perto da entrada do parque, quando chegamos. Vou ficar aqui para que Aeri e Jong Seong não achem que a gente fugiu e você providencia o algodão-doce.
Lá fora, refaço o caminho até a entrada, mas, quando encontro o vendedor de algodão-doce, distraio-me com algo que esta um pouco mais à frente. A ponte Bampo acima do Han. Fico pensando por que Jimin quer se encontrar comigo. Sinto uma pontada no estômago, e provavelmente deveria levar isso em consideração, mas, apesar de minhas boas intenções, pego-me seguindo em frente, rumo a ponte.
Sigo o fluxo da multidão, mantendo o olhar nas luzes, que desenham um arco íris rumo ao rio. O vento mudou de frio para gelado, mas não é isso que faz eu me sentir cada vez mais desconfortável. A sensação voltou. Aquela sensação gelada, perturbadora, de que alguém está me observando.
Disfarçadamente, olho para os dois lados. Nada de anormal na minha visão periférica. Um pouco mais atrás, diante de uma pequena fileira de arvores, uma figura encapuzada se vira e desaparece na escuridão.
Com o coração acelerado dentro do peito, ultrapasso um grupo de pedestres, afastando-me da clareira. Depois de muitos passos, volto a olhar para trás. Ninguém parece estar me seguindo.
Quando olho para a frente novamente, esbarro em alguém.
— Desculpe! — Balbucio, tentando recuperar o equilíbrio.
Jimin sorri.
— É difícil resistir a mim.
Levo um segundo para assimilar a situação.
— Me deixe em paz.
Tento me esquivar, mas ela pega meu cotovelo.
— O que aconteceu? Você não parece muito bem.
— É a reação que você provoca em mim — improviso.
Ela ri. Sinto vontade de lhe dar um chute na canela.
— Você está precisando de uma bebida.
Ela ainda segura meu cotovelo e me puxa até o vendedor de limonada. Finco meus calcanhares no chão.
— Quer me ajudar? Fique longe de mim.
Ela se aproxima mais e tira alguns fios de cabelos do meu rosto.
— Adoro o seu cabelo. Adoro quando brinca com as cores. É como ver um lado seu que precisa aparecer com mais frequência.
Arrumo o cabelo enfurecidamente. Assim que percebo que pareço que eu estou tentando parecer mais apresentável para ela, digo:
— Preciso ir. Ningning está esperando. — Pausa angustiada. — Acho que vejo você na aula, segunda-feira.
— Ande comigo na ponte Bampo.
Ergo o pescoço para observar melhor a ponte. Um grande fluxo de pessoas circula sobre ela, indo em ambas as direções.
— Prometo que não vai se arrepender. — O sorriso dela ganha um ar preguiçoso e provocante.
— Não. Nenhuma chance.
— Se você continuar fugindo de mim, nunca vai entender o que realmente está acontecendo.
O comentário, nesse momento, deveria ter me levado a sair correndo. Mas não é isso o que acontece. É quase como se Jimin soubesse o que dizer para despertar minha curiosidade. Exatamente na hora certa.
— O que está acontecendo? — Pergunto.
— Só tem um jeito de você descobrir.
— Não posso. Tenho medo de altura. Além do mais, Ningning está esperando.
Só que, subitamente, a ideia de subir àquela altura não me assusta. Não mais. De uma forma absurda, eu me sinto segura sabendo que estarei com Jimin.
— Se você aguentar toda a volta sem gritar, peço ao professor para trocar de lugar.
— Já tentei. Ele não vai mudar de ideia.
— Talvez eu consiga ser mais convincente do que você.
Nem preciso dizer o quanto considero o comentário um insulto pessoal.
— Eu não grito — digo com firmeza. — Não por causa de uma volta na ponte.
No mesmo passo que Jimin, percorro o caminho que conduzia a ponte Bampo.
— Nunca tinha visto você nessa região — comenta Jimin.
— Você vem muito aqui?
Faço uma anotação mental para não voltar a fazer visitas ao Rio Han nos fins de semana.
— Tenho um passado neste lugar.
Avançávamos à medida que o fluxo de pessoas se distribuí, observando a iluminação e as águas escuras logo abaixo. Outras por sua vez, parecem se divertir enquanto tiram fotos e jogam conversa fora.
— Deixe-me adivinhar — digo. — Você matou aula aqui, em vez de ir à faculdade no ano passado.
Eu estou sendo sarcástica, mas Jimin responde:
— Se eu respondesse essa pergunta, desvendaria o meu passado. E prefiro mantê-lo envolto em sombras.
— Por quê? O que há de errado com o seu passado?
— Não acho que seja uma boa hora para falarmos disso. Meu passado pode assustá-la. — Ela se aproxima um passo, e nossos braços roçam, provocando uma conexão que deixa os pelos de meu braço arrepiados. — As coisas que tenho a confessar não são as do tipo que você contaria para sua petulante parceira de aula.
O vento gelado me envolve e, quando inspiro, meus pulmões se enchem de frio. Mas não se compara com o calafrio que as palavras de Jimin causam em mim.
Ela levanta o queixo na direção do céu escuro.
— Parece que chegamos em um ótimo ponto — diz se aproximando das vigas de proteção da ponte.
A estrutura não me inspira muita confiança, reformada ou não. Eu sei que ela tem mais de um século. É feita de metal e passa muito tempo exposta ao implacável clima de Seul.
Desvio o olhar e garanto para mim mesma que é a frieza do ar que faz minhas pernas tremerem.
— Seu passado não me assustaria — digo, mantendo uma distância segura de onde Jimin está. — Muito provavelmente ficaria chocada.
— Chocada — ela repete.
O tom da sua voz me faz crer que ela aceita a acusação. É estranho, pois Jimin nunca se diminui.
O vento paira sobre nós de uma forma não muito suave. Os odores de metal e água doce enchem o ar. Jimin está perto o bastante de mim, e eu sinto seu cheiro. Sinto vestígios quase imperceptíveis de sabonete de hortelã.
— Você está pálida — ela diz, abaixando-se para que possa observar o meu rosto atentamente.
Estou pálida, mas não dou o braço a torcer.
No alto da ponte, o mundo parece ter parado por um momento. Eu posso ver a quilômetros de distância dali; percebo onde as margens escuras se combinam com os pontos de luz dos subúrbios e gradualmente dão lugar às luzes no centro movimentado de Seul. O vento para por um instante, permitindo que o ar úmido envolva minha pele.
Sem querer, dou uma olhada em Jimin. Sinto um toque de conforto por estar ao lado dela. Ela então abre um sorriso.
— Assustada, Anjo?
Agarro com força a barra de metal colocada como barreira de proteção à medida que sinto meu peso pender para a frente. Deixo escapar uma risada vacilante.
As luzes que brilham nas laterais me cegam. Não consigo ter uma noção de tempo ou espaço.
O vento volta a uivar, forte. Tento dizer algo para Jimin, mas minha voz é engolida pela corrente de ar. Sinto meu estômago ficar gelado e solto uma das mãos da barra de metal para tentar firmar os pés. Não consigo distinguir o que está acontecendo.
É tarde demais. Perco completamente o equilíbrio e sou jogada para fora da ponte enquanto o vento se torna agressivo. Procuro agarrar em algo, mas minhas mãos nada encontram, e caio pela lateral, mergulhando direto no vazio negro. As águas se aproximam depressa. Abro a boca para soltar um grito.
Minha lembrança seguinte é de estar parada na ponte. Meus braços doem pela força com que Jimin me segura.
— Isso é o que eu chamo de gritar — ela diz, sorrindo para mim.
Atordoada, observo enquanto ela coloca uma das mãos sobre a orelha como se meu grito ainda ecoasse. Sem muita certeza do que aconteceu, olho para a área do braço dela onde minhas unhas deixaram semicírculos tatuados em sua pele. Então meus olhos passeiam pelo entorno. Estou no mesmo lugar, completamente segura.
— Eu estava... — começo a dizer. — Pensei...
— Pensou o quê? — Jimin pergunta, parecendo interessada de verdade.
— Pensei... que tivesse voado para fora da ponte. Pensei literalmente que... eu ia morrer.
— Acho que o seu medo ganhou força.
Meus braços tremem. Meus joelhos cedem ligeiramente ao peso do corpo.
— Acho que vamos continuar como parceiras — diz Jimin.
Suspeito ter ouvido uma ponta de vitória em sua voz.
— A ponte — murmuro, olhando para trás, para a viga de proteção à qual me agarrara segundos antes.
— Você está bem? — Definitivamente há preocupação na voz dela.
Começo a abrir a boca, querendo dizer que estou certa de ter caído por um momento em direção ao rio e que forças além da minha capacidade de explicar me devolveram à segurança e à proteção da ponte. Em vez disso, fico em silêncio.
Jimin abre outro sorriso. Conduzindo-me pelo caminho de volta, ela diz:
— Vou levá-la de volta ao fliperama.
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