07
Winter's pov:
Na manhã de sexta, fico surpresa em ver Jong Seong aparecer durante o treino do time feminino de arco e flecha. — Um para o qual Ningning fez questão de me arrastar e desaparecer logo em seguida. — Depois de cumprimentar alguns amigos, ele me vê. Acena discretamente e se junta a mim na arquibancada.
— Estava pensando quando a gente se esbarraria novamente — ele diz, sorrindo. Está vestido com calças prestas e camisa branca da Nike.
— Você não contou por que se transferiu para cá.
— Perdi a bolsa na Seoul National University, minha antiga faculdade, e meus pais não podiam bancar a mensalidade.
O técnico do time apita.
— Imagino que o apito tenha algum significado — Jong Seong diz para mim.
— Elas devem ficar nas suas marcas e se preparar para atirar no alvo. — Desvio meu olhar do campo para ele. — Não me lembro de você ter interesse por esportes.
Jong Seong dá um salto e gira nos calcanhares. Dá alguns socos e ganchos no ar. Termina com um cruzado que para bem perto do meu queixo. Sorridente, ele diz:
— Digamos que eu mudei ao longo dos últimos anos. Agora sou atleta até a alma.
— Então deveria se inscrever para algum dos times da faculdade.
Jong Seong e eu ficamos em silêncio por alguns instantes, observando o treino enquanto o clima muda gradativamente. O ar está impregnado por uma neblina fantasmagórica. Algumas gotas de chuva caem do céu, que parece querer desaguar uma tempestade na cidade. Olho para as portas do prédio no momento em que o técnico decide encerrar o treino.
Quando estou prestes a levantar da arquibancada, algo no estacionamento, além do limite do banco, chama minha atenção. Achei que tivesse ouvido meu nome. Viro e, logo em seguida, percebo que não tinham pronunciado meu nome em voz alta. O nome soara dentro de minha cabeça.
Minjeong.
Jimin está usando um boné de beisebol preto e agarra com os dedos a malha da cerca, apoiando-se nela. Está vestindo um moletom escuro, os shorts vão até pouco acima dos joelhos e a camisa tem as mangas puxadas até os antebraços. Os tênis parecem novos e caros. E os olhos são intensos e impenetráveis enquanto ela me observa, mas suspeito que muitas ideias se passem por trás deles.
Outra sequencia de palavras passa pela minha cabeça.
Amigo novo? Vocês parecem ser dar bem.
Respiro fundo para recuperar o controle e digo a mim mesma que imaginei as palavras. Porque a alternativa seria a hipótese de que Jimin tem o poder de colocar pensamentos na minha mente. O que não pode acontecer. A menos que eu esteja perdendo a cabeça. Isso me assusta mais do que a ideia de que ela dispensa os métodos normais de comunicação e pode, se quiser, falar comigo sem sequer abrir a boca.
— Minjeong, você está me ouvindo?
Pisco, voltando à vida a tempo de ver Jong Seong me encarando com um olhar confuso.
— Eu estava dizendo que é melhor entrarmos — ele diz, passando a mãos nos cabelos.
— Ah, claro.
Olho de relance para a cerca onde vi Jimin pela última vez. Ela não está mais lá.
— Aquela na cerca era sua namorada? — Pergunta Jong Seong.
Fico surpresa pelo fato dele tê-la notado.
— Não — respondo. — É só uma amiga. Para falar a verdade, nem isso. É minha parceira na aula do professor Park.
— Você está corando.
— Provavelmente por causa da friagem.
A voz de Jimin ainda ecoa na minha cabeça. Meu coração está acelerado, mas, pelo menos, meu sangue corre mais frio. Ela falou diretamente com meus pensamentos? Há algum tipo de elo inexplicável entre nós que permite que isso aconteça? Ou será que eu estou ficando maluca?
Jong Seong não parece completamente convencido.
— Você tem certeza de que não há nada entre vocês duas? Lembro que você comentou que estava saindo com uma pessoa.
Naquela época eu nem sabia o que me aguardava. Calma aí. O que Jong Seong acabou de dizer?
— Você disse alguma coisa?
Ele sorri.
— Tem um festival acontecendo no Rio Han. Aeri e eu estamos pensando em dar um pulo lá. O tempo não deve estar muito ruim. Será que você e a Yzhuo não gostariam de ir conosco?
Levo um momento para pensar sobre o convite. Eu estou bem convencida de que Ningning vai me matar se recusar a oferta de Jong Seong. Além do mais, sair com ele parece uma boa maneira de esquecer por algumas horas da minha desconfortável atração por Jimin.
— Combinado — digo.
\[...]
No final da tarde, minha tia e eu estamos na cozinha. Ela se serve de uma xícara de chá enquanto eu estou sentada em um banco, comendo um bagel com manteiga. Dou uma grande mordida, e Taeyeon me olha como se esperasse que eu lhe dissesse alguma coisa.
— Recebi uma mensagem da clinica solicitando minha presença em uma reunião com a Dra. Kim. — Ela meneia o queixo na direção do seu celular sobre o balcão. — Você sabe do que se trata?
Dou de ombros com o ar mais inocente possível e falo:
— Não faço ideia.
Mas eu tenho uma boa noção do que isso se trata. Dois anos antes, eu tinha aberto a porta da frente e me deparado com policiais. Temos uma notícia ruim, tinham dito. O enterro dos meus pais foi uma semana depois. Desde então, todas as tardes de segunda-feira eu apareço pontualmente para uma sessão com a dra. Lee, minha psicóloga. Perdi as duas últimas e, se não comparecer na próxima semana, vou estar com problemas. A reunião, muito provavelmente, é uma advertência.
— Tem planos para hoje à noite? Você e Yzhuo estão com alguma carta na manga? Talvez assistir a um filme?
— Talvez. De verdade, tia: eu vou ficar bem. Pode ir tranquila para a sua viagem.
— Vou assistir a uma conferência amanhã — ela diz. — Em Busan. O escritório fez questão que minha equipe comparecesse. Mas talvez eu e alguns amigos do trabalho permaneçamos na cidade até domingo.
Sorrio.
— Então você vai passar o fim de semana se divertindo em outra cidade.
— Todo mundo precisa de um pouco de diversão na vida. Gosto disso. E você deveria fazer o mesmo. Não sei, talvez conhecer alguém. — Ela diz, bebericando o seu chá.
— Pode acreditar, tia, não estou afim de conhecer ninguém no momento.
Tudo bem, talvez exista um alguém, mas como eu não a conheço muito bem, e ela me deixa completamente apavorada, parece mais seguro fechar os olhos e fingir que não está ali.
— Tenho outras prioridades em mente. Quero conseguir um bom emprego quando concluir a faculdade.
Termino o bagel enquanto conversamos. Embora eu não consiga focar em nada, porque estou ocupada decidindo se quero mesmo me encontrar com Jong Seong à noite. Inicialmente, sair para me divertir pareceu uma ótima ideia. Quanto mais eu penso no assunto, porém, mais dúvidas me invadem. Para começar, eu conheço Jong Seong a tempo suficiente para saber o que ele espera de tudo isso. Além disso, está ficando tarde, e o Han fica a pelo menos meia hora de carro.
O telefone toca, e o número de Ningning aparece no identificador de chamadas.
— Vamos fazer algo hoje à noite? — Ela pergunta.
Abro a boca, calculando a resposta cuidadosamente. Assim que eu contar para ela a proposta de Jong Seong, não havera como recuar.
— E aí? — Ningning insiste. — Hoje é sexta-feira. Não quero passar a noite olhando para o teto.
Minha tia acabou de subir para o quarto, provavelmente para se arrumar para sua viagem. Eu não estou com a menor vontade de ficar sozinha em casa depois que ela sair, por isso tomo uma decisão.
— Que tal irmos ao Rio Han? Jong Seong e Aeri vão. Querem encontrar com a gente.
— Você escondeu o jogo! Informação vital, Minjeong. Pego você em 15 minutos. — Em seguida a escuto desligar o telefone.
Vou para o andar de cima e pego um suéter largo branco, bem confortável, jeans escuros e mocassins. Arrumo os cabelos e dou um passo para trás, para me examinar cuidadosamente no espelho. Concluo que estou uma mistura de despreocupada, mas apresentável.
Exatamente 15 minutos depois, Ningning me envia uma mensagem avisando que está me esperando lá embaixo. Eu costumo levar vinte minutos para percorrer de carro a distância entre nossas casas, mas normalmente respeito o limite de velocidade. Ningning compreende a palavra velocidade, mas limite não faz parte do vocabulário.
— Vou ao Rio Han com Ningning — aviso a minha tia. — Quando você chegar em Busan me mande mensagem.
Ela sai do seu quarto.
— Vai até ao Han?
— Aproveite a conferência! — digo, escapulindo pela porta antes que ela queira saber mais.
O cabelo louro de Yzhuo está arrumado em ondas rebeldes que se derramam por seus ombros e ela veste roupas casuais, mas igualmente impecáveis.
— Como é que você consegue? — Pergunto. — Teve cinco minutos para se arrumar.
— Sempre alerta. — Ela abre um sorriso. — Sou a garota dos sonhos de uma aluna transferida.
\[...]
Meia hora depois, atravessamos a ponte a entrada do parque a pé. Fomos obrigadas a estacionar no ponto mais afastado do estacionamento por causa do grande movimento no fim de semana de abertura. Situado na costa, o Han é conhecido pelo clima ameno. Um vento baixo ganha força enquanto nós duas vamos até a bilheteria. As árvores perderam as folhagens havia muito, e os galhos pairam sobre nós como dedos deformados. O Han ganha vida durante o ano inteiro com eventos visuais, músicos e um show de atrações. Mas apenas durante o outono, o festival regional ganha vida.
— Uma inteira, por favor — digo para a mulher na bilheteria.
Ela pega o dinheiro, passou uma pulseira pela janela e sorri.
— Divirta-se — diz com a voz animada. — E não deixe de experimentar nossa sessão de culinária — Ela da pancadinhas do lado de dentro do vidro, apontando na direção de um mapa.
Ningning lê o anúncio por cima do meu ombro.
— Precisamos provar isso! — Grita.
— Por último — Prometo, esperando que ela só lembre disso depois de termos visto todas as atrações.
Depois de andarmos pelo evento, apreciarmos alguns artistas independentes e de passarmos por algumas barracas de jogos, Ningning e eu decidimos que está na hora de procurar Jong Seong e Aeri.
— Humm — diz Ningning olhando para os dois lados do caminho que atravessa todo o parque a beira do rio. Ficamos em silencio.
— O fliperama — digo, finalmente.
— Boa.
Acabamos de atravessar as portas do fliperama quando eu a vejo. Jimin.
Ela tira os olhos do jogo. O mesmo boné de beisebol que usou quando eu a vi durante o treino na faculdade esconde a maior parte de seu rosto, mas eu tenho certeza de ter visto a ponta de um sorriso. A primeira vista, parece amistoso, mas então me lembro de como ela invadiu os meus pensamentos e fico completamente gelada.
Se eu estiver com sorte, Ningning não a viu. Eu a conduzo através da multidão, deixando Jimin fora de vista. A última coisa de que eu preciso é que minha amiga me sugira ir até ela e comece um papo.
— Lá estão eles! — Diz Ningning, acenando no alto. — Aeri! Jong Seong! Aqui!
— Boa noite, garotas — diz Jong Seong, passando entre as pessoas. Aeri o segue, parecendo tão animada quanto — Será que posso comprar uma Coca-Cola para vocês?
— Ótima ideia — diz Ningning. Está encarando Aeri. — Aceito uma Zero.
Ela sorri e se prontifica a pegar as bebidas, mergulhando de volta na multidão. Cinco minutos depois, volta com os refrigerantes. Depois de nos entregar, esfrega as mãos e observa a área.
— Por onde começamos?
— Pelo Air Hockey — digo imediatamente.
O jogo fica do outro lado do salão. Quanto mais longe de Jimin, melhor. Digo para mim mesma que é coincidência que ela esteja ali, mas meu instinto discorda.
— Puxa, vejam só — exclama Yzhuo. — Totó! — Ela já ziguezagueia até a mesa desocupada
— Aeri e eu contra vocês dois. Os perdedores pagam a pizza.
— Muito justo — diz Jong Seong.
Totó seria ótimo se a mesa não estivesse tão perto do lugar onde Jimin está jogando. Digo para mim mesma que devo ignorá-la. Talvez Yzhuo também não note.
— Ei, Winter, aquela ali não é a Jimin? — ela diz.
— Hum? — Pergunto com ar inocente.
Ela aponta.
— Ali. É ela, não é?
— Duvido. Jong Seong e eu estamos no time branco, certo?
— Jimin é a parceira de Winter na aula de linguagem fotográfica — Ningning explica para Jong Seong e Aeri. Ela pisca maldosamente para mim, mas faz cara de inocente na hora em que Aeri lhe dá atenção.
Balanço a cabeça devagar, mas com firmeza, transmitindo uma mensagem silenciosa: "Pare com isso."
— Ela fica olhando para cá — diz Ningning quase em um sussurro. — Jimin vai ficar pensando o que você está fazendo aqui com... — Ela inclina a cabeça na direção de Jong Seong.
Fecho os olhos e me imagino batendo a cabeça contra a parede.
— Jimin deixou bem claro que gostaria de ser mais do que a parceira de aula de Minjeong — prossegue Ningning, ignorando completamente os meus sinais. — Quem pode culpá-la?
— Verdade? — Ele pergunta me encarando com um olhar que diz que não está surpreso. Suspeitou disso o tempo todo. Percebo que ele dá um passo para se aproximar.
— Não é bem assim — corrijo. — É... Vamos jogar?
Solto a bolinha no meio da mesa. Ninguém repara.
— Você quer que eu fale com ela? — Pergunta Jong Seong. — Vou explicar que não estamos procurando confusão. Vou dizer que você está comigo e que, se ela tiver algum problema, é melhor resolver comigo.
Embora eu aprecie a preocupação, não gosto da ideia de um encontro cara a cara entre Jong Seong e Jimin. Ela é uma caixinha de surpresas: intangível, assustadora e desconhecida. Quem pode dizer do que ela é capaz? E embora minha relação com Jong Seong não seja como antes, ele não merece ser jogado contra Jimin.
— Ela não me assusta — diz Jong Seong, como se para contrariar meus pensamentos. Obviamente discordamos nesse ponto.
— Não é uma boa ideia — digo.
— Sem querer ofender ninguém, a garota é estranha — ele diz. — Deixe eu conversar dois minutos com ela.
Ele começa a se encaminhar na direção de Jimin.
— Não! — Exclamo, puxando a manga de sua camisa para impedi-lo. — Ela... uh... Deixe que eu cuido disso.
— Você tem certeza? — Pergunta Jong Seong. — Ficaria feliz em cuidar disso.
— Acho que é melhor que eu mesma resolva.
Esfrego a palma das mãos no jeans e, depois de um suspiro profundo, começo a diminuir a distância entre Jimin e mim, que é de apenas alguns consoles de jogos. Não tenho ideia do que vou dizer quando chegar lá. Na melhor das hipóteses, apenas um cumprimento rápido. Então vou poder voltar e garantir a meus amigos que tudo está sob controle.
Jimin usa o figurino habitual: jaqueta jeans, camisa preta, calça preta e um delicado cordão de prata que contrasta com sua figura sombria. As mangas estão dobradas nos antebraços, e eu percebo o desenho de uma tatuagem no interior do pulso esquerdo. Ela é alta, esguia, e eu não vou ficar surpresa se, debaixo das roupas, ela esconder um corpo perfeito. Não que eu queira olhar debaixo das roupas
dela.
Quando chego no console ocupado por Jimin, dou um tapinha na lateral para chamar sua atenção. Na voz mais calma do mundo, pergunto:
— Posso falar com você?
— Quem é ele? — Ela pergunta, acenando de forma quase imperceptível na direção da mesa de totó.
— Jong Seong, um antigo amigo do colegial. Escute, preciso ser rápida. Estão esperando.
Espero que entenda a deixa, mas ela se limita a dizer:
— Quer jogar?
— Winter! — Ningning exclama. — Volte aqui. Jong Seong está perdendo feio!
— Não posso — digo a Jimin.
— Se eu ganhar — ela diz, como se não tivesse a mínima intenção de aceitar uma recusa —, você diz para Jong Seong que aconteceu alguma coisa. Diz para ele que não está mais livre esta noite.
Não resisto. Ela é arrogante demais.
— E se eu ganhar? — Pergunto.
Os olhos dela me examinam da cabeça aos pés.
— Acho que não precisamos nos preocupar com isso.
Antes que eu possa me impedir, dou um soco leve no braço dela.
— Cuidado — ela fala baixo. — Podem achar que está rolando um clima.
Fico com vontade de bater em mim mesma, porque é exatamente o que está acontecendo. Mas não é culpa minha — a culpa é de Jimin. Quando estou perto dela, experimento uma confusa duplicidade de desejos. Parte de mim quer sair correndo, a outra, mais irresponsável, fica tentada a ver quanta proximidade eu vou suportar sem... entrar em combustão.
— Uma partida — ela provoca.
Eu... a... desafio.
Fico rígida.
— Como fez isso?
Como ela demora a negar, sou tomada por uma onda de pânico. É real. Ela sabe exatamente o que está fazendo. Minhas mãos ficam úmidas de suor.
— Como você fez isso? — Repito.
Ela me lança um sorriso dissimulado.
— Fiz o quê?
— Pare — ameaço. — Não finja que não fez.
Ela apoia um ombro no console, baixa os olhos e me observa.
— Talvez eu tenha a resposta do que você procura.
— Minjeong! — Exclama Ningning, junto a um burburinho de vozes e bipes eletrônicos.
— Encontre comigo na Ponte Bampo — diz Jimin.
Dou um passo para trás.
— Não — retruco num impulso.
Jimin passa por trás de mim e um calafrio sobe pela minha espinha.
— Vou esperar — ela diz em meu ouvido. E desaparece no fliperama.
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