𝟭𝟭. DIAS ESCUROS.
CAPÍTULO 11 | DIAS ESCUROS
Thomas e Edith aprenderam com o tempo que eram parecidos demais para darem certo juntos. Ele gostava de estar no controle e estava acostumado a ter suas ordens acatadas, mas nunca por parte da mulher; ele sabia que quando a modista era parte do assunto, ele seria obrigado a mudar sua forma de jogar e adaptar suas regras para que ela decidisse participar. Os dois tinham dificuldade em ceder, e eram profundamente traumatizados o bastante para saberem que não desejavam mais complicações em suas vidas, e era aquilo que eles eram: complicações. Desafios. Uma permanente pedra nos sapatos um do outro.
Era como sempre foram, afinal, desde o primeiro dia de Edith em Small Heath. E eles conseguiram permanecer daquela forma por algum tempo, fingindo que nada havia acontecido, em sua dinâmica de cão e gato que apenas eles podiam entender por completo.
Algumas semanas após o fim da guerra com Billy Kimber, as coisas mudaram.
Edith soube, no momento em que viu Polly pela primeira vez, que aquela mulher seria sua ruína. Foi em um dia qualquer, quando ela mesma não sabia de nada, que Polly lhe contou que havia sonhado que ela estava grávida. Mais algumas semanas se passaram, e Polly enxergou em seu corpo mudanças que ela mesma não havia percebido. Poderia mentir sobre a paternidade, mas Thomas nunca compraria suas mentiras quando conhecia tão bem a verdade.
Foi o que os obrigou a tentar mais uma vez. Thomas amoleceu por completo diante da ideia de ter um filho, sangue de seu sangue, prestes a nascer. Sentiu coisas que nunca pensou que pudesse ser capaz, e olhava para Edith como se ela tivesse colocado as estrelas no céu conforme sua barriga aumentava de tamanho. Mas ele ainda era Thomas, e ela ainda era Edith.
Ela não quis se casar por obrigação mais uma vez, e ele não queria, em um milhão de anos, compartilhar qualquer semelhança com Albert. Ela não queria abandonar o ateliê, e ele se certificou de que ninguém nunca mais tivesse uma dívida não paga no Mundo das Agulhas. Ele a daria a lua se pedisse, porque ela o daria um filho.
━ Algum avanço? ━ ele perguntou, em um dia qualquer, ao adentrar a sala da casa que os dois agora compartilhavam e encontrar Edith com uma pequena criança nos braços.
━ Ah, sim. Hoje ela descobriu um novo elemento químico ━ Edith retrucou, com as sobrancelhas unidas, enquanto balançava o corpo para os lados na tentativa de fazer o bebê agitado adormecer. ━ Mas não o deu um nome, ainda, porque continua sem dizer uma palavra.
Thomas sorriu levemente, relevando o comentário mordaz da mulher, e aproximou-se mais um pouco, estendendo os braços em direção à criança.
━ Sem armas ━ Edith disse.
━ Essas armas mantém você a salvo ━ ele respondeu, ainda com as armas presas ao corpo, e tomou a filha dos braços da mãe. ━ Você sabe dizer “arma”, querida? Vai ser a sua primeira palavra, não vai?
Edith revirou os olhos, antes de se sentar no sofá e cruzar os braços, vendo a facilidade com que Thomas fazia a filha adormecer. Parecia absurdo para ela que ele fosse tão bom com crianças; ela passava a totalidade de seus dias com Lenora nos braços, mas era o pai, em seus poucos minutos estando presente, quem a hipnotizava a cair em um sonho tranquilo.
Algumas mulheres criavam certa raiva por seus parceiros durante a gravidez, mas a que Edith sentia por Thomas já existia desde muito antes de Lenora acontecer.
━ Ela está demorando muito para falar, Tommy. Se dissesse mesmo arma, eu seria obrigada a ficar feliz ━ Edith se queixou, observando os dois. ━ Polly disse que você demorou a falar. Acho que ela vai ser parecida.
━ Ela mal completou um ano, Edith ━ ele lembrou, sem olhá-la, com a atenção ainda presa na filha. Lenora podia ter seus olhos, mas quando ele a observava, enxergava Edith quase que por completo. ━ Torça para ela não herdar o seu temperamento, ou nós vamos ter muito trabalho.
━ Tem razão. Vamos torcer para que ela herde o seu, e para que sua brincadeira preferida se torne injetar cocaína em cavalos de corrida ━ a mulher retrucou, impaciente, levantando uma sobrancelha, mas ele sorriu, mostrando todos os dentes. ━ Não, Thomas. Eu estava tentando ofender você, e não incentivando a levar minha filha para ajudar nas suas atividades criminosas.
Thomas a encarou em silêncio, com um leve e discreto sorriso ainda dançando em seus lábios. Edith estava cansada, ele sabia; Lenora ainda não falava, mas já dava os primeiros passos e corria por toda a casa. Tinha certa tendência a encontrar as armas que eles deixavam por aí, e quando não havia nenhuma por perto, seus dedos pequenos costumavam ser atraídos por tomadas. Era Edith quem lidava com aquilo durante as 24 horas de seu dia, e não ele; mesmo quando ele estava por perto, ela insistia em não deixar o seu lado.
A situação dos dois não era a ideal; moravam juntos, mas não eram um casal. Criavam a filha dos dois, mas Edith não aceitou quando ele a pediu em casamento, e agora, Thomas também não achava que pediria novamente. Ele nunca foi um grande romântico, e enquanto Edith e Lenora estivessem seguras, ele estaria mais do que satisfeito; não precisavam encenar o retrato da família feliz, e não queriam fingir ser o que ambos sabiam que não eram.
Ele ocasionalmente se perguntava como havia ido parar naquela situação. Não mudaria nada sobre a trajetória; exceto que, se soubesse no passado que Edith seria a mulher que o daria uma filha, teria sido mais gentil com ela nas ocasiões em que poderia o fazer. Mas, novamente, Edith também nunca foi uma pessoa fácil de se lidar, e tudo que ocorria entre os dois era resultado das ações de ambos, e nunca de um só.
━ Pare de dizer “minha filha” como se você a tivesse feito sem a minha ajuda ━ ele disse, finalmente, elevando as sobrancelhas levemente. ━ Nós sabemos que não foi como aconteceu.
━ Eu a carreguei dentro de mim por nove meses e fiz a parte mais difícil do trabalho. É claro que ela é minha.
━ Aturar você é a parte mais difícil do trabalho, Edith ━ ele provocou, divertindo-se ao dizer aquilo e vendo-a o fuzilar com os olhos. Era algo que ele sempre havia gostado; algo sobre a raiva deixava a mulher ainda mais bonita do que o comum. Ou talvez, fosse apenas o costume; ela, quase sempre, o olhava como se quisesse matá-lo. ━ Não me olhe assim, ou nós vamos fazer outra dessas.
━ Você bem que gostaria ━ a mulher resmungou, levantando-se e passando por ele com um revirar de olhos. Quando estava próxima à porta, deu meia volta e retornou, aproximando-se de Thomas para dar um beijo singelo na testa de Lenora. ━ Eu vou tomar um banho. Não saia agora.
━ E se eu sair? ━ não estava em seus planos; ele apenas descobriu, com o tempo, que gostava de ocasionalmente dizer coisas com o único propósito de irritá-la.
Edith o encarou sem emoção, estudando-o com Lenora nos braços. Embora ela já estivesse adormecida, ele continuava a balançá-la em uma delicadeza que poucos acreditariam. Thomas não conseguiu irritá-la, não daquela vez; ambos sabiam que ele não sairia daquela posição se o mundo inteiro pegasse fogo.
━ Você não vai, Tommy.
Havia certa leveza em Thomas agora, ela sabia. Havia notado ainda durante a gravidez. Ele era o mesmo nas ruas; o mesmo homem perigoso e autoritário que sempre havia sido, mas quando ela estava por perto, tudo sobre ele se suavizava. Ela nunca poderia imaginar que Thomas desejava ser pai; de alguma forma, ainda parecia ter nascido para isso, e ela acreditava que ele era um pai melhor do que ela era uma mãe.
A gravidez não a suavizou como fez com Thomas. De fato, ela acreditava que a havia endurecido. Não sabia se aquilo era o ideal.
Seu banho não durou muito tempo; ela não gostava de ficar longe da filha por mais tempo do que o necessário enquanto ela ainda era tão pequena e indefesa, mesmo que soubesse que Thomas jamais permitiria que algo lhe acontecesse. A verdade era que ela gostava daqueles momentos, quando estavam apenas os três; havia algo de muito acolhedor sobre aquela família disfuncional, e era bom não se ver envolvida nos assuntos, fossem eles quais fossem, que aconteciam pelas ruas sujas de Small Heath.
Quando saiu do banho e se vestiu, foi de encontro aos dois no quarto de Thomas. Não bateu antes de entrar. Apenas empurrou a porta, e encontrou o homem deitado ao lado da filha, que ainda dormia tranquilamente. Ele havia se livrado das armas e da boina, ela percebeu, e sorriu sozinha; era um estado de vulnerabilidade que ele não costumava se permitir atingir tão cedo na noite.
━ Ela deu muito trabalho hoje? ━ ele perguntou.
━ Lenora não é a pior Shelby com a qual eu já lidei, acredite em mim ━ ela retrucou, com um meio sorriso, e cruzou os braços ao encostar-se contra a batente da porta. ━ Não foi nada que eu não pudesse dar conta. Mas a sua filha não é fácil, Thomas.
Ele encarou Edith por alguns segundos, com as sobrancelhas levemente erguidas, e assentiu com um mínimo sorriso.
━ Eu tenho certeza que não.
━ A governanta tem ajudado ━ Edith contou, aproximando-se mais e se sentando na beirada da cama de Thomas. Esticou um dos braços e brincou com um dos pés de Lenora, rindo sozinha. ━ Mas ela fala demais. Eu não consigo manter conversas por tanto tempo, e nem quero. Fugi com Lenora para o ateliê durante a tarde para não ter que conversar.
Thomas assentiu calmamente, ainda encarando-a com seu meio sorriso.
━ Você quer saber como foi o meu dia? ━ ofereceu.
Ela o encarou de volta, ponderando por alguns segundos se estava interessada em ouvir sobre os esquemas de apostas e possíveis brigas de gangues.
━ Não ━ respondeu, suavemente, antes de continuar: ━ A não ser que você queira contar.
━ Não há nada que valha a pena ouvir.
Eles às vezes se estranhavam. Mostravam as garras um para o outro, trocavam farpas. Ofendiam-se. Não era nada além do costume dos dois; era como funcionavam. Mas agora estavam bem mais amenos. Era uma das consequências do nascimento de Lenora; Thomas não era capaz de sentir qualquer coisa ruim pela mulher que o havia dado a melhor coisa de sua vida, e Edith já não conseguia mais guardar rancor pelo homem que era o pai de sua filha como fazia antigamente.
Ainda estavam se acostumando àquilo. Apesar de tudo, a mulher ainda tinha o mesmo fogo no olhar, que se apagava quando olhava para Lenora. Mas Thomas ainda o via, queimando profundamente, e sabia que ela era a mesma; havia controlado as chamas por um período, mas ele sabia que voltariam em breve.
━ Ela está dormindo melhor durante a noite. Não acorda mais na madrugada ━ Edith contou, após alguns segundos em silêncio. ━ Ainda se levanta chorando antes que o primeiro galo cante, mas é um avanço. Se bem que, considerando toda a movimentação que ela tem durante o dia, deveria dormir até às dez, no mínimo.
Thomas passou uma das mãos pelos cabelos de Lenora, sem desejar acordá-la, e Edith observou tranquilamente enquanto a filha babava na cama do pai.
━ Nós a fizemos ━ ele concluiu, após alguns segundos a admirando.
Edith assentiu levemente.
━ Bem observado, Tommy.
━ Eu espero que nós não consigamos estragá-la.
Dessa vez, a mulher comprimiu os lábios e mordeu o interior das bochechas, balançando a cabeça de forma ainda mais discreta.
━ Eu também espero.
Eles eram pessoas ruins demais para conseguirem criar alguém bom; temiam pela criação de Lenora, que não tinha um único bom exemplo ao seu redor. Criminosos de todos os tipos compunham sua família, e a cada vez que Edith fechava os olhos por um tempo longo demais, via imagens da garota, um pouco crescida, correndo com boinas e armas. Ela não estava inventando a imagem do 0; sua inspiração era o pequeno Finn, a quem ela já havia visto daquela forma milhares de vezes.
Com um suspiro, deu a volta na cama, pegando Lenora nos braços para sentar-se em seu lugar, enquanto deitava a filha sobre seu tronco. Apoiou as costas na cabeceira da grande cama, e acariciou as costas da menina com cuidado, vendo-a se remexer para ficar mais confortável em seus braços. Thomas observou as duas sem uma expressão clara em seu rosto, mas Edith reconheceu a serenidade em seu olhar quando seus olhos o encontraram.
━ Só precisamos mantê-la longe de tudo isso. Dos malditos Peaky Blinders e suas atividades ━ ela falou, com a voz baixa para não acordar Lenora. ━ Acho que nós não precisamos nos preocupar, Tommy. Os filhos de John, todos os quinze que ele teve nos últimos dois anos, estão bem. São bons garotos, um pouco levados como qualquer criança ━ continuou, levemente incerta, e mordeu o interior das bochechas. Brincou com um dos cachos de Lenora, sentindo a maciez dos fios e abrindo um mínimo sorriso. Levantou-se com cuidado, e colocou a menina no berço que havia no quarto de Thomas. ━ Ele e Esme estão conseguindo, e não param de fazer novos bebês. Se eles dão conta de tantas crianças, nós podemos dar conta da nossa única.
━ Esme tem estado grávida desde o dia do casamento ━ Thomas observou, vendo Edith voltar a se sentar confortavelmente ao seu lado. Ele ainda temia não ser bom o bastante, mas assim como ela, estava aprendendo dia após dia. Estavam indo bem, apesar de todas as inseguranças, e era o que importava. ━ Poderia ser você, se tivesse se casado com John. Já imaginou?
Ela o encarou, erguendo uma sobrancelha.
━ Você acha que John não tentou me engravidar logo após confirmarmos o noivado, antes mesmo da nossa tentativa falha de casamento? ━ indagou, lembrando-se de um dia qualquer em que John a visitou ao nascer do sol. Riu sozinha, lembrando-se da época, e viu Thomas encarar o teto. Ela sorriu ainda mais, encontrando sua oportunidade de contra-atacar. ━ Talvez Lenora seja dele, Tommy.
Ele sabia que não era. Havia tido aquela conversa com John algumas vezes, e ele sabia que, apesar dos costumes enérgicos e insaciáveis do irmão, John e Edith nunca haviam chegado muito longe. Foi logo após Thomas interromper o casamento dos dois; precisava saber se, independente do relacionamento firmado formalmente ou não, havia uma criança envolvida na história. Podiam considerá-lo um monstro por ter invadido a igreja e dado um fim à cerimônia, mas ele jamais permitiria que uma criança Shelby crescesse desamparada.
Se Edith soubesse disso na época, talvez tivesse cedido às investidas de John.
Thomas sabia da verdade. Ainda assim, não conseguiu evitar sentir uma mínima irritação diante das palavras sórdidas de Edith; Lenora era sua. Não havia nada ou ninguém que pudesse mudar aquilo. Ela era sua filha.
━ É mesmo? ━ ele indagou, levantando o tronco para sentar-se na cama, e agarrou um dos pulsos de Edith, obrigando-a a encará-lo. Quando ela tentou puxar o braço de volta, ele soltou uma risada rouca, puxando-a com mais força e fazendo-a se deitar. Agora, segurou ambos os seus pulsos ao lado da cabeça, enjaulando-a sob seu corpo, e continuou: ━ Bom, se Lenora não é minha, talvez nós tenhamos que nos assegurar que alguma será, não é?
Edith sorriu. Seu sorriso nunca mudou; permanecia com a mesma aparência de deboche e superioridade. Ainda fazia Thomas sentir um arrepio profundo; ele nunca deixou de achar aquele sorriso extremamente detestável, mas sempre ansioso para vê-lo mais uma vez.
━ Sabe, Tommy, eu gosto quando você está desesperado. É patético. Mas você fica tão, tão bonito… ━ ela murmurou, prolongando suas palavras para dar ênfase, observando-o com os olhos semicerrados. ━ Agora saia de cima de mim, antes que eu te dê um chute que te impeça de engravidar qualquer outra pessoa de novo. Gosto quando você implora, mas odeio cadelas no cio.
Ele a encarou intensamente por alguns segundos, e se odiou por não ter sido capaz de prender um meio sorriso. Thomas não se orgulhava, nem por um minuto, de gostar tanto daquela versão de Edith — a versão feroz e impetuosa, com um brilho de trapaça nos olhos e perigo emanando de seu corpo como um perfume —, parecia humilhante, para ele, que permitisse àquela mulher fazer e dizer tudo que jamais aceitaria vindo de mais ninguém.
Então, a soltou, voltando a se deitar em seu lugar inicial. Sentiu quando ela deu um tapa leve em seu braço, e riu baixo quando ela murmurou um “pervertido” direcionado a ele, pouco antes de se levantar e parar ao lado do berço de Lenora.
━ Estou com medo que ela acorde se eu a tirar agora ━ disse, apoiando as mãos em uma das extremidades do berço. ━ Posso deixá-la passar a noite?
━ Bom, é para isso que colocamos o berço.
━ Você se acha muito esperto, Tommy, mas não se esqueça que ela passa o dia inteiro comigo, e eu ainda posso ensiná-la a chamar John de pai ━ Edith retrucou, levantando as sobrancelhas de forma quase ameaçadora. ━ Não fume aqui, não traga prostitutas e nem fique com as luzes acesas até tarde. Não faça nada que possa perturbar o sono dela.
━ Então você quer que eu mande Lizzie embora? ━ indagou, com uma expressão séria, antes de continuar: ━ Eu sou o pai dela, Edith. Sei o que fazer. Não se preocupe.
Edith respirou fundo; ainda estava se acostumando a ter Thomas brincando daquela forma, uma vez que costumava ser algo raro. Ele fazia com mais frequência quando estavam em casa, sozinhos, onde ele sabia que podia ser vulnerável, mas ainda era incomum para a modista. Ela pensou em respondê-lo e ameaçá-lo, ainda que soubesse que Lizzie ou qualquer outra pessoa não estivesse ali, mas desistiu.
━ Boa noite, Tommy. Traga-a ao meu quarto se ela acordar chorando ━ disse, caminhando até a porta do quarto para sair, e virou o rosto para o homem uma última vez. ━ Sei que você estava brincando, mas para deixar claro, se Lizzie estiver aqui agora, eu vou matar você.
Ele riu baixo.
━ Boa noite, Edith.
Quando ela saiu, seu meio sorriso se desfez quase instantaneamente. Ele bem desejava que pudesse chamar Lizzie ou qualquer outra mulher dos bordeis; não naquele exato momento, em que sua filha estava dormindo tão próxima de si, mas durante outras partes de seu dia. Edith já havia lhe dito que não se importava, desde que não fizessem nada com Lenora por perto; ela não aceitou o pedido de casamento, afinal de contas, e não estava em um relacionamento daquele tipo com Thomas. Sabia que adultos tinham suas necessidades, especialmente os homens; não era como se a ideia realmente a agradasse, mas ela não desejava se comprometer. O problema principal, para Thomas, era que com ou sem a permissão de Edith, não era o que ele queria fazer.
Havia tentado uma única vez, mas não chegaram longe. Não havia entusiasmo de sua parte, e nem um tipo de desejo ou atração; acabou dando algumas moedas a mais para a garota por ter desperdiçado seu tempo daquela forma, e nunca mais visitou qualquer bordel na busca por distrações. Ele já não conseguia desejá-las. Por mais que quisesse, não conseguia querer estar com aquelas mulheres. Também não ousava falar daquele assunto com os irmãos; sabia que ririam e diriam coisas absurdas a respeito de sua masculinidade, porque certamente não encontrariam os mesmos problemas que ele encontrava.
Era difícil para ele. Vivia em uma casa com uma mulher adorável — ao menos na aparência, certamente não na personalidade —, com quem tinha uma filha, mas não podia tê-la para si. Não dormiam na mesma cama, e nem mesmo compartilhavam um quarto. Precisava lutar contra a atração, e parecia um castigo para ele que a única mulher que desejava era também a única que não o queria. O que restou-lhe foi aceitar que aquela era sua vida agora, e torcer para que algum dia as coisas mudassem. Era difícil prever com Edith, afinal de contas; tudo sobre ela era uma surpresa, e ele sabia que também não era muito melhor.
━ Eu espero que você não seja como a sua mãe, Lenora ━ ele murmurou, aproximando-se do berço, e ajeitou a manta sobre a filha. ━ Ela ainda vai me matar.
✒️
No dia seguinte, os berros de Lenora acordaram todos da casa, mas Edith se surpreendeu ao olhar pela janela e constatar que, ao menos, o sol já havia nascido. Não demorou para ir até o quarto de Thomas, encontrando-o com a garota no colo, enquanto tentava acalmá-la e cessar seu choro. Apesar de apreciar seus esforços, Edith sabia que o que motivava o choro de Lenora era algo que o pai não poderia fornecer, e tão logo foi de encontro aos dois, a menina estendeu os braços em sua direção, praticamente se jogando para a mãe.
━ Você não estava na guerra para estar com tanta fome assim, Lenora ━ ela disse, sabendo que a filha não entenderia. ━ Tommy, vá até a cozinha e peça para Joan preparar a mamadeira. Eu estou tentando tirá-la do peito.
Sem uma palavra, ele seguiu até a cozinha e aguardou até que a mamadeira estivesse pronta. Não sentia sono, mas sabia que estava cansado; com a expansão dos negócios e novos planejamentos, ele mal tinha tempo para dormir ou pensar em outros assuntos. Não contava à Edith sobre seus problemas, porque achava que ela deveria ocupar todo seu tempo com Lenora, ao invés de preocupar-se com as complicações Shelby e os assuntos dos Peaky Blinders.
Mantê-las afastadas de seus assuntos era mantê-las em segurança. Thomas via diante de seus olhos como os negócios tornavam as pessoas ao seu redor doentes; Arthur havia emagrecido ainda mais, se aquilo era possível, e se afundado em mais drogas e bebidas do que era possível dizer. Tornava-se agressivo em alguns picos de energia e depois se arrependia de tudo o que havia feito. John não se assemelhava ao irmão mais velho; ele estava mais quieto, quase comportado, e às vezes, parecia ser contrário aos avanços da gangue devido ao perigo que traziam. Quando John falava, Thomas escutava a voz de Esme, e achava deplorável; era importante saber medir os aspectos de sua vida e equilibrá-los, mas nunca anular um em prol do outro.
As apostas de corridas estavam crescendo e os Shelby estavam fazendo o próprio nome ser reconhecido. Seus métodos eram perigosos, certamente, mas traziam resultados bons e duradouros, e a certeza de que sua filha teria uma vida muito mais fácil e confortável do que ele havia tido na infância era o suficiente para Thomas desejar continuar.
━ Aqui, senhor Shelby. A mamadeira está pronta ━ a voz de Joan chamou sua atenção após alguns minutos, e ele assentiu, tomando a mamadeira das mãos da mulher. ━ O senhor quer que eu suba para ajudar?
━ Não, Joan. Obrigado ━ ele murmurou, já se virando para retornar ao andar de cima.
Subiu os degraus sem pressa, ouvindo os passos ritmados de Edith no piso de madeira, sabendo que ela balançava o corpo para um lado e para o outro, tentando acalmar Lenora. Quando ele adentrou o quarto, os olhos da mulher se iluminaram e ela estendeu uma das mãos em sua direção para pegar a mamadeira, entregando-a cuidadosamente à filha, que segurou-a com as mãos pequenas e delicadas enquanto bebia o leite aquecido.
Com um suspiro, Edith se sentou em uma poltrona próxima à parede, e Thomas a seguiu com os olhos, observando Lenora tomar a mamadeira com calma. Ele esboçou um sorriso sem se dar conta, e aproximando-se das duas, acariciou os cabelos bagunçados da filha, que o encarou.
━ Quantos anos você tem, Lenora? ━ ele perguntou, com a voz baixa. A menina soltou uma das mãos da mamadeira, que foi segurada por Edith, e levantou o dedo indicador desajeitadamente, fazendo o pai rir. ━ Certo. Você tem um ano, muito bem.
━ Essa garota é um gênio ━ Edith disse, soltando uma risada pelo nariz, e deixou Lenora segurar a própria mamadeira sozinha mais uma vez. Passando os dedos delicadamente pelo rosto da filha, ela subiu o olhar para o homem: ━ Quero que chame o médico para vir aqui ainda durante essa semana, Tommy.
━ Por que? Há algo de errado?
━ Os dentes estão nascendo. Ela chora com o incômodo, às vezes tem febre e…
Antes que ela finalizasse sua frase, uma risada irrompeu da garganta de Thomas, e Edith revirou os olhos, já sabendo o que viria a seguir: alguma dica ou superstição estúpida que ele já havia visto Polly fazer com os irmãos durante a infância. Aquilo irritava Edith profundamente; ela era a mais nova de três irmãos, e nunca em sua vida conviveu realmente com bebês, ao contrário de Thomas, que já possuía certa idade quando John, Ada e Finn nasceram, vendo-os crescer e absorvendo certo conhecimento ao ajudar a mãe e a tia a cuidarem das crianças da família quando ele próprio ainda era uma.
Tinha mais experiência que Edith em alguns pontos; ficava mais calmo em situações como aquela, e costumava saber o que fazer. Edith sempre queria chamar o médico, não importava se Lenora tinha febre ou um simples soluço, e por aquele motivo, já havia tido algumas discussões com Polly, que julgava aquilo uma tolice, e com Thomas, que zombava de suas preocupações e falta de experiência.
━ Peça para a governanta fazer chá de camomila. Molhe um pano no chá e deixe Lenora mastigar ━ ele disse, vendo-a revirar os olhos. ━ Vai aliviar a dor.
━ Eu pedi um médico, porra ━ ela retrucou, impaciente. ━ Você pode pegar o seu chá de camomila e se afogar nele se quiser, mas eu…
━ Cuidado, ou a primeira palavra de Lenora vai ser “porra”, Edith ━ ele interrompeu, vendo-a comprimir os lábios em uma linha fina. ━ Eu não me importo, mas já que você decidiu, de repente, se tornar uma boa moça, que é contra as armas e violência, talvez você queira dizer menos…
━ Vai se foder, Tommy.
Ele riu baixo, vendo-a fazer o mesmo, e os dois retornaram ao silêncio, assistindo os movimentos sutis da garota nos braços de Edith.
Quando a mamadeira de Lenora chegou ao fim, ela a entregou à mãe e se mexeu em seu colo para descer. Thomas observou a menina caminhar pelo quarto, com seus passos curtos e rápidos, e se adiantou para fechar a porta para que a filha não saísse dali. Ela então se sentou no chão, batendo palmas, e Edith sorriu levemente.
━ Ela gosta de uma boa festa ━ contou, e Thomas balançou a cabeça em concordância. ━ Puxou a sua família.
━ Ela é uma Shelby, sem dúvidas.
━ É verdade. Não importa de qual irmão ela seja filha ━ a mulher provocou, e Thomas meramente lançou um olhar em sua direção, vendo-a rir baixo. Edith então se levantou, caminhando até ele, e o abraçou de lado, passando um braço por sua cintura e deitando a cabeça em seu ombro. ━ Ela é nossa, Tommy. Só nossa.
Em momentos como aquele, Thomas se esquecia de tudo o que acontecia além das paredes daquela casa. Esquecia-se dos problemas de Arthur, esquecia-se das palavras de John e Esme e de toda a violência que o cercava o tempo inteiro. Esquecia-se do barulho das bombas, e substituía aquele som que assombrava o fundo de sua mente com as risadas de Lenora.
Não se esquecia de Edith; ela continuava ali, atormentando-o de todas as formas possíveis e obrigando-o a voltar em busca de mais.
E por um breve segundo, Thomas se permitiu fechar os olhos e aproveitar aquele momento.
━ Eu convidei Arthur para o almoço ━ ele contou, quando abriu os olhos, e Edith se afastou, encarando-o com o cenho franzido. ━ Nós vamos almoçar juntos hoje, todos nós. Como nos velhos tempos.
━ Desde que ele não esteja em um dia muito ruim, eu não me importo ━ Edith respondeu, virando o rosto para a filha. ━ Ele está cada dia mais violento, Thomas. Passa horas e horas naquele inferno de clube de lutas. Eu não quero ele perto de Lenora nesse estado.
━ Porque você é uma mulher muito pacífica, afinal de contas ━ ele concluiu, cínico, e ela levantou uma sobrancelha. ━ Você prende uma arma na cintura antes mesmo de calçar os sapatos pela manhã, Edith.
━ Você me conhece tão bem ━ ela disse, de forma sarcástica, e continuou: ━ Eu não quero ter que usar a arma para matar o Arthur, porra.
Devagar, Thomas se aproximou da janela do quarto, abrindo-a e puxando seu maço de cigarros da cômoda. Levou um até os lábios e o acendeu, tragando rapidamente e olhando para a mulher, que o seguiu.
━ Você sabe como ele se comporta perto de Lenora, porra. É a luz dos dias escuros dele.
Edith riu pelo nariz, segurando a vontade de revirar os olhos; ela sabia que Thomas tinha razão, e já havia visto Arthur interagir com a sobrinha antes. Ele não era nada além de carinhoso, mas Edith não era estúpida o suficiente para colocar sua mão no fogo por aquele homem ou qualquer outro, especialmente quando a segurança de sua filha poderia ser ameaçada.
━ Bom, ela é a luz dos meus dias escuros também, e se ele fizer qualquer coisa que possa ser ruim para ela, eu…
━ Eu o mato com as minhas próprias mãos se fizer alguma coisa com a minha filha, Edith ━ o homem interrompeu, fazendo-a se calar, e Edith tomou o cigarro de seus dedos, dando um longo trago e aproximando-se mais da janela para soltar a fumaça. Levantando-se do chão, Lenora caminhou até os pais, abraçando as pernas da mãe, que devolveu o cigarro para Thomas. ━ Arthur disse que tem um presente para ela.
Pegando Lenora no colo, Edith arqueou as sobrancelhas.
━ Outra arma?
━ Não depois de você ter usado a primeira para atirar em um dos pneus do carro dele durante a festa de aniversário.
Abrindo um sorriso orgulhoso, a mulher afastou os cabelos do ombro para que a filha deitasse a cabeça ali.
━ Ela vai voltar a dormir. Vou levá-la pro meu quarto agora ━ Edith anunciou, e ele assentiu em silêncio, fumando seu cigarro. ━ Lenora, por que não diz “boa noite” pro papai?
Thomas abriu um sorriso, mas se segurou para não emitir uma risada; as tentativas de Edith de fazer a filha falar a qualquer momento sempre o divertiam, porque sempre acabavam frustradas. Após alguns segundos de espera pelas primeiras palavras de Lenora, que não vieram, Edith soltou um suspiro cansado de derrota, e se aproximou do homem.
━ Quer dar um beijo no papai? ━ ela perguntou para a filha, que levantou a cabeça de seu ombro e a balançou em concordância. Pelo canto dos olhos, Edith encarou Thomas: ━ Longe do cigarro.
Mantendo uma mão esticada para fora da janela com o cigarro entre os dedos, ele se abaixou até estar da altura da filha, que se inclinou em sua direção e depositou um beijo em sua bochecha. Ele sorriu ainda mais, beijando a testa da menina, e retornou à posição inicial.
Observou-as com atenção conforme saíram do quarto, e quando Edith fechou a porta atrás de si, ele manteve o olhar no mesmo ponto em que a viu pela última vez, divagando momentaneamente enquanto batia o cigarro no apoio da janela para dar um fim às cinzas que se acumulavam na ponta. Por fim, riu baixo, balançando a cabeça lentamente; um dia, ele exigiu ternos à uma modista recém-chegada em Small Heath. Ela se recusou e lhe mandou um vestido para o desafiar.
Aquele estúpido vestido, de alguma forma, alterou por completo o curso de sua vida.
✒️
Edith Preston agradecia — em sua mente, onde ela seria a única a saber — por Lenora ainda não poder falar, porque aquilo significava que ela não era capaz de chamá-la de mãe. A mulher não conseguia explicar o sentimento; sabia que Lenora era sua filha e jamais desejaria mudar aquilo, mas se tornar mãe não estava em seus planos quando aconteceu, e ela ainda se acostumava a ideia de ser a responsável primária por um pequeno ser que ela havia trazido ao mundo.
Ela nunca foi uma mulher dócil ou maternal; era cínica e orgulhosa, cética e impaciente, e nada minimamente próximo de conforto era transmitido por sua presença. Edith sabia bem daquilo, e sabia que não era, nem de longe, uma boa pessoa, e agora temia que não fosse capaz de criar Lenora para se tornar alguém decente.
Edith não havia sido uma boa filha para seus pais no passado. Não foi uma boa irmã para seus irmãos, e nem uma boa esposa para seu marido. Nada disso a envergonhava; ela se orgulhava de ter sido ruim para aqueles que nunca foram bons com ela, mas agora que tinha sua própria filha, torcia para que a menina fosse boa, tão diferente de si mesma.
Se tornar mãe nunca foi seu sonho, mas de uma forma que Edith não conseguia explicar, ela sentia que sempre sonhou com Lenora. O fantasma de Albert Wilson que jurou para sempre assombrá-la deixou de ser visto quando a menina nasceu; ele representava tudo de mais escuro que Edith tinha dentro de si, e a luz que Lenora trazia aos seus dias o ofuscava por completo. Ela não conseguia olhar para Lenora sem sentir suas feições se suavizando de imediato; aquela menina era, certamente, a única coisa boa que já havia saído de Edith Preston.
Parecia que todos a enxergavam daquela forma: Lenora era uma fagulha de pureza que dissipava as sombras que rondavam os Shelby. Ela não era a única criança da família, e sem dúvida, todas elas eram muito amadas, mas ver o que Lenora fazia com Thomas era admirável; um homem tão sério e frio, mas que sempre se desfazia em um sorriso ao olhar para a filha.
━ Já podem servir o almoço ━ Edith anunciou ao adentrar a sala de estar, onde a família se reunia, e caminhou até John, que tinha Lenora sentada em uma de suas pernas, enquanto Katie, sentada na outra, mostrava uma de suas bonecas à mais nova. A modista sorriu ao reconhecer o vestido da boneca como um dos que ela havia feito, e passou uma das mãos pelos cabelos de Katie antes de estender os braços para Lenora. ━ John, Esme está chamando você para tirar o Johnny da cozinha. Ele conseguiu pegar duas facas nas gavetas.
━ Aquele garoto não para quieto ━ resmungou John, entregando Lenora à Edith e levantando-se do sofá, caminhando até a cozinha.
A mulher riu, dando um abraço em Lenora antes de colocá-la no chão para caminharem juntas até a sala de jantar. Ficando um pouco para trás, ela sorriu ao ver Katie dar uma das mãos à prima, e ouvindo batidas à porta, ela se virou para ir atendê-la.
━ Você chegou bem na hora ━ ela comentou, abrindo a porta e encontrando Arthur. ━ Onde você estava?
━ Eu não sou uma criança que te deve satisfações, porra ━ ele reclamou, e ela ergueu uma sobrancelha. ━ Eu fui com Curly buscar o presente de Lenora.
━ E onde está o presente?
━ Inferno, você vai me deixar entrar para almoçar ou não?
Com um revirar de olhos, ela deu espaço para o homem entrar na casa, e depois fechou a porta, observando os passos de Arthur cuidadosamente. Ele não cambaleava, o que era um bom sinal; ela não diria que estava sóbrio, porque acreditava firmemente que aquele homem bebia mais uísque do que água, mas ao menos não aparentava estar bêbado. Seguindo-o até a cozinha, ela o viu cumprimentar os irmãos e se sentar ao lado de Tommy, enquanto ela serviu um pouco de comida para Lenora, desfiando a carne e amassando os legumes cozidos.
Lenora, agora nos braços de Polly, que sorria e brincava com a menina, se jogou em direção à mãe no momento em que a viu se aproximar com um prato de comida, e Polly rapidamente segurou suas costas para que não caísse, antes de entregá-la a Edith.
━ Nada fica entre Lenora e seu almoço, eu estou vendo ━ Polly observou, cruzando os braços, e abriu um pequeno sorriso, antes de estender as mãos para tomar o prato de Edith. ━ Me deixe tratar dela hoje. Pode almoçar enquanto isso.
━ Não demore muito, ou ela vai tentar morder você ━ Edith avisou, entregando o prato à Polly e sentando Lenora em sua cadeira.
Após servir seu próprio prato de comida, Edith se sentou em seu lugar habitual, ao lado de Thomas, e observou a situação de sua casa por um momento: Finn e Katie, na mesa das crianças, discutiam sobre alguma coisa, enquanto John servia a comida de Esme em um prato e ela segurava John Jr. no colo, para impedi-lo de engatinhar pela casa. A casa estava cheia e barulhenta, mas Edith ainda dava falta de Ada; com Freddie tão doente, ela não ousaria sair de sua casa e deixá-lo sozinho.
━ O seu irmão disse a você o que é o presente?
━ Não é uma arma, Edith ━ Thomas retrucou. ━ Você vai gostar.
━ Sinto falta de quando Arthur tinha medo de mim. Ele não falava por códigos naquela época ━ ela reclamou. ━ Você, sim. Isso não mudou.
Ele a encarou brevemente, antes de balançar a cabeça para os lados e usar o dedo indicador para sinalizar todo o ambiente.
━ Tudo mudou, Edith.
E de fato, as coisas pareciam diferentes do que eram dois anos antes. Ada não estava ali, alguns novos integrantes para a família haviam nascido, os negócios estavam mais estáveis e, afinal de contas, estavam todos um pouco mais velhos do que costumavam ser. Thomas não diria mais maduros; apenas mais velhos, porque era aquele o único efeito garantido pela passagem do tempo por si só.
━ Nós não mudamos.
Balançando a cabeça em concordância dessa vez, ele estudou o rosto de Edith por alguns segundos.
Ela estava certa naquilo; duas pessoas tão teimosas e orgulhosas não mudavam com facilidade. O tempo poderia passar, mas Edith Preston e Thomas Shelby continuariam sendo a perdição um do outro, presos em um permanente conflito que, até nos momentos pacíficos, estava presente nas entrelinhas de suas palavras.
Mesmo nas ocasiões em que se encontravam em silêncio, havia uma tensão no ar, como se o simples fato de estarem na mesma sala fosse o suficiente para reacender a chama de uma batalha que nunca se apagava completamente. Thomas, com seus olhos duros e uma postura rígida, que jamais cederia por completo, e Edith, com sua inteligência afiada, que jamais permitiria que ele tivesse a última palavra.
Eles sabiam que algo os unia além da rivalidade: uma atração irresistível, que os prendia em um ciclo sem fim, em que amor e ódio se confundiam e os mantinham à mercê um do outro, sem saber como quebrar o padrão vicioso. Thomas Shelby e Edith Preston se alimentavam da intensidade um do outro. E, apesar de todo o orgulho que os mantinha afastados, no fundo sabiam que, sem aquele fogo, suas existências seriam vazias.
━ Acho que não somos capazes de mudar, Edith.
oii!! capítulo novo e mais tranquilinho, só pra situar vocês um pouco melhor já que tivemos um salto temporal da primeira pra segunda temporada! todo mundo falou sobre a possibilidade da edith engravidar alguns capítulos atrás, mas acho que no fim acabaram desistindo/esquecendo da possibilidade, mas aconteceu! eles pimbaram no ateliê e hoje nós temos nosso bebê, a Lenora <333 gostaram?
eu, enquanto escrevo essas notas, já imagino a revolta de vocês vendo que a Edith e o Tommy não são um casal, mas vamos ser realistas: conhecendo eles bem, vocês acharam mesmo que ia ser tão fácil???
adoro essa dinâmica deles. eles são muito complicados pra dar tudo certo tão rápido, e eu adoro um slow burn ✨️
espero que tenham gostado do capítulo de hoje, e vejo vocês no próximo!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top