☪ 12 | A hora da verdade
Boa noite, meus queridos. Eu demorei um pouco mais do que o esperado pra postar esse capítulo, porque tinha algumas coisas nele que eu precisava consertar e eu não sabia como. Mas como paciência é uma virtude, fui recompensada com uma boa ideia depois de pensar um pouco hahahaha.
Pra quem leu a primeira versão dessa história, talvez perceba as leves alterações que eu fiz. Acredito que assim ficou mais crível e menos "rápido" do que antes. Então fiquei bem mais satisfeita com o jeito que ficou agora.
Agradeço desde já a todos que vem me dando apoio, votando e comentando nos capítulos. Embora a história já esteja toda escrita, isso me dá um ânimo a mais pra querer atualizar, e devo isso a vocês. Obrigadíssima por todo carinho, principalmente por continuarem comigo, mesmo eu pecando no sentido de responder vocês rápido nos comentários.
Agora, fiquem com mais um capítulo de DARK PARADISE.
INSTAGRAM: devilwishess
BOA LEITURA! ♡
O vento cortante uivava e anunciava mais uma onda de chuvas naquela madrugada. O céu escuro e nebuloso trazia pesadas nuvens e era difícil para uma pessoa normal enxergar através do espesso nevoeiro, mas isso não era problema para Kisame ou Hidan, eles já estavam mais do que acostumados a estarem sempre no escuro, no frio. E não era muito diferente dessa vez, os dois estavam de pé em galhos altos de árvores perto da rodovia, observando cuidadosamente os carros passarem apressados rumo aos seus destinos.
— A herdeira está nessa cidade — Kisame pontuou em um tom baixo, mas sabendo que o irmão o escutava. — Em algum lugar por aí.
— Às vezes eu odeio a porra desse trabalho, por que a gente tem que ficar indo atrás dessa herdeira mimada? Deveríamos deixar ela se foder — Hidan reclamou, irritado, após estalar a língua.
Kisame soltou uma risada debochada e passou a língua pelos lábios ressecados, os olhos ainda fixos nos carros que passavam pela estrada.
— Paciência, irmão. Você sabe que isso é por um bem maior. Não podemos deixar aquela organização barata ganhar de nós e cumprir com esses objetivos de gente retardada — lembrou-o. — Por causa deles, nossa busca está mais atrasada do que deveria. Me pergunto se eles achavam mesmo que poderiam fazer um feitiço de rastreamento em você. Logo em você.
— É aquela putinha da Sakura, devia ter matado ela quando tive a chance — reclamou.
— Pena que você preferiu pensar com o pau em vez do cérebro — zombou, o que só serviu pra arrancar um sorriso amarelo do irmão. — Temos que recuperar aqueles restos do seu corpo, não quero ficar lidando com a porra de feitiços enquanto a gente caça.
— Sério? — perguntou feito uma criança e o outro assentiu. — Eu já estava louco pra acabar com aqueles caras mesmo.
— É, mas vamos fazer isso com cuidado, não quero mais que você fique deixando restos seus por aí pra dificultar nosso trabalho — Kisame avisou, dessa vez, sério.
Há um tempo muito distante, os dois tinham sido humanos. Isso antes de terem sido oferecidos como oferenda para entidades em troca de água e terras férteis para o seu antigo povo. Mas foi uma pena que aqueles idiotas não sabiam fazer o ritual direito. E em vez de fazerem uma oferenda para os deuses, invocaram demônios sumerianos que não estavam muito felizes em terem sua paz perturbada por tão pouco. Em vez de terem água e fertilidade em suas plantações, ganharam um belo derramamento de sangue e dois corpos consumidos por demônios. Entidades demoníacas tinham diferentes formas de se manifestar ao consumir ou possuir um corpo.
Dessa forma, o demônio que tomou Hidan, tinha a estranha habilidade de manipular as outras pessoas através do sangue delas, sem contar que quando perdia alguma parte do corpo, essa se regenerava sem maiores problemas. Já Kisame praticamente tinha se fundido com a aparência normal do demônio, e por conta disso, parecia como um tubarão em forma humana, gostava de lutar com sua espada gigantesca que sugava a vitalidade de quem era atingido e concebia uma morte lenta e dolorosa. Embora não regenerasse membros ou órgãos como o irmão, sua capacidade de cura era fora do comum. Além de tudo isso, ambos tinham quase o dom de rastrear qualquer coisa com extrema facilidade. Não era atoa que ficaram conhecidos por "irmãos rastreadores".
Porque não havia nada que eles não pudessem encontrar.
Nada.
— Vamos. Temos que aproveitar que demos um perdido naqueles idiotas, quanto mais rápido acharmos a Hyuuga, mais rápido teremos nossa recompensa — Kisame decretou ao descer da árvore e cair perfeitamente no chão.
— Tsc. É, vamos lá.
☪
O som da cafeteira avisando que o café estava pronto, fez Karin se levantar do sofá e ir desligá-la, para em seguida puxar duas xícaras grandes e colocar o líquido quente nelas.
— Naruto, o café tá pronto! — avisou em um grito impaciente.
Abriu a geladeira, de onde tirou um pote de geleia e depois pegou o pacote de pães no armário. Começou a preparar seu próprio café da manhã, enquanto notava Naruto sair do quarto, sonolento, e andar até onde ela estava com os olhos ainda fechados.
— Você está péssimo — comentou depois de passar geleia em mais um pão e morder um generoso pedaço. — Não tem que trabalhar hoje? Deveria parar com esse negócio de ser bolsa de sangue.
— Eu não estava fazendo isso, bobalhona — resmungou e roubou um pão do prato dela, recebendo um olhar atravessado em resposta. — Eu estava ajudando o velho com umas coisas na boate ontem, parece que ele tá aprontando algo diferente. Deve ser sério dessa vez.
— O que você quer dizer com isso? — Karin arqueou uma sobrancelha, desconfiada. Não tardou a acrescentar: — Porque até onde eu sei, ele sempre mexeu com umas coisas... Peculiares. — Fez uma careta ao dizer a última palavra.
— Não sei direito, ele não quis me dizer e ainda disse pra eu não inventar de xeretar, porque ele não me queria envolvido dessa vez. — Ficou pensativo por alguns segundos. — Você viu aquela garota loira que tem ido lá nesses últimos dias?
— Vi, eu nunca tinha visto ela lá antes, e ela tem uma aura mágica muito forte. — Mordeu outro pedaço de pão, também ficando pensativa. Continuou depois de mastigar: — Você acha que ela tem a ver com isso que ele está aprontando?
— Acho — respondeu, dessa vez mais desperto. Bebeu um longo gole do café ruim que sua irmã tinha preparado e suspirou. — Seja lá o que for, tenho esse pressentimento que há algo se aproximando, algo ruim...
— Hm — Karin concordou.
O barulho do celular de Naruto tocando lá do quarto chamou a atenção dos dois, ainda eram oito e pouco da manhã, não era muito comum que alguém ligasse tão cedo para o loiro. Ele correu e olhou o número antes de atender, era Sasuke. O que era bastante inesperado.
— Sasuke? Aconteceu alguma coisa? — perguntou antes que o amigo pudesse dizer qualquer coisa.
— Não — respondeu rápido. — Ainda não, mas preciso de um favor. — Naruto estranhou, Sasuke e pedindo um favor na mesma frase não fazia o menor sentido. Mas ele ficou calado, esperando o Uchiha terminar: — A Karin tá de folga hoje, não é?
— Acho que sim, vou perguntar pra ela, peraí — pediu e andou até o corredor que levava a cozinha, tapou o celular para que Sasuke não ouvisse sua voz alta demais: — Você vai trabalhar hoje, Karin?
— Não, por que? — quis saber, interessada. — Quem é?
— É o Sasuke. — Imediatamente os olhos dela brilharam, mas Naruto não deu muita atenção e confirmou: — Ela tá de folga sim, teme.
— Eu preciso que você e Karin vão com Hinata comprar algumas roupas. Ela não tem nada, tem vestido as minhas roupas nesses últimos tempos. Não pode ser uma tarefa muito demorada, porque ela não pode ficar muito tempo nas ruas. Você pode fazer isso?
— Posso. Tem mais alguma coisa que eu precise saber? — Ouviu Sasuke respirar fundo do outro lado da linha, como se estivesse hesitando. — Sasuke?
— Tem, mas nós podemos conversar sobre isso melhor uma outra hora. Agora, eu preciso que você e Karin façam isso por mim e que tomem conta dela, tenho outro assunto para resolver.
— Claro, pode confiar em mim. É pra gente ir até sua casa ou você vai trazê-la aqui?
— É melhor você vir.
— Que horas?
— Depois do almoço.
— Certo. Até mais, teme. Se cuida.
— Digo o mesmo. — E desligou.
Naruto levantou os olhos para a irmã, que ainda o fitava com curiosidade.
— Sasuke pediu nossa ajuda para fazer compras com Hinata. — Isso fez Karin apertar os olhos. — É sério. Vamos depois do almoço. E é, já sei que é estranho, mas só vamos fazer o que ele pediu, beleza?
A Uzumaki assentiu sem dizer mais nada. Era muito difícil que Sasuke pedisse qualquer coisa para algum deles, ele era muito independente para isso. Então se estava pedindo dessa vez, era porque realmente precisava. Não pode deixar de pensar o que Hinata significava para ele agora.
☪
Sasuke observou cuidadosamente Hinata na frente do computador. Ele tinha a ensinado como usar alguns dias atrás e agora ela estava parecendo uma adolescente viciada em jogos. Não podia negar que achava engraçado ela grunhir, irritada e frustrada, enquanto jogava algo online. Era incrível como ela aprendia rápido.
— Por que esses caras tem que ser tão ruins? — Ouviu-a resmungar, puta da vida. Ele escondeu um sorriso com a xícara de café e desviou o olhar quando ela se virou pra ele, ainda brava. — Impossível ganhar assim, Sasuke! Impossível!
— Infelizmente, não são todas as pessoas que aprendem tão rápido quanto você, Hinata — ele disse enquanto ela afastava o notebook das pernas e o deixava na mesa de centro.
A vampira cruzou os braços sobre o peito, irritada, as bochechas vermelhas e os olhos leitosos tempestuosos. Sasuke deixou a xícara de café, agora vazia, também na mesa de centro e sentou ao lado dela, passando um braço por cima dos ombros femininos. Ela se encostou nele e se aconchegou de maneira confortável, para depois levantar a cabeça e encontrar os olhos escuros sobre si.
— O que foi? — quis saber, curiosa. Havia algo no olhar dele que a fazia se sentir preocupada. — Você está bem? Teve outro sonho?
— Não é isso — negou ao segurar a mão pequena dela entre as suas. — Hoje eu vou sair para resolver umas coisas e o Naruto e a Karin vão te fazer companhia. Eles vão te levar pra comprar coisas e você não vai precisar mais vestir as minhas roupas.
— Qual é o problema com as suas roupas? — Fez um beicinho. — Eu gosto delas.
Sasuke segurou o rosto dela pelo queixo com a ponta dos dedos e levou o rosto em sua direção, para depois beijá-la suavemente nos lábios. Hinata não tardou a correspondê-lo, passando o braço pelo pescoço masculino, e com a ajuda dele, subindo em seu colo. Ele já tinha reparado que sua sanguessuga gostava de sentar nele. Isso o excitava, deixando-o a beira da loucura.
As mãos desceram em direção as nádegas de Hinata, cobertas pela fina bermuda que era folgada e grande demais para ela. Os lábios se separaram por um instante e ele sussurrou, ainda contra ela:
— Elas são grandes demais pra você. — Apertou a bunda dela contra si, recebendo um arquejo em resposta. — E também, vamos precisar. Jiraya disse que seus documentos estão quase prontos.
Ele sentiu Hinata ficar tensa entre os seus braços e piscar várias vezes. Talvez ela tivesse tão acostumada a estar em sua casa, que tinha esquecido que precisavam ir embora. E bem, ele não estava errado. A vampira ficou o encarando, várias dúvidas atravessando o seu rosto bonito.
— Eu já tenho que ir? — perguntou em um fio de voz.
— Se sua vida estiver correndo perigo, sim — respondeu no mesmo tom, acariciando as bochechas dela com os dedos de forma suave. — Mas podemos conversar melhor sobre isso quando eu voltar, tudo bem?
Hinata assentiu de leve, ainda meio tensa e depois forçou um sorriso. Levantou do colo dele e arrumou as roupas folgadas no seu corpo e rumou na direção da cozinha. Pensativa, começou a fazer as coisas que geralmente a distraíam, que além de ler — e agora jogar —, também era cozinhar.
Estivera tão envolvida com Sasuke, que por um momento, tinha até esquecido que sua vida aparentemente estava em risco. Já tinha alguns dias que parara de ter os pesadelos horríveis que faziam com que acordasse aos gritos, desesperada. Tampouco ouviu a voz que "a guiava" — isso é se poderia chamar vozes estranhas de "guia". Estava feliz descobrindo um mundo completamente diferente do seu, tão feliz que as memórias de quando não passava de um pássaro engaiolado pareciam de um tempo muito, muito distante.
Só que as coisas estavam calmas demais e isso não era um bom sinal, considerando a situação, era no mínimo estranho que não houvesse um sinal sequer dos irmãos rastreadores ou mesmo do seu clã. Tinha abaixado a guarda e isso era um perigo, nada de bom podia sair disso.
Mas o que a realmente preocupava era... Iria precisar se separar de Sasuke? Não queria colocá-lo em perigo, ela se importava demais com ele para querer que algo ruim acontecesse, mas o lado egoísta gritava, dizendo que era errado deixá-lo ir, se separar dele. O elo que tinham construído já era forte demais para pensar em dizer adeus sem hesitar.
Da cozinha, escutou o som do toque do celular de Sasuke. Segundos depois, também o ouviu atender. E embora não fosse sua intenção de todo, com sua audição aguçada, era praticamente impossível não escutar o que ele falava. Parecia ser Jiraya.
— O que? — Pausa. — Mas por que raios você quer que eu leve o diário da minha mãe, velho? Hm. Tá. Tá, tá, cala a boca, eu já entendi. Daqui a pouco eu apareço aí. — Ele parecia irritado, ficou mais alguns segundos em silêncio e finalizou ao dizer: — Sim, Naruto e Karin vão vir aqui e tomar conta dela. Que seja. Desliguei.
Hinata franziu o cenho e escutou os passos de Sasuke pela casa por um tempo e depois de alguns minutos, ele vindo na sua direção. Levantou os olhos assim que ele entrou na cozinha. Sasuke estava segurando um saco de papel, tinha cheiro de velho.
— Hina, eu vou ter que dar uma saída, você vai ficar bem até o Naruto e a Karin chegarem? — Ela assentiu em silêncio. — Tenha certeza que são eles antes de abrir a porta, tudo bem?
— Pode deixar — tentou tranquilizá-lo. Ele estava com as sobrancelhas unidas em um vinco no meio da testa e ele estava com aquele olhar ansioso e preocupado. — É sério, eu vou ficar bem, Sasuke.
— Certo. Eu deixei o cartão ali em cima, dá pro Naruto quando ele chegar.
— Tá bom. — Assentiu outra vez e fechou os olhos quando ele deu a volta no balcão e beijou-a nos lábios rapidamente, despedindo-se dela.
Hinata observou-o partir em silêncio. Parou de cortar as verduras por um instante. Sentiu um aperto no peito e um pressentimento ruim a atingiu. Tentou deixar isso pra lá. Esperava que independente do que Sasuke estava aprontando, ele ficaria bem e seguro.
☪
Ela contava os segundos da forma mais paciente que podia. Ino não era conhecida por ser a pessoa mais paciente do universo, embora os anos tivessem a ensinado que precisava ser para alcançar certos objetivos, não podia evitar de se sentir nervosa ao esperar Uchiha Sasuke atravessar a porta do apartamento de Jiraya.
De início, não tinha concordado com Jiraya sobre falar quase tudo para Sasuke. Isso era arriscar coisas demais, tudo pelo que eles tinham lutado para manter Hinata segura, poderia ir pelo ralo se, sei lá, Sasuke surtasse com as pequenas novidades. Só que Jiraya tinha garantido que tudo daria certo, para dar um voto de confiança para o Uchiha.
Não pôde deixar de pensar o motivo por trás de tamanha confiança, imaginou que o velho sabia algo que ela ainda não tinha se dado conta. Agora o que era, precisava esperar para descobrir. Ao seu lado, Neji não parecia muito feliz. Desde a sua revelação sobre o desejo de vingança contra a Akatsuki, ele tinha se mantido quieto, o que ela achou muito estranho, mesmo que fosse Neji.
O vampiro calado.
Mas só pela expressão de descontentamento dele, já conseguia ver que Neji deveria concordar com ela sobre Sasuke. Os irmãos rastreadores já tinham chegado na cidade e ela fez um feitiço poderoso para despistá-los por mais um tempo, só que não tardaria para que Kisame descobrisse, ele era muito bom em farejar magia. O Hyuuga desejava que eles tirassem Hinata da cidade o mais rápido possível, sem tempo para ficar discutindo verdades ou mentiras a respeito de algo que já tinha acontecido.
Segundo Jiraya, ele já tinha pensado na melhor forma de mostrar para Sasuke tudo que ele precisava saber. Durante toda sua vida, Mikoto tinha mantido um diário, e tinha algo mais clichê do que revelar a verdade deixando Sasuke ler o diário da mãe? O problema é que ele estava acabado e era por isso que Ino estava ali. Iria fazer um feitiço de reconstrução e deixar o objeto como novo e seria o que Deus quiser.
— Tem como você ficar quieta? — Neji resmungou, impaciente, colocando a mão em cima do joelho dela para que ela parasse de mexer a perna um pouco. — Você está me deixando nervoso.
— Neji e nervoso na mesma frase? Essa é nova pra mim — provocou com um sorriso. Ele arqueou as sobrancelhas e ela parou de sorrir e suspirou. — Eu estou ansiosa, não posso evitar.
Ele resmungou algo que ela não entendeu, mas se manteve em silêncio depois disso. Neji estava preocupado com o tempo que eles teriam, porque a Akatsuki também deveria estar na cola deles até onde sabiam e nada de bom podia sair disso.
— Ele está aqui, você está pronta, Ino? — Jiraya saiu do cômodo que era o seu quarto, havia muita determinação em seu olhar sábio. Ela assentiu e continuou sentada no sofá, Neji segurou a mão dela para tentar lhe passar um pouco mais de confiança. — Já volto.
Ino se levantou do sofá e começou a andar de um lado para o outro na sala humilde do apartamento de Jiraya. Um minuto depois, a porta abriu, revelando Jiraya e logo atrás dele, Sasuke. O rapaz pareceu surpreso em vê-la ali, o que só piorou quando seus olhos escuros se voltaram para Neji, ainda sentado no sofá. Ele arregalou os olhos e ficou encarando o vampiro.
— Quem são vocês? — A voz dele era grave e agradável. — Eu vi você naquele dia na boate.
— Meu nome é Yamanaka Ino. — Ela estendeu a mão para cumprimentá-lo e Sasuke alternou o olhar entre o rosto dela e sua mão. — Eu sou uma feiticeira e estou aqui para ajudar você.
Neji continuou em silêncio, os olhos estudando clinicamente Sasuke. Embora não demonstrasse, ele estava surpreso como o rapaz era estupidamente semelhante a Itachi. Qualquer um poderia dizer isso apenas de bater os olhos nele, era muita sorte que ninguém perigoso tinha o encontrado por aí, senão com certeza ele estaria com grandes problemas. Os braços estavam cruzados sobre o peito fortemente em uma posição tensa, não se apresentou e não foi preciso, porque Jiraya tratou de fazê-lo:
— Esse é Hyuuga Neji, ele é primo da Hinata. — Sentou-se ao lado do vampiro de forma descontraída, como se não estivesse prestes a revelar um importante segredo. — E bem, você já sabe, Neji, esse é o Sasuke.
O vampiro apenas fez um breve manear com a cabeça, sem se incomodar em dizer qualquer coisa. Fungou e percebeu como o cheiro de Hinata estava impregnado em Sasuke, denunciando que eles estiveram juntos a pouco. Apertou os olhos, sentindo o instinto protetor surgir. Respirou fundo ao se lembrar das palavras de Ino. Hinata era forte, Hinata sabia se cuidar, e independente do que tinha escolhido fazer, com quem, não cabia a ele decidir por ela.
— Pra que você pediu pra eu trazer o diário da minha mãe? — o Uchiha perguntou diretamente para Jiraya, que tinha acendido um cigarro sem se importar muito.
— Ino vai fazer um feitiço de reconstrução e você vai ver com seus próprios olhos. Se tiver alguma dúvida, eu posso tirar se eu saber como. — Deu de ombros e soprou a fumaça de forma descontraída.
O rapaz encarou os olhos azuis de Ino, que assentiu de leve com a cabeça. Os dois ficaram nesse joguinho por um tempo, até que Sasuke cedeu e estendeu o saco de papel para ela, assim que a feiticeira pegou, ele enfiou as duas mãos nos bolsos do casaco que vestia.
Ino tirou o objeto de dentro do saco, passando os dedos suavemente pela capa desgastada. Sentiu a garganta seca e tentou engolir a saliva para umedecê-la, procurou o olhar de Neji e ele sustentou sem dizer uma palavra sequer. Ela voltou a olhar para Sasuke e depois para o diário. Fechou os olhos e começou a sussurrar palavras incompreensíveis. O Uchiha se encostou na porta quando partículas roxas e brilhantes surgiram no ar junto com uma áurea que rodava o diário. As mãos dela estavam vermelhas e saia fumaça, como se tudo estivesse muito quente, e não era só impressão, porque Sasuke conseguia sentir o calor de onde estava.
A fumaça parou e as partículas sumiram assim que Ino terminou o feitiço, abrindo os olhos. Ela respirou fundo e estendeu o diário para Sasuke. Ele encarou o objeto, vendo-o como estava perfeito, como novo, nem parecia o mesmo diário de antes, todo fodido. Ainda estava quente quando ele o pegou, mas não de um jeito que o queimaria. Ele também respirou fundo e continuou parado ali, próximo da porta, até abrir a primeira página.
"08 de Fevereiro de 1855,
É sempre bom começar um novo diário e estou feliz pela coincidência de ter sido assim que nos mudamos. Fugaku está empenhado em estreitar os laços com os Yamanaka, ele pensa que eles podem ser um clã aliado para o futuro, principalmente agora que uma guerra parece inevitável. Eu estou preocupada, porque estou muito cansada de derramamentos de sangue. Já não chega? Quero poder cuidar do clã em paz e não demorará para que eu precise dar um filho para Fugaku, Itachi-kun está crescendo e agora que a mãe dele morreu, preciso cuidar dele. O que eu faço com o maior prazer, porque o amo como se ele fosse meu."
"19 de Março de 1855,
Finalmente conheci os Hyuuga. Consegui entender a razão de Fugaku parecer cauteloso em querer me levar até lá. Eles são um pouco... Assustadores e também, faz pouco tempo desde que deixamos de ser totalmente inimigos. Pensei que os Uchiha eram frios, mas nada se compara àquilo. O líder Hiashi parecia uma estátua, e o gêmeo, Hizashi, mal se movia. Ficou o tempo inteiro em silêncio. Eles têm aqueles olhos gelados que ficam te analisando o tempo todo e parecem ver sua alma. Mas todo esse gelo não se estendeu para uma de suas esposas, a de Hiashi. Hikari é um doce, não parece que ela faz parte daquela família. Se não fosse por seus olhos brancos e seu cabelo longo e castanho, não pareceria em nada que ela é uma Hyuuga. Não estou ansiosa para vê-los outra vez. Talvez só Hikari."
"27 de Outubro de 1855,
Queria ter como respirar normalmente, mas o clima está tão tenso que parece que um suspiro pode eclodir uma guerra. Eu estou com medo, porque Madara-san não está muito feliz com o rumo que as negociações entre clãs estão indo. Ele não é paciente igual Fugaku e temo que isso só piorará a situação a partir de agora. Há muita gente dentro do clã que concorda com os métodos dele e eu não ficaria surpresa se houvesse uma guerra civil. Espero que não, porque a última coisa que quero ver, é o sangue dos meus sendo derramado por nossas próprias mãos."
"30 de Maio de 1856,
Madara-san sumiu e junto com ele, quase metade do clã Uchiha. Estamos preocupados, porque não sabemos qual será o seu próximo passo, e os Hyuuga não estão contentes. Os Yamanaka já se decidiram que lado servir, Fugaku conseguiu o apoio dos Uzumaki e dos Nara, o que já é algo. Mas mesmo assim... Há boatos que a Akatsuki se juntou ao Madara-san... Esse clã odiável. Não sabemos o que esperar, eles são capazes de qualquer coisa. Hikari me contou que está fazendo o possível para que Hiashi confie nas boas intenções do meu marido, mas que Himoto (a esposa de Hizashi) não anda contribuindo muito para isso. Aquela mulher é uma cobra venenosa... Mas no fundo não posso culpá-la, até um tempo atrás estávamos em guerra. Ela está esperando pelo momento em que vamos nos unir a Madara-san e se voltar contra eles."
"13 de Outubro de 1859,
Eu estou grávida. Depois de muito tempo, no meio de toda essa bagunça... Estou grávida. Ainda não consigo acreditar. Fugaku e Itachi-kun estão muito felizes apesar das circunstâncias. Himoto também está grávida, Tsunade disse que é um garoto e que ela sente que o meu também é. Hikari veio me ver, ela é a melhor amiga que eu poderia estar no meio de toda a confusão em que estamos. Fico feliz que temos uma a outra. Eu sei que mesmo estando feliz por mim, ela está um pouco triste no fundo, por não ter conseguido dar um herdeiro a Hiashi até agora. Sinto por ela."
"17 de Abril de 1860,
Tsunade estava certa. É um garoto. Já decidi o nome, será Sasuke. Hikari me disse que Himoto escolheu Neji. É um nome bonito. Eu estou feliz, logo meu filho nascerá, tenho certeza que ele vai ser lindo. Pedi para que Hikari seja madrinha dele, ela aceitou e hoje me trouxe um presente lindo. Um colar que se divide em duas metades. Representa bem o que viramos. Unha e carne."
"23 de Julho de 1860,
Sasuke nasceu, ele é o bebê mais lindo que eu já vi. Eu achei que seria difícil o parto, mas ocorreu tudo bem. Estou aliviada. Himoto não resistiu... Apesar de não gostar dela, eu realmente sinto muito que ela tenha morrido."
"03 de Dezembro de 1860,
A guerra está próxima. Madara finalmente apareceu e como temíamos, ele está junto com a Akatsuki. Estamos nos organizando e preparados para receber um ataque, mas é difícil quando não sabemos de onde ele virá. Há muita gente fugindo, indo embora para o mundo humano. Alguns clãs menores estão se aliando a nós, mas em vez de isso me trazer conforto, só me deixa ainda mais preocupada. Porque eu sei, a guerra é inevitável, e ela não escolhe suas vítimas."
"27 de Dezembro de 1861,
Hikari está prestes a afundar em um poço sem fundo. Ela está inconsolável, porque teve um aborto espontâneo. Não consegue parar de se culpar, murmurando coisas sem sentido, dizendo que é uma inútil que não serve nem para carregar um filho. Sinto muito por ela, de verdade, e faço meu melhor para que ela não acredite nessas besteiras. Sei que as regras e tradições estúpidas dos nossos clãs nos fazem acreditar que servimos somente para isso, mas não é verdade. Não somos parideiras ambulantes. Não somos."
"05 de Janeiro de 1862,
Nosso mundo está devastado pela guerra. Eu não aguento mais. Quero ir embora daqui, quero que meu Sasuke fique seguro. Às vezes penso em fugir, mas sei que eles nos encontrariam. Jamais me permitiriam tamanha liberdade. Hikari tem me perguntado coisas estranhas sobre Hiashi. Tenho um mau pressentimento que algo ruim sairá dessas perguntas uma hora ou outra."
"07 de Janeiro de 1862,
Eu estava certa. Hikari deve estar louca. Ela me pediu para deitar com o marido dela e dar um filho para eles em seu lugar. Se meu marido souber disso, nós duas estaremos mortas."
"12 de Janeiro de 1862,
Hikari disse que me ajuda a sair daqui se eu fizer o que ela pediu. Se fizermos tudo do jeito que ela planejou, ninguém descobrirá. Por ter sido transformada em vez de ter nascido como vampira, Tsunade me disse que eu não morreria em uma segunda gestação. Que ficaria tudo bem. Tudo que Hikari quer é um filho, principalmente agora em tempos de guerra. Quer algo para se apegar, está disposta a pagar qualquer preço, desde que tenha um bebê em seus braços."
"13 de Janeiro de 1862,
Madara-san foi claro em seu último massacre. Se o restante dos Uchiha não se juntar a ele, não poupará ninguém. Irá matar todos nós. Não posso deixar Sasuke morrer, ele é só uma criança. Preciso ir embora daqui. Vou aceitar o pedido de Hikari, mesmo que seja loucura. Eu só quero ir embora daqui, eu não aguento mais ver tanto sangue ser derramado. É muito, mais do que eu posso aguentar."
"20 de Janeiro de 1862,
Fizemos disso um segredo. Eu, Hikari e Hiashi. Ele quer muito um filho e não os culpo. Foi... Estranho. Eu nunca me deitei com outro homem além de Fugaku. Não houve sentimento, não é como se com Fugaku tivesse, mas Hiashi... Não sei o que dizer."
"05 de Fevereiro de 1862,
Os encontros têm se tornado mais frequentes para garantir que eu engravide logo. Ainda é estranho, mas já não me importo mais. Hiashi é cuidadoso e se importa o suficiente para tornar agradável para nós dois."
"19 de Abril de 1862,
Eu estou grávida. Tsunade confirmou. Deve fazer um mês hoje. Não sei o que sentir. Acho que estou sentindo algo que não deveria por Hiashi."
"12 de Maio de 1862,
A guerra chegou aqui. Precisei sair daqui as pressas com Sasuke e Itachi-kun. Não sei onde está Hikari ou Hiashi. Tsunade está conosco e disse para ficar tranquila que tudo ficará bem."
"09 de Novembro de 1862,
Eu estou enorme. É uma menina, eu a chamo de Hinata. Ela é a única além de Sasuke que tem me mantido lúcida durante todo esse tempo. Eu não quero mais entregá-la, é minha filha e eu a amo mesmo sem nunca ter visto o seu rosto. Não tenho notícias do paradeiro dos Hyuuga há meses, Tsunade também não sabe onde eles estão."
"01 de Dezembro de 1862,
Acho que agora é tarde demais para fugir. Não sei mais o que fazer para esconder Hinata de Fugaku. Ela vai nascer logo, e ele vai saber que não é filha dele. Os olhos dos Hyuuga são predominantes, então ele vai descobrir e eu estarei morta. Tsunade me pediu para confiar nela, que tudo daria certo, que ela iria nos tirar daqui com segurança. Queria ver Hiashi pela última vez e dizer que eu sinto muito, mas eu seria incapaz de encarar Hikari e saber que eu não sou inocente, que eu a traí. Quando tudo isso acabar, Hyuuga e Uchiha não passarão de uma mera memória. Ao menos eu espero isso. E Hinata ficará bem junto com meu Sasuke. Nós ficaremos bem."
"06 de Janeiro de 1863,
Eu não me lembro do que aconteceu direito. Madara-san nos encontrou. Tinha tanto sangue... Tsunade me mandou correr e eu não consigo me lembrar se eu estava com Hinata nos meus braços ou não. Só me lembro de Sasuke. Ele está aqui, comigo, seguro. Por enquanto."
"13 de Janeiro de 1863,
Tsunade nos encontrou, mas ela está estranha. Perguntei para ela sobre Hinata, se minha garotinha está viva ou morta. Ela me disse que Hinata está bem, que está com Hikari. Fugaku pensa que eu estou morta, que Madara-san me matou e sumiu com o meu corpo. É melhor assim. Eu queria voltar pela minha filha, mas fazer isso é suicídio, não posso deixar Sasuke viver daquele modo. Vou pensar em um jeito de recuperá-la assim que possível. Por enquanto, preciso proteger Sasuke."
"01 de Agosto de 1867,
Faz muito tempo desde que eu escrevi a última vez aqui, eu estive muito ocupada tentando manter Sasuke e a mim vivos. Tsunade aparece cada vez menos e eu parei de perguntar sobre o que está acontecendo. Quanto menos eu saber, melhor. Às vezes pergunto sobre Hinata, ela está bem e segura. É tudo que importa pra mim. Estou muito longe do Japão e é melhor assim, pelo menos por agora."
"11 de Setembro de 1881,
Sasuke é teimoso. Ele não consegue se controlar e não tem piedade dos humanos. Ele os mata sem pensar duas vezes, seja para se alimentar ou por diversão. Não sei o que fiz de errado, mas jamais imaginei que meu filho seria tão perverso. Pedi para Itachi-kun conversar com ele, colocar juízo na cabeça dele, espero que funcione. Senão, manter nossa existência segura e longe dos olhos dos outros vampiros irá ser cada vez mais difícil."
"28 de Março de 1883,
Vão nos descobrir. É a terceira vez que preciso fugir em seis meses. Tsunade apareceu, mas ela... Não era ela. Só acreditei quando vi sua magia com meus próprios olhos. Não quis saber o que aconteceu para que ela tomasse aquela forma, só precisava de um favor, o último. É loucura, mas Tsunade é a feiticeira mais poderosa que existe, ela sabe como fazer. É a única solução, não me importo de me sacrificar pelo meu filho. Ele é tudo que me resta além de Hinata. E já perdi a esperança de tê-la de volta. Ela já é grande agora, deve ser linda."
"15 de Junho de 1883
"Está feito."
Não havia mais páginas.
— O que está feito? — Sasuke perguntou, as mãos tremiam de uma forma que ele mal conseguia segurar o diário em suas mãos. Os olhos tinham se enchido de lágrimas sem que ele percebesse. — O que caralhos que foi feito? Eu não sou humano?
— Agora você é — Jiraya começou de maneira cuidadosa. — Tsunade é a feiticeira mais poderosa que existe, ela criou muitos feitiços. Entre eles, os que estão em você. Você nasceu vampiro, é um vampiro. Mas para proteger vocês, Mikoto pediu a Tsunade dois feitiços. O primeiro é que por um tempo você poderia viver como um humano comum, não teria sede nem necessidade nenhuma de caçar, poderia sair no sol e viver normalmente. Mas pra esse feitiço funcionar, ele precisa de uma fonte de energia. Mikoto se ligou no feitiço, os anos como humano para você, sugavam a vida dela. Nunca vi alguém durar tanto.
"E antes que você me pergunte sobre o segundo feitiço, é um de memória. Toda vez que você completa certa idade no mundo humano, suas memórias são apagadas e substituídas, elas se adaptam ao tempo em que você está vivendo. É um feitiço muito poderoso, só Tsunade conseguia fazê-lo. Suas memórias de infância, adolescência, são todas adaptadas, uma criação do feitiço. E tudo isso só pode ser desfeito de uma maneira."
Sasuke desabou no chão, desolado. Era muita coisa para processar. Era loucura, como tudo aquilo poderia estar acontecendo? Ele era um vampiro? Como? Sua vida inteira era uma mentira, uma farsa. Será que Naruto sabia disso? Quantas vezes eles já tinham se conhecido? Qual era sua real idade?
Não conseguia pensar direito. Precisava de ar.
Levantou do chão e abriu a porta o mais rápido que conseguiu, desceu as escadas com pressa, ouvindo a voz de Ino atrás de si. Mas não se importou, foi para a rua. Precisava andar, arrumar uma forma de pensar.
Meu Deus, Hinata era sua irmã.
Hinata era sua irmã.
Era por isso que eles estavam ridiculamente ligados um ao outro, que havia aquela conexão estranha entre os dois. Porque eles partilhavam o mesmo sangue. Podia não se lembrar, mas a conhecia desde o seu nascimento. Estava prestes a surtar. Incesto entre irmãos era algo inconcebível no mundo humano, mas até onde sabia era extremamente comum no mundo dos vampiros, e mesmo assim, não podia deixar de achar estranho a situação inteira.
No meio da rua, puxou os cabelos com força, quase como se fosse arrancá-los. Parecia que sua cabeça iria explodir. Mikoto tinha escrito que ele era cruel, perverso. Deveria ser muito para precisar transformá-lo em um humano. Ele estendeu as mãos acima da cabeça e ficou as olhando, procurando qualquer sinal de que ele era outra coisa. O sol fraco escapava pelas fendas entre seus dedos até alcançar o seu rosto; e não queimava. Todos esses anos ele andava no sol como um humano comum, sem saber que pro seu verdadeiro eu, isso seria mortal. Lembrou-se do dia que Hinata saiu correndo de sua casa, porta afora, e ele pensou que ela estava morta.
O colar que ela usava parecia fazer parte de outro, era o colar que Mikoto mencionou no diário?
Não conseguia pensar mais, sua cabeça realmente ia explodir. Sasuke respirou fundo, várias vezes, totalmente perdido. Parecia que iria ter um ataque de pânico ou algo do tipo, não sabia mais. Curvou-se sobre o próprio corpo e apoiou as mãos nos joelhos. Como de todas as pessoas, logo ele encontrou Hinata? Era coincidência? Se não fosse, era o destino querendo os unir. Ela precisava dele. Ou talvez ele que precisasse dela.
— Sasuke. — A voz de Ino chamou sua atenção, mas ele não saiu da posição em que estava. — Eu sei que é coisa demais pra assimilar de uma vez só, mas você precisa voltar a si. O nosso tempo está acabando e agora que você sabe da verdade, precisamos da sua ajuda para seguir o plano e tirar Hinata daqui.
— Que tipo de família psicótica é essa que persegue alguém desse jeito? — Sua voz saiu abafada e ele ficou de pé, a respiração vindo mais calma, embora o coração ainda batesse muito rápido.
— Não é o clã Hyuuga, Sasuke, é muito mais do que isso — Ino tentou explicar. — Só que acho que é muito cedo pra que você possa entender isso agora. Uma coisa de cada vez, tudo bem?
— Então ainda tem mais do que isso? — Ele balançou a cabeça, incrédulo. Não se arrependia de ter escolhido descobrir tudo, por escolher Hinata; mas como as coisas desse mundo novo poderiam ser tão complicadas?
— É complicado. — A feiticeira suspirou. — Mas prometo que podemos explicar tudo depois. É melhor a gente subir outra vez e falarmos sobre como vamos tirar Hinata daqui.
Sem responder, o Uchiha passou por ela e subiu as escadas que o levaram de volta para o apartamento de Jiraya.
— Você tá bem, garoto? — Jiraya perguntou e soprou a fumaça do cigarro para longe.
— Acho que "bem" é uma palavra muito forte, admito que ainda estou muito confuso e tenho muitas perguntas. Mas pelo visto, não temos tempo pras minhas dúvidas agora.
— Realmente não temos — Neji falou pela primeira vez, encarando-o. — Nossa prioridade é proteger Hinata-sama. E acredito que ela confie em você, pra ter continuado na sua casa por tanto tempo.
— Você e Hinata se encontrarem não estava nos nossos planos — Ino disse, parada perto da porta. — Só que agora que isso já aconteceu, não tivemos outra escolha além de te incluir no plano.
— E que plano é esse?
— Vamos tirar Hinata do país — Jiraya respondeu. — Aqui no Japão ela está muito vulnerável. Nosso plano inicial era mandá-la em um avião para a Itália e ela ficaria sob a proteção de um clã confiável. O plano ainda é esse e você vai com ela. Como eu não tinha certeza da sua decisão, só estamos com a passagem dela pronta, você vai ter que comprar a sua. Quando eu disse que ao saber a verdade você ia precisar abrir mão da sua vida, não era brincadeira, garoto.
O Uchiha fechou os olhos e massageou as têmporas. Seu passaporte estava em dia? Não se lembrava. Dinheiro não era um problema, ele nunca foi de gastar muito, sem contar que era rico desde que se lembrava. Talvez fosse até mais do que soubesse.
— Merda! — O sibilo de Ino ecoou no silêncio momentâneo e todos olharam pra ela. — Onde Hinata está?
— Com amigos meus, por quê? — Sasuke respondeu com o cenho franzido, conseguiu ver Neji se levantar pela visão periférica.
— Eles já estão aqui — o Hyuuga disse. — Os irmãos rastreadores.
— Os irmãos rastreadores estão indo pra sua casa, pelo jeito Kisame já descobriu o meu feitiço. Sasuke, você vai ter que ir buscar Hinata agora mesmo! Nos encontramos mais tarde na rota 92. — Ela olhou para Neji em seguida. — É melhor que a gente vá, Neji.
Os dois assentiram, e embora os pensamentos de Sasuke ainda estivessem bagunçados e revoltos — como se estivesse no meio de um sonho — ele não hesitou em fazer o que Ino pediu, porque sentia que podia confiar nela.
Neji foi o primeiro a sair, Ino estava o seguindo, até parar de repente e olhar para Sasuke. Deu pra ver o exato momento em que ela hesitou, como se estivesse debatendo algo consigo mesma, até finalmente se aproximar dele a uma distância que invadia o seu espaço pessoal. Os lábios dela se aproximaram do ouvido dele e Ino sussurrou algumas coisas antes de se afastar de vez e sair, sem olhar para trás.
O Uchiha encarou a porta aberta, atônito, voltando a recobrar a consciência depois de Jiraya dar um tapa em suas costas.
— Sasuke, Hinata, vai.
☪
Hinata olhou interessada para um manequim no meio da loja. Nele, um macacão jeans estilo jardineira.
— Você gostou desse, sanguessuga? — Karin perguntou, aparecendo atrás dela. Hinata assentiu, as bochechas coradas. — Quer experimentar?
— Sim, Karin-san! — A felicidade era muito visível nos olhos perolados, Karin quis revirar os olhos.
Ok, ela admitia, Hinata era linda e encantadora. A inocência dela fazia com que tivesse vontade de protegê-la. Mesmo a contragosto, a ruiva conseguia imaginar Hinata e Sasuke como um casal perfeito. Elas poderiam ser amigas com um pouco mais de empenho e tempo. Naruto tinha sumido há um tempo depois de ter levado alguns pares de sacolas de compra para o carro. Tentou não pensar demais nisso, imaginava que o irmão estava entediado de ficar rodando em lojas na procura por roupas femininas.
Se fosse para comer, talvez a história fosse outra.
Suspirou e acompanhou Hinata até o provador e ficou esperando do lado de fora, enquanto ela se vestia. Enquanto isso, ficou olhando para algumas peças de roupas na promoção ali perto, esperava que dessa vez a vampira não se embolasse com as roupas.
— Karin? — A voz conhecida fez com que ela levantasse os olhos das camisas que olhava. A ruiva apertou os olhos. — Há quanto tempo!
— Sakura. — Karin não gostava dela, tinha uma aura esquisita em volta daquela mulher que trazia calafrios para o seu corpo. — O que você está fazendo aqui?
— É assim que você cumprimenta uma amiga? — Sakura se aproximou, segurando a bolsa rente ao corpo.
— Nós não somos amigas — Karin rebateu sem papas na língua. Sentiu uma corrente elétrica atravessar o seu corpo e ela sabia o que isso significava. Era um mau pressentimento, ela não poderia ter muita magia em si, mas era extremamente sensitiva. — É melhor você ficar onde está.
Sakura parou e a encarou de maneira desconfiada. A irmã de Naruto era esquisita.
— Qual é o seu problema hoje? — quis saber, o que só serviu para que a ruiva lhe dirigisse um olhar cortante.
— Karin-san! O que você acha? — Hinata apareceu, saindo do vestiário, toda feliz, faltando pular.
— Hinata! — A Uzumaki virou-se para a vampira e mexeu a cabeça em um sinal de aprovação. — Ficou muito bom em você. Vai querer levar? — Hinata assentiu alegremente e depois seus olhos claros se desviaram para a outra figura feminina ao lado de Karin.
A Haruno sentiu o corpo congelar, porque aquilo não poderia estar acontecendo. O sorriso que tomou o seu rosto foi inevitável, era tão grande que poderia lhe rasgar a face. A herdeira Hyuuga estava bem ali na sua frente, como um verdadeiro presente dado de bandeja. Perguntou-se o que poderia ter acontecido para que a vampira estivesse logo com Karin. Balançou a cabeça para afastar tais pensamentos, não era hora de pensar nisso, precisava arrumar um jeito de pegar Hinata sem estragar sua identidade.
— Olá, meu nome é Sakura! — Aproximou-se, ignorando os olhares atravessados que Karin lhe lançava. Estendeu a mão para cumprimento. — Qual é o seu nome?
Antes que Hinata retribuísse o gesto, a Uzumaki entrou na frente, esbarrando em sua mão de propósito.
— Nós temos que ir, se cuida, Sakura. — Pegou na mão de Hinata e começou a ir na direção do caixa, ignorando o murmúrio baixo de Hinata sobre as roupas de Sasuke estarem no vestiário. — Temos que ir, Hinata, Sasuke não vai ficar bravo por você deixar as roupas dele lá.
O olhar de Sakura queimava em suas costas e ela se sentiu mal. A visão ficou embaçada e o corpo amoleceu de repente. Hinata a segurou antes que fosse ao chão.
— Karin-san? O que foi? Você está bem?
— Hinata, não fique... — Os olhos escuros da ruiva se reviraram e seu corpo começou a tremer, como se estivesse tendo uma convulsão.
— Pobrezinha. — Sakura já estava perto quando Hinata notou, ela se agachou ao seu lado, enquanto pessoas gritavam por socorro em volta de si. — Não se preocupe, ela vai ficar bem. É Hinata o seu nome, não é? — De primeiro momento, Hinata não respondeu, os olhos estavam fixos na figura de Karin caída no seu colo, debatendo-se igual a um peixe fora d'água. Sakura se esforçou para manter a expressão tranquila. — Tinha mais alguém com vocês, Hinata?
— Naruto-kun — murmurou em resposta.
— Você é parente dela? Já chamamos uma ambulância — uma das funcionárias da loja disse ao se aproximar.
Hinata assentiu e segurou a mão de Karin entre as suas, preocupada. Sakura se levantou. Precisava pensar em algo para tirar Hinata dali com ela o mais rápido possível. Sussurrou algumas palavras em voz muita baixa, murmurando um feitiço de manipulação para que Hinata a seguissem sem usar força, mas por algum motivo desconhecido, ele não funcionou. Apertou os lábios em uma linha reta, tentando entender o que estava acontecendo. Tentou outra vez.
Nada.
Quando os socorristas chegaram, a vampira se afastou de Karin e deixou que eles fizessem o trabalho deles. Em seguida, virou-se para Sakura com os olhos arregalados, estava perto o suficiente para dizer em um sussurro:
— Você estava tentando jogar um feitiço em mim? Quem é você?
— Sim, mas parece que você é imune — respondeu, o coração batia rápido demais e ela respirou fundo, um pouco nervosa. Não era bom iniciar algum confronto no meio de tanta gente. — Era só para que você se acalmasse, não era nada demais.
Antes que Hinata abrisse a boca para responder, Naruto atravessou a porta da loja em passos largos e rápidos. Seus olhos azuis também se arregalaram quando ele desviou o olhar para a maca, vendo Karin ali, inconsciente.
— Que merda aconteceu?
— Ela teve uma convulsão — Foi Sakura quem respondeu rapidamente. — Eu já ia te chamar, Naruto.
O Uzumaki pareceu perturbado e coçou a cabeça com força.
— Hinata-chan, precisamos ir. Sasuke me ligou e ele...
— Ele está bem? Aconteceu alguma coisa? — Hinata perguntou aflita.
— Sim, está, mas ele estava muito alterado e disse que vocês precisavam ir...
— Se você quiser posso levar Hinata até a casa de Sasuke e você pode ir com a Karin ao hospital, Naruto — Sakura ofereceu.
— Você faria isso por mim, Sakura-chan? — Naruto perguntou, aflito.
— Claro, amigos servem para isso, não é? — O sorriso simpático continuava ali, sem nenhum defeito.
— Tá tudo bem por você, Hinata-chan?
Hinata hesitou e olhou para os paramédicos que levavam Karin. Não podia impedir Naruto de ir com a irmã dele, seja lá quem fosse a mulher na sua frente, teria que dar um jeito de lidar com ela sozinha.
— Está. Eu só preciso pagar pela roupa antes de ir. — Naruto assentiu e pegou o cartão nas coisas de Karin que estavam jogadas no chão e entregou para Hinata, dizendo-lhe a senha rapidamente.
Naruto sumiu junto com Karin e Sakura acompanhou Hinata até o caixa, onde em silêncio, pagou o que precisava e saíram da loja também. A vampira estava tensa e continuou sem dizer nada enquanto Sakura andava ao seu lado, indo na direção do estacionamento. Hinata começou a pensar em uma maneira de se livrar dela sem chamar atenção, era muito óbvio que aquela mulher era perigosa de alguma forma, mas não podia usar suas habilidades naturais, não ali, com tanta gente.
— Eu não sou uma ameaça como está pensando, eu só quero ajudar — Sakura tentou começar de maneira cuidadosa.
Hinata continuou calada, porque ela sabia que era uma mentira. Andou mais depressa na direção do estacionamento, ali teria menos gente e poderia se livrar daquela mulher. Assim que alcançaram alguns carros, Hinata se virou para Sakura, a alguns metros de distância.
— Eu não quero te machucar — disse, séria. — Não sei quem você é ou o que quer, mas não me faça machucar você.
— Eu também não quero te machucar — a médica murmurou em resposta. — Mas é melhor você vir comigo.
O silêncio tenso caiu sobre as duas. Pérolas nas esmeraldas. Esmeraldas nas pérolas. Hinata apertou as mãos em punhos, os lábios em uma linha reta.
— Eu não vou — a Hyuuga decretou sem nem piscar. — Não vou a lugar nenhum com você. E se precisar derramar sangue pra isso, eu não vou hesitar.
Pra quem achava incesto inconcebível de todos os jeitos, agora é a hora que você droppa essa história, hahahaha. Embora eu tenha avisado lááááá nas primeiras notas dessa história sobre o incesto, eu aposto que a maioria pensou que fosse apenas pelo NejiHina. E não é o caso, o Sasuke e a Hinata são irmãos por parte de mãe, no caso. E caso tenha ficado qualquer dúvida, me perguntem.
A Sakura e a Hinata se encontraram e teremos um embate. O que será que vai acontecer disso?
Espero que tenham gostado, até o próximo! ♥
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top