☪ 03 | Vozes do silêncio

Boa noite, mores. Desculpem pelo atraso, a reforma aqui em casa ainda tá uma loucura, aos poucos as coisas estão ajeitando e as atualizações ficarão arrumadinhas, viu?

Obrigadíssima por todos os comentários e votos, vocês são INCRÍVEIS, amo vocês. Como sempre, já estou respondendo os comentários. Mais uma vez agradeço por estarem dando uma chance pra essa história, obrigada de todo o meu coração. ♥

Sei que vocês tão morrendo de curiosidade com os mistérios, mas juro que vai valer a pena, KKKKKKKKKK, eles vão começar a ser desvendados lá mais pra frente, então por enquanto, paciência. 

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BOA LEITURA ♥

Pela primeira vez em toda sua vida, ela encarou a completa escuridão. Não conseguia ver um palmo sequer a sua frente. Hinata piscou várias vezes, achando que havia algo de errado com os seus olhos, só que de nada adiantou, continuou completamente cega.

— Neji-nii-san? — chamou baixinho, tateando o espaço vazio ao lado da cama. Mas não havia nada ao seu lado; nem Neji, nem a cama. — Neji-nii-san?

A voz ecoou.

Hinata já estava de pé, continuou parada, sem saber ao certo o que deveria fazer. Aquilo era real? Não podia ser, não é? Foi tirada de seus pensamentos quanto sentiu a presença de algo; ainda que estivesse na completa escuridão, ela fechou os olhos para se concentrar e ao menos distinguir o cheiro de qualquer coisa que fosse. O problema é que, com exceção do tato e da audição, seus sentidos aguçados estavam completamente apagados.

Uma risadinha ecoou naquele vazio.

— Quem está aí? — gritou para o nada. — Fale alguma coisa!

Hinata. — O sussurro era tão macabro que fez um arrepio percorrer toda a sua espinha.

— Quem é você? — perguntou em voz alta, olhando para os lados por instinto, realmente não conseguia enxergar nada. — Por que está fazendo isso?

— Ah, querida... Você não precisa saber. Não ainda. — Outro riso. — Isso não é importante, não agora. Só há uma coisa que você precisa saber.

O que é? — A pergunta escapuliu da sua boca antes que se desse conta.

— Você precisa se libertar das correntes que te prendem. Você, minha doce e querida, Hinata... — hesitou e continuou de forma mais firme: — Precisa fugir. Se não quiser morrer, você vai ter que fugir.

Sem notar, a vampira arregalou os olhos, levando a mão na direção da boca, tampando-a. Apenas imaginar a ideia a assombrava, ainda que a mera possibilidade de colocar os pés para fora de casa a deixasse feliz — principalmente porque gostaria de explorar o desconhecido —, fugir parecia impossível.

Sempre foi deixado bem claro, que o lugar dela era naquela casa, uma fêmea que produziria bebês para que o clã continuasse prosperando. Nunca foi lhe dito em voz alta, mas Hinata sabia qual era a punição para quem desobedecesse às regras: a execução, a morte. Ao mesmo tempo em que, seja o quem ou o quê que falava consigo, estava dizendo que ela morreria se ficasse.

Mas era tudo um sonho, não era?

Um arrepio percorreu sua espinha, tentou controlar o tremor que ameaçava tomar conta das suas mãos. Porém, os lábios cheios e rosados tremeram em antecipação.

— Por que? Por que eu vou morrer?

— Não tenho tempo para responder suas perguntas tolas, garota. Apenas me escute. Se você não quiser morrer, precisa fugir.

— Como? — perguntou. — Como eu posso fazer isso? Para onde?

De alguma forma, Hinata soube que a coisa sorria.

— É muito simples, querida. — Outro arrepio. — Eu vou mostrar pra você.

Neji repousava ao lado de Hinata quando ela acordou em um supetão, ofegante e empapada de suor. Igualmente rápido, ele se sentou e olhou para ela, vendo como parecia aterrorizada, o olhar desfocado e a respiração entrecortada.

— Hinata-sama? — chamou-a, mas não houve nenhuma reação. Ela continuava sentada, com os olhos fixos no outro lado do cômodo, como se não estivesse realmente acordada. — O que aconteceu?

Ele afastou o cabelo do rosto suado e tocou as bochechas rosadas com a ponta dos dedos. Tentou chamar a atenção dela mais algumas vezes e não obteve sucesso em nenhuma delas; Hinata parecia uma estátua congelada, imóvel e fria. Já estava realmente ficando preocupado, quando ela piscou algumas vezes e seu olhar recuperou o brilho.

— E-eu estou bem — ela disse de repente, dessa vez olhando para ele. — Foi só um pesadelo. — Sorriu fraco para tranquilizá-lo. O vampiro franziu as sobrancelhas, desconfiado. — Falo sério, nii-san. Não precisa se preocupar.

— Certo... — murmurou, ainda sem acreditar. Hinata poderia ser boa em muitas coisas, e nenhuma delas era mentir. Mas não insistiu, se ela não queria contar, tinha um bom motivo para isso.

A Hyuuga se levantou devagar, tirando as grossas cobertas das pernas e ficou de pé. A camisola branca estava colada ao seu corpo esbelto ainda por causa do suor e o cabelo grudava em seu pescoço. Precisava de um banho urgentemente, tinha a sensação de que estava suja, como se tivesse passado um longo tempo dentro de uma piscina de lama.

Não se recordava do que tinha sonhado, mas a sensação que ficou era a mesma de um pesadelo terrível: o suor, o frio, os tremores e o medo. A única coisa que se lembrava, era um par de olhos ónix, que dançavam para o vermelho.

Por que estava sonhando com os olhos de Itachi?

E por que isso seria um pesadelo?

Deixou os questionamentos de lado ao perceber que ainda estava de pé, ao lado da cama, os olhos de Neji em si, analisando-a de maneira clínica e desconfiada. Dormiu muito menos do que costumava, o sol ainda se fazia presente, ela conseguia sentir isso, ainda que todas as cortinas pesadas estivessem fechadas e não houvesse qualquer sinal de claridade.

— Eu estou indo tomar um banho, nii-san. Tem um lugar que quero ir hoje.

Antes que o primo pudesse questioná-la, Hinata entrou na porta que levava ao banheiro. Normalmente as criadas a banhavam — como se não fosse capaz de fazer isso por si mesma —, porém, queria fazer isso sozinha dessa vez.

Precisava entender, o que era aquele sentimento urgente que queimava em seu peito, como se a alertasse de um perigo eminente...

E teria que ver Itachi naquela noite.

O sol já tinha se posto e o céu encontrava-se mais escuro do que o normal. O vento frio balançava os galhos das árvores com tanta força, que pareciam que iriam cair a qualquer instante. O zumbido insistente entrava pelas frestas das grandes janelas de vidro, agora, com algumas cortinas abertas.

A porta rangeu quando Hinata abriu-a. Os olhos passearem pelo quarto escuro por alguns instantes, antes de parar na enorme cama, onde Hanabi estava encolhida sob as cobertas. Depois de fechar a porta, devagar, aproximou-se da cama em passos suaves e percebeu que a irmã estava acordada.

— Hanabi — apesar de ter murmurado, naquele quarto vazio, pareceu como se tivesse falado normalmente.

— Nee-chan — respondeu, os lábios tremeram.

— Oh! — Hinata exclamou, quando se deu conta que a irmã tremia e suava muito. Colocou a mão na testa dela para sentir a temperatura, que estava anormalmente quente. — Você está queimando, irei chamar as...

— Não — negou. — Por favor, nee-chan. N-não chame ninguém. É só uma febre, vai passar. — Piscou algumas vezes, parecendo terrivelmente cansada.

— Mas, Hanabi... — tentou protestar, só que foi interrompida:

— Fique comigo um pouco — Hanabi pediu com a voz rouca e tremeu outra vez. — Vai ficar tudo bem.

Ainda relutante, Hinata aceitou o pedido dela. Rodeou a cama e deitou do outro lado, para não forçar a irmã se mexer. Hanabi se virou para ela, sonolenta e febril, e soltou o que parecia um sorriso.

— Sobre antes, me desculpe, nee-chan — começou lentamente. — Eu realmente não queria falar daquele jeito, só...

— Está tudo bem, Hanabi. — Hinata ofereceu-lhe um sorriso compreensivo e afagou o cabelo castanho escuro, até chegar ao rosto quente. — Não se preocupe com aquilo, eu entendo. Você só estava preocupada comigo.

— Quero que você seja feliz, isso é tudo. — Fungou. — Sei que não é fácil para você lidar com o que está acontecendo, mas você precisa ser forte. — Uma pausa. — Prometa que vai ser forte.

— Prometo. — Não pensou duas vezes antes de responder. Não poderia dizer se foi o instinto de tranquilizar a irmã, ou se era, de fato, verdade. Mas não se importou muito com isso na hora. — Eu só vim ver como estava — acrescentou.

— Eu sei — respondeu. — Está indo ver o Uchiha?

— Também — assentiu, o sorriso sumindo do seu rosto.

Também? — As sobrancelhas de Hyuuga mais nova se arquearam ligeiramente, de forma confusa.

Hinata se aproximou dela para que apenas ela fosse capaz de ouvir o que diria:

— Estou indo pela biblioteca — admitiu.

Isso fez Hanabi sorrir.

— É claro. — Depois de outra pausa, retomou: — Tenho uma coisa para você. Acho que vai gostar.

— O que é? — Apoiou a cabeça com a mão, o cotovelo sobre o colchão, e olhou para a irmã de forma tão curiosa, que fez com que parecesse uma mera criança.

Ela começou a se mexer como se fosse se levantar, porém, Hinata segurou-a na cama e balançou a cabeça negativamente.

— Eu preciso ir pegar.

— Não. Me conte onde está e eu pego. Você precisa descansar.

— Tudo bem — assentiu e voltou a ficar na mesma posição de antes. — Atrás do guarda-roupa.

— Por que está atrás do guarda-roupa? — perguntou, o cenho franzido.

— Faça o que estou dizendo — retrucou.

A vampira levantou e andou até o enorme guarda-roupa que ficava a alguns metros da cama. Ao alcançá-lo, puxou-o para longe da parede da forma mais silenciosa que conseguiu.

— Não tem nada aqui, Hanabi — constatou.

— Tem. Mas não é no guarda-roupa, é no chão. Encontre a tábua que está solta — instruiu e Hinata olhou mais atentamente para o chão, à procura da bendita tábua. Ao olhar com mais afinco, percebeu que uma delas estava mais elevada que as demais. — Encontrou?

— Acho que sim. — Agachou-se, o vestido longo se espalhando pelo chão, puxou a madeira para cima e ela se soltou com um sonoro "crack", e pegou um embrulho marrom. — Por que você fez um fundo falso no chão?

— Não fiz, já estava aí. — Ergueu-se o suficiente para sentar e trouxe o cobertor até o pescoço em seguida. — Traga para cá. Vamos abrir juntas.

Sem dizer uma palavra, fez o que a menor pediu. Sentou ao lado dela na cama outra vez e colocou o pacote entre as duas; Hanabi incentivou-a a abrir o envelope com o olhar; com as mãos trêmulas, Hinata começou a abrir o embrulho e espiou dentro. Surpreendeu-se ao ver o que era.

Puxou o colar, devagar, até que ficasse pendurado entre seu indicador e o anelar. O cordão era delicado e simples, prateado, mas quase transparente, de tão claro. O que realmente chamava atenção, era o pingente em forma de coração, o seu centro era vazio, mas era incrustrado por rubis pequenos e brilhantes em volta, da mesma cor de um saboroso sangue.

— Era da mamãe — Hanabi quebrou o silêncio e ouviu Hinata soltar a respiração, devagar, impressionada demais com aquilo.

A mais velha desviou o olhar para a irmã por um momento, sem saber ao certo o que dizer.

— Onde você conseguiu isso, imouto? — perguntou baixinho, apertando o colar entre os dedos.

— Peguei nas coisas do otou-san — respondeu com tranquilidade, sem aparentar nenhuma culpa pelo feito. — Não se preocupe, ele nem vai notar. Estava em um lugar que, claramente, não era mexido há séculos — garantiu com um pequeno sorriso.

— É lindo — afirmou. — Mas não acho que isso seja uma boa ideia. É melhor você colocar no lugar em que encontrou. O que ele irá pensar, se por acaso, ir resolver procurar e não encontrar?

— Não vamos nos preocupar com isso. — Revirou os olhos. — Não é como se ele decidisse, de repente, depois de décadas, ir revirar coisas velhas para ver o cordão ainda está lá. E desde que ele parece fazer questão de deixar a mamãe virar apenas uma memória, seria bom ter algo que nos fizesse lembrar dela.

— Você tem outro?

— Sim. Eram dois em um. Fiquei com a parte de dentro do coração. — Tateou embaixo do travesseiro e puxou o outro colar. O cordão era igual ao que dera a Hinata; a diferença era que o pingente era um coração dourado, provavelmente de ouro. — Não é bonito?

— É perfeito, Hanabi — declarou com sinceridade.

— Eu sinto como se... — hesitou por um momento. — Como se usando esse colar, a mamãe estivesse aqui, nos protegendo de tudo e de todos.

— Eu sinto o mesmo. — Sorriu tristemente, enquanto apertava o colar contra o peito. Uma lágrima teimosa escorreu e ela se apressou em limpar. Com a voz trêmula de emoção, disse: — Obrigada, imouto. De verdade.

Hanabi assentiu e passou os pequenos braços em volta dos ombros dela, abraçando-a apertado. Foi abraçada de volta, com igual intensidade, ouvindo as fungadas da irmã.

— Vá. O Uchiha deve estar esperando por você. E não vai querer se atrasar, não é mesmo? — Deu palmadinhas em suas costas e afastou-a, sorrindo zombeteira.

Hinata corou.

— Certo. Então estou indo, imouto. — Levantou e ficou em pé ao lado da cama. — Descanse, tudo bem? Quero que esteja bem quando eu voltar.

— Eu estarei, não se preocupe comigo, sua boba. — Encolheu-se sob o cobertor e fechou os olhos, quando Hinata inclinou-se e beijou sua testa.

— Até mais.

Ela não obteve resposta, porque assim que alcançou a porta, Hanabi já dormia.

A xícara de chá permanecia intocada em cima da mesa de carvalho. A fumaça subia em espirais, como se dançassem pelo ar. O reflexo dos olhos claros do austero Hyuuga Hiashi era visível no líquido quente, à medida que ele puxava o pires para dar o primeiro gole.

A porta que dava ao escritório foi aberta devagar, revelando a figura feminina, perfeitamente ereta e bem vestida; com seu vestido vermelho escuro, que chegava a arrastar no chão, de tão longo. O cabelo loiro solto, caindo em cascatas, até o meio das costas.

— Desculpe pela demora, Hiashi-sama. Não era minha intenção fazê-lo esperar tanto. — Hiashi apenas assentiu, em um breve gesto. — Espero que esteja apreciando o chá.

— Claro, Yamanaka-san — murmurou educadamente em resposta, voltando a colocar a xícara com o pires em cima da mesa. — Sei que minha visita é inesperada, entretanto, o que preciso tratar com a senhorita, é muito importante e não poderia esperar mais.

— Não há problema, Hiashi-sama. — Sentou-se na cadeira oposta a ele, e colocou as duas mãos sobre a mesa. — O que deseja tratar comigo?

— A senhorita tem sido a responsável pela barreira por mais de cinquenta anos, desde que seu pai morreu. E até agora, não tenho nada do que reclamar dos seus serviços, tem feito isso muito bem.

— Porém, há algo que o preocupa. — Era audaciosa o suficiente para interrompê-lo. O seu tom era educado, e havia um pouco de curiosidade ali também. O patriarca até poderia ter sorrido se o assunto não fosse tão sério. A audácia era uma das qualidades que apreciava naquela bruxa.

A família Yamanaka sempre serviu os clãs mais nobres de vampiros. Sua maior parte era composta de poderosos bruxos, que eram responsáveis pela proteção da existência, não só de vampiros, mas de muitas outras criaturas. Por gerações, os Yamanaka ficaram no topo, até que, um a um, começaram a serem exterminados de maneira misteriosa.

A primeira suspeita foi que famílias menos reconhecidas estariam tentando acabar com o legado intocado, almejando chegar ao poder. O que não era impossível. Havia bruxos poderosos em todas as partes do mundo, a coisa mais esquisita, era que os assassinatos nunca deixavam nenhum rastro.

Com o tempo, foi inevitável o declínio de uma poderosa família que dominava as mais sombrias e poderosas magias existentes. Os culpados nunca foram descobertos, mas Ino tinha uma ideia do que poderia ter acontecido. Inoichi sempre compartilhou as suspeitas com a filha, e depois de uma longa e trabalhosa pesquisa — que levou à sua morte —, os dois tinham chegado a um culpado.

— Está certa — ele concordou, os olhos fixos nela, analisando-a. — As circunstâncias mudaram, senhorita. As barreiras precisam ser fortalecidas o mais rápido possível. Nosso inimigo está próximo e não há nada que possamos fazer, além de reunir nossas forças e traçar as estratégias. Para um bom ataque, é indispensável, uma ótima defesa.

Ino balançou a cabeça, concordando e desviou o olhar para a janela aberta.

— Como quiser, Hiashi-sama. A partir de amanhã, começarei a trabalhar nisso. Nenhum membro da Akatsuki chegará próximo das nossas terras. Isso eu posso lhe garantir — terminou com a expressão determinada.

"Mas nem isso será o suficiente para proteger o seu segredo, Hyuuga Hiashi", pensou amargamente, ocultando uma expressão sombria.

— É sempre bom contar com a senhorita. — Levantou-se, inabalável.

— Minha função é servi-lo, senhor. Conte comigo para o que precisar. Estarei ao seu dispor.

Hiashi assentiu mais uma vez, antes de se retirar, silenciosamente. Ino ainda ficou parada ali, por mais algum tempo, pensando.

"Não há maneiras de evitar o inevitável. Você estava certo, otou-san. A Akatsuki está atacando novamente. Vamos lutar, mas será que vamos vencer?"

Hinata explorava os livros da parte de História, sob o olhar atento de Itachi. Ela se apegara muito àquela seção em específico. A capacidade de aprendizagem rápida, fazia com que ela devorasse os livros em poucos minutos, aprendendo tudo que podia sobre o que acontecera lá fora durante os séculos.

O Uchiha apenas apreciava a visão do rosto concentrado dela, enquanto folheava as páginas e lia tudo com muita atenção. Seus lábios se curvaram em um discreto sorriso, quando percebeu que ela virava o livro de um lado para o outro — provavelmente alguma imagem que tentava compreender.

— Itachi-s... Itachi — chamou baixinho e corou, quando percebeu que ele estivera a observando o tempo todo. — O senhor já visitou o mundo humano?

Ele se levantou da poltrona e andou devagar até ela. Uma aura misteriosa o envolvia, o que fazia com que a Hyuuga quisesse desvendá-lo. O que teria por trás daqueles olhos rubros? Que segredos ele escondia?

Parou atrás dela. Como era vários centímetros mais alto, pôde ver com facilidade as páginas do livro que segurava. Apoiou as mãos nos ombros dela, e deslizou devagar, até os cotovelos, causando arrepios e fazendo com que ela fechasse os olhos. Chegou as suas mãos e fechou o livro, mantendo-a naquela posição. Hinata pensou que aquela era uma boa maneira de evitar responder sua pergunta; admitia, vergonhosamente, que podia ser facilmente distraída com os toques dele em sua pele. Itachi a fascinava.

Para sua surpresa, a resposta veio a seguir:

— Muitas vezes, querida. É um mundo espetacular, diferente de tudo que você conhece — sussurrou. As costas dela estavam pressionadas contra o seu peito, e ela levantou a cabeça um pouco para conseguir olhar nos seus olhos. — Se você decidir se casar comigo — adentrou um terreno delicado e perigoso —, eu poderia te mostrar tudo que o mundo tem a oferecer.

— Tudo? — A voz falhou um pouco. A proposta era tentadora e tirou-a de órbita.

— O que você desejasse — declarou com convicção.

Hinata desviou o olhar para as mãos dele junto as suas. Isso era tudo que gostaria, então, por que se sentia tão mal sobre aceitar a proposta dele? Seria o remorso de deixar Neji para trás? Era tão egoísta a esse ponto?

— Desculpe, senhor. Mas acho que isso seria impossível — começou, ainda sem olhá-lo. O polegar dele começou a massagear uma de suas mãos, em círculos.

— Por que? — quis saber, o tom gentil a tranquilizava.

— Porquê e-eu sou ignorante, e fui criada para servir e procriar. — Respirou fundo. — Como alguém como eu poderia seguir o senhor para um lugar assim?

Não era difícil que vampiras gerassem filhos, a gestação que era um pouco complicada. E Hinata sabia que, depois de tudo isso, o difícil mesmo era sobreviver depois de uma segunda criança. Todas as vampiras que conhecia, tinham morrido depois do segundo filho. E com ela não seria diferente. O clã Uchiha precisava de herdeiros, e serviria de uma ferramenta para esse objetivo. Simples e cruel.

— Não pense muito sobre isso — Itachi pediu, sabendo exatamente que tipos de pensamentos rondavam a mente dela. — E eu adoraria tê-la como esposa, querida.

— O senhor só está sendo gentil — rebateu, relutante.

Ele não insistiu no assunto. Apenas pegou o livro da mão dela e voltou a colocá-lo na estante.

— Venha. Quero te mostrar uma outra coisa. Talvez dessa maneira a senhorita acredite em mim.

Segurou-a pela mão e puxou-a levemente, para que começasse a segui-lo. Saíram da biblioteca e seguiram até o salão principal, onde ficavam as escadas com degraus cobertos por tapetes vermelhos. A curiosidade começava a corroê-la, ele costumava surpreendê-la, então, o que seria dessa vez?

Atravessaram outro corredor extenso, até pararem na frente de uma porta. Hinata nunca esteve naquela parte da casa e prendeu a respiração, antes que ele abrisse e revelasse o cômodo. Como da vez em que ele apresentara a biblioteca a ela, pegou-se estupefata.

Era um enorme closet, com roupas muito diferentes das que tinha que vestir, das que ela conhecia. Entendeu que eram roupas que os humanos costumavam usar.

Itachi realmente sempre a surpreendia.

— Quer tentar alguma?

— Por que o senhor possui todas essas vestimentas? — Foi a primeira coisa que perguntou.

— Precaução, curiosidade, comodidade. Chame do que quiser — respondeu.

Hinata deu um passo para trás.

— Não sei se deveria.

— Talvez não tenha outra oportunidade — rebateu.

O olhar dela alternou entre ele e as roupas algumas vezes. Ela era fácil de convencer, sabia muito bem disso, e a curiosidade não ajudava nenhum um pouco.

— Tudo bem — cedeu e mordeu o lábio inferior. Não sabia por onde começar.

— Irei ajudar a senhorita — Itachi disse, quando percebeu que ela nem sabia por onde começar. — Posso?

— Claro, agradeço — concedeu com um sorriso tímido.

Ele entrou e apenas mexeu em alguns cabides e gavetas, parecendo saber exatamente o que pegar; como se já tivesse pensado naquela possibilidade. Em menos de um minuto, tinha algumas peças de roupas em sua mão.

— Tente isso. — Hinata pegou as roupas da mão dele e analisou-as, instigada pelo cheiro diferente do tecido. — Estou certo que um jeans ficaria maravilhoso em você.

A vampira soltou uma risadinha perante o galanteio dele. Lendo, aprendera que o jeanswear, ou jeans, era um tipo de roupa, inicialmente, criado para trabalhadores de minas ou camponeses, que tinham suas roupas desgastadas com facilidade. E só por volta dos anos 40, que começou a ser popularizado entre os jovens, virando uma peça mais casual, e dependendo, até formal.

Itachi virou-se por educação para que ela começasse a tirar o vestido. Hinata pensou que seria mais fácil se ele tivesse a ajudado a tirar, obviamente não iria pedir, era melhor se esforçar um pouco mais para tirar a peça pesada demais para o seu gosto. O que foi até fácil, comparado ao trabalho que teve para tirar o espartilho. O vampiro cantarolava uma música enquanto aguardava, tentado a dar uma espiada.

Ela se embolou um pouco com a calça, afinal, era a primeira vez que vestia aquilo em toda sua vida. Depois de conseguir abotoá-la, passou a blusa preta de mangas longas, com um pequeno decote canoa, por cima da cabeça. Puxou o cabelo que ficara preso por dentro da blusa e analisou a si mesma.

Sentia-se... Diferente.

Não pôde evitar de sorrir.

— Está pronta ou devo esperar mais um pouco? — Itachi perguntou, a curiosidade atenuada.

— Sim, senhor, pode se virar.

Quando ele o fez, Hinata já estava de frente para ele e ainda observava a si mesma, com encanto. E ele sabia bem o motivo. O jeans ficara justo em suas pernas e traseiro, e aquilo era uma visão muito bonita, ao menos para ele, e a blusa, apesar de um pouco folgada, contornava sua cintura fina com perfeição. E também deixava o pescoço pálido exposto, dando-lhe vontade de morder, bem ali.

— O que o senhor acha? — perguntou, encarando-o.

— Acho que a senhorita ficou maravilhosa — murmurou com sinceridade, e enrolou uma mecha do seu cabelo longo em um dedo. — Isso combina com você. Acredite em mim. — Sorriu.

— Será que o senhor poderia colocar isso para mim? — Hinata pediu, erguendo uma das mãos, revelando o colar que tinha ganhado de Hanabi mais cedo, queria testá-lo, ao menos uma vez.

Sem dizer uma palavra, Itachi pegou o colar entre seus dedos, e Hinata virou-se. Ela afastou o cabelo para que ele tivesse menos trabalho, em alguns segundos, o colar já estava preso em seu pescoço.

— É um lindo colar — o Uchiha elogiou.

A vampira segurou o pingente entre os dedos, e virou para poder olhá-lo.

— Obrigada. Foi um presente da minha irmã — informou com amabilidade.

— Muito digno — acrescentou.

Um barulho chamou a atenção dele. Não precisou olhar para saber que era seu mordomo.

— Desculpe incomodá-lo, Uchiha-sama — começou. Sua voz era tão neutra quanto sua expressão. — Mas há um assunto urgente que pede sua atenção.

— Urgente? — Franziu as sobrancelhas. — Você não pode resolver isso sozinho?

— Temo que não, mestre — respondeu rapidamente.

Itachi respirou fundo e a expressão séria se desfez ao olhar para Hinata.

— Perdoe-me por ter que deixá-la assim, querida. É uma pena que não possamos passar mais tempo juntos. — Deu uma pausa, acariciando brevemente seu rosto e aproximou-se o suficiente para sussurrar em seu ouvido: — Quando estiver pronta, um dos criados irá acompanhá-la até sua casa. Pode ficar com as roupas e pense no que eu disse, tudo bem?

— Não se preocupe. Está tudo bem — tranquilizou-o com o rosto vermelho. — Obrigada, senhor.

Ele balançou a cabeça, dispensando agradecimentos, e beijou o canto dos seus lábios, antes de dar as costas e seguir pelo mesmo corredor que tinham atravessado antes. O mordomo a reverenciou antes de seguir o seu mestre.

A carruagem parou em frente à mansão Hyuuga. Apesar de achar ridículo a ideia de percorrer alguns — e poucos — quilômetros da mansão Uchiha até sua casa de carruagem e cansar os pobres animais à toa, não tinha muito o que poderia fazer. Jamais permitiriam que ela saísse perambulando por aí, sozinha, pelas estradas de terra no meio da floresta.

Acenou para o cocheiro e colocou a mão na maçaneta da porta, para abri-la. Os portões estavam sempre abertos, eram poucos os que se arriscavam a invadir a propriedade de um clã inteiro de vampiros bem ameaçadores e mortais.

Não sentiu a presença de ninguém, a não ser a de Hanabi e de alguns criados. Onde estaria Neji? E seu pai? Era muito estranho que não estivessem ali. Sem contar, que fazia quase uma semana que não via Hiashi. Tampouco apareceu algum criado para recebê-la.

Ficou ali, do lado de fora, pensativa. A luz da lua cheia banhava a copa das árvores, e alguns fios escapavam, chegando até onde estava. Ergueu o olhar, pensando ouvir algo.

É a sua chance.

Agora.

— Estou enlouquecendo — disse em voz alta, para si mesma.

Não perca mais tempo.

Hinata olhou para os lados, confusa, para cima e para onde dava. Segurou as roupas com força contra o peito, e levou uma mão ao colar, que ainda pendia em seu pescoço. Realmente não havia ninguém ali. Não existia ninguém para impedi-la. E podia passar pela barreira tranquilamente.

Vá.

Sim. Agora começava a se lembrar melhor do sonho que tivera. Não sabia o que era, ou quem era, mas dizia-lhe como fugir. Alguém estava tentando lhe dar a liberdade que tanto queria. Era como se a pessoa soubesse que esse exato momento chegaria, uma brecha, tudo que ela precisava para fugir.

Deu um passo para trás e olhou para o lugar que, teoricamente, deveria ser sua casa.

Se fosse pega, seria morta.

Quanto tempo demoraria para notarem sua falta? Tinha chegado mais cedo do que a esperavam.

Quanto tempo duraria lá fora?

Não sabia.

Engoliu em seco e deu outro passo para trás.

Sua única chance, criança tola.

Balançou a cabeça para que as vozes parassem de ecoar em sua cabeça.

Você irá morrer.

— Não! — exclamou baixinho.

O terror tomou conta de si, e ela começou a correr para o lado contrário da mansão. Empurrou os grossos portões de ferro com extrema facilidade. Teria que se guiar pelo instinto, não sabia para que lado deveria ir. Olhou para si mesma: correr de vestido iria atrasá-la. Seria coincidência que Itachi tivesse lhe dado roupas humanas logo nesse dia, ou tudo que estava acontecendo era algum tipo de conspiração?

Não ficou presa ao pensamento. Hinata puxou o vestido, rasgando-o, e não se importou em tirar o espartilho dessa vez. Vestiu todas as roupas com pressa, e deixou as botas desconfortáveis ali. O tempo úmido indicava que iria chover em breve. Não havia nada melhor que uma chuva para cobrir os rastros de uma fuga. O seu cheiro seria coberto pelo cheiro de pinho e dos eucaliptos, seus passos desmanchariam na lama e... Era o momento perfeito.

— Desculpe, imouto, nii-san, otou-san. Mamãe...

E ela correu, livre, como nunca tinha sido capaz de fazer em toda sua vida.

Maldita a hora em que uma das luzes do farol do carro parou de funcionar. Estava chovendo, e Sasuke estava no meio de uma porcaria de rodovia! Deveria ter ficado em casa, e não ceder as insistências de Naruto e ir naquela festa estúpida, cheia de gente que ele não gostava e que só estava ali para encher a cara.

Talvez estivesse realmente amolecendo, como o amigo acusara em outra ocasião.

— Droga! Não consigo enxergar nada! — Sasuke amaldiçoou pela milésima vez, irritado. — E esse maldito farol estragado, e essa merda de chuva. Tenho que me lembrar de nunca escutar o Naruto outra vez.

Inclinou a mão para abaixar o volume do som e poder prestar mais atenção na estrada. Naquela parte não havia muita iluminação, os postes ficavam separados demais, e a chuva grossa embaçava os vidros do carro. No instante em que tirou uma das mãos do volante, algo bateu na capota do seu carro, com força.

Ele meteu o pé no freio, e o carro deslizou pela pista molhada. Agradeceu por ali não ser uma daquelas estradas perto de uma ladeira ou algo do gênero. Rezou para que fosse apenas um animal.

Sasuke abriu a porta do carro e não se incomodou com a chuva gelada molhando-o. Deu uma olhada na capota do carro, que estava muito amassada, o que significava que ele tinha batido muito forte em algo ou em alguém. Correu para alcançar o que ele tinha atropelado. Viu que suas preces não tinham sido atendidas, pois havia um corpo estendido no chão, imóvel. Enquanto se aproximava mais, começou a tatear o bolso da calça que usava, em busca do celular.

Deveria chamar a ambulância, e logo.

Quando estava perto o suficiente, os braços caíram ao lado do corpo, e Sasuke ficou sem reação. A mulher aparentava estar em perfeita condição, sem nenhum arranhão sequer. Conseguiu se mexer e agachou-se perto dela, com a ponta dos dedos, tocou a pele gelada, para ter certeza que estava viva, sentindo sua pulsação extremamente lenta.

Ele já ia se afastar novamente e começou a afastar a mão. Foi surpreendido ao tê-la agarrada no meio do processo, e seus olhos se encontraram com os intensos e perolados olhos dela, que o encaravam fixamente.

E Sasuke soube, naquele instante. Que ela não era humana.

Sasuke deu as caras, e já começa como? Com ele atropelando a Hinata, KKKKKKKKKKKKKKKKK. Aí, tadinha da nossa menina, mal fugiu e já tomou no cu. 

Como puderam ver, a Ino é uma bruxa requisitada e vem de um clã muuuuuito poderoso, ao longo da história, vou mostrando mais sobre ela e sobre o clã Yamanaka. A Hanabi é um nenémmmmmm. 

Espero que vocês tenham gostado, próximo capítulo temos mais do Sasuke ♥ Me digam o que acharam, beijosss!

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