É um prazer, capitão

[TW: Menção a drogas e detalhes do caso de possível homicídio.]

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- Eu definitivamente odeio crianças.

- Você odeia qualquer um que olhe por mais de 2 segundos pra você.

- Ele apontou o dedo pra mim! E me chamou de velho caquético. Eu por acaso sou velho? Eu nem tenho rugas!

- Não vou mentir, eu vi uns cabelos brancos em você hoje de manhã.

- Eu não vou comentar o fato de você saber sobre meus cabelos brancos.

- Em minha defesa, você tava dormindo.

- Ficou ainda mais preocupante, tenente.

- É capitão tenente! Qual a sua dificuldade em assumir que eu sou o chefe do meu departamento agora?

- Isso não influencia em nada pra mim, eu ainda sou seu chefe, e de todos aqui, rá! E aliás, eu não sou e nem estou ficando velho, e deixa só eu encontrar aquele moleque catarrento pra ele ver só!

- Você ser o comandante dessa divisão que é preocupante.

Jeon Jungkook, capitão da divisão de Investigação Criminal de Busan, uma figura e tanto. Como a cidade era relativamente pequena, todo mundo conhecia o investigador por ali, e isso em especial pelo fato de que o homem não media esforços de se meter em qualquer problema que aparecesse, qualquer caso, por mais pequeno e fácil que fosse de se resolver, o capitão ia atrás. Não dá pra negar que apesar dos pesares, Jungkook era um símbolo de bondade para o distrito, mas também de loucura.

Como se já não fosse o bastante, o temperamento explosivo era o que mais chamava a atenção, principalmente vindo de um policial.

- Tá, tá, sem brigas e vamos ao que interessa. Você leu os documentos que o fórum mandou ontem a noite?

- Sim, eu passei a noite lendo. Os dados que eles mandaram não revelaram muita coisa, só alguns extratos de transações bancárias que a vítima fez semanas antes de morrer. - Taehyung entregou uma cópia das folhas a Jungkook e sentou na cadeira de frente para o outro, suspirando logo em seguida por poder apoiar as costas, nem que fosse só por uns instantes. - Como ele veio a óbito enquanto tinha um processo semi aberto de acusação de tráfico no nome, o advogado Yang me permitiu ler algumas informações que ele tinha sobre o processo. Era uma boa grana, acha que foi pra compra de drogas?

- Se foi ou não, eu não sei, mas o que o corpo dele diz é que tinha resíduos de metilenodioximetanfetamina¹ no organismo, ou seja, era recreativa, não dá pra saber se tráfico estava ou não envolvido na situação, ou se era apenas para uso próprio. Mas e aí, vai pegar o caso?

- Tá doido, nem em sonho! Enquanto você dormia aí a manhã inteira, eu fui bem cedo conversar com a família da vítima e perguntei se eles sabiam algo sobre o envolvimento do garoto com alguma gangue ou até uma organização maior. Mal tive tempo de chegar na terceira pergunta, e a mãe dele tava me prometendo abrir um habeas-corpus² contra mim! Sinceramente, eu acho que ela nem sabe o que é um habeas-corpus! Aquela mulher é louca, não quero ter que fritar meu cérebro com ela, já basta aguentar você e seus planos absurdos todos os dias.

- Mas você foi autoritá...? - Foi só o capitão perceber a mudança imediata de cor no rosto do amigo, que ele imediatamente se calou antes que coisas piores que abuso de autoridade acontecessem consigo. Levantou as mãos em rendição e se inclinou no assento confortável. - Tá bom, sem abuso por aqui. Olha só, faz o seguinte, passa o caso pra narcóticos³, querendo ou não, eles que tem que resolver isso, drogas não é nosso departamento.

- Fale por mim, Jeon, eu não preciso, você é o capitão do departamento de investigação, e não eu. Não esqueça que você pega qualquer caso, amigão. - Brincou, se levantando da cadeira desconfortável e saindo do escritório enquanto ainda debochava do amigo.

- Eu te odeio, Kim Taehyung, você e aquela criança! E não tô nem aí, passa o caso pra eles, pouco me importa se estão sem o capitão deles agora. E não esquece de pedir ao superintendente para nunca mais trazer a peste do filho dele aqui, quem já se viu, a delegacia agora virou uma creche?

- Hurum... - Jeon ouviu a voz do Kim se afastando, soltando um riso soprado pela ousadia do melhor amigo, voltando a trabalhar nos documentos com todos os casos atuais do departamento. Coincidência ou não, alguns movimentos suspeitos vem preocupando o policial a semanas, desde que mais casos do que deveria vinham aparecendo nesse último mês. Busan nunca foi perigosa, alguns furtos aqui e ali, violência doméstica ainda era recorrente, infelizmente, mas, tráfico de drogas a céu aberto nunca foi motivo de preocupação na cidade, em especial agora, depois que o capitão da divisão antidrogas se suicidou. Casos assim não ocorriam com frequência, e com essa tragédia ainda recente, eles não conseguiram se reorganizar com tempo, e ainda mais sem ordens de cima sobre quem substituirá o ex chefe da narcóticos. Todo mundo fica curioso sobre isso e quem será, mas é inegável que deixar a central no escuro com essa onda de ansiedade pertinente não está sendo a melhor das decisões no momento.

- Péssimas notícias, chefe. - Um oficial abriu a janela que separava o escritório do resto do cômodo, com uma expressão nada boa no rosto. - Um corpo foi encontrado agora a pouco perto do viaduto, parece que uma família que ia pra Seul passou perto e a filha do casal viu. O Doutor Min saiu com a equipe dele assim que recebemos a ligação, mas aparentemente a situação não é muito simples. Ele pediu pro senhor ir lá.

Jungkook soltou a papelada que estava lendo antes do colega o interromper, apoiando a cabeça entre as mãos, suspirando ruidosamente antes de olhar em direção ao outro e confirmar com um aceno, murmurando para si mesmo o quanto gostaria de receber pela hora extra que vinha fazendo nesses últimos dias.

- Vamos lá. - O moreno levantou de uma vez, pegando a jaqueta preta e as chaves do carro jogados na mesa e saindo pela porta, pronto para passar mais uns dias em claro.

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Ao chegar no local do crime, o moreno encostou o seu Fiat Mobi tão pobre como ele no acostamento ao lado do viaduto. Fazer o que, seu eterno companheiro já tão gasto foi o máximo que conseguiu com o salário miserável que o estado dá, mas nem por isso deixou de ser eficiente durante todos os seus anos servindo a pátria, aguentando perseguições por horas a fio e becos estreitos. Assim que abriu a porta do móvel, o sol escaldante de meio dia foi o único a lhe dar bom dia, quase cegando o moreno, e mais uma vez ele se perguntou o que tava fazendo da sua vida, poxa, poderia estar dentro de um escritório agora, com ar condicionado e um salário digno, mas não, o Jeon Jungkook de 18 anos decidiu que pegar bandidos seria mais interessante. Colocou os óculos de sol e vestiu a jaqueta de couro antes de finalmente criar coragem para sair do carro e ir direto para o viaduto.

De onde ele tava, conseguia ter uma boa visão do local como um todo, que anormalmente não parecia ter sido prejudicado por algum impacto. O viaduto era uma ponte que levava a um caminho para a capital da Coreia, e é frequentemente usado a noite como ponto de encontro para fazer qualquer coisa que se precise esconder, por isso e pela idade de construção do objeto, que o lugar já era desgastado e os pedregulhos que formavam a ponte já não possuíam mais a mesma qualidade. Se um carro tivesse capotado aqui, não importa os dias, teria que ter qualquer tipo de rastro, além disso, o mais importante: nem sinal de carro.

Colocou as luvas e chegou mais perto de um dos lados da ponte, quando notou algumas manchas pequenas de sangue em certas rochas específicas que ficavam simetricamente alinhadas a onde o corpo se encontrava lá embaixo. Tocou levemente uma das manchas, que já pareciam estar secando, mas ainda levemente molhadas em algumas partes, o que indicava que o crime havia acontecido a não muito tempo desde que encontraram o corpo. Jeon desceu pelo caminho de terra e logo viu a equipe forense junto ao corpo, perto de um pequeno lago que passava embaixo do viaduto.

- Yoongi? - O mais alto chamou pelo colega, que no momento andava concentrado pelo matagal fotografando as provas circunstanciais que havia obtido na cena. Ao ser chamado, o acinzentado olhou para trás e suspirou, abaixando a câmera e indo em direção a onde o outro estava.

- Finalmente hein, chefe! Uma criança teria vindo mais rápido que você. Que bom que chegou.

- Espero que seja importante mesmo, eu já tava pensando nas opções mais baratas de gasto do meu salário pro almoço. E não fale em crianças, porque já me estressei muito com uma hoje, aliás, me lembre de me casar com um belo homem, inteligente, gentil e amoroso, e que nunca tenhamos filhos.

- Juro que se eu pudesse resolver sozinho, eu não te chamaria. E eu não perguntei sobre sua vida amorosa inexistente, obrigado.

- E então? O que queria que eu visse? - Perguntou ao mais baixo, ignorando sua rispidez, o seguindo para perto da vítima e se abaixando ao lado dela logo em seguida.

- Homem, cerca de 40 e poucos anos, sem identificação. Possui equimoses e hematomas⁴ pelo corpo, em decorrência de alguma pancada sofrida antes da morte. - Jungkook escutava a explicação do médico, atento a todos os dados que ele havia conseguido coletar. - Tom arroxeado em volta do pescoço, indicando provável asfixia por enforcamento. Aparentemente, sem furos por projéteis no corpo e sem sinais de abuso. Ah, e parece que um casal com sua filha de 10 anos viajavam para Seul, quando passaram pelo viaduto e notaram o corpo lá embaixo. Detalhes mais profundos só na autópsia, foi o que consegui perceber.

- Vem aqui rapidinho, Min. - O investigador levou o mais velho até a parte de cima do viaduto, onde estava antes de descer para baixo. - A posição que a vítima se encontra provavelmente indica que ela havia caído de cima da ponte, de maneira em que o momento do homicídio foi com o assassino em frente a vítima e a vítima de costas para a parte de trás da ponte. Tá vendo isso aqui? São manchas de sangue. - Yoongi encostou na beirada e olhou para baixo, notando imediatamente o que o capitão estava tentando dizer.

- Ao ser empurrado, ele provavelmente foi ferido antes da queda, por mais que já estivesse inconsciente devido a asfixia já que as pedras são afiadas. Além disso, o ângulo casa perfeitamente com a posição de queda da vítima! Chefe, você é um gênio! - Elogiou o moreno, destacando o lindo sorriso gengival característico do perito. Jungkook deu um pequeno aceno para ele.

- Se no laudo pericial mostrar que ele tem algum tipo de escoriações ou alguma fratura no fêmur proximal⁵ na parte de trás do corpo, aí sim você vai poder me elogiar o quanto quiser. Aliás, foi encontrado algum carro capotado ou estacionado quando você chegou?

- Não senhor, sem carro na cena de crime. Porque, tá achando que ele era usuário de drogas? - Jungkook se afastou da beirada e caminhou rumo a onde tinha deixado o carro antes.

- Quem sabe... Depois que você fizer a autópsia e já tiver o laudo, me avisa que aí sim vou poder te dar respostas, por enquanto eu tenho alguns documentos para assinar e depois finalmente almoço! Até mais. - Recostou-se no assento e ligou o automóvel, acenando para o Min antes de dar partida e arrancar feito um louco pela avenida. O legista se perguntava quando aquele jovem ia criar juízo e finalmente assumir uma postura condizente a posição que ele tinha.

Ao passar pela terceira vez nas portas da delegacia apenas hoje, de todas foi a primeira vez que Jungkook entrou na central sorrindo de orelha a orelha, o motivo? ele finalmente, depois de ser o dia todo incapacitado de comer, conseguiu comprar os seus bolinhos cozidos no vapor, para saboreá-los sozinho, no seu escritório e de portas trancadas. Os oficiais sabiam que quando chegava perto de 1 hora da tarde, seu chefe se trancava no seu escritório em um ritual sagrado onde apenas ele podia ficar lá para comer seus bolinhos. Absolutamente ninguém tinha coragem de interromper essa rotina e acabar sendo morto pelo moreno, afinal, não era segredo pra ninguém a bipolaridade que o investigador possuía.

- Hora do meu merecido descanso, meus anjinhos. Deixem o chefe amado de vocês ter um momento de paz, sim?

- É que, chefe... - Um dos policiais que trabalhava na divisão de homicídio abordou Jungkook tremendo dos pés à cabeça. Antes do mais alto chegar, os agentes calcularam diversas maneiras de como e quem iria contar a novidade ao capitão, de todos, o premiado foi Jung Hoseok, conhecido entre os colegas como o policial mais medroso da central.

- Porque é que 'cês tão me olhando com essa cara? Qual foi a merda que aconteceu agora? Alguém morreu? Se for isso, eu não me responsabilizo, já disse milhões de vezes pra vocês brincarem de casinha longe daqui, se tiver acontecido outro incêndio a culpa não é minha!

- Não chefe, juro que dessa vez não foi nem incêndio e nem um coquetel molotov⁶, é pior...

- Desembucha logo, que eu tô me estressando com esse suspense!

- É que... tem alguém aqui pra falar com você...

- NA HORA DO MEU ALMOÇO? - Jeon jurou que conseguiu ver estrelas nesse momento, mais um pouco e ele partiria dessa pra melhor.

- Sim senhor, ordens de cima. Mandamos ele lhe esperar no seu escritório...

- Você é o capitão Jeon Jungkook, líder do departamento de investigação criminal? - Hoseok foi interrompido por uma voz fria que vinha do outro lado da sala, de costas para o investigador. Quando Jungkook se virou, ele viu um homem loiro, de roupas fechadas com gola alta e casaco longo. Usava um óculos de grau ultrapassado e mantinha uma expressão gélida no rosto, parecia querer impor sua presença em meio a todos os presentes no local, sobretudo o homem à sua frente.

- Sim, sou eu. E quem é você? - O moreno notou o homem repuxar os lábios levemente antes de puxar o distintivo do bolso do casaco e o erguer em direção aos seus olhos, de frente pra ele.

- Meu nome é Park Jimin, e fui designado para trabalhar na Delegacia Central de Busan como o novo capitão do Departamento de Controle Anti Drogas. Vai ser um imenso prazer trabalhar com você, capitão.

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¹: Metilenodioximetanfetamina: Conhecido também como metanfetamina, MDMA, ou ecstasy, é uma droga de efeitos alucinógenos que é usada frequentemente como recreativa, ou seja, em locais com fins de entretenimento, como bares, festas, e por aí vai.

²: Habeas-corpus: É uma ação judicial cujo objetivo é proteger a vítima que sofre de infração de sua liberdade. Geralmente, o habeas-corpus é concedido para um cliente que responde a um processo de liberdade, já que em sua maioria, essa ação vale para aqueles que não possuem sua liberdade concedida. Se vocês quiserem entender melhor, ou saber mais, procurem sobre os tipos de Habeas-corpus, que vai aparecer tudo bem detalhado!

³: Narcóticos: Narcóticos é o termo utilizado geralmente pela polícia para designar situações ligadas a drogas e substâncias ilegais, como maconha, cocaína, alucinógenos e até morfina, podendo ocorrer casos de tráfico de tarja preta que não foi prescrito pelo médico ao indivíduo. No caso da fanfic, o Jk fala especificamente sobre um dos departamentos da polícia, que pode ser chamado de 'Narcóticos' ou 'anti drogas' também. Um adendo, é que o narcotráfico nada mais é do que tráfico de drogas.

⁴: Hematomas e Equimoses: Os dois são praticamente a mesma coisa, ambos são aqueles manchas que ficam no nosso corpo após uma pancada. A diferença entre as duas, é que o hematoma é devido a uma pancada muito forte, a ponto de o local da mancha doer, já a equimose é indolor, são em decorrência de machucados leves.

⁵: Escoriações e fêmur Proximal: Escoriações são ferimentos, eles são mais leves que uma fratura, por exemplo. Já o fêmur proximal, é um jeito técnico de designar a região do quadril, e ambos são característicos de queda, por isso o Jk falou aquilo.

⁶: Coquetel Molotov: É um tipo de bomba caseira feito a base de combustível inflamável. Ela foi criada na época da Segunda Guerra mundial pelos finlandeses, devido a uma invasão soviética, na época a arma química era vista como sinal de resistência e proteção.

Uma foto do coquetel:

(se tiverem mais alguma dúvida, sobre qualquer coisa, podem falar que eu respondo)

Gente, eu gostaria de contextualizar rapidinho aqui como funciona a polícia e os departamentos na minha história.


Existem instituições que são especializadas em um único departamento, ou seja, elas focam em crimes correspondentes aquela divisão em si, exemplo: tráfico, homicídio, roubos... como o FBI por exemplo. Já na delegacia funciona diferente.

Assim como os departamentos especializados, dentro da delegacia existem divisões de crimes também, assim como seus respectivos capitães, e claro, o(a) delegado(a). Geralmente, em uma delegacia, não existem departamentos muito grandes, mas eu resolvi acoplar várias divisões criminais importantes aqui, por isso não estranhem como funciona a BCD ao longo da história, ok?

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e o primeiro capítulo finalmente veio aiiiiii!

eu ainda estou meio insegura com ele, não acho que esteja muito bom, masssss

pobre jk, cercado de problemas. essa equipe dele é um CAOS, não pode nem mais almoçar em paz com tanto trabalho pro coitadinho administrar, MAS, agora ele tem alguém pra ajudar, tão competente quanto, hein 🙌🏻

que é que cês acharam do ji? como será que vai ser a relação deles? quero teorias!

e esse caso, ein, será que foi homicídio mesmo? complicado... 👀

comentem aqui que eu respondo tudo, viu? e até o próximo, que eu não faço ideia de quando vai sair khwhs, bjs! <3

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