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Às 07:20, Jimin estava de volta em sua casa. Ele agitou-se para dentro quando finalmente fisgou o molho de chaves no bolso do casaco e abriu a porta. No interior, um coro de vozes vinha da cozinha, rindo e conversando, ao mesmo tempo que um par de sombras parecia cheia de movimento.

Um segundo depois, ele descobriu que as vozes pertenciam a Taehyung e Yoongi. Aquilo era de se esperar, uma vez que eles também tinham passado a noite juntos. Para ser honesto, Jimin não estava interessado em saber os detalhes mirabolantes daquela noite.

Jimin percebeu que as janelas ainda estavam fechadas, então ele abriu todas as cortinas para que a claridade do dia pudesse lançar seus feixes de luz para dentro da sala antes escura. Aparentemente, sua movimentação provocou ruídos, pois Taehyung enfiou a cara para fora da cozinha.

– Ursinho! – ele sorriu à distância. – Há quanto tempo está aí?

– Acabei de chegar.

– Oi, Jimin. – a cabeça de Yoongi apareceu atrás de Taehyung. Ele acenou para o menino, que retribuiu seu gesto na mesma hora.

Taehyung saiu da cozinha e fez o seu caminho até Jimin. Ele estava usando uma farda específica, mas não era escolar. Jimin avaliou suas vestimentas de cima a baixo, começando a se lembrar do que Taehyung lhe disse algumas semanas atrás.

Ele tinha conseguido um trabalho de meio período na biblioteca da escola, a qual estudou ano passado. Apesar de ser uma ótima notícia, Jimin se sentiu tenso por dentro, uma vez que agora ele teria que concluir os estudos sem a presença de seu melhor amigo.

– Olha, nós já preparamos o café da manhã. Você não vai se vestir? – Taehyung perguntou quando finalmente o alcançou.

– Sim. – ele disse. – Eu já comi na casa do Jungkook. Vou só me vestir.

Taehyung suspirou.

– Você não está nem um pouco animado em voltar à escola, não é?

– Eu estou com medo. – assumiu, imaginando se aquilo era um exagero. – Não me sinto pronto, ainda mais sabendo que todo mundo conhece a minha história.

– Isso pode parecer horrível, mas você tem que encarar essa nova realidade. Além do mais, eu vou estar pertinho de você.

Jimin gostaria de dizer a ele que as coisas não são tão simples como as palavras fazem parecer, mas considerou melhor ficar em silêncio. A quem ele dissesse o que estava sentindo, ouviria a mesma coisa: "tente".

– Eu preparei quatro ovos mexidos. – Yoongi disse enquanto caminhava em direção a eles com uma frigideira na mão. – Alguém vai querer?

– Tem certeza que não quer comer, ursinho? – Taehyung perguntou diretamente para Jimin, formando um bico com os lábios. – Os ovos do Yoongi são uma delícia.

– Não estou com fome. Podem comer à vontade. – ele forçou um sorriso. – Vou me arrumar e já volto.

Antes que Jimin tivesse a chance de se mover, Taehyung se pendurou em seu pescoço e lhe deu um beijo na bochecha. Aquilo arrancou uma risadinha genuína de seu amigo. Toda vez que Jimin ficava cabisbaixo, Taehyung encontrava formas de alavancar o seu humor.

– Eu estou com o meu carro. Vocês querem uma carona até a escola? – Yoongi perguntou a eles.

– Não, não precisa. Obrigado. – Jimin agradeceu com um sorriso pequeno. – Nós vamos com o motorista do meu pai.

– Não canso de dizer que amo o tio Chris por ele ter emprestado o motorista. – acrescentou Taehyung.

– Ele adoraria ouvir isso. – Jimin falou sob sua respiração.

De repente, uma bola peluda começou a se roçar entre os tornozelos de Jimin, o fazendo olhar para baixo. Um enorme sorriso surgiu em seus lábios quando ele se deparou com Ariel. A sua gatinha arqueou as costas e miou para ele, o convidando até ela.

– Ariel! – ele falou, agachando-se para acariciá-la na cabeça. – Por onde andou, mocinha?

– Eu acho que a Ariel está namorando. – Taehyung comentou. – Ela não para dentro de casa e só chega de madrugada. Aposto que está no cio.

– Claro que não. A Ariel gosta de passear. – Jimin contrapôs. – Além do mais, minha bebê é castrada, esqueceu?

A gata rolou de barriga para cima, ronronando, enquanto Jimin paparicava os seus pelos. Ele a pegou no colo e brincou com sua coleira vermelha. Ficar com Ariel tinha um sentido especial para Jimin, pois ele a enxergava como parte da família.

– Vou levar ela para o quarto comigo. – disse Jimin, referindo-se a Ariel. – A propósito, a Hannah está no quarto dela?

– Está.

Por algum motivo, Yoongi arregalou os olhos e deu uma cotovelada no braço de Taehyung, que o encarou em completa confusão.

– Você não me disse que sua amiga estava aqui. – ele reclamou através de um chiado. – Se ela ouviu alguma coisa...

– Relaxa. A Hannah dorme que nem múmia numa tumba.

Yoongi não pareceu convencido, nem menos aliviado.

– Da próxima vez, nós vamos para a minha casa, pelo menos lá não tem ninguém. – ele disse em acréscimo, parecendo sentir uma precipitada raiva.

Muito rapidamente, Yoongi se virou em direção a cozinha e desapareceu, deixando Taehyung sozinho com Jimin. Taehyung revirou os olhos para aquilo, em seguida percebeu que Jimin estava segurando uma risada.

– Ele é insuportável às vezes. – justificou.

Jimin apenas balançou a cabeça para os lados antes de abraçar Ariel contra o peito. A gata se esparramou em seu ombro esquerdo, como se realmente estivesse em cima de uma almofada. Após um minuto, Jimin subiu as escadas, mas parou na metade dos degraus quando Taehyung disse:

– Ei, vê se não demora muito. É o seu primeiro dia de aula.

Para o desagrado de Jimin, ele estava perfeitamente ciente sobre aquilo. Gostaria de ter dormido até tarde ou, pelo menos, fingido que não tinha a obrigação de estudar. No entanto, nenhuma das abordagens parecia servir.

Sem nada a acrescentar, Jimin apenas concordou com um balançar de cabeça e subiu os últimos degraus. Depois dos últimos acontecimentos, Hannah começou a se isolar no quarto, sem ânimo até mesmo para comer. Jimin, no entanto, passou a estar no pé dela para evitar isso.

Em virtude do crime que cometeu enquanto ainda era Lauren, Hannah se negou a começar o tratamento psicológico por medo de assumir o que fez. Em sua cabeça, ela poderia ser presa a qualquer momento pelo homicídio de Jennie, portanto ninguém além de Jimin poderia saber.

O que Hannah não sabia era que Jungkook também estava por dentro dessa história. Ele e muitos outros do FBI. Em decorrência de todas as coisas que a menina enfrentou, Jungkook contratou um advogado para que pudesse convencer o juiz a adiar a audiência. Porém, isso não seria permanente.

Jimin atravessou por um corredor estreito e alcançou a última porta. Antes de abri-la, ele colocou Ariel no chão e então empurrou a porta lentamente, o suficiente para enxergar os móveis do quarto. Muito ligeiramente, ele reconheceu o corpo enrolado entre os lençóis. Hannah estava virada de costas para a porta, apenas a sua cabeleira ruiva estava para fora, escorrendo ao longo do travesseiro.

Inicialmente, Jimin pensou que ela ainda estava dormindo, mas a observou se mover um pouco, como se tivesse percebido o movimento da porta. Com isso, Hannah se virou para ele, seus olhos estavam semicerrados por causa da claridade. Jimin mergulhou para dentro do cômodo e seguiu em direção a ela com passos claudicantes.

– Jimin.

Um sorriso pequeno cresceu nos lábios de Jimin quando ele a ouviu dizer.

– Bom dia, minha beija-flor.

Hannah deslizou para cima e sentou-se entre o emaranhado de cobertores, ficando encostada na cabeceira. Ela estava vestindo apenas uma blusa folgada, tão folgada que parecia três vezes maior que o seu tamanho natural. Jimin observou, também, que o cabelo dela estava um palmo maior, formando algumas ondas nas pontas.

– Onde você estava? – ela perguntou, quebrando o silêncio.

– Eu passei a noite na casa do Jungkook. Sentiu minha falta?

– Bastante.

Eles sorriram ao mesmo tempo. Jimin aproveitou o espaço para se sentar na beirada da cama. Mais de perto, era possível observar a dormência cercando o olhar de Hannah, muito capaz de ser confundida com indisposição.

– Taehyung e Yoongi prepararam um café da manhã muito gostoso. – ele comentou. – Por que não levanta dessa cama e come um pouquinho?

– Não estou com fome. E também não gosto de tomar café da manhã.

– Hannah. – ele disse em advertência. – O café da manhã é a refeição mais importante do dia. Além do mais, você também precisa comer por causa do bebê.

Hannah suspirou pela boca.

– Eu sei disso. – ela abaixou os olhos por um momento e então voltou a encará-lo. – Não quero parecer irresponsável. Me desculpe.

– Vou puxar a sua orelha quando for necessário. – ele disse, sorrindo, como se para aliviar a tensão do assunto. – Aliás, eu estava pensando em ir ao shopping hoje. O que acha de vir comigo?

– Tem certeza?

– Por que não?

– Eu não sei se é uma boa ideia. – ela fez uma careta. – Você sabe como as pessoas me olham torto só porque sou uma adolescente grávida.

– O que elas dizem sobre você não vai acrescentar em nada. – argumentou Jimin, sentindo-se hipócrita por não seguir seu próprio conselho. – Eu confesso que tenho a mesma preocupação que você, mas me esconder das pessoas não vai melhorar as coisas. Agora mesmo eu tenho que voltar à escola, apesar de não saber o que me espera.

Hannah bufou.

– Boa sorte. – ela disse sem ânimo. – Eu quero distância da escola. Não faço ideia de como eu era antes, se eu gostava de estudar ou não, mas agora isso não me interessa.

– Você era a menina mais popular. Os garotos ficavam te disputando. – Hannah fez uma cara de nojo. – Sério, eles viviam me pedindo seu contato.

– Mais um motivo para não voltar à escola.

Eles riram juntos. Jimin se divertia bastante relembrando os seus momentos com Hannah na escola. Ele a perturbava na hora do intervalo falando sobre todos os pedidos platônicos de garotos desesperados por uma chance. Hannah nunca se interessou por esses garotos, exceto um: Josh Parker. Eles namoraram por dois meses, até Hannah se dizer cansada de beijá-lo.

Josh ficou uma fera, depois disso nunca mais quis olhar na cara dela. Às vezes Jimin se pegava pensando nos motivos que levaram Josh a odiá-lo, um deles era a sua amizade com Hannah.

Deixando esse pensamento para trás, Jimin olhou instantaneamente para a barriga de sua amiga, e então voltou a encará-la nos olhos. Hannah passou a usar roupas folgadas para não desenhar a barriga, embora ainda não estivesse com tamanho suficiente para realçar. Ela pareceu estranhamente confusa com o olhar dele, então o seu sorriso começou a desaparecer aos poucos.

– Quer me perguntar alguma coisa? – ela disparou, sem intenção de parecer grossa.

Por um momento, Jimin não disse nada. Ele se perguntou brevemente se seria uma boa ideia falar sobre a gravidez, pois Hannah ainda aparentava estar indecisa quanto ao que fazer e ele também não queria parecer precipitado.

– Você já decidiu se quer ter o bebê? – ele finalmente perguntou.

O rosto de Hannah ficou reduzido a uma tristeza momentânea.

– Eu não quero ter esse filho. – ela assumiu. – Mas ao mesmo tempo não sei se tenho coragem de tirar. A médica me contou como funciona o procedimento.

– E como funciona?

– Eu tenho duas opções: tomar os remédios ou passar pelo procedimento. Os remédios causam uma dor insuportável, o procedimento nem tanto, mas ainda dói. – ela explicou. – Eu optaria pelo procedimento, mas demora horas para terminar.

– Isso é o de menos. O importante é você se sentir bem.

De repente, ela pulou para fora da cama, como se tivesse ficado subitamente consciente de algo, e então esfregou o rosto. Jimin permaneceu no mesmo lugar, observando-a em silêncio. Hannah tinha um corpo magro, mas a gestação deu um pouco mais de volume às suas pernas.

– Você acha que ele me machucou? – ela perguntou de repente, ainda virada de costas.

Jimin congelou da cabeça aos pés. Diante de seu silêncio, ela se virou de frente, o fazendo piscar um par de vezes.

– Hannah – ele se levantou. – Aquele cara era um monstro. Ele fez comigo o mesmo que fez com você.

– Mas eu não o vejo assim.

– Porque você perdeu a memória. – ele disse, se esforçando para controlar a voz. – Ele mentiu sobre quem era, criou uma falsa personalidade para te enganar. O jogo deles era fazer você ficar contra mim.

– Você conta que ele era malvado, agressivo e maluco, mas ele agia diferente comigo. Como alguém pode se segurar em um personagem por muito tempo?

Quando um novo pensamento subiu à superfície da cabeça de Jimin, ele congelou. Hannah nunca teve medo de sentir dor, ela aprendeu a usar instrumentos pontiagudos para se defender e também atacar quando fosse necessário. Lutar se tornou uma ferramenta. Ela provou isso quando enfrentou Namjoon no terraço.

Então, logicamente, todas aquelas perguntas podiam significar uma coisa: Hannah preferia acreditar em um homem morto a confiar em seu melhor amigo.

– Você não está em dúvida por causa do procedimento em si, mas por causa dele, não é? – Jimin perguntou.

Silêncio.

– Hannah, esse homem te machucou de todas as formas e você está pensando nele? – ele se aproximou dela com duas pegadas. – No terraço, você conseguiu se lembrar do Namjoon. Eles eram cúmplices. Basta juntar as peças.

– Eu me lembro do Namjoon, não totalmente, mas lembro. Com o Derek é diferente. Ele nunca me tratou mal. – Jimin gostaria de cobrir os ouvidos para não ter que escutar tudo o que estava saindo da boca dela.

– O bebê que você está carregando é prova suficiente de que ele não prestava. – disse Jimin, tentando convencê-la. – Olha só o que ele fez com você. Eu senti na pele o que é ser manipulado por ele. O Derek também fingiu ser uma boa pessoa quando me convenceu a ficar com ele, mas no fundo ele só queria uma coisa de mim.

– Você está falando todas essas coisas porque quer que eu aborte. É isso?

Jimin suspirou.

– Não posso decidir isso por você. O que estou fazendo é abrindo os seus olhos. – Hannah continuou calada enquanto refletia. – Se você quiser ter esse bebê, saiba que terá o meu apoio. Mas se quiser abortar, precisa decidir isso enquanto ainda está no começo da gestação.

Para o seu alívio, Hannah concordou. Jimin sempre tentava não a estressar com perguntas invasivas, mas às vezes ele precisava ser um pouco duro com as palavras, o suficiente para fazê-la cair na real.

No entanto, não poderia culpá-la por acreditar em Derek, uma vez que ele a envenenou com mentiras quando a cabeça dela ainda estava vazia de memórias. O máximo que podia fazer era contar a verdade sobre o passado de ambos, mesmo que ela não acreditasse em sua versão.

Para ser honesto, Jimin gostaria de estar no lugar dela, apenas para não ter o desprazer de se lembrar das coisas cruéis que Derek o fez. Mesmo que isso pareça esquisito, ao menos ele não teria que lidar com lembranças ruins o tempo inteiro. Se ele pudesse apagar essas memórias, com certeza o faria.

De repente, alguém bateu na porta. Um segundo depois Taehyung enfiou a cabeça para dentro do quarto. Jimin e Hannah olharam simultaneamente na direção dele.

– Já está na hora, ursinho. Você ainda não se arrumou?

Jimin bateu a mão na testa, seu gesto indicava esquecimento.

– Caramba, a escola. – ele disse, arrancando uma risadinha de Hannah.

– É melhor você se apressar porque o motorista já chegou. – Taehyung informou.

– Dois minutinhos. Juro.

Taehyung fez uma careta, completamente rendido àquele pedido, então desapareceu com um bater de porta. Jimin se virou para Hannah, mas antes de abrir a boca, ela falou primeiro:

– Depois nós terminamos essa conversa, tá bom? – ela sorriu. – Mas agora você tem que se arrumar. Vai.

– Pensa com carinho no que eu te falei. – ele aconselhou, segurando as mãos dela entre as suas. – E não se esqueça do shopping.

Hannah revirou os olhos em divertimento, em seguida balançou a cabeça em um sim. Jimin achou graça de sua reação. Ele abraçou-a bem forte, sendo retribuído na mesma intensidade.

– JIMIN! – Taehyung berrou do corredor. – EU VOU TE MATAR SE MEU CHEFE ME DEMITIR!

Jimin e Hannah gargalharam. Um segundo depois, ele correu às pressas para fora do cômodo. Hannah permaneceu parada, ouvindo o eco dos passos de Jimin se distanciando.

✭✭✭

Saber que estava voltando à escola não o despertava mais aquela expectativa boa, muito pelo contrário, Jimin não sabia o que esperar quando passasse por aqueles portões. Ele estava incerto, e essa incerteza não parecia positiva em diferentes ângulos.

Três minutos depois, Jimin deslocou-se para fora do carro, seus olhos estavam fixos adiante. Uma enxurrada de adolescentes estava entrando no colégio com suas mochilas nas costas. Alguns estavam em bandos, outros em duplas.

Era estranho olhar para aquela imensa estrutura e se sentir nervoso por se imaginar dentro dela. Para pessoas comuns, aquele lugar não despertava nenhum sentimento aversivo. Para Jimin, a sensação chegava a ser turbulenta e quase dolorosa.

Taehyung o segurou pelo ombro em forma de encorajamento. Jimin o encarou pela lateral, como se estivesse prestes a recuar um passo e retornar para o carro. No entanto, isso não passou de um breve pensamento.

– Quer mesmo fazer isso? – perguntou Taehyung.

Jimin não disse nada, apenas injetou uma dose de coragem em suas pernas e caminhou para além dos portões. Taehyung o acompanhou em seguida. Ele observou que seus antigos colegas não estavam mais lá, porém reconheceu muitos rostos. Alguns, no entanto, não pareciam tão amigáveis.

Jimin esperou encontrar um punhado de olhares estranhos em sua direção, mas, diferente de como imaginou, a maioria das pessoas não notou sua presença, ou pelo menos fingiu que não. Ele se sentiu como um ser invisível perambulando entre os mortais.

– É aqui que a gente se separa. – disse Taehyung quando eles finalmente alcançaram a porta principal que dava para o corredor. – Se precisar de mim, sabe onde me encontrar. Vou estar na biblioteca caso queira uma companhia.

Jimin concordou com um balançar de cabeça, embora estivesse nervoso por dentro. Ele tinha começado a ficar desconfortável naquele momento, mas camuflou essa sensação com um sorriso forçado. Era estranho pensar que Taehyung foi seu colega de sala há um ano atrás e que agora estava trabalhando na escola a qual fez parte.

Jimin não estava nada contente em ter que repetir o ano letivo, ainda mais sabendo que estaria longe de seu melhor amigo. Obviamente, ele saberia lidar melhor com isso se não tivesse passado por tudo aquilo que passou.

Após um momento de despedida, Taehyung dobrou o corredor leste, desaparecendo quando alcançou uma porta nos confins. Com o coração na garganta, Jimin caminhou em direção aos armários alinhados ao longo da parede e guardou os seus materiais em um deles.

Ele pesquisou o horário das aulas em um painel com a representação gráfica de cada turma. Pela descrição, Jimin descobriu que a sua sala estava no segundo trecho do corredor, então não precisaria pegar o lance de escadas. Ele odiava usar as escadas.

Com essa informação em mente, ele seguiu as instruções que estavam no painel. Havia um grupo de pessoas parado na porta da sala conversando entre si. Aquilo fez Jimin parar de caminhar subitamente. O sinal tocou nos alto-falantes, fazendo o pequeno grupo se recolher para o interior da sala de aula. Jimin suspirou em alívio e então prosseguiu.

O corredor ficou uma bagunça em poucos segundos. Várias pessoas começaram a caminhar em sentidos diferentes, tornando o espaço quase impossível de se locomover. Jimin esbarrou em quatro pessoas enquanto fazia o seu caminho até a sala.

Quando finalmente alcançou a porta, seu coração pulou selvagemente no peito. Muitos rostos diferentes emergiram à frente, o deixando internamente agitado. O forte burburinho de pessoas conversando penetrou seus sentidos, mas ele não entendeu o tópico da conversa.

Como esperado, alguns olhares caíram sobre Jimin. Ele sentiu o coração errando uma batida e, naquela pausa, um sentimento de desamparo deslizou sobre ele. Após um momento de checagem, Jimin finalmente entrou na sala, afundando-se na primeira cadeira vazia que encontrou.

Ele se sentou perfeitamente imóvel após colocar sua mochila na mesa. Pela borda do olho, Jimin pôde notar que os seus colegas de classe continuavam a encará-lo à distância. Mesmo não sabendo o que eles estavam pensando, a sensação não era nada boa.

De repente, a professora entrou na sala com algumas pastas nos braços, mandando todo mundo para os seus respectivos assentos. Ela examinou as fileiras em silêncio e aguardou que todos se arrumassem. Jimin reconheceu o rosto da Sra. McCall por trás dos óculos de grau.

– Bom dia a todos. – ela os cumprimentou educadamente, sendo retribuída por um coro de saudação. – Sejam bem-vindos de volta. Eu estou muito feliz em poder ensinar essa turma. Ouço muitos comentários positivos de outros professores a respeito de vocês. Por isso estou criando ótimas expectativas e espero não me decepcionar.

Alguém abriu a porta sem bater, atraindo olhares de todos os ângulos. Jimin sentiu um gelo na espinha quando se deparou com Josh Parker parado na porta com o seu típico olhar entediado. A professora cruzou os braços contra o peito e fuzilou o rapaz.

– O sinal já tocou, Parker. Por que se atrasou? – ela demandou.

– Eu perdi a hora. Foi mal.

A Sra. McCall suspirou e então gesticulou para que ele entrasse. Jimin congelou quando Josh deslocou o olhar na sua direção, aparentemente insatisfeito por encontrá-lo ali. Errado ou não, Jimin teve a impressão de ter visto um lampejo nada amigável na expressão dele.

Muito ligeiramente, Josh começou a ir em sua direção enquanto continuava a enfrentá-lo nos olhos. Quando Jimin menos esperou, ele lançou a mochila sobre a mesa às suas costas e sentou-se desleixadamente na cadeira de trás.

Jimin sabia que ele era encrenca, e, para piorar, também era melhor amigo de Vernon. Agora que Josh sabia que ele estava de volta ao colégio, muito provavelmente colocaria essa informação no ouvido de seu amigo. Para o seu quase alívio, Vernon havia concluído a escola em Detroit, então Jimin não corria o risco de se esbarrar com ele todos os dias pelos corredores.

– Ok, pessoal, vamos começar pelo básico. – continuou a Sra. McCall. – Quero saber os nomes de vocês e o que esperam da minha disciplina. Vamos lá. Da direita para a esquerda.

Ela apontou para uma menina na extremidade da sala, passando a palavra para a garota, que levantou da cadeira a pedido da professora.

– Meu nome é Eve e eu espero que a sua metodologia de ensino seja boa, porque a nossa professora do ano passado era uma peste para ensinar. – um coro de risadas ecoou, mas a Sra. McCall interrompeu o barulho com um movimento brusco de mão.

– Silêncio. – ela exigiu. – Prossiga, Eve.

– É só isso, professora.

– Ok, próximo.

Jimin sentiu a garganta seca quando engoliu a saliva. Suas mãos começaram a suar no momento que percebeu que estava chegando a sua vez. Não era confortável pensar que ele teria que se levantar para falar em público, ainda mais sabendo que minutos atrás todo mundo o estava encarando entre cochichos.

– Está nervosinho, Jimin? – ele escutou a voz de Josh sussurrando às suas costas. Ele parecia próximo, como se tivesse se debruçado sobre a mesa para dividir um segredo. – O jornal falou muito de você, sabia? Aposto que você se divertiu bastante em Vancouver.

Jimin ignorou sua provocação, embora seus olhos tivessem ficado cheios de lágrimas. Ele tentou canalizar esse desconforto abrindo o seu caderno para escrever o assunto da aula, apesar de nenhum conteúdo ter sido apresentado ainda. Se demonstrasse desinteresse, talvez Josh largasse do seu pé.

– Vernon ainda não sabe o que aconteceu com você. – ele prosseguiu com os ataques. – Mas eu aposto que quando ele souber, nunca mais vai querer te beijar.

– Me deixe em paz. – Jimin murmurou com os dentes prensados.

– Qual é, Jimin, você inventou aquela história sobre aulas de dança para enganar o Vernon. Acha que ele vai olhar na sua cara quando descobrir que você foi para Vancouver brincar de fazer sexo?

– Cale a porcaria de sua boca. – ele retrucou de forma rude, virando-se para encará-lo nos olhos. – Não diga o que você não sabe.

– Aí está a melhor parte, Jimin. Todo mundo sabe o que aconteceu com você. Alguns estão com pena, outros com uma pulga atrás da orelha. Fala sério, essa história é muito sinistra para ser verdade.

– Chega!

Ele bateu as mãos na mesa ao mesmo tempo que berrou. Josh sorriu em divertimento. A sala inteira olhou para eles em confusão, inclusive a Sra. McCall, que também ficou perplexa com aquela súbita reação.

– Parker, deixe o Jimin em paz. – ela o advertiu, mas sua bronca pareceu entrar em orelhas surdas, pois o garoto sorriu ainda mais.

Jimin pegou a sua mochila e se levantou aos trancos, indo em direção a porta. Ele ignorou os chamados da professora e acelerou os passos para fora da sala. Sua visão tinha começado a ficar turva devido às lágrimas, ele mal conseguia enxergar o seu caminho.

Por sorte, o corredor se encontrava vazio, mas isso não foi suficiente para aliviar a dor que ele estava sentindo. O pior era saber que ele mal tinha entrado na sala e já teve que lidar com as provocações de Josh. Enquanto caminhava, Jimin se perguntou em seus pensamentos quanto tempo mais isso duraria.

Para ser honesto, ele não pretendia retornar à sala, mas também não queria ficar perambulando pelo colégio como se estivesse perdido. Em razão disso, optou pelo ginásio. O espaço costumava ficar vazio em horários de aula, então Jimin supôs que teria um momento de paz.

Os portões de aço estavam abertos, então ele penetrou para dentro com um pulo. As arquibancadas estavam igualmente vazias. Jimin sentou-se em um dos bancos e colocou a mochila no assento ao lado. Ele ergueu os joelhos até a altura do peito e então apoiou o queixo em cima.

Enquanto recapitulava as palavras de Josh, mais lágrimas escorriam ao longo de suas bochechas. Se não fosse por ele, Jimin teria continuado na aula. Josh o odiava desde a época que Jimin namorava Vernon, e, honestamente, ele nunca entendeu os seus motivos.

Poderia supor que Josh estava interessado em Vernon, mas ele sempre demonstrou gostar apenas de mulheres. Então, o grande problema não era esse, porque mesmo sabendo que eles não estavam mais juntos, Josh não tirava a carranca da cara toda vez que o olhava.

E, novamente, Jimin estava se sentindo ameaçado.

– Pare de chorar, seu idiota. – ele murmurou para si mesmo, varrendo as lágrimas do rosto.

Em seguida, ele procurou pelo celular no meio de suas coisas. Quando o encontrou, digitou o número de Jungkook rapidamente e então esperou, cogitando se deveria apertar o botão de ligar. Ele ficou preso nesse dilema por cerca de um minuto, depois suspirou, desistindo.

Não parecia uma boa ideia encher os ouvidos de Jungkook com os seus problemas, ainda mais sabendo que ele estava atarefado demais para lhe dar a atenção desejada.

De repente, um par de mãos cobriu os olhos de Jimin pelas costas. Ele levou um pequeno susto, mas suavizou os ombros quando percebeu que não era uma ameaça. Jimin reconheceu o súbito cheiro de perfume italiano, bem como o toque das mãos.

Antes que pudesse abrir a boca para dizer algo, a pessoa retirou as mãos de seus olhos e deslizou para o assento ao lado. Era Vernon. Jimin não fez esforço em esconder a surpresa de o ter reencontrado. Na verdade, ele estava se sentindo mais nervoso que assustado.

– Oi, Jimin. – ele o cumprimentou com uma voz aveludada.

Ainda assustado, Jimin piscou e perguntou:

– Por que você está aqui?

– O treinador Alex me chamou para fazer parte do time de basquete. Ele quer que eu seja o capitão. Bem, não faço mais parte da escola, mas sou um ex aluno. – Vernon contou. – E você deveria estar na aula, não deveria?

– Não. Quero dizer, sim. Eu não estava me sentindo muito bem, então saí para tomar um pouco de ar. – mentiu.

– E agora está se sentindo melhor?

– Sim.

Pela expressão no rosto de Vernon, ele gostou de ouvir aquela resposta. Tarde demais, Jimin sacou o sentido por trás de sua pergunta, mas na hora que ele o respondeu, não tinha pensado por esse lado. Sua tese foi comprovada quando Vernon encarou sua boca por tempo demais.

– Caramba, você continua tão lindo. – ele disse, parecendo enfeitiçado. – Exatamente como eu me lembro.

Subitamente, Vernon inclinou-se contra os lábios de Jimin e o beijou. Jimin ficou tão surpreso com aquela atitude inusitada que não conseguiu falar a tempo, ele apenas recuou a cabeça para fora do alcance do beijo. Vernon franziu as sobrancelhas em confusão.

– O que está fazendo?! – Jimin perguntou.

– Beijando meu namorado. – ele disse como se fosse óbvio demais. – Ok, eu esperei que você fosse ficar surpreso em me ver, mas não decepcionado.

– Você não pode chegar assim me beijando do nada.

Vernon engoliu o próprio sorriso.

– Me desculpe, eu pensei que não tinha problema. – justificou. – O que há de errado? Eu estou com saudades de você, faz tanto tempo que nos vimos.

Jimin sentiu-se incomodado por vê-lo tão perto, por isso recuou o corpo para o outro banco, esticando ainda mais a distância entre eles.

– Faz um ano, Vernon. – ele disse. – Você não pode chegar aqui me beijando do nada como se ainda fôssemos aquele casal de um ano atrás.

Vernon suspirou.

– Você ainda está chateado comigo, não é? – Jimin gostaria de dizer que não, mas isso com certeza alimentaria as esperanças dele. – Olha, eu entendo a sua raiva, mas você também precisa entender os meus motivos. Eu fui para Detroit porque fui aprovado no time de basquete. Você sabe que esse sempre foi o meu sonho.

– Não tem a ver com isso.

– Então o que é?

Jimin se calou por um momento. Ele não queria discutir com seu ex namorado no meio de um ginásio deserto.

– Muita coisa mudou. – Jimin assumiu, sem entrar em detalhes. – Nós perdemos o contato, você foi atrás de seu sonho e eu estou indo atrás do meu. Querendo ou não, não fazemos mais parte da vida um do outro.

– Jimin, do que você está falando? – sua expressão ficou desesperada. – Eu fui atrás do meu sonho, mas isso não significa que eu deixei de te amar. Ainda sou apaixonado por você.

Jimin riu, mas sem humor.

– Ninguém ama alguém por um ano inteiro sem ter contato com ela. – refutou. – Você diz isso agora porque está na minha frente.

– Não! – ele parecia perplexo. – Eu gosto de você, sim. Não teve um dia sequer que eu não pensei em você.

– E por que não me ligou?

– Meu treinador me proibiu de usar o telefone por quatro meses. Ele me queria focado no treino, e para isso eu teria que me desvincular de tudo que me distraía. – explicou. – Quando fui autorizado a usar o celular, você não estava mais atendendo as minhas ligações. Taehyung me contou que você tinha viajado para fazer o curso de dança, então parei de insistir com as ligações.

Jimin não gostaria de parecer arrogante, tampouco insensível, mas não podia fingir que não tinha ficado magoado com ele. Naquela época, chegou a pensar que havia sido trocado por uma coisa banal, mas hoje em dia ele sabe que cometeu um erro. Vernon sempre foi apaixonado pelo esporte, mas naquele período Jimin não enxergava isso como algo positivo para o relacionamento deles.

No entanto, pensou, se ele não tivesse se sentido magoado e agido com egoísmo, não teria se desapegado de Vernon. Apesar de tudo, essa situação colaborou para o seu crescente interesse em Jungkook. E, honestamente, Jimin não pretendia abrir mão de seu relacionamento com Jungkook por causa de alguém que ressurgiu do nada.

– Jimin, vamos esquecer tudo isso. – disse Vernon, se arriscando a tocar no rosto dele. – Eu voltei para Washington só para ficar com você. A gente não pode se afastar assim por causa de um desentendimento. Por favor, tenta me entender.

– Pare de insistir. – ele disse, arrastando a mão dele para longe de seu rosto. Um olhar de mágoa pesou sobre a expressão de Vernon. – Eu já disse que as coisas mudaram. Muita coisa aconteceu enquanto você esteve fora.

– O que você quer dizer com isso?

Com um suspiro, Jimin se levantou. Ele não queria continuar insistindo nesse assunto, ainda mais sabendo que isso não levaria a nada. Vernon estava no seu direito de questionar os motivos, assim como Jimin também tinha o direito de não contar.

– É muito difícil te contar isso. – Jimin disse, esfregando a mão no rosto para aliviar a tensão.

Vernon se pôs de pé imediatamente e segurou as bochechas dele entre as mãos, o que o fez olhar nos seus olhos. Jimin não recuou como gostaria, apenas se manteve imóvel conforme o encarava.

– Amor, nós sempre confiamos um no outro. Você pode se abrir comigo. – Jimin quis chorar naquele momento, mas algo maior deteve essa vontade. – Eu não quero te perder, Jimin. Por isso faço questão que me conte o que está acontecendo com você.

– Não tem a ver com você. Não tem a ver com nós dois. – Vernon ficou confuso, mas continuou ouvindo-o. – Talvez um dia você descubra a verdade, mas eu não tenho coragem de te contar.

– Jimin.

– Quando você souber o que me aconteceu, por favor não me diga. Eu não vou ter coragem de olhar na sua cara. – Vernon ficou chocantemente preocupado com as palavras dele. – No momento, tudo o que você precisa saber é que as coisas mudaram. Eu mudei, inclusive.

– Você tá me assustando. – disse Vernon. – Alguém te feriu? Você acabou se envolvendo com alguém e essa pessoa te machucou?

Antes que Jimin tivesse a chance de abrir a boca, o som de um apito chamou a sua atenção para o treinador Alex parado no meio do ginásio. Um pequeno grupo de garotos estava às suas costas se aquecendo para o treino.

– Não é hora de bater papo, Vernon. Vamos! É hora do treino!

Vernon suspirou em aborrecimento, mas gesticulou em concordância, pedindo um pouco mais de tempo. Em seguida, virou-se para Jimin.

– Eu tenho que passar as táticas para o time agora. Podemos nos ver na minha casa?

– Melhor não. – Jimin recusou rapidamente. – Eu tenho outro compromisso mais tarde.

– Amanhã eu vou estar aqui também. Podemos nos encontrar nesse mesmo lugar. O que acha disso? – Jimin engoliu um espesso bolo de saliva. – Eu quero muito recomeçar o nosso namoro. Você sabe, recuperar o tempo perdido, consertar os erros...

– Vernon! – o treinador berrou para chamar a sua atenção.

– Tenho que ir agora. Depois nos falamos. – ele selou a bochecha de Jimin em despedida, depois se apressou pelos degraus abaixo, juntando-se aos demais.

Jimin quis socar a sua cara por não ter dito a ele sobre Jungkook quando teve a chance. Agora Vernon estava pensando que eles ainda podiam recomeçar o namoro, o que era um tremendo equívoco. Bem, pelo menos agora ele sabe que Jimin não é mais o mesmo garoto de um ano atrás, então isso pode facilitar na sua tentativa de assumir que está apaixonado por outra pessoa.

Antes de contar a verdade para Jungkook, primeiro Jimin pretendia esclarecer os fatos com Vernon, assim ele não se sentiria culpado pelas futuras decepções.

Após um momento de reflexão, Jimin recolheu sua mochila do banco e a pendurou no ombro, em seguida se apressou para fora do ginásio. Ele saiu tão depressa que quando Vernon olhou na direção das arquibancadas já não o viu mais. Jimin aproveitou que os corredores estavam vazios para sair pela porta leste.

Jimin ainda chegou a cogitar em voltar à sala de aula, mas sabia que Josh continuaria com as provocações, então ele tinha de pensar em alguma coisa para se esquivar de seus ataques antes de voltar a pisar naquele lugar, e para isso precisava de um tempo sozinho.

Sem nenhuma expressão no rosto, Jimin passou pelo portão principal após o porteiro abri-lo. Havia uma lanchonete do outro lado da calçada com mesas e cadeiras fora do estabelecimento. Algumas pessoas estavam tomando o seu café da manhã ao ar livre, algo que Jimin considerava relaxante.

Com isso, ele atravessou a rua e escolheu uma mesa mais afastada. Jimin ficou sentado lá, esperando com uma falsa expectativa enquanto os funcionários atendiam outras mesas. Para ser honesto, ele nem queria estar ali, apenas elegeu aquela lanchonete porque foi a primeira opção que surgiu para escapar do colégio por alguns minutos.

– O que o meu príncipe faz fora da torre? – uma voz perguntou às suas costas.

Quando Jimin virou a cabeça na direção da voz, um espontâneo sorriso brotou em seus lábios. Era Jungkook. Ele estava usando óculos de sol e uma blusa social, o que sugeria que ele estava em horário de trabalho. O garoto não mediu suas ações quando pulou nos braços de Jungkook, que acabou dando uma risadinha gostosa com a surpresa do abraço.

– Jungkook! – ele disse, sentindo-se mais leve, seguro e tranquilo.

– Oi, anjo.

Parecia loucura, mas Jungkook sempre surgia nos momentos em que Jimin estava vulnerável. Era como se ele tivesse um radar capaz de detectar qualquer mágoa no coração de seu menino. Jimin não podia negar que toda vez que estava perto de Jungkook, seu coração ficava alguns batimentos mais calmo. Ele definitivamente era o seu aconchego.

– O que está fazendo aqui? – Jimin perguntou, afastando-se para olhá-lo nos olhos. – Você não devia estar no departamento?

– Eu estou indo pra lá. – ele sorriu. – Na verdade, eu estava passando aqui perto e te vi. A propósito, você não devia estar na sala de aula?

Jimin engoliu, mas não fugiu da pergunta.

– Sim. – ele abaixou os olhos instantaneamente, depois voltou a encará-lo. – Mas eu desisti no último minuto. Você sabe que ainda não me sinto pronto.

– Anjo...

– Eu prometo que amanhã vai ser diferente. Vou me esforçar para conseguir terminar a escola.

– Tem certeza?

– Sim, eu tenho. Não se preocupe.

Jimin não conseguia enxergar os olhos de Jungkook por trás dos óculos, mas supôs que ele estava com um olhar de preocupação. Esse pensamento fez sentido quando as linhas ao redor dos lábios do detetive ficaram mais espremidas.

– Tudo bem. – Jungkook disse, colocando uma mecha loira para trás da orelha dele. – Pelo menos posso levar o meu namorado para casa?

O garoto abriu um sorriso envergonhado.

– Claro que pode. – ele fez um pequeno bico com os lábios. – Eu nem queria comer mesmo.

Jungkook riu.

– No caminho eu compro uns donuts para você. O que acha?

– Você me mima demais. Golpe baixo.

Após rir mais uma vez de seu comentário, Jungkook selou seus lábios suavemente, em seguida envolveu o braço ao redor do ombro dele enquanto Jimin se empacotava em seu abraço, ficando com a cabeça apoiada em seu peito. Conforme caminhavam até o carro, muitos olhares de apreciação vinham de todas as direções. Jimin quis acreditar que todos eles eram para Jungkook.

– Você tá tão bonito. Acho que vou ter um problemão. – Jimin comentou em um tom de brincadeira. Jungkook riu.

Ele beijou o topo de sua cabeça, como se quisesse dizer que isso não seria um problema.

– Isso não me afeta porque eu estou apaixonado por um garoto incrível. Você o conhece? – Jungkook disse.

– Não. Quem é o felizardo? – Jimin entrou na brincadeira.

– Ele tem um sorriso lindo, sabe dançar como ninguém e beija bem pra caralho.

– Hummm, eu gostaria de conhecê-lo depois.

De repente, Jungkook parou de andar para abrir a porta do carro para ele. Nesse momento, Jimin o olhou com fascínio, tanto pelo que ouviu, quanto pela beleza dele. Às vezes, ele desacreditava que alguém como Jungkook pudesse se apaixonar por um garoto como ele. Eles eram tão diferentes, mas se entendiam tão bem.

Por um instante, Jimin voltou em retrospectiva e lembrou-se do que aconteceu no colégio minutos atrás. Com certeza Jungkook faria perguntas, então ele precisava estar pronto para contar sobre Josh e, quem sabe, sobre Vernon também.

Jungkook não era bobo, ele havia sacado a mudança de comportamento de Jimin, apesar do menino fazer o possível para agir naturalmente. A verdade era que ele não queria tocar no assunto em meio a tantas pessoas, aquilo poderia deixar Jimin desconfortável. Em razão disso, optou por deixar a conversa para mais tarde.

Dentro do carro, no entanto, eles puderam se beijar à vontade, pelo menos trocar um beijinho de saudação que não foi dado antes. Com o cinto de segurança posicionado, Jungkook girou a chave na ignição e logo deu partida. Jimin ficou aliviado por estar com ele, tão aliviado que o momento anterior voou para longe como fumaça no céu.

– Jungkook – ele murmurou um pouco manhoso demais, em seguida deitou a cabeça no ombro dele. – Posso te pedir uma coisa?

– Claro, anjo.

– A gasolina do seu carro deve me odiar por isso, mas eu queria te pedir para me deixar na casa do meu pai. Eu estou com saudade dele.

Jungkook sorriu de forma meiga e então balançou a cabeça em um sim. Ele ainda trocava farpas com Seokjin, mas não podia negar que se sentia aliviado ao ver Jimin se dando muito bem com ele. Seokjin, por mais tempo que tenha passado longe de seu filho, conseguia aconselhá-lo como ninguém. Exceto Jungkook, obviamente.

Por isso, Jimin sabia a quem recorrer agora. Nesse momento, Seokjin era a melhor pessoa a lhe direcionar, uma vez que ele estava se sentindo no meio de uma batalha moral, capaz de deixá-lo atordoado.

✭✭✭

Oi meus amores, como vocês estão? Esse capítulo foi curtinho, mas os próximos vão ser mais grandinhos. Espero que tenham gostado, só revisei apenas uma vez.

Hoje vocês puderam conhecer um pouquinho do Vernon, ele ainda vai aparecer mais vezes, então tem muita coisa pra rolar. Como em todo lugar tem um pé no saco, aqui nós temos Josh Parker, em breve vocês vão conhecê-lo por foto.

Aliás, amanhã começa a pré venda do livro físico de dangerous, todas as informações estão no perfil da editora violeta. Quem ainda está por fora e deseja comprar o livrinho, corre lá para o perfil deles e confira tudinho.

Enfim, tenham um ótimo dia e se cuidem direitinho <3

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