twenty three᠉

Do lado de fora da sala de interrogatório, Jungkook olhava para o suspeito com uma expressão séria enquanto o observava em silêncio. Após trazê-lo para o prédio do FBI, o detetive requisitou que o prisioneiro fosse inspecionado dos pés à cabeça para verificar se não havia escutas, câmeras ou rastreadores. 

Apesar de nenhum dispositivo eletrônico ter sido detectado, Jungkook continuava desconfiado. Ele não estava reclamando de ter feito uma operação rápida, mas não podia negar que a passividade do homem o intrigou. Nada tirava da sua cabeça que tudo aquilo fazia parte de um plano.  

Jungkook estava com os braços cruzados no peito, à espera de uma solução. O prisioneiro se recusou a falar com todos os detetives designados para o interrogatório, afirmando que só contaria a verdade se Jimin estivesse por perto. Nenhuma abordagem, até então, tinha dado certo.

O detetive ainda não tinha entrado na sala para interrogá-lo, pois queria estudá-lo antes de desenvolver as perguntas. Ele sabia que a abordagem tradicional não funcionaria com aquele homem, então sua única alternativa era investir em um método arriscado.

Mesmo que a decisão do homem fosse, exclusivamente, falar com Jimin, o detetive não aceitaria. Ele não iria permitir que o garoto se envolvesse nos casos do FBI, embora as circunstâncias estivessem trazendo-o para o meio das ocorrências. 

Jungkook desviou os olhos do prisioneiro no momento em que Jared abriu a porta. Após descobrir que outro membro da facção foi preso, o inspetor se sentiu na obrigação de assistir ao interrogatório. 

Ele observou os detetives do lado de fora da câmara em que o preso estava e enrugou a testa em sinal de confusão. Até então, Jared parecia confiante com a captura de mais um criminoso, porém esse sentimento começou a ruir quando analisou as expressões de seus colegas de equipe. 

— O que está acontecendo? Por que não estão lá dentro interrogando o nosso prisioneiro? — ele perguntou para ninguém em específico. 

— Ele não responde nada — Layla disse. — Já tentamos de tudo, mas ele se nega a falar. 

— Uma pessoa como ele deve estar atrás de um acordo… — O inspetor refletiu consigo mesmo enquanto folheava suas opções. — O que ele pensa de um acordo entre os dois governos? Podemos negociar a prisão dele com o governo russo.

— Na verdade, ele quer outra coisa. — Jared  não escondeu a curiosidade ao ouvir a resposta de Layla.

— E o que ele quer, afinal? 

Layla olhou para Jungkook de relance, aguardando a autorização dele para abrir o jogo para Jared. Tanto ela quanto Jungkook sabiam que se contasse a verdade, o inspetor poderia atender ao pedido do criminoso.

— Eu quero falar com Park Jimin. — A voz do homem ecoou nos alto-falantes, consciente de que estava sendo ouvido pelas autoridades. 

Jungkook bateu a mão na própria testa mentalmente, revoltado pelo prisioneiro ter dado a Jared a resposta que ele procurava. Porém, já era de se esperar que ele fosse repetir aquela frase até ser atendido. 

— O que o sr. Park tem a ver com esse homem? — O inspetor perguntou. 

— Jimin o conheceu na boate — Foi Layla quem respondeu. — Eles se viram apenas uma vez e, pelo que me lembro, Jimin não disse o seu nome. Ele o descreveu para a equipe de Arte Forense.

— Que estranho… por que ele deseja tanto ver o sr. Park? — Jared murmurou.

— Nem pense em chamá-lo. — Jungkook, finalmente, decidiu se pronunciar. — Jimin não tem preparo para fazer um interrogatório investigativo nem distintivo para assumir esse lugar. 

— Mas, talvez, ele possa ser orientado por nós. — Jungkook o encarou completamente insatisfeito com aquela fala. — Se essa for a única opção, vamos ter de recorrer a ela. 

— De jeito nenhum! — Jared o encarou de volta como se fosse dizer algo, mas optou por guardar os seus pensamentos para si. — Jimin não precisa se envolver. Eu não quero que ele tenha contato com esse caso. 

— Esse homem deve saber muito mais do que só o nome do seu garoto, detetive — Jared respondeu. — Querendo ou não, o sr. Park já está envolvido.

— Já está decidido — reforçou.

— Eu pensei que a sua teimosia tinha sido deixada para trás depois de você trocar de cargo, mas parece que ela sempre se manifesta quando o assunto é Park Jimin. — Layla esfregou os cantos dos olhos, sabendo que aquela conversa ia render muitas farpas e discussões. 

— Você está sugerindo que eu coloque um garoto inexperiente para interrogar um membro de uma organização criminosa que, até então, não sabemos o seu Modus Operandi e que já provocou dois atentados contra o FBI?!

— Ele não vai interrogar aquele homem, só vamos trazê-lo para que ele veja que o garoto está conosco. Jimin ficará protegido. — Jungkook balançou a cabeça para os lados, não acreditando que aquelas palavras estavam saindo da boca de Jared. — Onde mais ele estaria seguro senão dentro das paredes do FBI? Não vamos deixá-lo sozinho com esse homem.

— Eu acho melhor não trazer o menino — Layla interferiu, fazendo os olhos do inspetor pousarem nela. — Não sabemos tudo sobre essa organização, então é melhor colocarmos os melhores profissionais para trabalhar neste caso. Acho muito arriscado deixar o Jimin cara a cara com esse homem, não sabemos as intenções dele nem do Zakon.

— Layla está certa, é muito arriscado trazê-lo aqui — Jungkook assegurou.

— Você, detetive, deveria saber que ser seu namorado já é um risco que ele está correndo. — As palavras de Jared fizeram Jungkook, surpreendentemente, se calar. — A partir do momento que vocês começaram a se envolver, o nome do seu garoto passou a estar na boca de diversas facções. Então eu lhe pergunto: você acredita mesmo que pode protegê-lo o tempo todo? 

Embora soubesse que as palavras de Jared eram verdadeiras, Jungkook não quis dar a ele a certeza de que tinha atingido-o. O detetive tinha consciência de que Jimin não estava totalmente protegido, ainda mais por namorar o diretor do FBI.

Enquanto detetive, Jungkook já provocava diversas rebeliões, agora como diretor-assistente, os olhares sobre ele começaram a se expandir, tornando a sua morte o principal apetite de outras organizações criminosas. 

— Eu vou interrogá-lo — o detetive disse por fim, ignorando a opinião de Jared. — Se ele não disser nada, eu procuro um jeito de fazê-lo abrir a boca. Layla, venha comigo. 

O inspetor não disse mais nada, apenas permitiu que Jungkook assumisse aquela postura e prosseguisse com a própria decisão. Ele observou Layla acompanhar o detetive até a sala em que o prisioneiro estava, esperando que ela o encarasse de volta, mas a mulher passou direto. 

Quando a porta da câmara foi aberta, o criminoso levantou os olhos. Havia um olhar de expectativa em sua expressão que não passou despercebido por Jungkook. Ele tinha certeza que o homem aguardava a aparição de Jimin, que, para o seu azar, não estava entre os recém-chegados.

— Vamos direto ao ponto — disse o detetive antes mesmo de sentar-se. — Eu quero saber para quem você trabalha. Podemos tentar um acordo com o governo russo caso nos dê informações sobre a facção da qual faz parte. 

— Eu não sei do que você está falando, detetive — rebateu o homem com um tom de voz tranquilo, inabalável. — Existem provas das suas acusações? 

— Você frequentava boates ilegais de prostituição. Uma das vítimas te reconheceu a ponto de descrever o seu retrato. Resumindo: você está fodido. 

— Por um acaso a vítima se chama Park Jimin? — ele sorriu. — Eu gostaria de falar com ele.

— Não. 

— Então, eu não direi nada. 

— O que gostaria de dizer ao garoto? — Foi Layla quem perguntou. 

— Algumas coisas que sei sobre Zakon — respondeu.

— A sua tatuagem é antiga, o que significa que você está há um bom tempo na facção. — Jungkook analisou enquanto observava-o. — O que te levaria a trair o grupo de repente? Quem garante que veio até aqui só para confessar os segredos do Zakon? 

— Eu tenho os meus motivos. 

Naquele momento, o detetive percebeu que ele estava se esquivando de respostas longas para não se comprometer, porém tinha a sensação de que se pressionasse um pouco mais, ele confessaria.

— Sabe o que eu penso? — Jungkook arrastou uma cadeira e sentou-se nela. — Você não está aqui para falar sobre os segredinhos do seu grupo, está aqui porque procura algo que só o FBI tem. É por isso que você quis ser preso, assim como o seu comparsa, Vladislav. 

O sujeito manteve-se em silêncio, mas Jungkook pôde observar um pequeno músculo se espremendo na mandíbula dele, denunciando a sua faísca de raiva. Estava claro o quão perto o detetive estava de alcançar uma boa resposta sem que o marmanjo percebesse.

— Você esteve envolvido na morte da Samantha? — Layla perguntou, quebrando o silêncio, mas os olhos do homem continuaram fixos em Jungkook.

Silêncio.

— Sabemos que pessoas com a mesma marca que a sua são assassinas de aluguel — Jungkook pontuou enquanto formulava sua opinião. — Talvez você tenha matado-a por ela ter falhado com uma das encomendas do Zakon.

Um pequeno sorriso ameaçou se abrir nos lábios do homem, mas ele conteve o movimento. Jungkook, por outro lado, prestou atenção na reação dele e interpretou-a como um gesto de deleite. Ali, o detetive deduziu que ele sabia de algo por trás da morte da agente.

— Não podem me manter preso, não sou um cidadão americano. — O homem rebateu, acreditando que sua queixa seria ouvida. 

— Você não apresentou o seu visto de imigrante, então podemos considerar que está no nosso território de forma clandestina. — Ele apoiou os cotovelos sobre a mesa, como se desafiasse o prisioneiro. — Sabe o que isso significa? Nós podemos te manter preso. 

— Além disso, você esteve envolvido com a máfia que traficava pessoas, o que te deixa ainda mais encrencado, meu querido. — Layla disse com um pequeno sorriso no rosto. 

— Vocês acham que sabem de tudo — o prisioneiro desdenhou. 

— Por que não nos conta? — O detetive perguntou com um tom debochado. — Afinal, você deve conhecer muitas coisas sobre o seu chefe. 

— Eu já disse: vou falar apenas se você me trouxer Park Jimin. 

De repente, Jungkook ergueu-se da cadeira e deu um leve soco na mesa, mas antes de agarrar o prisioneiro pelo colarinho, Layla segurou o seu ombro como se quisesse alertá-lo que eles estavam sendo assistidos. 

— O garoto já está aqui — Layla mentiu. — Mas ele não pode entrar na sala devido ao protocolo de segurança. Você terá que falar com ele através do interfone. 

Imediatamente, Jungkook entendeu aonde Layla queria chegar: ela cogitou, de forma estratégica, usar a inteligência artificial para modificar a voz e fazer parecer que pertencia a Jimin. Esse método costumava dar certo em quase todos os casos. 

— Eu quero vê-lo pessoalmente — o marmanjo exigiu.

— O acordo não é esse. — Layla discordou. — Pode ouvir a voz dele nos alto-falantes se concordar com os nossos termos, caso contrário o detetive Jeon terá o prazer de te apresentar a área subterrânea do FBI. 

O homem olhou para Layla como se pudesse atingi-la com o seu ódio. Ele não gostou nada de ouvir a ameaça por trás da fala dela. De qualquer forma, aquilo não foi suficiente para intimidá-la. 

— Chega de enrolação! — Jungkook perdeu a paciência. 

— Tenha paciência, detetive — ele esnobou.

Jungkook o segurou pela camisa e olhou no fundo dos olhos dele, fazendo-o sentir a sua ira. 

— Se não me contar o que sabe, você vai desejar nunca ter cruzado o meu caminho. — o marmanjo não reagiu àquela ameaça, mas Jungkook o observou engolir em seco. — Está claro para você aonde quero chegar, filho da puta?

Uma pequena sombra agitou-se nos olhos do marmanjo, mas ele não parecia assustado, tampouco com medo. O que havia nos olhos dele era um presságio de suas intenções. 

Naquele momento, Jungkook chegou a conclusão de que o homem planejou ser capturado, o que significava que ele deveria tomar cuidado com as confissões do prisioneiro, pois elas poderiam ser facilmente inventadas.

Jungkook ainda não havia descoberto o que eles procuravam na sede do FBI, mas estava claro que a prisão dos dois membros do Zakon foi intencional. Embora não tenha encontrado nenhuma prova para fortalecer essa teoria, o detetive acreditava que a falta de ação ao serem apreendidos indicava uma premeditação.

— Você tinha uma agência de modelos na Rússia, mas ela foi fechada logo após a morte do Namjoon. — Layla apresentou os fatos quando um longo silêncio se instalou. — Você o conhecia? 

— Não.

— E mesmo assim chegou a frequentar a boate dele?

— Eu conhecia o Derek — respondeu. — Ele me ofereceu uma noite com Park Jimin em troca de um esconderijo. 

— Está mentindo! — Jungkook acusou. — Derek era obcecado pelo Jimin. Ele nunca o usaria como moeda de troca. 

— Tem razão, ele era louco por esse garoto, mas, naquela noite, ele o prometeu a mim. — sua justificativa estava longe de convencer o detetive. — Mas antes que eu pudesse sequer tocar no garoto, ele me chamou para dizer que desistiu do esconderijo. 

— Por que ele estava atrás de um esconderijo? — Layla perguntou.

— Para fugir com o garoto. 

Jungkook percebeu que o sujeito não hesitava em responder porque as perguntas estavam longe de envolver o Zakon, o que, teoricamente, deixava-o confortável. Portanto, ele decidiu mudar o tópico do interrogatório. 

— Nós sabemos que o Zakon está envolvido nos atentados contra o FBI, o que me faz pensar que você participou de algum deles.

— Não, eu não participei, mas sei quem tentou te matar, detetive. 

— Diga — ele ordenou.

Um sorriso divertido desenhou os lábios do sujeito como se a informação que guardasse fosse surpreender Jungkook. O deleite no rosto dele estava começando a irritar o detetive. 

— Samantha. — Jungkook enrugou a testa diante da resposta dele. — Ela foi nomeada para te matar, mas falhou na tentativa. Então o nosso comandante decretou a morte dela.

— Quem é o seu comandante? 

— Não posso falar. 

O detetive estava convencido de que todas as informações dele foram selecionadas com antecedência, ou seja, tudo o que estava sendo revelado, provavelmente, foi autorizado pelo Zakon. Jungkook só tinha que entender o objetivo por trás dessa estratégia. 

Estava claro que os membros do Zakon eram fantoches de um líder sanguinário, que apresentava as missões como se fosse um simples jogo de entretenimento. Aqueles que falhassem, pagariam o preço com a própria vida. 

— Quem ordenou a minha morte? — Jungkook perguntou de repente. Se o criminoso não quis lhe dizer o nome do comandante, ao menos ele descobriria o paradeiro por trás do atentado que sofreu.

— Uma pessoa encomendou a sua morte, detetive, e o preço que ela ofereceu pela sua cabeça equivale a cinquenta vezes o seu salário. — Ele abriu um sorriso, parecendo se divertir com a situação. — Não me pergunte sobre isso, ninguém sabe a sua identidade exceto o líder do Zakon.

— Então, suponho que você tenha acesso a lista com todas as encomendas, não é mesmo? — Layla perguntou.

— Claro que sim! — Os olhos dele caíram sobre Jungkook. — Inclusive, o nome do seu garoto está na lista, detetive. E quer saber quem recebeu a missão de matá-lo? — um sorriso venenoso reluziu em seus lábios secos. — Hannah Miller, a suposta melhor amiga dele. 

A cabeça de Jungkook quase explodiu com aquela informação. Ele levou alguns segundos para processar as palavras do prisioneiro. 

— A garotinha rebelde recebeu algumas instruções do Vladislav, mas no final das contas, ela não conseguiu levar a missão adiante — o homem continuou. — É por isso que tentaram matá-la. 

— Você tentou matá-la! — Jungkook rebateu. — Você foi enviado para assassinar a Hannah por ter falhado com a missão, por isso foi atrás dela no hospital e na clínica. 

O detetive estava começando a entender a motivação do criminoso: ele concordou em ser preso porque sabia que Hannah estava no prédio do FBI e matá-la era mais importante para o seu ego do que salvar a própria pele. 

Ele não se importava em ser preso desde que Hannah estivesse morta.

— Podem levá-lo. — O detetive decretou, para a surpresa de todos que os ouviam, inclusive do prisioneiro. — Coloquem-no em uma solitária. Amanhã eu vejo o que faço com ele. 

— Eu pensei que quisesse ouvir o que tenho a dizer, detetive. 

— Por hoje, não mais. 

O homem abriu a boca para protestar, mas não teve tempo sequer para pensar nas palavras, pois, de repente, dois policiais fardados entraram na sala de interrogatório para levá-lo à cela. Jungkook continuou imóvel e em silêncio enquanto o assistia ser arrastado para longe.  

Layla se aproximou do colega quando, finalmente, se flagrou a sós com ele. 

— Você acredita no que ele disse? — ela perguntou. — Acha que o Jimin pode ser um alvo? Por quê? Ele não é do FBI. 

— Mas é a pessoa a quem eu jurei proteger enquanto estiver vivo. — Os olhos dele continuavam fixos em um ponto distante. — Quem o machucar vai estar me machucando também, muito mais do que me ferir fisicamente. 

— Temos que colocá-lo no Programa de Proteção.

 Jungkook concordou com um pequeno movimento de cabeça. 

— Eles escolheram a Hannah porque sabiam que ela era a única que podia feri-lo sem medir esforços. — O detetive observou. — Se ela não tivesse hesitado, o Jimin poderia estar morto. 

— Então podemos supor que ela sofreu uma tentativa de homicídio por voltar atrás na decisão e não querer machucar o Jimin — Layla acrescentou, pensativa. — Quando exatamente as memórias dela voltaram? Talvez tenha sido esse o motivo que a fez desistir. Alguma coisa, nessa situação, pode ter gerado um gatilho nela a ponto de fazê-la se lembrar de quem era o Jimin. 

— O que quer que tenha acontecido, impediu que ela machucasse o Jimin — ele falou. — Quero que fique de olho nela e garanta que esteja segura. Eu vou enviar uma equipe para inspecionar a casa do Taehyung. Como a Hannah está morando lá, talvez existam provas do que estamos procurando. 

— Sim, senhor. 

— Onde você vai, Jeon? — A voz de Jared ocupou a sala, fazendo Jungkook girar na direção do inspetor. Ele estava a um metro e meio de distância. — O que deu em você para interromper o interrogatório? 

— Vamos verificar as informações primeiro. Não quero perder meu tempo ouvindo um monte de histórias inventadas enquanto os reais problemas passam despercebidos — respondeu. — Se tudo o que ele disse for verdade, então vamos interrogá-lo de novo.

— Está indo atrás do Jimin, não é mesmo? — Jungkook podia negar a acusação de Jared, mas ele preferiu manter-se em silêncio. — Tome cuidado com as coisas que contará ao garoto. Este caso é confidencial. 

— Eu sei disso.

— Ótimo. Não quero problemas com a Scarlett. 

— Pode falar com o Yoongi para procurar a lista de encomendas do Zakon? Ele é bom nisso — Jungkook perguntou, ignorando o nome da supervisora. — Eu pediria pessoalmente, mas tenho que falar com o Jimin.

— O que dirá ao garoto?

— O nome dele foi mencionado por este homem várias vezes, se ele estiver na lista do Zakon eu devo preveni-lo. Esse é o meu dever enquanto detetive também. 

Jared sabia que não era o lado detetive de Jungkook que estava falando, mas, ainda assim, ele decidiu se convencer daquela resposta para não prolongar o assunto. E, obviamente, Jungkook percebeu a desconfiança do inspetor, mas não se importou com ela. 

— Se me permitem, eu vou ver como a Hannah está e verificar se os resultados laboratoriais estão prontos — Layla comunicou antes de se deslocar para fora da sala.

Jungkook aproveitou a saída da colega para se retirar também. Ele se virou e deixou a sala sem dizer uma palavra, pois, naquele momento, tudo o que lhe interessava era ir ao encontro de Jimin.

✮✮✮

Após chegar em casa e procurar Seokjin em todos os cômodos, Jimin verificou o celular para se certificar se ele havia deixado algum recado. Depois de conferir tudo, o menino trocou de roupa e enviou uma mensagem para o seu pai, dizendo-lhe que iria ao shopping. 

Como o tempo estava chuvoso, ele pensou em ligar para o seu motorista, mas lembrou-se que o homem estava de folga. Portanto, sua única alternativa era chamar um táxi.

Depois de algumas horas ele já estava de volta, porém Seokjin ainda não tinha retornado nem respondido sua mensagem. Secretamente, o garoto estranhou a ausência do pai.

— O que está fazendo? — Taehyung perguntou após avistar Jimin entrando em um cômodo com algumas caixas de papelão empilhadas.

O garoto respirou pela boca e deslizou as costas da mão pela testa para varrer o suor. Ele olhou para as caixas que estavam nas suas mãos e, em seguida, para Taehyung. 

— Quero criar uma sala de treinamento. Meu pai me disse uma vez que posso usar este cômodo. 

— E isso nas suas mãos, o que é?

— Equipamentos de luta. — Ele forçou um sorriso quando Taehyung abriu a boca em sinal de surpresa. — Eu esqueci de te falar que o Jungkook vai me ensinar algumas técnicas de defesa pessoal.

Jimin gostaria de dizer ao amigo que, na verdade, ele iria treinar em um galpão secreto, mas como Jungkook havia lhe pedido segredo sobre essa informação, o garoto considerou melhor não mencionar essa parte. 

O cômodo, na realidade, serviria para Jimin repassar os treinamentos que seriam realizados no galpão. Como Jungkook não teria tempo de ensiná-lo todos os dias, o garoto decidiu se aprimorar por conta própria.

Diante disso, ele comprou alguns equipamentos básicos para começar os treinamentos, tais como aparador de chute, luvas de boxe, faixas, caneleira, bolas de perfuração, aparador, manopla e alguns sacos infláveis. 

É claro que futuramente ele necessitaria de mais equipamentos, porém, no momento, a quantidade era suficiente. 

— Quer me ajudar a organizar? — Jimin perguntou, recebendo um aceno positivo de cabeça.

— Onde você conseguiu dinheiro para comprar tudo isso? — Taehyung quis saber, demonstrando curiosidade enquanto ajudava Jimin a carregar as caixas. 

— Eu usei o dinheiro da minha mesada. — Ele fez uma pequena pausa. — Meu pai manda toda semana. 

— Christopher? — Jimin confirmou com um murmúrio. — Quando ele volta? 

— Espero que logo.

Eles colocaram as caixas no chão ao mesmo tempo e voltaram para pegar o resto. Após transferirem todas as caixas para o cômodo, Jimin sentou-se no chão para abri-las. Taehyung agachou-se em seguida, agarrando a primeira que seus olhos avistaram. 

— Quando o Jungkook vai começar a te ensinar? 

Jimin demorou alguns segundos para responder. 

— Talvez hoje. — Taehyung, subitamente, pareceu interessado. — Ele precisa se organizar no trabalho e eu na escola antes de começarmos.

— Será que ele pode me ensinar a lutar também? — Jimin engoliu em seco, sem saber que resposta dar. — Você sabe, o Yoongi não liga muito pra essas coisas.

— Você já o chamou?

— Não, mas sei que ele não vai querer. — Ele deu de ombros e começou a desempacotar os equipamentos. — Pode parecer engraçado o que vou dizer, mas confesso que pela primeira vez estou com medo da Hannah. Então, quero aprender a me defender sozinho.

Na menção daquele nome, Jimin sentiu um profundo aperto no coração. Ele não tinha notícias da amiga, não sabia por onde ela andava ou o que fazia. A última vez que recebeu informações de Hannah, o FBI estava investigando o sumiço dela.

Até então tudo o que Jimin sabia era que Hannah foi achada, inconsciente, em um matagal e levada para o hospital às pressas. Depois disso, Jungkook não lhe disse mais nada. 

— Onde acha que ela está? — A voz de Taehyung expulsou Jimin dos próprios pensamentos. 

— No hospital. — Taehyung arregalou os olhos após a resposta do amigo. — Jungkook me contou que ela pode ter sofrido uma tentativa de homicídio, mas ainda não se sabe o que aconteceu de fato. 

— Caramba! Com quem essa menina se meteu?! — Jimin deu de ombros, disfarçando a sua tristeza. — Acho que ela precisa de uma oração. Tenho medo dela, mas também tenho pena.

— Eu não quero nem pensar nisso. 

Taehyung percebeu que a expressão de Jimin alterou após ele tocar no nome da garota. Por isso, tomou a iniciativa de mudar de assunto para animá-lo.

— Posso te fazer uma pergunta? — Jimin balançou a cabeça em afirmação. — Já pensou em entrar para o FBI?

— Eu no FBI?! — Uma pequena risada escapou de sua garganta. — Eu não nasci pra ser um agente do governo.

— Eu te acho muito inteligente. A academia de treinamento ia adorar te receber.

O menino refletiu por um segundo.

— Não tenho nada contra, mas a parte de ir à campo me faz querer desistir de qualquer possibilidade que exista. 

— Então quer dizer que existe, pelo menos, uma minúscula possibilidade de você entrar na academia do FBI? 

Na realidade, as palavras simplesmente escaparam da boca de Jimin, mas ele não tinha parado para pensar que a sua fala poderia ser, na verdade, um reflexo de um profundo desejo que se escondia em seu interior.

— Fala sério, eu ia me achar se entrasse na academia do FBI — Taehyung comentou enquanto arrancava os plásticos dos equipamentos. — Acha que os seus pais aprovariam a ideia? 

— Isso nunca vai rolar. Não da parte deles, mas da minha. 

— Cadê aquele Jimin apocalíptico que eu amo?

O menino soltou uma gargalhada e jogou um pedaço de plástico na cara de Taehyung, que revidou com um pedaço de papelão. Eles riram juntos e, então, um completo silêncio se estendeu.

— Eu não tenho estômago para lidar com os casos que o Jungkook lida todos os dias — Jimin explicou, sendo sincero com as palavras. 

— Então vamos continuar no nosso mundinho e tá tudo bem! — O garoto não pôde conter a risada com o comentário do amigo. — Agora me mostre o que você comprou.

Empolgado com a ideia de Taehyung, Jimin começou a desembrulhar o resto dos equipamentos, apresentando-os para o amigo. Muito entusiasmado, ele pegou as luvas de boxe e vestiu-as nas mãos. Taehyung, em contrapartida, se apropriou das faixas. 

Jimin posicionou os braços na frente do rosto, como Jungkook lhe ensinou no Canadá, e simulou alguns socos no ar. Taehyung paralisou diante de seu movimento, não por achar tosco, mas por se surpreender com o desempenho de Jimin. 

— Como aprendeu a fazer isso? — Taehyung perguntou, conferindo as próprias mãos antes de tentar imitar o que o outro fez. — Parece fácil olhando assim. 

— O Jungkook me ensinou passo a passo, mas eu demorei a pegar o jeito. 

— Ah, claro, o Jungkook… — Ele deu um sorriso de segundas intenções. — Ele deve adorar te ensinar coisas novas.

— Deixe eu te contar como aconteceu — Jimin virou-se de frente para o amigo, parecendo empolgado para contar o resto da história. — Eu o flagrei treinando sem camisa.

— Tem quanto tempo?

— Assim que nos conhecemos. Eu fiquei morrendo de vergonha, mas ele não pareceu se importar. — Suas bochechas começaram a ficar rosadas após reviver o momento em sua cabeça. — Ele estava suado dos pés à cabeça. Tenho certeza que ele percebeu que eu não tirava os olhos. 

— Bom, se eu estivesse no seu lugar, faria a mesma coisa. — Ele deu de ombros, como se aquilo fosse óbvio.

De repente, o celular de Jimin vibrou com a chegada de uma mensagem. Ele pensou em conferi-la, mas decidiu adiar e continuar o que estava fazendo. Novas mensagens chegaram no seu celular, três seguidamente, fazendo-o pegar o aparelho do bolso.

Suas sobrancelhas enrugaram-se ao ler os torpedos, que, curiosamente, se diziam pertencer a Jungkook. Taehyung observou a reação do amigo e decidiu perguntar:

— Tá tudo bem aí?

— Que estranho… — Ele fez uma pausa para encarar o outro. — É uma mensagem do Jungkook. Ele está perguntando onde estou e com quem estou. 

— E por que isso é estranho?

— Porque a mensagem é anônima — respondeu. — Jungkook e eu combinamos de não mandar mais torpedos, apenas fazer ligações.

— Talvez ele tenha pensado que você está em aula. 

— Ele sabe que não fui à escola hoje. — Jimin parou para ponderar. — Por que o Jungkook me mandaria uma mensagem anônima?

— Será que aconteceu alguma coisa?

— Não sei.

— O que diz a mensagem?

Jimin olhou para o celular novamente e verbalizou:

— "Anjo, onde você está? Está sozinho? Precisamos conversar em particular. Meu celular está sendo monitorado pela Corregedoria, não posso te enviar mensagens de lá. Aguardo o seu retorno".

Taehyung continuou em silêncio mesmo depois de Jimin encerrar a sua fala. O garoto o encarou como se esperasse por uma opinião.

— Devo responder? — Jimin perguntou quando não o ouviu comentar nada. 

— E dizer o quê?

— Posso jogar verde.

Taehyung balançou a cabeça para os lados.

— Mostre a mensagem para o seu pai, ele deve saber quando algo não está certo. 

— É claro que tem algo errado. — Ele largou as luvas na caixa e levantou-se do chão. — Você vem comigo?

— Onde você vai? 

— Vou atrás do Jungkook. O meu pai não está em casa. 

— Vai sair sozinho depois de receber uma mensagem esquisita? — Ele estalou a língua no céu da boca e balançou a cabeça para os lados. — Nem pensar, mocinho!

— E o que eu devo fazer?

— Primeiro você vai ligar para o Jungkook — ele instruiu. — Depois vai entregar o celular para ele. Seu namorado deve saber o que fazer com isso.

— E se o Jungkook…

Jimin interrompeu as próprias palavras depois que um ruído distante penetrou os seus ouvidos. Ele ficou imóvel, tentando ouvir o barulho novamente. Taehyung, instintivamente, começou a ficar assustado com a súbita mudança de comportamento do amigo. 

— Você ouviu isso? — Jimin sussurrou. 

O som ecoou novamente e pareceu vir do lado de fora da casa. Jimin caminhou lentamente até uma janela próxima e inspecionou as extremidades da rua, vislumbrando, de relance, um desconhecido dentro de um carro preto.

Jimin tentou identificar o que ele estava fazendo, mas o borrão da chuva o impediu de alcançar uma resposta. Embora a cena enevoada tenha atrapalhado a sua visão, o menino conseguiu se dar conta de que o homem estava olhando fixamente para a sua casa enquanto falava alguma coisa no rádio. 

Um segundo depois, Jimin puxou a cortina bem a tempo de evitar que o marmanjo o flagrasse. Naquele momento, um pensamento invadiu a sua cabeça: a sua casa estava sendo invadida. 

— Temos que sair daqui — Jimin disse, desesperado. 

O coração de Taehyung começou a acelerar após ouvir aquelas palavras. Seu corpo sequer se moveu, apenas seus olhos observavam os movimentos de Jimin em busca de algo. 

— O que está acontecendo? — Finalmente verbalizou.

— Alguém está tentando invadir a casa e com certeza não é para roubar. 

O rosto de Taehyung expressou pânico. Jimin correu em direção a um armário, consciente de que Seokjin guardava alguns equipamentos de ataque. Ele fisgou duas lâminas pontiagudas, uma arma e um cartucho. 

Jimin entregou uma das lâminas a Taehyung após vê-lo se erguer do chão e começou a carregar o revólver. Taehyung olhou para o objeto em suas mãos como se não soubesse usá-lo e então voltou a observar o amigo. 

— O que vamos fazer? — ele perguntou a Jimin. — Nesta casa não há nenhuma passagem secreta? 

— Não.

— Seu pai é um ex-agente do FBI! — pontuou. — Como assim não tem passagens secretas?!

— Ele nunca me disse nada sobre passagens secretas, não vamos perder tempo procurando por uma.

Um ruído rascante reverberou nos ouvidos de Jimin, deixando-o ciente de que os invasores estavam forçando a porta de proteção. As batidas de seu coração ficaram mais intensas e, naquele momento, ele teve medo do que podia acontecer.

— Vem comigo. — Jimin puxou o braço do amigo para que ele o seguisse.

Taehyung não teve tempo de perguntar para onde estavam indo, apenas deixou-se guiar pelos passos do amigo. Jimin subiu as escadas e se aproximou de um cômodo diferente. A porta estava trancada com uma senha eletrônica, mas, por sorte, o garoto já tinha visto seu pai digitando-a. 

Após abri-la com um clique, Jimin e Taehyung entraram às pressas e fecharam a porta. Enquanto Jimin pegava o celular para ligar para Jungkook, Taehyung pesquisava um esconderijo para se esconder.

Havia muitas prateleiras dispostas no cômodo e todas elas amparavam diversos tipos de armas, munições e equipamentos de proteção. As paredes eram pintadas de preto e não possuíam janelas. O lugar, na visão de Jimin, não passava de um depósito de armas.

— O que vamos fazer agora? — Taehyung perguntou com a voz trêmula. 

Jimin o observou igualmente desprovido de soluções imediatas. O rosto de Taehyung estava branco, como se toda cor lhe tivesse sido retirada da pele. A respiração dele estava áspera e tão alta que poderia ser ouvida a muitos metros de distância.

— Eu também não sei o que fazer — respondeu.

A mente de Jimin não parava de clamar por uma solução. Naquele momento, ele se sentiu impotente, frágil e medroso. Quantas vezes Jungkook lhe ensinou a lutar e a se proteger? Quantas vezes Seokjin lhe mostrou os livros usados na academia de treinamento com todas as técnicas de enquadramento, proteção e evasão? 

Jimin parou para pensar nas suas opções. Ele podia se arriscar e dar de cara com os invasores ou encontrar um refúgio em algum lugar daquele depósito até conseguir falar com Jungkook. 

A última alternativa parecia mais inteligente, considerando que ele estava abrigado em um cômodo cheio de armamentos, porém, ao mesmo tempo em que as armas eram suas aliadas, elas poderiam se tornar suas rivais. 

À distância, Jimin escutou um ruído peculiar de passos, fazendo todos os músculos de seu corpo paralisarem. Os invasores já estavam dentro da casa. Naquele momento, o garoto se perguntou como eles conseguiram entrar tão facilmente em uma residência que, teoricamente, possui segurança máxima.

— Quem são essas pessoas? O que eles querem? — Taehyung perguntou através de um cochicho, como se as paredes também pudessem ouvi-lo.

Jimin não prestou atenção na pergunta do amigo, apenas continuou tentando ligar para Jungkook incessantemente. Ao perceber que as ligações estavam falhando, ele se deu conta de que os invasores tinham ativado um bloqueador para impedi-lo de usar qualquer aparelho eletrônico de comunicação.

— Droga! — ele murmurou um xingamento. — Eles estão bloqueando o sinal, não consigo falar com o Jungkook.

— O quê?!

Eles ficaram um instante parados, sem saber o que fazer. 

— Vamos ter que torcer para que eles não nos achem aqui. — Jimin falou.

— Você acha que eles conseguem passar por essa porta? — Seu coração começou a acelerar após interpretar a expressão de Jimin. — Eu vou morrer! Nós vamos morrer!

— Tenha calma, Taehyung! — Ele segurou-o pelos ombros. — Talvez nem saibam que estamos em casa.

— É claro que sabem! — Sua voz ecoou de forma estridente, fazendo-o cobrir a própria boca para abafar o som. Em seguida, seu tom diminuiu. — A mensagem que você recebeu foi deles. Eles sabem que o Seokjin não está em casa. Como eu pude pensar que estaria protegido na casa de um ex-agente do FBI? Pelo amor de Deus! 

Jimin não disse nada sobre aquilo, mas ele compreendia o desespero de Taehyung, até porque ele também pensou que estaria protegido na casa de Seokjin, uma vez que o lugar possuía recursos de alta tecnologia. 

No entanto, esses recursos não foram suficientes para impedir a invasão. 

Sabendo que eles estavam encurralados, Jimin vasculhou o cômodo em busca de algum esconderijo que os protegesse de um possível ataque. Ele sabia que a qualquer momento os invasores descobririam a sua localização e tentariam arrombar a porta. 

Jimin temia que esse momento estivesse perto. De repente, ele observou um baú enorme o bastante para esconder ele e Taehyung na retaguarda. Então, Jimin tocou o antebraço do amigo e apontou para o baú encostado no canto da parede. 

Juntos, eles arrastaram o objeto e se amontoaram no canto mais escuro, onde mal conseguiam se ver, em seguida sentaram de costas para o baú. Quando eles pararam de se mexer, um ruído de botas pesadas ecoou do outro lado da porta.

Jimin e Taehyung se entreolharam, horrorizados, à medida que os passos se aproximavam. Taehyung cobriu a própria boca para abafar o som de sua respiração. Jimin, por outro lado, respirou fundo para manter a calma. 

Seus pensamentos começaram a se organizar aos poucos e ele tentou se lembrar de todas as coisas que Jungkook lhe ensinou. Obviamente, em uma situação como essa ele não conseguia pensar em nada além de que iria morrer. 

De repente, eles escutaram algumas vozes cochichando. Jimin tentou prestar atenção no que eles conversavam, mas as palavras soaram estranhas em seus ouvidos. Ali, portanto, o garoto se deu conta de que os invasores estavam falando em outro idioma. 

Pela quantidade de passos que Jimin ouviu, ele supôs que tinham apenas dois homens dentro da residência, porém acreditava que, do lado de fora, havia muito mais. Esse pensamento o deixou em pânico.

Naquele momento, o garoto teve certeza que os invasores tinham descoberto a sua localização, uma vez que o som da máquina digital que trancava a porta pôde ser ouvido por Jimin. 

Ele escutou o coro das teclas depois de um minuto de silêncio, o que indicava que, neste período, os homens estavam analisando o aparelho eletrônico para decifrar a senha. Obviamente, Jimin pensou, eles utilizaram algum dispositivo de alta tecnologia para reconhecer as marcas digitais deixadas por Jimin. 

— Estamos fritos! — Taehyung murmurou em um chiado enquanto lutava contra o medo.

— Você sabe usar uma arma, não sabe? — Os olhos de Taehyung se esbugalharam. — Tá na hora de colocar em prática.

— Eu disse que tenho vontade de aprender — corrigiu.

Jimin fez um sinal com a cabeça para Taehyung e disse: 

— Eu vou para o outro lado. Fique aqui. 

Taehyung o segurou pelo braço antes que ele pudesse se mexer. 

— O que está fazendo?! Não podemos nos separar!

No momento em que Jimin abriu a boca para dar a sua resposta, a porta do cômodo foi brutalmente empurrada. Eles se abaixaram bem a tempo de evitar que o feixe da lanterna os encontrasse.

Os braços de Jimin cobriram Taehyung como se tentassem protegê-lo. Seus corpos estavam abrigados nas sombras, dificultando a visão dos invasores. O coração do garoto bateu mais depressa no momento em que um dos sujeitos se aproximou do baú. 

Jimin apertou a lâmina entre os dedos suados para se preparar. E então, numa fração de segundo, o garoto se virou e enfiou a faca no abdômen do homem, arrancando um grito irritado da garganta dele. 

Ele aproveitou para puxar Taehyung pelo braço e correr para longe. No entanto, o homem o agarrou pelo pulso, impedindo-o de se mover. Jimin sequer teve tempo de arquitetar uma solução, apenas segurou a arma e apertou o gatilho, fazendo a bala correr em direção ao peito do marmanjo.

Ele se desequilibrou para trás e tombou no chão. Com os olhos arregalados, Jimin correu para fora do depósito sem qualquer intenção de ficar para se certificar se o homem ainda estava vivo.

Ao alcançar o corredor, Jimin e Taehyung deram de cara com o segundo invasor. Ele usava uma máscara preta, mas foi possível identificar a sua fúria através do olhar. De certa forma, Jimin agradeceu por eles terem se separado pelos cômodos, o que deu a ele e a Taehyung tempo para fugir. 

— Corre! — Jimin gritou para o amigo quando viu o marmanjo apontar o revólver na sua direção. 

Ele abriu a primeira porta que observou e arrastou Taehyung para dentro, sentindo o rastro da bala atravessar atrás de suas costas e atingir um vaso de planta, arremessando estilhaços por todo lado.

Outro barulho de disparo preencheu o ambiente, alto e repentino, fazendo Taehyung soltar um grito de pânico. Jimin ouviu o marmanjo esbravejar alguma coisa, mas ele não conseguiu entender o que era.

O garoto se abaixou bem a tempo de esquivar-se de uma bala perdida. Seu coração estava batendo tão forte que ele tinha a sensação que o órgão poderia sair pela boca a qualquer momento.

Taehyung falou alguma coisa, mas Jimin não entendeu as suas palavras. Tudo o que ele viu foi o amigo correndo para outra direção. O garoto voltou alguns passos para fazer a mesma trajetória de Taehyung, mas o marmanjo emergiu na sua frente, fazendo-o tropeçar e cair no chão.

Quando Jimin ergueu a arma na direção do homem, um chute acertou a sua mão como um raio, fazendo o instrumento voar para longe. Então, a sua única alternativa era correr. Ele enviou toda coragem que tinha para as pernas e tentou se levantar, mas foi derrubado novamente. 

Com um rápido movimento, o homem pisou no peito do garoto para manter o corpo dele preso no chão. Jimin observou o marmanjo sorrir enquanto apontava a arma para o seu rosto. Para ele, a vitória estava garantida. 

Jimin desejou gritar, correr e se debater, mas todos os músculos de seu corpo ficaram paralisados, esperando o projétil acertar o seu rosto e apagá-lo. Quando o mercenário fez menção de apertar o gatilho, o garoto cobriu o rosto com os braços e, em seguida, escutou uma sequência de disparos. 

Não houve dor nem sofrimento. Ele parecia intacto. Ao se dar conta de que não tinha sido alvejado, o menino abriu os olhos e observou a boca do homem derramando sangue. O corpo dele despencou no chão, mas Jimin conseguiu rolar para o lado e escapar de ser esmagado. 

Seus olhos olharam à distância e enxergaram Jungkook correndo em sua direção. O detetive guardou o revólver no coldre e deixou as suas mãos livres para segurarem o rosto de Jimin. 

— Meu anjo… — Ele se ajoelhou rapidamente. — Eles te machucaram?

— E-eu estou bem. — Jimin não sabia o que "bem" significava naquele momento, mas ele decidiu considerar o fato de estar vivo. — Você me salvou. 

Jungkook soltou um suspiro pela boca, como se, finalmente, a ficha tivesse caído. Se ele não tivesse ido atrás do garoto para informá-lo sobre o Programa de Proteção, não teria chegado a tempo de salvá-lo, o que, provavelmente, culminaria em uma fatalidade.

Com esse pensamento na cabeça, Jungkook o trouxe para os seus braços na tentativa de dissipar a horrível sensação de perda. Uma mistura de alívio, preocupação e raiva brilhou em seus olhos.

— Quem são esses homens, Jungkook? — ele perguntou com a voz ainda trêmula de medo. 

O detetive olhou para o corpo do capanga, identificando a tatuagem de pentagrama no pulso esquerdo. Zakon. Seu sangue ferveu de raiva. O que aconteceu com Jimin foi, sem sombra de dúvidas, a gota d'água. 

— Eles vão pagar por isso, anjo. Eu juro. — Sua voz estava mais firme do que nunca.

Jimin recuou a cabeça para encará-lo. 

— Tem outro deles em um carro preto — informou.

— Eu já o deti — ele fez uma pausa crucial. — Onde está o seu pai? 

— Quando cheguei em casa, ele já não estava aqui. 

— Vou te levar para a minha casa, está bem? — O garoto concordou com um aceno. — O FBI vai cuidar das coisas por aqui.

— Taehyung — Jimin murmurou, deixando o namorado brevemente confuso. — Ele se separou de mim, não sei onde está agora. 

— Vamos procurá-lo, meu bem. 

Jungkook não podia negar que se sentia culpado pelo que aconteceu com Jimin. De certa forma, ele teve de engolir o veneno para, finalmente, entender a grande ameaça que estava no seu caminho. 

Por mais que tentasse evitar, Jimin não podia ficar fora do Programa de Proteção. O detetive pensou que por ele estar morando na casa de Seokjin, um ex-diretor do FBI, sua segurança estivesse garantida. No entanto, o susto que levou o fez reconhecer que estava enganado.

Diante disso, Jungkook pretendia levar o garoto para morar na sua casa por um tempo, assim ele estaria perto o bastante para protegê-lo. Mas antes disso, ligaria para Seokjin para contar-lhe o ocorrido.

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Olha quem apareceu? <3

Bom, aqui muitas informações importantes, prestem bastante atenção nos detalhes e lembrem-se: nem tudo é o que parece.

Quero aproveitar esse espaço pra agradecer vocês pelo apoio e por estarem comigo. Obrigada! Obrigada por sempre comentarem e curtirem os capítulos, tudo isso me motiva a continuar as histórias. Nada é mais satisfatório do que ver a reação de vocês.

Aguardem ansiosamente o próximo capítulo. Farei de tudo para atualizar mais rápido. Fiquem bem! <3

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