twelve᠉
Jimin resmungou baixinho após esbarrar em alguém na fila da boate. A ideia era ficar na casa de seu pai, como havia prometido a Jungkook, mas Taehyung insistiu que eles fossem em um clube para se divertir.
A princípio, Jimin resistiu, mas seu amigo ameaçou ir sozinho e, bem, o garoto sabia o que acontecia sempre que Taehyung bebia todas. Ele não queria acordar de madrugada após receber ligações de pessoas estranhas informando que seu amigo estava vomitando os órgãos ou tirando a roupa no meio da festa.
Em situações como esta, mesmo que Jimin não estivesse com o celular, Taehyung dava um jeito de comunicá-lo. Dessa forma, o garoto decidiu que iria comprar um novo aparelho e deixar o antigo nas mãos do FBI para que fosse investigado.
Lá dentro, o clube não estava tão cheio, embora a fila para entrar estivesse dobrando o quarteirão. Luzes multicoloridas refletiam na pista de dança onde um grupo de pessoas pulavam e gritavam ao ritmo da música. Jimin rolou os olhos ao redor, tentando localizar algum assento, mas uma mão o segurou pelo braço e o carregou em direção ao bar.
— Nós vamos começar pela cerveja, amigão — requisitou Taehyung assim que o barman se aproximou. Jimin o encarou confuso após a menção da palavra nós.
— Não, ele vai querer a cerveja. Eu não vou querer nada — protestou, recebendo um olhar embaraçado em sua direção.
— Ai, caramba, eu esqueci que você não gosta de bebidas alcoólicas. — Seu amigo espremeu a boca como se folheasse suas opções. — Que tal uma batida de frutas? É uma bebida suave, quase não dá pra sentir o gosto do álcool. Você vai gostar.
Jimin pensou em recusar a oferta, mas não quis decepcionar Taehyung. Eles tinham ido até lá para se divertir e, embora a bebida não seja um elemento ligado diretamente à diversão, Jimin não quis fazer desfeita.
— Tudo bem. Uma batida de frutas, então — aceitou, arrancando um sorrisinho dos lábios de Taehyung.
Enquanto o funcionário se virava para pegar os pedidos, eles aproveitaram para sentar em duas banquetas vazias antes que outras pessoas tomassem o lugar. Jimin prestou atenção nas pessoas que dançavam à sua volta e, infelizmente, lembrou-se dos dias em que esteve na boate. No começo, quando esta memória surgia, ele chorava e corria para bem longe, mas agora, depois de suas idas à psicóloga, já não sentia mais vontade de chorar sempre que entrava em ambientes como aquele.
— Diz aí, por que você está com essa cara? — Taehyung perguntou de repente, olhando-o com olhos curiosos.
Jimin encarou-o rapidamente, voltando a assistir os corpos dançantes na pista. Ele se sentiu hesitante em tocar no assunto por um instante, mas Taehyung não pareceu notar sua expressão devido às fortes luzes que piscavam contra os seus rostos. Então, sabendo que o amigo não iria largar do seu pé, Jimin decidiu abrir o jogo.
— Eu estou preocupado com o Jungkook. Ele sofreu um atentado no trabalho, então não paro de pensar se isso pode acontecer de novo. — Taehyung o encarou como se já soubesse da história, o que, claramente, soou estranho para Jimin. — Você já sabia disso?
— Yoongi me contou — ele suspirou, endireitando os ombros. — Ele me ligou várias vezes, mas eu não estava com o meu celular na hora. Quando retornei a ligação, ele disse que o FBI estava sofrendo alguns ataques e que eu devia ficar longe para não me tornar um alvo.
— Você acha que podemos nos tornar um alvo?
— Eu acho que o problema deles é com o FBI, não conosco. — Jimin ficou pensativo, considerando aquela possibilidade. — Mas não pense nessas coisas, ursinho. Eu te trouxe aqui para nos divertirmos! Eu sei que você fica preocupado com o Jungkook, mas ele é um oficial do FBI, ou melhor dizendo, o diretor-assistente, então essas coisas vão acontecer na vida dele.
— É, eu sei disso — respondeu, desanimado.
— Você ligou para o Jungkook? Olha, talvez, se você ligar para ele e perguntar como ele está, isso te deixe mais tranquilo — Taehyung sugeriu.
— Eu liguei antes de virmos para cá. Ele disse que, provavelmente, passaria a noite no trabalho. — Jimin hesitou por um momento, mas decidiu prosseguir: — Eu já devia imaginar que as coisas seriam assim quando começamos a namorar.
— Viver um amor arriscado é interessante. Por isso me envolvo com os caras do FBI. — Taehyung disse aquilo com orgulho, mas Jimin não entendeu sobre o que ele estava orgulhoso. — Ainda estou surpreso por você namorar o Jungkook, ele, definitivamente, não faz o perfil dos caras que você já namorou. Mas, veja só, vocês deram muito certo.
— Como assim não faz o meu perfil?
— Ele é o tipo de pessoa que adora se arriscar, você, por outro lado, não gosta do perigo. Acho que você se parece mais com o Yoongi.
— Claro que não!
Taehyung sorriu.
— Em outras palavras, isso é um sim.
— Olha, talvez eu seja medroso como o Yoongi, mas eu ainda prefiro o meu gatinho. — Seu amigo o encarou, divertindo-se.
— Você não ficaria com o Yoongi em outras circunstâncias?
— Óbvio que não.
— Assim eu me ofendo. — Jimin tentou esconder uma risada. — Falando assim até parece que o Yoongi é uma caveira.
— Ele é bonito, mas faz mais o seu tipo do que o meu. — Taehyung semicerrou os olhos. — Eu ainda acho o Jungkook mais atraente. É diferente. Ele é muito mais...
— Gostoso? — Jimin o encarou. — Realmente, ele tem cara de que é muito bom... — Ele fez uma pausa súbita quando os olhos de Jimin endureceram. — De papo. É isso, ele deve ser muito bom de papo.
Jimin balançou a cabeça para os lados, ciente do que Taehyung gostaria de falar. Seu amigo, definitivamente, não tinha papas na língua, então ele não dava muita importância para os seus comentários sobre Jungkook.
— Agora vamos mudar de assunto, porque eu não te trouxe aqui para falar de namorados — Taehyung disse, dando alguns beliscões sutis na barriga dele. Jimin finalmente riu, mas, antes, socou a sua mão.
Eles ficaram tão entretidos na brincadeira que não perceberam quando o barman retornou com as bebidas. O funcionário precisou acenar na frente dos rostos deles para que, finalmente, fosse notado. Jimin agradeceu gentilmente e sugou a sua bebida pelo canudo só para experimentar. Taehyung, por outro lado, dispensou o copo e decidiu tomar a sua cerveja no gargalo.
— E aí, já pensou no que vai vestir para o baile? — Taehyung perguntou sob a batida eletrizante da música.
— Ainda não, estou em dúvida entre vermelho e cinza.
— Ouvi dizer que será um baile de máscaras. — Jimin olhou para ele como se não tivesse gostado da informação. — Já estou preparando a minha máscara de renda.
— Como você soube disso?
— Carly me contou. Quem mais poderia ser? Ela é uma fofoqueira de plantão que finge não ouvir nada, mas está sempre atenta ao que os alunos e professores conversam na biblioteca.
— Deve ser por isso que você se tornou amigo dela, não é? — Taehyung olhou para ele com uma falsa expressão de mágoa. — Mas isso não importa, uma máscara não faz tanta diferença assim.
— Como assim "não faz tanta diferença"? A máscara é um acessório característico, as pessoas se atraem por você através dela. Você nunca assistiu Romeu e Julieta?
— O que Romeu e Julieta têm a ver com o nosso baile de máscaras? — ele perguntou, rindo.
— Romeu não vê o rosto de Julieta, mas ele se apaixona por ela mesmo assim. Sabe qual é a moral da história? — Jimin deu de ombros, negando. — A máscara faz toda diferença, mas, para Shakespeare, isso era para ser amor à primeira vista. Coisa brega!
Jimin revirou os olhos para o comentário de seu amigo, não levando-o a sério, até porque Taehyung não acreditava no amor. Jimin estava cansado de ouvi-lo dizer que o amor é uma construção social e que as pessoas não amam, apenas se atraem pelas características que satisfazem os seus desejos e fantasias.
No entanto, para Jimin, o amor existia. Ele não sabia explicar a dimensão desse sentimento, mas conseguia identificar quais eram as suas reações corporais ao estar perto da pessoa amada. Mesmo que Taehyung dissesse, às vezes, que o amava, ele sabia que o amigo não acreditava, de fato, na existência desse sentimento.
— Você falou com o Jungkook sobre o baile? — Jimin foi despertado pela pergunta de Taehyung.
— Sim, ele aceitou. — Seu amigo sorriu amplamente sobre a borda da garrafa. — Por que está sorrindo desse jeito?
— Por nada.
— Taehyung...
— Eu só estou curioso para ver a roupa dele. — Jimin espremeu os olhos diante de sua resposta, vendo-o fazer uma pausa. — E também para vê-lo encontrar o Vernon. Não me culpe por gostar de uma confusão.
— Até parece que o Jungkook iria arrumar confusão por ciúmes. Quanto a isso, eu posso ficar despreocupado.
Taehyung não disse nada, apenas tomou outro gole de sua cerveja enquanto tentava esconder o sorriso, que, para Jimin, parecia guardar outras intenções.
— Você não está pensando em provocar ciúmes no Jungkook, está? — Jimin perguntou, esperando que ele negasse, mas, em vez disso, Taehyung reagiu como se tivesse sido pego no flagra.
— Talvez... um pouquinho.
— Taehyung! — Ele beliscou seu braço, realmente chocado com a confissão. — Não se atreva a fazer isso, ok? Se você tentar fazer ciúmes no Jungkook, vou contar tudo para ele.
— Qual é, Jimin, não seja tão rabugento. Vai ser só uma brincadeirinha, eu prometo. — Jimin deixou sua bebida de lado e olhou feio para o amigo. — Olha, eu só quero fazer um teste com o seu namorado pra saber até que ponto ele consegue resistir.
— Isso não tem graça.
Taehyung bufou.
— Me conte, quantas vezes o Jungkook já sentiu ciúmes de você?
— Que eu saiba, nunca.
De repente, Taehyung sorriu para a sua fabulosa ideia.
— E você não sente vontade de fazer um pequeno ciúmes nele? — Jimin suspendeu as sobrancelhas como se não pudesse acreditar no que estava ouvindo. — Aposto que essa pose de macho alfa não duraria dois minutos.
— Olha, eu não estou interessado em fazer ciúmes no Jungkook. Além do mais, sou muito grato por ele não ser ciumento — Jimin argumentou. — Aliás, eu só estou indo a esse baile porque você insistiu. Então, pode tirar seu cavalinho da chuva antes que eu desista.
Taehyung não disse nada, apenas levantou as mãos em rendição e continuou a tomar a sua cerveja. Seu gesto dizia que o assunto havia morrido, mas, para Jimin, a sua expressão esboçava outra coisa. Não querendo prolongar o assunto, o garoto voltou a olhar para a pista de dança, onde as pessoas dançavam de forma desengonçada.
Muitas vezes, Jimin se divertia com as artimanhas de Taehyung, menos quando elas eram direcionadas a seu relacionamento com Jungkook. Seu amigo sempre gostou de brincadeiras arriscadas, o que, em alguns casos, chegava a preocupar Jimin.
Um momento se passou e depois outro. O clube começou a encher de pessoas, a pista de dança estava lotada de corpos suados e dançantes; o suficiente para Jimin se sentir agoniado. Enquanto isso, Taehyung dançava discretamente em seu assento, incapaz de conter seus movimentos.
Ele já estava caminhando para a vodka, enquanto a bebida de Jimin não tinha sequer chegado à metade. À distância, Jimin notou que um rapaz de jaqueta vermelha não parava de olhar para Taehyung. Ele até pensou em chamar a atenção do amigo, mas não sabia se o homem que o observava era encrenca.
Jimin percebeu que o rapaz estava rodeado de amigos, mas a sua atenção, obviamente, não parecia estar na conversa dos parceiros. Ele continuava a olhar na direção de Taehyung enquanto bebia algo em seu copo minúsculo. O garoto nunca o viu antes, mas supôs que era um ex-ficante do amigo ou alguém disponível a ser.
— Eu estive pensando — começou Taehyung, se aproximando de Jimin para que pudesse ser ouvido. — Nós devíamos tentar trazer a Hannah para esses lugares. Ela precisa sair um pouco de casa, acho que não está fazendo bem a ela.
Jimin, rapidamente, desviou os olhos do rapaz e o encarou.
— Ela te disse alguma coisa?
— Não, mas eu tenho observado alguns comportamentos dela. — Jimin espremeu as sobrancelhas em confusão. — A Hannah tem agido estranha em alguns momentos, sabe? Nós estamos morando juntos, mas ela não conversa muito comigo sobre as coisas dela.
Por um momento, Jimin ficou imerso na palavra estranha e decidiu investigar a que comportamentos Taehyung se referia quando dizia que ela estava agindo estranhamente.
— Por que você acha que ela está agindo estranha? — perguntou.
— Não é a primeira vez que eu a encontro parada de frente para o espelho admirando a barriga. — De repente, Jimin sentiu um sabor ácido subir à sua garganta. — Ela tem feito isso algumas vezes. É estranho porque ela fica lá parada olhando para a barriga e sorrindo. Algo me diz que a nossa ruivinha está contente com a gravidez.
Jimin pensou em dizer que Taehyung estava blefando, mas, diante das últimas decisões de Hannah, ele não duvidava que ela estivesse, de fato, contente com a gravidez. Estava exausto de tanto contar para a amiga sobre a monstruosidade de Derek e, ainda assim, não ser ouvido. Na verdade, a impressão que Jimin tinha era de que quanto mais falava sobre a perversidade do homem, mais apaixonada Hannah parecia ficar.
Esse pensamento o aterrorizou.
— Eu lavei as minhas mãos, Tae — confessou em um suspiro. — Vou apoiar a Hannah, mas não vou mais gastar saliva tentando convencê-la de que o pai do filho dela era um monstro.
— Você está certo, a Hannah não é mais a mesma. Ela gosta de você, mas também gosta do desgraçado do Derek — disse. — Talvez ela esteja assim porque o julgamento vai acontecer daqui a dois dias.
— É, talvez. — Jimin tinha quase certeza de que esse não era o principal motivo. — Eu só queria que ela voltasse a ser a minha Hannah de antigamente. Sinto falta de quem ela era.
— Você acha que é possível as memórias voltarem?
— A médica que atendeu a Hannah no Canadá disse que ela poderia recuperar as memórias se a droga fosse drenada do corpo, mas, mesmo depois da drenagem, Hannah continua sem lembrar de nada. Acho que vai demorar um pouco mais até ela voltar a ser quem era.
— Ou talvez ela nunca mais volte a ser quem era — Taehyung acrescentou. — É melhor começar a se acostumar.
Jimin poderia até dizer que Taehyung estava sendo pessimista, mas não podia negar que, de uns tempos para cá, seus pensamentos foram os mesmos. Ele preferia acreditar que Hannah nunca mais voltaria a ser quem era ao invés de criar expectativas e quebrar a cara.
— Oi, boa noite. — Uma voz diferente disse, fazendo Jimin e Taehyung olharem na direção dela. Jimin ficou surpreso quando viu o rapaz da jaqueta vermelha parado em sua frente, olhando para o seu amigo. — Eu estava te observando de longe e fiquei tentado a vir falar com você. Prazer, meu nome é Caleb.
Ele esticou a mão para Taehyung, que encarou seu gesto com admiração antes de segurá-la em cumprimento. O rapaz deu a ele um sorriso pequeno e sutilmente sugestivo. Jimin pensou em interromper o aperto de mão quando notou que eles estavam demorando demais para desfazer o entrelaço, mas não foi necessário, visto que o seu amigo tomou a iniciativa primeiro.
— Prazer, eu me chamo Taehyung e este é o meu amigo, Jimin.
Instintivamente, Jimin olhou para Taehyung, repreendendo-o por dizer os seus nomes para um estranho. O rapaz, no entanto, não pareceu notar a sua reação, embora tenha olhado-o com seus olhos sorridentes. Em seguida, sua atenção voltou para Taehyung, como se estivesse prestes a fazer-lhe um convite.
— Está a fim de dançar, Taehyung? — perguntou.
Nesse momento, Jimin percebeu que os olhos do amigo foram em sua direção, certamente perguntando-lhe o que dizer em resposta. Jimin, no entanto, não disse nada, apenas deixou que Taehyung decidisse. Caleb olhava-o com expectativa, mas sua postura não era a de quem esperava, eufórico, por um sim. Ele parecia calmo, observador e curioso.
Seus cabelos eram pretos como os olhos, sua postura confiante, seu estilo diferente e seu corpo, sutilmente, atlético. Taehyung observou-o da cabeça aos pés, avaliando-o antes de dar a sua resposta.
— Ahn... não tem nada de errado em uma dança, não é mesmo? — Taehyung disse, rindo de nervoso, em seguida cutucou o braço de Jimin. — Por que você não vem conosco, ursinho? Vamos dançar um pouco.
O garoto fez uma cara de quem estava propenso a recusar. Ele não gostava muito da ideia de dançar em público, ainda mais sabendo que estaria ao lado de um estranho. Além do mais, o convite foi feito para Taehyung, não para ele, portanto, Jimin podia usar isso a seu favor para escapar da vergonha.
— Eu vou depois — ele disse, espremendo os lábios em um pedido de desculpas.
— Tudo bem, eu te espero na pista de dança em vinte minutos.
Jimin pensou em usar outra desculpa, mas acabou balançando a cabeça em concordância. À espera de Taehyung, o rapaz sorriu para Jimin em despedida e convidou o outro com um suave gesto de cabeça para que o acompanhasse. Taehyung se virou para segui-lo, desaparecendo na fumaça de gelo quando mergulhou no meio da galera.
Jimin pegou um vislumbre de Caleb dançando às costas de Taehyung. Quem o olhasse de longe, diria que ele era um professor de dança ou alguém disposto a impressionar seu alvo romântico. Neste caso, ele estava tentando impressionar Taehyung, que parecia mais interessado em dançar. Havia algo em Caleb que despertou a atenção de Jimin, mas o garoto não sabia explicar o que era.
Enquanto assistia-os remexerem os quadris e balançar os corpos no ritmo da música, Jimin pegou a sua bebida de volta e começou a tomá-la pelo canudo. Ele sempre ficava hipnotizado quando Taehyung dançava, pois o remetia à lembrança das aulas de balé.
Seu amigo tinha um corpo lapidado para a dança e curvas que faziam qualquer um babar. Não era à toa que muitas pessoas se atraíam por ele. Jimin costumava receber várias ligações de colegas e pessoas estranhas interessadas em Taehyung. Ele só não sabia dizer como essas pessoas conseguiam o seu número.
— Até que o seu amigo dança bem. — Uma voz familiar disse, atraindo os olhos de Jimin rapidamente.
Vernon se aproximou e sentou na banqueta que Taehyung estava anteriormente. Seu cabelo estava salpicado por glitter e sua têmpora marcada por uma camada de suor, o que sugeria que ele estava dançando antes de aparecer. Jimin observou que ele respirava fundo, provavelmente cansado por ter dançado muito.
— Oi, Vernon. Que coincidência te encontrar aqui.
O rapaz deu uma risadinha.
— Coincidência? Você sabe que eu amo esse clube, Jimin. É um dos meus favoritos. — Por um momento, Jimin pensou em dizer que tinha esquecido, mas não sabia se Vernon reagiria mal com o seu esquecimento. — Há quanto tempo está aqui?
— Não faz muito tempo. Taehyung me trouxe aqui para que pudéssemos curtir a noite, mas não estou muito no clima.
— Aconteceu alguma coisa?
De repente, Jimin se remexeu no assento, sentindo-se incomodado não pela pergunta em si, mas por ter de se justificar. Apesar de Vernon não demonstrar segundas intenções, Jimin considerou melhor não dar muitos detalhes sobre sua vida.
— Eu desacostumei a ficar em ambientes lotados e barulhentos — ele disse, tentando soar o mais natural possível. Entretanto, Vernon pareceu notar o seu tom de desconforto.
— Eu não parei de pensar naquilo que você me contou, sabia? — Jimin o encarou mais apurado. — Dói imaginar o que você passou e dói mais ainda saber que eu não estava por perto.
— Você deveria agradecer por não estar por perto, pois teria se tornado um alvo como eu — ele disse com firmeza, mas a última nota vacilou. — Olha, eu adoro conversar com você, Vernon, mas não quero tocar nesse assunto. Espero que me entenda.
— Claro que te entendo! — ele falou e, de repente, suas mãos estavam no rosto de Jimin. — Me desculpe por ter sido tão inconveniente. Na verdade, eu me preocupo com você e não quero que nada te aconteça. Cheguei até a brigar com o Josh por causa disso.
Na menção daquele nome, Jimin congelou. Sentindo-o endurecer sob as suas palmas, Vernon recuou as mãos e olhou ao redor do clube, tentando não pensar que Jimin reagiu daquela forma por causa de seu toque.
— Você brigou com o Josh por minha causa? — Jimin perguntou.
Vernon o encarou.
— Quando eu soube que ele estava fazendo piadinha com o seu nome, fiquei indignado e fui tirar satisfação. Ele negou e disse que você estava criando histórias para que eu brigasse com ele — explicou. — Eu sabia que o Josh estava mentindo, por isso fiquei ainda mais revoltado. Ele teve a cara de pau de mentir na minha cara.
— Seu amigo me odeia, você sabe disso.
— Eu não entendo porque ele guarda tanto ódio de você. Nós fomos namorados, ele sabe disso, e, mesmo assim, se atreve a fazer piadinhas homofóbicas. Patético.
Por um momento, Jimin se perguntou como Vernon soube disso, mas não foi necessário quebrar a cabeça por tanto tempo, uma vez que Josh nunca fez questão de esconder seu preconceito nos corredores da escola, o que, para Jimin, soava estranho, pois ele já namorou o seu melhor amigo.
— Acho que ele gosta de você — opinou o garoto, esperando que Vernon reagisse com surpresa, mas ele não o fez. — No sentido romântico, sabe? Talvez ele queira ficar com você.
— É claro que não, Ji, ele ainda é amarradão na Hannah. — Ele fez uma breve pausa. — Na verdade, ele detesta a Hannah, mas não para de falar nela.
— Ele ainda está assim por causa do término?
— Não, ele está assim porque a Hannah o humilhou antes do término. — Jimin ficou boquiaberto por não saber daquela história. A versão que Hannah lhe contou era muito diferente daquela. — Eu só ouvi a última parte da conversa, então não sei te dizer o que eles conversaram antes de eu aparecer, mas foi possível ouvir a Hannah menosprezando o Josh.
Por um momento, Jimin ficou confuso com aquela história. Segundo Hannah, ela terminou com Josh por ter enjoado de namorá-lo, mas, parando para pensar, o garoto chegou à conclusão de que aquele argumento não possuía fidedignidade, visto que Hannah também demonstrava gostar dele e, de repente, deixou de gostar
Ainda com os pensamentos aflorados, Jimin imaginou diversos outros motivos que poderiam ter ocasionado o término. Um deles, inclusive, apontava para algum segredo de Josh. Talvez Hannah tenha descoberto algo sobre ele, pensou o garoto, e usado isso a seu favor para amedrontá-lo, o que, obviamente, o irritou.
No entanto, tudo não passava de uma hipótese.
— Eu e Taehyung estávamos pensando em levar a Hannah para o baile — Jimin comentou. — Mas depois do que você me contou, acho melhor mantê-la o mais distante possível do Josh.
— É melhor assim.
— Você acha que ele pode machucá-la?
— Eu achei que conhecia o Josh, mas estou percebendo que ele é uma farsa. Então, para ser honesto, não sei do que ele é capaz — disse Vernon tristemente.
Jimin pensou em dizer: "eu tentei abrir o seu olho, mas você não quis me ouvir". Mas, ao invés disso, ele apenas disse:
— Eu sinto muito.
— Eu gosto muito do Josh, mas não vou tolerar esse comportamento dele. — O garoto sentiu-se feliz por ouvi-lo dizer aquilo. — Aliás, não quero mais falar dele. O que acha de sairmos daqui? Eu conheço uma casa de jogos que você vai amar.
— Melhor não...
— Que tal o parque de diversão?
— Eu acho melhor não. Só estou aqui para fazer companhia ao Taehyung, se ele não me ver aqui será um problema.
— Podemos chamá-lo também. — Vernon olhou para a pista de dança e apontou para a figura de Taehyung dançando loucamente ao lado de um rapaz. — Se bem que ele está muito bem acompanhado. Aquele é o namorado dele?
— Não, é apenas um cara que o chamou para dançar.
— Legal.
Estranhamente, Vernon continuou a olhar na direção de Taehyung, como se estivesse admirando sua dança. Jimin prestou atenção em como ele movia os olhos, lentamente, pelo corpo do amigo. Ele costumava fazer isso quando algo o chamava a atenção, lembrou Jimin.
— Vernon — O garoto o chamou, atraindo seus olhos rapidamente. — Você já tem um par para o baile?
— Ainda não. — De repente, os olhos dele adquiriram um brilho diferente. — Você está me convidando para ser seu par ou eu estou apressando as coisas? Digo, eu sei que você está namorando, mas se ele não puder ir, eu adoraria ser seu par.
— Bem... — Ele fez uma pausa, sentindo-se brevemente constrangido. — Eu estava pensando em pedir para você convidar a Hannah, caso o Josh não apareça nesse baile.
— Hannah? Por quê?
— Ela vai estar sozinha, sabe? Talvez você possa convidá-la para ser sua parceira.
— Eu sinto muito, Jimin, mas não faz sentido eu convidar a Hannah. Ela é ex-namorada do meu amigo, não quero que ele comece a pensar coisas ruins sobre mim.
— Vocês nem estão se falando...
— É verdade, mas ele sente muita raiva dela. Se eu a convidasse, ele pensaria que eu estou tentando provocá-lo.
Na opinião de Jimin, Vernon não devia satisfações a Josh, mas, por terem sido muito amigos, o rapaz ainda se sentia apegado a ele, embora não aprovasse suas atitudes medíocres. O garoto não quis forçá-lo a aceitar sua proposta para não soar como se estivesse tentando criar desavenças entre os dois. Portanto, apenas disse:
— Tudo bem, eu te entendo.
— Não fique chateado comigo, só não quero mais confusões.
— Não estou chateado. — Ele sorriu e olhou para a bebida que Vernon segurava como se para fugir do assunto. — Posso saber o que está bebendo?
Vernon seguiu o seu olhar e sorriu.
— Gim.
— Taehyung adora gim.
— Ele me parece ter bom gosto — observou.
Eles ficaram em silêncio de repente, ouvindo o batuque da música e assistindo as pessoas pularem no chão. Jimin encontrou a figura do amigo dançando de forma eletrizante no meio da multidão e, pela primeira vez, não se arrependeu de ter aceitado a convocação de Taehyung ao clube. Ele se divertia quando o via todo animado e sorridente.
— Eu te contei que passei na faculdade de engenharia? — Vernon comunicou de repente, sorrindo de orelha a orelha.
— Jura!? Meu Deus, isso é fantástico, Vernon! Parabéns! — O sorriso do rapaz desapareceu com a mesma rapidez em que veio.
— A única parte ruim é que a faculdade fica na Inglaterra. Eu vou viajar para Londres daqui a três meses.
De modo instantâneo, Jimin sentiu um embrulho no estômago, semelhante àquele que sentiu quando Vernon foi embora para Detroit. Mesmo que não sentisse mais nada por ele, Jimin teve a sensação de que estava perdendo-o novamente. Ele gostaria de se aproximar de Vernon, como amigos, e recuperar o tempo que ficaram afastados, mas, aparentemente, não seria possível.
— Te desejo boa sorte — ele disse, sorrindo gentilmente.
— Eu não quero perder o contato com você, Jimin, então pretendo te ligar toda semana. — O garoto suspirou, agradecido, e, rapidamente, sentiu sua mão ser agarrada pela de Vernon. — Olha, eu vou fazer uma festa de despedida na minha casa em breve e gostaria muito que você fosse. Não quero te perder de novo, então quero aproveitar o máximo que eu puder.
— Uma festa?
— Só para os amigos mais próximos, mas não se preocupe, eu não vou convidar o Josh. — Jimin ficou brevemente pensativo, considerando suas opções. — Pode levar o seu namorado se quiser, caso esteja imaginando ficar sozinho na festa.
— Obrigado.
— Por favor, Jimin, eu quero muito me despedir de você antes de viajar.
— Não se preocupe com isso, eu irei à sua festa. — Na verdade, Jimin não tinha certeza disso, mas prometeu mesmo assim.
De repente, um alvoroço de pessoas gritando e acotovelando-se para tentar sair da pista de dança chamou a atenção de Jimin, que ficou completamente confuso, sem entender o que tinha acontecido para todo mundo entrar em desespero e se dividir em um círculo. O ruído de um corpo caindo no chão o deixou alarmado.
Jimin rapidamente se levantou, tentando procurar de onde vinham aqueles sons agudos de socos, chutes e gritos eufóricos. Ao olhar por cima das inúmeras cabeças, conseguiu ver, a alguns centímetros de distância, dois corpos se golpeando.
— O que está acontecendo? — Vernon perguntou, confuso, assim como Jimin, que parecia estar à procura de alguém.
— Você está vendo o Taehyung?
— Não.
O coração de Jimin deu um salto brusco no peito, então sua mão viajou, ligeiramente, para o braço de Vernon, puxando-o para que fossem na direção da massa de pessoas reunidas. O rapaz não entendeu seu gesto, mas também não resistiu.
Jimin foi se aproximando a passos largos do círculo que rodeava os dois envolvidos na briga, percebendo que um deles era Josh Parker. O adversário golpeou o rosto de Josh, fazendo-o tropeçar e cair no chão bem na hora que Jimin se colocou no meio da plateia. O garoto olhou para ele, assustado, vendo-o erguer os olhos de encontro aos seus.
O rosto de Josh estava ensanguentado, mas ele não deixou de olhar para Jimin com um olhar assassino e, parcialmente, sorridente. Antes que pudesse se recuperar, Josh foi agarrado pelo adversário, que o ergueu do chão aos trancos e distribuiu uma sequência de socos em seu rosto. Josh foi arremessado sobre uma pilha de garrafas, mas, independente disso, conseguiu rolar para o outro lado e fugir dos ataques do oponente.
Em seguida, Josh pegou uma garrafa vazia e lançou na cabeça do sujeito, espalhando estilhaços de vidro por todo chão. Jimin ficou assustado quando viu o sangue escorrer pelo rosto do homem que foi atingido. Josh sorriu como se estivesse se divertindo com tudo aquilo.
Eles começaram a se golpear juntos, rolando pelo chão enquanto as pessoas gritavam e torciam como se estivessem assistindo a uma luta de ringue. Vernon, ao lado de Jimin, parecia abalado por ver o amigo no meio de uma briga, mas ele também não se atreveu a tirá-lo de lá.
O sujeito agarrou Josh com seus braços musculosos e tentou, novamente, jogá-lo no chão. Antes que os seguranças do local pudessem aparecer, Josh escorregou próximo dos pés de Jimin, fazendo o garoto recuar o máximo que pudesse. Eles continuaram se golpeando pelo chão, arrancando gritos animados de pessoas que filmavam o espetáculo sangrento.
De repente, Jimin enxergou um cartão sujo de sangue caído a poucos centímetros de distância de seu tênis. Ele agachou para pegar o objeto e reconheceu o rosto de Josh no cartão de identidade. No entanto, o nome que Jimin leu não era o seu e, sim, Dominic Schwartz.
— Saiam! Vão para fora! — Um dos seguranças berrou, chamando a atenção de Jimin, que desviou-se do cartão para olhar na direção do alvoroço. — Saiam do clube agora, seus delinquentes!
Josh estava respirando fundo, seu rosto estava manchado de sangue assim como sua roupa. Ele olhou para Jimin com puro ódio, vendo-o com o seu cartão na mão. Ali, portanto, seus olhos deram um fraco solavanco, o suficiente para Jimin entender que ele havia ficado surpreso por ele estar com aquilo na mão.
Furioso, Josh avançou ruidosamente em direção à Jimin, tomando o cartão da mão dele à força. O garoto enfrentou-o nos olhos, esperando que ele se justificasse, mas nada aconteceu. Em vez disso, Josh encarou Vernon na sua lateral e deu as costas, indo em direção à saída sob as ordens do segurança.
Jimin continuou olhando na direção em que ele tinha ido, mesmo depois de vê-lo desaparecer pela porta do clube. Seus pensamentos ainda estavam na identidade que Josh deixou cair durante a briga. Jimin não entendeu o porquê de ele estar usando um nome falso, a não ser que estivesse envolvido com coisas erradas, pensou, ou talvez Josh Parker não fosse o nome verdadeiro dele.
De repente, uma mão se afundou no braço de Jimin, fazendo-o virar a cabeça para ver quem era.
— Você viu o que aconteceu? — perguntou Taehyung, ameaçando sorrir. — O Josh tomou uma surra belíssima. Pena que eu não pude registrar a tempo.
— Sim, eu vi.
Desconcertado, Vernon esfregou os cabelos e pigarreou antes de tomar as palavras à garganta.
— Eu vou ao banheiro. Com licença.
Ele não esperou por respostas, apenas deu as costas e caminhou por entre a multidão que se dispersava. Jimin aproveitou que estava a sós com Taehyung e o puxou para um canto mais afastado, esbarrando em algumas pessoas para que abrissem caminho. Quando estavam a uma distância segura, Jimin se aproximou do amigo e disse:
— Você não vai acreditar no que eu descobri. — Taehyung, subitamente, demonstrou interesse. — O Josh deixou cair a carteira de identidade e lá estava escrito Dominic Schwartz e não Josh Parker.
— Espere um pouco, ele se chama Dominic?
— Não, Taehyung, esse é um nome falso. — Taehyung ficou confuso, porém atento. — Se o Josh está usando uma identidade falsa, significa que ele está aprontando.
— O que ele poderia fazer com uma identidade falsa além de entrar em boates ilegais?
— Ele pode usar a identidade para diversas coisas, não apenas para festas clandestinas — pontuou. — Sabe o que estou pensando? O Jungkook poderia descobrir isso para mim. Se ele souber no que o Josh está metido, eu terei um motivo forte para mantê-lo longe de mim.
— Quer ameaçá-lo?
— Qual é o problema? O Josh vive me ameaçando, só estou buscando estratégias para me defender.
Taehyung suspirou como se não estivesse de acordo.
— Olha, eu acho melhor você esquecer essa história. Se o Josh descobrir que você está investigando-o, as coisas vão ficar sérias. — O olhar de Jimin para ele foi de desânimo. — Além do mais, se você fizer isso, Jungkook vai querer saber quem é ele e você terá que contar sobre o bullying e a briga. E nós sabemos muito bem como o seu namorado vai resolver esse problema.
— Você acha que o Jungkook pode bater nele?
Taehyung confirmou com um balançar de cabeça.
— E aí o Josh vai descontar em você. — Pensativo, os olhos de Jimin se voltaram para um ponto distante. — Qual é, ursinho, esquece esse cara. Não importa se ele está aprontando ou não, é melhor você ficar longe.
Parando para pensar, Jimin achava que Taehyung podia ter razão. Se ele contasse a Jungkook sobre o paradeiro da identidade, certamente ele iria querer saber o porquê de Jimin estar tão interessado nisso. O garoto não via problema em contar para o namorado as coisas que Josh andava fazendo, mas, por outro lado, sabia que estaria se colocando ainda mais em perigo.
Josh não parecia estar para brincadeira. Depois de ser flagrado segurando o cartão pelo próprio dono, Jimin sabia que se algo acontecesse com Josh por causa disso, a culpa iria cair nas suas costas.
— Você está certo — disse Jimin, por fim. — É melhor esquecer essa história.
— É isso aí! Agora vem comigo, o Caleb está nos esperando no bar. Ele disse que ia me pagar uma bebida.
— Você vai aceitar bebida de um estranho?
— Você acha que sou tolo? — Ele sorriu de forma triunfante. — Sei como descobrir se a bebida está batizada. Relaxa.
— Claro que sim, senhor-sabe-tudo.
Taehyung gargalhou antes de puxá-lo em direção ao bar. Jimin ainda estava encucado com o que descobriu e, talvez, tentasse alcançar a resposta por conta própria, embora soubesse que seria difícil e muito arriscado, uma vez que Josh já sabia que ele tinha visto a identidade falsa e, provavelmente, tentaria mantê-lo de bico fechado.
Por mais que Jimin ainda estivesse intrigado com o lance da identidade, uma parte sua quis aproveitar o resto da noite sem deixar que os problemas de outrem o atrapalhasse.
✮✮✮
Seokjin ficou surpreso ao ver Jungkook parado na porta de sua casa depois de tocar a campainha três vezes seguidas. Ele ainda estava com as vestimentas do trabalho e sua feição não parecia nada agradável. Confuso, o homem franziu as sobrancelhas e disse:
— Jungkook? O que está fazendo aqui? — O detetive continuou em silêncio. — Se você está aqui para ver o Jimin, ele não se encontra.
— Não estou aqui pelo Jimin — respondeu. — Estou aqui para falar com você. Tem um minuto?
Seokjin apenas assentiu, dando espaço para que ele entrasse na casa. Jungkook caminhou em direção ao sofá, mas não sentou, apenas aguardou que o homem fechasse a porta e virasse de frente para ele.
— Pela sua cara, posso ver que está aqui para falar sobre o seu trabalho. — Seokjin supôs, caminhando para perto dele.
— Sim.
— Por favor, sente-se. — Ele indicou o sofá para que Jungkook se acomodasse. Depois de tanto relutar, o detetive acabou aceitando. — Confesso que é estranho te ter na minha casa como um oficial do FBI e não como meu genro.
Jungkook olhou para ele, vendo-o sorrir para sua própria observação.
— Eu precisava falar com você. — Havia uma seriedade no tom de Jungkook que fez Seokjin perceber que o assunto a se tratar o incomodava. — Tem a ver com o Yoongi.
— Quer tirá-lo da sua equipe?
— Não, mas eu soube de algumas coisas que me fizeram ter um pé atrás com ele. — Seokjin ficou confuso, porém atento. — Lembra quando o Christopher entrou em contato com você para saber do Jimin?
— Sim, foi o Jared quem o contactou.
— Na verdade, foi Yoongi quem o pediu para ir atrás do Christopher — contou. — Quando ele soube que o Jared não tinha conseguido afastar o Jimin de mim legalmente, decidiu informá-lo sobre o paradeiro do Christopher. Por isso o Jared disse que esqueceria essa história até o caso encerrar, porque, na verdade, ele e Yoongi já tinham combinado de ir atrás do Christopher na Grécia.
— Não posso acreditar que ele fez isso pelas suas costas.
— Ele não ia me contar se não fosse o Jared. — Seokjin parecia terrivelmente decepcionado. — Eu gosto muito do Yoongi, mas ele costuma se meter demais na minha vida. Sei que as intenções dele eram boas, mas, depois de descobrir isso, fico pensando se ele pode tomar atitudes parecidas só para me proteger, sabe?
— E o que está pensando em fazer?
— Eu o perdoei, mas não posso negar que isso me abalou muito — confessou. — Dei uma segunda chance a ele porque acredito que ele pode mudar...
— Mas...
— Mas não sei se confio mais nele para investigar coisas pessoais minhas. — Seokjin comprimiu a boca, sabendo que aquilo era um problema. — Eu tinha pedido ao Yoongi para investigar, de forma sigilosa, sobre algumas coisas minhas, mas agora não sei se quero que ele prossiga com essa tarefa.
— Você está aqui para pedir a opinião de um ex-agente corrupto?
— Na verdade, eu estou aqui por causa daquela investigação privada que você me ofereceu recentemente. — Seokjin reagiu como se soubesse exatamente onde ele queria chegar. — Eu não quero mais que o Yoongi se meta nisso, por isso preciso que me ajude a investigar em sigilo.
— Jungkook...
— Eu sei o que você vai dizer, mas vou tomar cuidado para que a agência não descubra que estou investigando por fora. — Seokjin olhou para ele, parecendo pensativo. — Você colocou a Rose dentro do FBI, manipulou os documentos para convencer a Corregedoria, tenho certeza que consegue me ajudar nisso.
— É óbvio que eu quero te ajudar, mas você precisa ter em mente que isso pode arruinar a sua carreira. — A expressão de Jungkook era neutra. — Investigações que não estejam ligadas aos casos são perigosas. Se a agência descobrir que você está usando os recursos do FBI para investigar assuntos pessoais, a sua carreira vai acabar, assim como a minha.
Jungkook parou para pensar sobre as suas decisões. Ele não tinha desejo de ir por este caminho, mas para descobrir a verdade sobre o paradeiro de Paige, tinha que se arriscar. Se soubesse fazer em segredo, ninguém ficaria sabendo. Além do mais, ele achava que poderia conseguir informações de Seokmin por conta própria, mesmo que demorasse um pouco mais do que Yoongi certamente demoraria.
— Eu quero arriscar, Seokjin. — O homem apenas balançou a cabeça em compreensão, sem intenção de refutar. — Você pode me ajudar nisso?
— Claro — ele sorriu. — Por que eu diria não ao namorado do meu filho?
— Lembre-se que eu não estou aqui como seu genro — ele ressaltou, parecendo se divertir. — Aliás, vou precisar de um lugar e de equipamentos para começar o processo investigativo.
— Eu tenho um escritório nos fundos, você pode usá-lo o tempo que precisar. — Jungkook sorriu em agradecimento. — Se importa em me dizer o que quer investigar?
— É sobre a minha irmã. — Seokjin não reagiu, mas Jungkook captou o movimento de um músculo em sua bochecha. — Quero saber se ela está falando a verdade sobre o meu passado.
— O que tem o seu passado?
— A Paige disse que eu não fui registrado assim que nasci, mas, segundo ela, a minha mãe trabalhou para me sustentar, o que é estranho, pois eu deveria ter sido registrado. O que impediu a minha mãe de o fazer? Por que ela não me registrou logo?
— Você acha que houve alguma interferência no processo de registro?
— Eu não sei o que pensar ainda, mas sinto que tem muita sujeira debaixo desse tapete. — Jungkook lutou para manter a raiva longe do rosto. — Preciso saber o que aconteceu naquela época a ponto de impedir a minha mãe de me registrar.
— Acha que a sua irmã pode estar mentindo?
— Eu fui enganado tantas vezes, Seokjin. Não quero ter o desprazer de passar por isso de novo.
Seokjin continuou a olhar para ele com uma mistura de curiosidade e preocupação.
— Saiba que eu estou aqui para te ajudar no que for preciso — disse o homem. — Se a sua irmã estiver mentindo, vamos descobrir.
— Obrigado.
— A propósito, eu tenho um amigo que trabalha com isso. Foi ele, inclusive, quem me ajudou a falsificar os documentos da Rose. — Jungkook franziu a testa para a sua descrição tão específica. — Ele é um hacker, está conectado a deep web e dark web, então, se realmente houver algo muito maior por trás do seu passado, tenho certeza que ele pode descobrir.
— Você confia nele?
— Absolutamente.
— Quem é esse hacker?
— Caleb Garner. — Jungkook tentou lembrar-se de alguém com aquele nome, mas falhou. — Ele usa um pseudônimo diferente no submundo da dark web, mas, para os mais íntimos como eu, seu nome é Caleb. Eu o conheço há quase uma década, então posso considerá-lo um amigo.
— Tem certeza que posso confiar nele?
— Olha, primeiro deixe-me apresentá-lo a você, depois tire suas conclusões. Caleb costuma fazer alguns serviços para a CIA; também foi contratado pelo Serviço Secreto para realizar algumas invasões cibernéticas, mas sua identidade sempre se manteve em sigilo.
— Espere um pouco, você disse que ele já fez serviços para a CIA?
— Sim, por quê?
— A Paige me contou que o Seokmin descobriu onde eu estava e a levou até a mim. Talvez o Caleb saiba de muitas coisas das quais eu ainda desconheço.
— Ótimo, vou ligar para ele.
— Espere um pouco — Jungkook disse após vê-lo fazer menção de se levantar. — Eu não vou poder conversar com o Caleb agora, daqui a pouco o Jimin chega e eu preciso estar de volta à agência em alguns minutos. Marque um encontro amanhã.
— Tudo bem. — Seokjin sentou-se de volta, relutante. — É impressão minha ou você não quer que o Jimin saiba o que estamos fazendo?
— Não tem problema se ele souber, mas eu quero deixá-lo o mais longe possível do meu trabalho.
— Fico feliz que pense dessa forma — Seokjin disse, sorrindo. — Me admira ver você protegendo o meu filho com unhas e dentes. Muitos não entenderiam suas atitudes.
— Quero protegê-lo o máximo que eu puder. — Ele fez uma pausa indesejável. — Principalmente da Scarlett, ela está de olho em mim desde que fui promovido a diretor-assistente, não quero dar motivos a ela.
— Você está fazendo o certo em deixá-lo longe disso. — Jungkook comprimiu os lábios e concordou. — Quer beber alguma coisa?
— Não, eu já estou de saída — ele respondeu às pressas, levantando-se. — Eu tenho que voltar à agência. Me ligue assim que falar com o Caleb.
— Fique mais um pouco.
Jungkook levantou um lado da sobrancelha de forma teatral.
— Quando o Jimin não está, você me pede para ficar, não é? Estou começando a entender tudo.
Seokjin riu.
— Você sabe que eu não te odeio, só estou protegendo meu filho — explicou-se.
— O seu filho já é um adulto. Ele tem idade suficiente para fazer o que quiser.
— Por que eu estou sentindo que há uma insinuação por trás disso?
Jungkook travou momentaneamente, sentindo-se encurralado em um beco sem saída.
— Não estou insinuando nada — defendeu-se. — Na verdade, nem sei como chegamos a esse assunto. Preciso ir agora.
Seokjin percebeu que ele ficou nervoso, embora tenha lutado para não demonstrar. O homem não disse nada, simplesmente concordou com um aceno de cabeça. Ele também se pôs de pé e acompanhou Jungkook até a porta. O detetive queria ficar um pouco mais para se encontrar com Jimin, mas não sabia que horas ele voltaria, nem se conseguiria aguentar o interrogatório de Seokjin por muito tempo.
Não podia negar que ficava preocupado sempre que Jimin saía sozinho, mas não podia impedi-lo de se encontrar com os amigos. Na verdade, Jungkook desejava que ele pudesse recuperar a sua liberdade de novo.
— Assim que eu falar com o Caleb, entro em contato com você — disse Seokjin, parando somente para abrir a porta para Jungkook.
— Obrigado.
Antes que o detetive se virasse para sair, Seokjin, de repente, disse:
— Eu quero te pedir uma coisa. — Pela expressão no rosto dele, Jungkook soube que o assunto era sério. — Uma fonte próxima me confirmou que o FBI está sofrendo alguns atentados. Você, inclusive, foi um dos alvos.
— Onde quer chegar?
— Se você perceber que o Jimin corre o risco de se tornar um alvo também, afaste-se dele. — O detetive ficou paralisado, tentando absorver suas palavras. — Eu amo ver o meu filho feliz ao seu lado, mas não quero que ele venha a se tornar um alvo novamente. Ele é só um garoto que está vivendo a juventude.
— Está pedindo para eu me afastar do Jimin?
— Estou pedindo para que você mantenha o seu trabalho o mais distante possível do meu filho — corrigiu. — O Jimin ainda está se recuperando do que passou, não quero que ele sofra novamente. Fiquem juntos, mas não deixe que o seu trabalho interfira na vida dele.
Houve um breve silêncio, então Seokjin decidiu prosseguir:
— Não quero que vocês terminem, só não deixe que o Jimin tenha acesso às investigações. Eu já estive na sua pele, por isso sei o quão perigoso é manter quem mais amamos perto de nós em situações como esta.
Jungkook refletiu em silêncio. Ele entendia a preocupação de Seokjin e concordava com todos os pontos. No entanto, seus novos inimigos estavam atacando o grupo do FBI, não as pessoas próximas a eles, o que significava, em tese, que Jimin não era um alvo. Porém, não podia confiar cegamente nessa teoria e descartar a possibilidade do garoto ser usado como moeda de troca.
Várias hipóteses foram levantadas em relação a isso, e o detetive não ia sossegar até descobrir quem estava por trás dos ataques. A depender de quem era o responsável, os alvos, certamente, já estavam definidos.
Diante desses pensamentos, Jungkook não viu outra alternativa senão prometer a Seokjin que cuidaria do filho dele.
— Eu te dou a minha palavra que vou mantê-lo o mais longe possível das investigações.
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Oi, meus amores, tudo bem? Espero que tenham gostado da atualização.
Como vocês já sabem quem é o serial killer, agora vocês devem saber o porquê dele ter se tornado o que se tornou. Isso vocês vão descobrir mais adiante. Aliás, muitas pessoas suspeitaram do Josh, mas tiveram medo de continuar acreditando ser ele por achar que estava "óbvio". Bem, eu gosto de coisas óbvias às vezes.
Outra coisa que merece destaque: Jimin sabe sobre a identidade do Josh, mas o Jungkook não. E, para o terror de todo mundo, o Jungkook não pode compartilhar informações dos casos, logo o Jimin não saberá tão cedo que o FBI está atrás do tal Dominic.
Gostaria de apresentar a vocês Caleb Garner:
Antes que digam alguma coisa, eu achei melhor não usar o nome do Hoseok para não confundir as pessoas nem gerar problemas. Mas fiquem com essa imagem nas suas cabeças. E, sim, Caleb e Jungkook formarão uma ótima parceria.
Aguardem os próximos capítulos, vem muita coisa boa por aí. E NADA DE SPOILERS NO TWITTER, HEIN? tô de olho
Beijinhos!! <3
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