seventeen᠉

Depois de concluir a missão anterior, Jungkook finalizou os relatórios e os entregou a Jared, que ficou encarregado de cumprir a próxima etapa da investigação com as outras autoridades. Ele também informou à direção da escola sobre os acontecimentos recentes envolvendo Josh.

A Sra. Torres decidiu manter o baile de boas vindas para não preocupar os alunos, embora soubesse que as notícias, mais cedo ou mais tarde, iriam se espalhar. Jungkook não teve tempo de ligar para Jimin desde a prisão de Josh, mas enviou uma mensagem para dizer que tudo ocorreu bem e que ele estava animado para a festa.

O menino perguntou sobre Josh, mas o detetive não quis dar detalhes da investigação por mensagens, visto que o seu celular, assim como o de todos os agentes, estava sendo monitorado dentro do prédio. Jungkook apenas pediu para que ele o encontrasse em sua casa mais tarde, alegrando o coração de Jimin.

O baile estava previsto para começar à noite, mas eles marcaram de se ver antes do horário para aproveitar um momento a sós. Jungkook gostaria de passar o dia com o seu garoto, contudo, estava determinado a começar as investigações sobre os atentados e isso, definiticamente, lhe custaria o dia todo.

No entanto, minutos depois de espalhar a papelada sobre a mesa, Jungkook recebeu uma ligação do hospital em que Ric estava, fazendo-o adiar a investigação. Ele tirou uma cópia de todos os papéis e guardou-os em sua pasta antes de sair. Ao saber que Ric deixaria o hospital, Layla se ofereceu para ir com Jungkook buscá-lo.

Neste momento, eles estavam o aguardando na sala de espera. Enquanto Layla parecia ansiosa para recebê-lo, Jungkook apreciava o nervosismo dela com um sorriso no rosto. Ele a associou a uma noiva na véspera do casamento: ansiosa, trêmula e feliz. É óbvio que Jungkook não perderia a chance de contar para Ric as reações de Layla durante a espera.

Quando a porta do quarto foi aberta, Layla abriu um enorme sorriso. Ela correu na direção de Ric e lançou os braços ao redor do pescoço dele, abraçando-o. Jungkook se sentiu aliviado por vê-lo de novo, desta vez, sem ferimentos. Ric segurou o rosto de Layla quando ela se afastou, podendo admirá-la mais de perto.

Jungkook estava prestes a perguntar se eles queriam um quarto quando recebeu o olhar do amigo. O sorriso de Ric aumentou e seus olhos acompanharam o movimento. O detetive se aproximou dele calmamente, observando, mais de perto, a felicidade genuína em seu olhar.

— Bem-vindo de volta, Stewart — Jungkook brincou, acariciando-lhe o ombro.

— Não totalmente, ele ainda vai passar por algumas avaliações médicas — Layla alertou.

— Eu já estou me sentindo bem. Sério, eu estou ótimo!

— É, mas precisa passar por essas avaliações se quiser voltar à campo — Jungkook pontuou, fazendo-o suspirar.

— Está certo.

— As suas coisas já estão na casa do Jungkook. — A informação de Layla arrancou vincos da testa de Ric. — Não levamos tudo, então talvez você queira algo que não esteja lá.

— Minhas coisas? Como assim?

— Você vai ficar na minha casa por um tempo. Já conversei com o seu médico e ele disse que você precisa estar acompanhado durante as avaliações.

— Eu poderia ficar com você, mas não garanto estar disponível todos os dias — Layla esclareceu, expressando sua lamentação.

— Não se preocupem com isso, eu posso ficar na minha casa.

— Você ficará na minha casa — Jungkook decretou, mas sua voz estava inclinada para um tom de brincadeira. — Qual é, Stewart, pensei que você quisesse receber comidinha na boca e massagem nos pés.

Layla riu. Ric esfregou a testa, envergonhado, mas acabou rindo de seu comentário também.

— Bem, se essa é a oferta, eu não vou recusar — Ric respondeu, depois de se convencer que Jungkook não aceitaria outra resposta. — Já podemos ir?

— Sim — O detetive concordou.

— Eu tenho que encontrar o Jared. Vejo vocês mais tarde — Layla argumentou, forçando um sorriso de lamentação.

Jungkook observou que aquela informação sugou o brilho nos olhos de Ric, fazendo-o desviar o olhar para outra direção. Ele tentou disfarçar o incômodo, mas a sua reação não passou despercebida por Jungkook.

— Tudo bem, mas eu gostaria de ter aquela conversa com você depois, pode ser? — o detetive perguntou para Layla, que apenas balançou a cabeça em concordância e apontou para a porta de saída.

— Eu preciso ir. — Seus olhos caíram sobre Ric, que não a correspondeu de imediato. — Que bom que você está vivo. Eu senti tanto medo de te perder.

Ric sorriu. Apesar de ter gostado do que ouviu, seu gesto apresentou um vislumbre estranho, algo semelhante à frieza. Jungkook sabia o que estava acontecendo ali, mas ele só iria pontuar esses detalhes quando estivesse a sós com Ric.

Antes de virar-se de costas, Layla se aproximou de Ric e beijou a bochecha dele, deixando-o brevemente nervoso. Em seguida, ela deu um tapinha no ombro de Jungkook em sinal de despedida e andou em direção à saída.

Jungkook olhou para Ric quando se flagrou a sós com ele, mas os olhos de seu parceiro ainda estavam fixados no caminho que Layla fez. A expressão de Ric era uma mistura de desapontamento e tristeza.

— Você não gosta muito da relação dela com o Jared, não é? — Jungkook quebrou o silêncio, ganhando os olhos do rapaz sobre os seus.

— Eu não tenho nada contra ele.

— Diga isso para o seu ciúmes.

— Eu não estou com ciúmes. — O detetive ergueu uma faixa de sobrancelha, nem um pouco convencido. — Tudo bem, talvez eu esteja com um pouco de ciúmes, mas isso não importa agora. É só uma questão de tempo até a Layla se juntar a ele.

— Se juntar a ele? — Ric se manteve em silêncio por um momento. — Você sabe de alguma coisa que eu não sei?

Com um suspiro cansado, Ric balançou a cabeça em afirmação. Jungkook cruzou os braços, esperando que ele dissesse alguma coisa sobre aquilo. Houve um momento de pausa, mas, de repente, Ric falou:

— Eu sei porque a Layla está se encontrando com o Jared em particular. — Seu tom ficou sério, bem como seus olhos. — Mas eu prefiro não falar aqui. Vamos para o seu carro e eu te conto tudo.

Jungkook balançou a cabeça em concordância.

— Você é quem manda, Stewart.

Segurando-o pelo ombro, Jungkook o conduziu até a saída do hospital enquanto carregava a mochila dele. Ric insistiu para levar as suas coisas, mas o detetive recusou as suas súplicas. Do lado de fora, Jungkook localizou o seu carro e se dirigiu à caminho dele em companhia de Ric, que tentava se proteger dos raios solares com a mão.

O detetive colocou a mochila no banco do passageiro e entrou no veículo. Ric sentou ao seu lado e posicionou o cinto de segurança, atraindo os olhos de Jungkook para os seus movimentos. Se dando conta de que estava sendo observado, Ric o encarou de volta, quase corando.

— O que foi? — ele perguntou, envergonhado.

— Você está diferente.

— Eu emagreci dois quilos. — Ele riu da sua própria resposta.

— Não, não é isso. — Ele sorriu também, mas seu gesto não durou muito. — Tem algo em você que está diferente.

Ric apertou as sobrancelhas em um misto de curiosidade e confusão.

— O que está diferente em mim? — perguntou, mas a expressão de Jungkook lhe disse que nem ele mesmo sabia.

— Eu ainda vou descobrir. — O sorriso que desenhou seus lábios fez Ric se sentir, estranhamente, nervoso.

Jungkook ligou o motor do carro, fazendo Ric, finalmente, desviar o olhar para além do parabrisa. Ele estava ciente de que parte de seu nervosismo se dava pelo fato de estar se preparando para falar sobre Layla e Jared. E esse sentimento se intensificou quando a pergunta de Jungkook invadiu os seus ouvidos.

— O que você tem para me contar sobre a Layla?

— Eu ouvi uma conversa dos dois na sala de treinamento. Parece que o Jared quer tirar a Layla da nossa equipe. — Aquela informação arrancou vincos da testa de Jungkook. — Eu não tenho certeza ainda, mas ouvi o Jared dizer que daria a Layla um cargo muito melhor do que ela tem hoje.

— Por que ele faria isso?

— Talvez ele esteja interessado em trabalhar com ela — opinou. — Ou talvez ele queira que a Layla assuma o cargo dele. Tudo o que sei é que o Jared fez uma proposta quase irrecusável.

— Você acha que a Layla pode sair da equipe para se tornar a nova inspetora do departamento?

— É uma opção. — fez uma pequena pausa. — Ele disse também que a Scarlett está de olho no cargo dele e que ela pode querer assumir o seu lugar quando a papelada estiver finalizada. Não tenho certeza do que ele quis dizer com isso, mas tive a impressão de que o Jared está saindo do departamento.

Jungkook manteve os olhos fixos na estrada à sua frente enquanto refletia sobre as coisas que Ric lhe contou. Se Scarlett assumisse o cargo de Jared, ela ficaria mais perto de Jungkook a ponto de vigiar os seus passos, mas, por outro lado, se Layla se tornasse a nova inspetora, ele perderia uma peça importante na equipe.

— Eu adoraria que a Layla continuasse na equipe, mas não cabe a mim decidir nada — disse Jungkook, surpreendendo a Ric.

— Podemos falar com ela para não aceitar.

— Não, deixe a Layla decidir por conta própria. Ela sabe o que é melhor para ela.

— Acontece que o Jared vai colocá-la em uma prova de fogo pra ela mostrar que merece estar no lugar dele. — Ric pontuou, fazendo uma linha minúscula crescer entre as sobrancelhas do detetive. — Ele não quer apenas sugerir o nome da Layla, mas também provar que ela tem potencial. E a única forma de fazer isso é inseri-la em uma missão perigosa.

Jungkook suspirou.

— A Layla sabe o que está fazendo. — Ric não conseguiu conter a tristeza que veio à tona em seu rosto. — Eu sei que você não quer ficar longe dela, mas essa decisão não é nossa. Temos que deixar a Layla escolher.

— Eu me apego muito rápido às pessoas, e isso é foda. — Jungkook sentiu uma fagulha de lamentação na voz dele. — Eu queria aprender a ser desapegado.

— Isso é um problema para você?

— Para qualquer pessoa, eu imagino. Não é legal se apegar às pessoas e, de repente, se sentir deixado de lado.

— E você está se sentindo assim?

Silêncio.

— Eu tenho me sentido assim há muito tempo — confessou, suspirando. — Acho que os remédios têm me deixado melancólico.

Jungkook sorriu lentamente.

— Eu diria que somos muito parecidos, mas não sou melancólico — Jungkook disse com um tom divertido, apenas para aliviar a tensão no corpo de Ric, que sorriu para o seu comentário.

— Você não é melancólico até estar perto do Jimin. — Jungkook olhou para ele como se tivesse acabado de ouvir uma confissão criminosa.

— O que quer dizer com isso? — Ric riu. — Eu não sou melancólico, sou apaixonado.

— Dá no mesmo. — Jungkook bufou, mas a sombra de um sorriso apareceu em seus lábios rapidamente. Ele estava se divertindo. — Você fica olhando pra ele de um jeito diferente, como se ele fosse uma obra de arte. Eu me divirto com isso.

— Você acha que eu fico com cara de idiota? — Sua pergunta arrancou uma risada gostosa de Ric. — Não ria, estou falando sério. Eu pareço um bobo da corte olhando pra ele?

— Que tipo de pergunta é essa, senhor?

— Não confie na expressão de um cara apaixonado — ele disse, começando a sorrir para si mesmo. — Sempre achei que estava disfarçando muito bem.

— Se tem uma coisa que você não sabe disfarçar, é o seu sentimento pelo Jimin — Ric respondeu. — Eu sou igual a você, não disfarço o que sinto.

— Sabia que eu nem tinha percebido isso, Stewart? — ele disse com um tom de provocação, o que foi suficiente para deixar as bochechas de Ric escaldadas. — Você parece um tomate perto da Layla.

— Eu não fico vermelho por causa da Layla — Ric respondeu às pressas, esperando ouvir uma risadinha de Jungkook, mas o detetive não disse nada. — Quer dizer, eu fico vermelho com qualquer coisa.

— Tipo agora, você tá parecendo um moranguinho — provocou-o. Ric quase se contorceu de vergonha. — Tudo bem, vou parar de te perturbar. Não quero receber um soco na cara.

— Eu estou quase fazendo isso, detetive — ele brincou.

Jungkook deu a ele um sorriso furtivo. Ele sentiu falta de incomodar Ric com suas piadas amorosas sobre Layla, afinal o rapaz não conseguia esconder seu interesse por ela. Embora ainda sentisse algo por Taehyung, Jungkook pensou, Ric também sonhava em beijar Layla.

E ele, como um generoso cupido, não poderia deixar de dar uma mãozinha.

— Falta muito? — Ric perguntou de repente.

— Não, já estamos chegando. — Seus olhos conferiram o tráfego antes de mover o veículo pelo cruzamento. — Por quê?

— Minha garganta está muito seca. Isso só acontece quando estou com sede.

— Dentro do porta-luvas tem uma pastilha que o Jimin costuma chupar quando está com sede. Dá uma olhada aí, talvez funcione pra você também.

Ric seguiu sua instrução e abriu o porta-luvas em busca da pastilha. Ele não sabia qual era a cor da embalagem, mas não seria difícil identificar o formato dela. Seus olhos encontraram munições, cartões de telefone e uma caixa de lenços. Ao lado da caixa tinha um pequeno pacote laranja parcialmente aberto, indicando que já estava em uso, e dentro dele havia algumas balas lacradas.

Ele pegou o pacote para escolher uma das pastilhas, porém sua mão acabou se esbarrando em outros itens. Ric observou três embalagens de camisinha escondidas no canto do porta-luvas e uma delas já tinha sido aberta. Sua reação foi pegá-la e mostrá-la a Jungkook.

— Isto é seu? — perguntou.

O detetive olhou para Ric e em seguida para o que ele tinha nas mãos.

— Sim.

Esta foi a única resposta que Jungkook lhe deu. Ric se sentiu um idiota por fazer aquele tipo de pergunta, então abaixou o braço e guardou a embalagem de volta. Apesar de tudo, o detetive entendeu a intenção de Ric por trás daquela mera dúvida: ele, provavelmente, tinha se perguntado se a camisinha foi usada com Jimin.

— Que bom que o Jimin está se sentindo mais confiante com você. — Ric comentou, confirmando os pensamentos de Jungkook.

— Não foi com o Jimin. — Ric olhou para ele rapidamente, parecendo confuso com as palavras do colega. — Tem um tempo que isso está aí. Foi antes de conhecer o Jimin.

— Você tem uma embalagem de camisinha vazia em seu porta-luvas há meses e nunca jogou fora? — Após ouvir a pergunta de Ric, Jungkook limpou a garganta.

— Passei tanto tempo no Canadá que isso ficou aí guardado há meses. — Por algum motivo, Ric suspirou, fazendo Jungkook franzir as sobrancelhas. — E se tivesse sido com outra pessoa, você contaria para o Jimin?

— Não, mas eu nunca mais ia olhar na sua cara. — Sua resposta arrancou uma risadinha do detetive.

— Ainda bem que isso nunca passou pela minha cabeça.

— Acho melhor você jogar isso fora. Jimin pode pensar a mesma coisa que eu.

Jungkook concordou com um aceno de cabeça, entendendo a preocupação de Ric. No entanto, ele tinha a sensação de que Jimin já tinha visto as embalagens, mas preferiu não comentar. De qualquer forma, ele estava decidido a tirá-las de lá.

Um momento depois, Jungkook entrou na rua em que morava. Ele estacionou o carro na garagem de sua casa antes de se colocar para fora do veículo com a sua maleta. Ric o acompanhou em seguida, não esquecendo de pegar a mochila com seus pertences. Ele não podia negar que estava ansioso para conhecer a residência de Jungkook.

À medida que caminhava, Ric pôde perceber que o lugar possuía um sistema de segurança avançado, o que não era uma surpresa, visto que ele estava entrando na casa do diretor-assistente. Até mesmo os vidros eram à prova de bala.

Jungkook inseriu um cartão-chave em uma máquina ao lado da porta e, em instantes, ela foi aberta. O interior da casa estava parcialmente escuro, mas ainda era possível discernir os móveis. Ric adentrou a passos lentos, não indo muito longe quando as luzes, subitamente, foram acesas.

O modo como elas acenderam significava que o Sistema de Inteligência estava programado para ligar as luzes quando reconhecesse a presença de alguém. Ele ficou impressionado, no entanto. Jungkook sorriu para a reação do colega, colocando a chave do carro na mesinha ao lado.

— Estou com medo de perguntar quais são os segredos desta casa — Ric comentou com um tom de brincadeira.

— Se eu te contar, não será mais um segredo — ele respondeu sarcasticamente, entretendo-se.

Ric sorriu largamente. Enquanto Jungkook se dirigia à cozinha para pegar um copo d'água, Ric colocava as suas coisas no sofá à medida que escaneava os cantos daquele lugar com seus olhos curiosos. Ele se lembrava de ter ido à casa de Jungkook antes de ele fazer algumas mudanças radicais.

— Tá com fome? — Jungkook apareceu na entrada da cozinha segurando um copo transparente.

— Estou faminto.

— Vou preparar uns lanches para nós. Do que você gosta?

— De tudo. — O detetive olhou para ele como se pedisse por uma resposta mais específica. — Sanduíches.

— Refrigerante ou cerveja?

— Cerveja.

— Ok, vou ver o que posso fazer.

— Enquanto você prepara os lanches, eu vou tomar um banho. Preciso trocar essas roupas — ele se queixou.

— O banheiro do quarto de hóspedes está quebrado, use o do meu quarto — Ric acenou em sinal de entendimento, pegando a mochila e colocando-a sobre os ombros.

No momento em que Ric começou a subir as escadas, Jungkook o chamou, atraindo os olhos dele na direção dos seus. O detetive se aproximou dele a passos acelerados para dizer:

— Quero a sua ajuda no caso.

— Que caso?

— Eu tirei uma cópia dos relatórios sobre os atentados. Quero analisar tudo com cuidado, mas preciso de você também. — Ric ficou pensativo a respeito dele ter tirado cópias dos documentos para estudá-los fora do espaço de investigação, mas não o questionou sobre isso. — Eu tenho algumas teorias e quero que você me ajude a encontrar as respostas.

— Claro, senhor. — Apesar de ter aceitado, Jungkook notou a hesitação na voz dele. — Não acha que é mais seguro investigar quando estivermos no Departamento?

— Quero adiantar algumas coisas porque hoje não vou poder ficar na Central — respondeu. — Tenho um compromisso mais tarde e não posso faltar.

Ric não quis contestar, afinal Jungkook já estava decidido a fazer aquilo com ou sem a sua ajuda. Mesmo não achando seguro investigar o caso por conta própria, Ric sabia que Jungkook tinha os seus motivos e confiava nele.

— Eu vou tomar um banho e então a gente começa. — Ele aceitou, dando um tapinha no ombro do investigador, que sorriu para a sua resposta.

No momento seguinte, Ric subiu as escadas e Jungkook voltou para a cozinha, decidido a preparar os lanches com os ingredientes que tinham na geladeira. Ele suspendeu as mangas da camisa até a metade dos antebraços e lavou as mãos antes de começar os preparativos.

Depois de enxugá-las, pesquisou todos os ingredientes necessários e colocou-os sobre a bancada. Seokjin havia lhe ensinado a preparar outros tipos de sanduíches, mas ele não se recordava de nenhum deles no momento, por isso decidiu fazer o mais tradicional.

Alguns minutos depois, os sanduíches ficaram prontos, então ele os colocou em um prato e os levou até a mesinha de centro junto com as garrafas de cerveja. Jungkook também fritou algumas batatas para Ric, visto que o rapaz lhe disse uma vez que adorava. Para completar, ele adicionou alguns muffins de limão.

Instantes depois, os degraus cantaram com o peso de Ric descendo-os rapidamente. Os olhos de Jungkook correram na direção dele, vendo-o usar apenas uma calça moletom preta. Seu abdômen estava exposto e seu cabelo, molhado. Era possível observar as gotas translúcidas da água deslizando ao longo da nuca dele.

— Que cheirinho bom, hein! — Ric comentou ao se aproximar do detetive e admirar o que ele preparou. — Já podemos comer?

— Claro, é tudo seu.

Enquanto Ric se acomodava no chão, Jungkook ia em direção à sua mala para pegar as cópias dos relatórios. Ele a trouxe para perto e sentou na frente de Ric, observando-o abrir as duas garrafas de cerveja. Jungkook pegou aquela que Ric lhe ofereceu.

— Tem um terno em cima da sua cama. Ele é seu? — Ric perguntou genuinamente, mordendo um pedaço de seu sanduíche.

— É para o baile de hoje à noite.

— Baile? — Ele pareceu animado. — Eu adoro bailes. Já fui a vários na minha escola.

— Jimin me convidou para ir com ele — explicou. — Eu até te convidaria, mas vou acompanhar o meu menino.

— Não se preocupe. Eu não disse isso só pra você me convidar.

Jungkook sorriu.

— Bem, se você quiser ir conosco, o Taehyung está disponível. Você pode ir com ele se quiser. Lembrando que será apenas para dançar, nada mais. — A insinuação de Jungkook não passou despercebida pelo rapaz, que quase engasgou com o pão.

— Eu pensei que o Yoongi fosse com ele.

— A relação dos dois não está muito boa. Yoongi não quer ir à festa, então o Taehyung está sem um par até agora. — A expressão no rosto de Ric disse a Jungkook que ele tinha ficado chateado com a notícia. — Eles têm discutido muito por sua causa.

— Minha causa?

— Você sabe que o Taehyung ainda gosta de você, não sabe? É complicado, mas ele sente que precisa dos dois. — Suas palavras arrancaram um suspiro dos lábios de Ric. — Eu já teria resolvido essa questão em um minuto, mas cada pensamento é diferente.

— Se dependesse de mim, tudo estaria resolvido também — respondeu. — Eu não me importaria de ficar com os dois, mas o Yoongi não me suporta.

— Ele está melhorando nisso. — De repente, Jungkook fez uma pausa. — Espere aí, você disse que ficaria com os dois? Tipo um trisal?

— Tipo um trisal — confirmou. — Eu gosto desse esporte, mas pra isso acontecer todas as partes precisam estar de acordo. E, claro, o Yoongi nunca aceitaria, então eu prefiro me abster de tudo isso.

— Parece uma boa escolha. — Ele tomou um gole de sua cerveja e sorriu com a boca no gargalo. — Ainda bem que eu não corro esse risco.

— A que risco você se refere?

— De ter uma terceira pessoa no meio do meu relacionamento. — Ric balançou a cabeça para os lados, sorrindo. — Eu não penso em ficar com outras pessoas além do Jimin. Ele tem exatamente tudo o que eu procuro em alguém, sabe?

— E você ainda disse que não é melancólico — ele pontuou.

Jungkook soltou uma gargalhada. Ele não podia negar que, se tratando de Jimin, o seu lado melancólico aflorava. Até mesmo Ric pareceu entender isso muito antes dele. O detetive gostava de conversar com o rapaz porque eles tinham muitos pensamentos em comum e não sentiam vergonha de falar abertamente sobre assuntos diversos.

— Há quanto tempo você não beija ninguém, Stewart? — Jungkook interrogou, provocando-o.

Ric estava tomando um gole da sua cerveja quando ouviu a pergunta dele, fazendo-lhe sorrir.

— Eu já entendi aonde você quer chegar, Jeon. — O detetive não conteve o sorriso sacana, entretanto seu gesto não durou muito, pois, novamente, ele parou para tomar outro gole da cerveja. — Eu não fiquei com a Layla, se é isso que está pensando. Na verdade, eu não beijo ninguém desde o Taehyung.

— O que está te impedindo? — Ric não soube respondê-lo, então optou por dar de ombros. — Você é um cara bonito, imagino que existam milhares de pessoas correndo atrás de você. Se o seu lance com a Layla não for pra frente, saia com uma delas.

— Não sei se consigo me envolver com alguém por agora. — Ele desviou o olhar de Jungkook por um segundo. — Tenho medo de me apegar facilmente.

— Eu tinha todos os motivos do mundo para não me envolver com o Jimin naquela época e mesmo assim arrisquei. — Ric voltou a encará-lo, atento às suas palavras. — Ele morria de medo de se apegar emocionalmente a mim e acabar me perdendo, porque eu fui o único homem em que ele confiou.

— Quando você percebeu que estava apaixonado?

Os pensamentos de Jungkook foram inundados por uma maré de lembranças a ponto de deixá-lo brevemente inerte. Ele se lembrou de quando viu Jimin pela primeira vez, de quando ouviu a confissão do menino sobre estar apaixonado e de todas as barreiras que atravessaram os seus caminhos.

— Eu desconfiava que poderia estar gostando dele, mas nunca imaginei que esse sentimento ia crescer — explicou. — Todos os dias, sem exceção, eu me pegava pensando nele. Aquilo me atormentou porque eu me culpava por estar sentindo aquelas coisas em um momento como aquele. Por isso, tentei resistir ao máximo... até o Jimin confessar que gostava de mim.

— Eu teria feito o mesmo que você.

— Eu daria minha vida por ele. — Suas próprias palavras o fizeram sorrir com os cantos da boca apertados.

— Você fica uma gracinha falando dele — Ric disse com um sorriso no rosto, parecendo se divertir com a expressão do colega.

Jungkook revirou os olhos para a sua observação.

— Acho melhor pararmos de falar disso e começarmos a olhar os relatórios.

Ric levantou as mãos até a altura dos ombros, não se opondo, e balançou a cabeça em afirmação. Jungkook afastou o prato com os sanduíches para apoiar a maleta, abrindo-a para pegar a papelada. Ele podia passar horas falando de Jimin se o deixassem, mas aquele não era o momento.

Jungkook espalhou alguns papéis sobre a mesinha e entregou outros para Ric, que agarrou-os cheio de curiosidade. Ele fez uma rápida análise para saber o que estava escrito no documento enquanto Jungkook abria o notebook em seu colo.

O detetive esperava encontrar algo naquelas páginas com a ajuda de Ric, que também parecia determinado a entender o que estava acontecendo. As próximas horas seriam longas, mas também trabalhosas.

✮✮✮

Jimin ligou inúmeras vezes para Taehyung, mas todas as chamadas caíram na caixa postal, então ele decidiu ir atrás do amigo por conta própria. Tinha combinado de se encontrar com Jungkook mais tarde, mas não podia deixar de ver como Taehyung estava antes de se dirigir à casa do namorado.

Preocupado, Jimin tentou se comunicar com Hannah também, mas a menina não atendeu. Ele desistiu de continuar insistindo com as ligações e foi até a casa de Taehyung, esperando encontrá-lo lá. Jimin sabia que ele não estava passando por um bom momento devido às discussões com Yoongi, mas não acreditava que esse fosse o motivo de Taehyung não atender às suas ligações.

Quando Jimin virou a esquina de uma rua, seus passos foram interrompidos imediatamente. À distância, sentado na calçada e encostado no muro de uma casa, estava Taehyung. Ele usava uma calça rasgada e uma blusa clara, porém manchada de sujeira, e seu cabelo parecia desgrenhado.

Jimin ficou assustado por vê-lo naquele estado. Decidido a entender o que estava acontecendo com o amigo, Jimin atravessou a rua e correu na direção dele, atraindo o olhar de Taehyung por causa do barulho de seus passos. Mais de perto, Jimin se assombrou quando olhou para o rosto dele.

Os olhos de Taehyung estavam vermelhos, bem como o nariz, e um lado da bochecha parecia arranhado, como se ele tivesse dormido no chão. O garoto pareceu assustado ao ver Jimin em sua frente, o suficiente para se erguer do chão às pressas.

— Jimin — Ele tentou completar a frase, mas sua voz falhou brevemente. — O-o que está fazendo aqui?

— O que você está fazendo aqui, Taehyung? — Ele tentou tocá-lo no rosto para analisar o hematoma, mas o amigo se esquivou de seu toque. — O que aconteceu? Por que você tá machucado?

Houve um momento de silêncio. Taehyung coçou o nariz e olhou para os lados, tentando encontrar uma resposta plausível para justificar o seu estado. Aos olhos de Jimin, ele parecia estranhamente agitado.

— Eu tomei uma queda e machuquei o rosto. — Jimin não engoliu aquela resposta.

— Você está mentindo! — ele declarou. — Alguém te machucou? Você dormiu no chão?

— Chega de tantas perguntas! — Jimin recuou uma pegada quando o tom de voz dele aumentou. — Eu estou bem, não se preocupe.

— Você me pede pra ser sincero com você, mas não está sendo sincero comigo agora.

Aquelas palavras atingiram o outro como um punhal afiado, a ponto de fazê-lo apertar os lábios. Jimin estava certo de que alguma coisa tinha acontecido com Taehyung, o bastante para deixá-lo perturbado e inquieto.

— Olha, Jimin, eu prometo que estou bem. — Ele o segurou pelos ombros enquanto respirava fundo. — Eu só não tive uma boa noite de sono.

— Taehyung-

— Não me faça mais perguntas, por favor. — Ele o soltou de repente para enxugar a primeira gota de suor que deslizou de sua testa. — Eu só preciso de um tempo pra entender tudo.

— Entender o quê? — Taehyung não lhe respondeu. — Por que você não me conta? Eu te liguei tantas vezes, preocupado, pra saber sobre o baile, mas você não atendeu. Onde você estava?

Taehyung resmungou um xingamento e se afastou de Jimin, fazendo-o arregalar os olhos. Ele estava decidido a não desistir até entender o que estava acontecendo com o seu amigo, mesmo ouvindo-o dizer que não era para lhe perguntar mais nada.

— Taehyung, me espere! — ele disse enquanto o seguia pela calçada, mas o seu amigo não lhe deu ouvidos. — Por favor, pare!

De repente, Jimin o segurou pelo braço, fazendo-o girar o corpo de frente para o seu. As laterais do rosto de Taehyung estavam marcadas pelo suor, indicando seu nervosismo. O menino se apavorou internamente ao encará-lo, não sabendo o que fazer.

— Eu sou seu amigo e quero te ajudar, mas isso não vai dar certo se não me contar o que está acontecendo — Jimin disse calmamente, tentando manter o desespero longe da sua voz. — Não precisa ter medo de falar a verdade.

— Eu não estou conseguindo dormir direito há alguns dias... — ele revelou, mas os detalhes estavam longe do alcance de Jimin. — Minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento.

Taehyung enxugou os rastros de suor ligeiramente. Naquele momento, Jimin observou que as mãos dele estavam tremendo muito.

— Por que você não está conseguindo dormir?

— Eu não sei. — Ele realmente parecia não saber. — De uns dias pra cá eu tenho me sentido estranho, nervoso, agitado... e com medo.

— Aconteceu alguma coisa pra você se sentir assim?

Taehyung balançou a cabeça para os lados, negando.

— Nada aconteceu além das discussões com o Yoongi, mas eu não acho que seja isso — respondeu. — O que eu estou sentindo se aproxima de ansiedade. Eu tenho que comprar algum remédio para controlar isso.

— Calma, você não pode se medicar por conta própria, nem mesmo se diagnosticar. — Jimin sentiu a necessidade de alertá-lo sobre isso. — Quando esses sintomas apareceram?

— Acho que uma semana atrás. — A julgar pela expressão de Taehyung, Jimin supôs que ele não tinha tanta clareza daquilo. — E nos últimos dois dias eu tenho me sentido pior. A Hannah disse que estou assim por causa do trabalho.

— Você se sente assim no trabalho também?

— Os sintomas aparecem mais quando estou em casa. — Jimin não gostou de pensar nas conclusões que sua cabeça chegou. — Quando saí do tribunal naquele dia, eu estava mentalmente cansado, mas com muita energia para fazer as coisas. A Hannah preparou um suco de maracujá, mas eu não consegui dormir. Na verdade, eu senti que piorei.

Com a menção do nome de Hannah, Jimin começou a conjurar algumas hipóteses em seus pensamentos. Entre elas, o que podia ser o objeto que a garota recebeu daquele estranho e se esse objeto tinha alguma relação com o que Taehyung estava sentindo agora.

Na verdade, Jimin estava inclinado a acreditar que ela tinha recebido uma substância, não um objeto, e que Taehyung estava ingerindo-a sem saber.

Não sabendo a quem recorrer no momento, Jimin selecionou a primeira pessoa que seu cérebro formulou: Jungkook.

— Eu estava indo à casa do Jungkook. Venha comigo. — Taehyung demonstrou confusão, até porque ele não sabia como Jungkook poderia ajudá-lo.

— O que o Jungkook pode fazer por mim?

— Tae, se eu estiver certo, o Jungkook é o único que pode te ajudar.

— Eu não preciso de um detetive agora, Jimin.

— Na verdade, é exatamente de um que você precisa agora. — Houve um minuto de silêncio. Dessa vez, Taehyung não se opôs. — Por favor, confie em mim. Vai ser melhor se você contar tudo para o Jungkook. Ele vai saber o que fazer.

— Você tem certeza de que o Jungkook vai resolver o meu problema?

— Não, mas não custa tentar.

Taehyung respirou, apreensivo, não sabendo que resposta dar. O olhar em seu rosto era uma mistura de medo e confusão. Ele sabia que Jimin desconfiava de algo, mas não tinha clareza do quê. Aparentemente, seu amigo sabia onde estava pisando.

— Tudo bem. — Taehyung agitou a sua cabeça, aceitando o seu convite.

Jimin segurou o braço do amigo e se dirigiu ao ponto de táxi. Taehyung estava com o braço meramente suado, o suficiente para fazer a mão de Jimin escorregar. Na verdade, desde que Jimin o encontrou naquela calçada, ele observou que o suor na pele dele tem aumentado excessivamente, a ponto de grudar alguns fios de cabelo na testa.

Jimin acenou para o primeiro táxi que surgiu, fazendo-o parar na sua lateral. Ele e Taehyung entraram no veículo e ajustaram o cinto de segurança. Jimin informou o lugar para o motorista, vendo-o acenar em compreensão e acelerar o carro em partida.

Durante todo o percurso, Taehyung não disse uma palavra. Ele olhava para além da janela como se pudesse esconder sua expressão do motorista. Jimin percebeu que a perna dele não parava de balançar, denunciando sua inquietação.

Ele esperava que Jungkook tivesse a resposta para o que estava acontecendo com Taehyung ou, ao menos, conseguisse fazer as perguntas certas para descobrir.

Minutos depois, o táxi parou em frente à casa de Jungkook. O garoto procurou pelo dinheiro em seu bolso e entregou-o ao homem, saindo do carro junto com Taehyung em seguida. Sabendo que o namorado estava em casa, Jimin entrou por conta própria, mas teve de parar na porta de entrada, pois não tinha o cartão-chave que a destravava.

Em vez de tocar a campainha, ele executou uma sequência de batidas geralmente usadas por ele para que Jungkook o identificasse. Taehyung encostou na parede, tentando se concentrar em algo que não fosse o silêncio. Seus pensamentos pareciam um turbilhão de mosquitos zunindo em harmonia.

De repente, a porta foi aberta, revelando a imagem de Jungkook. Ele estava com um sorriso iluminado no rosto e esse sorriso aumentou quando os olhos dele caíram sobre a figura do menino. Jimin sorriu em retorno, mas os cantos da sua boca ficaram espremidos, o que sugeria que ele não estava genuinamente feliz.

O detetive, no entanto, pareceu notar isso.

— Oi, gatinho — ele o cumprimentou, inclinando o corpo para roubá-lo um rápido beijo. — Preciso da sua ajuda.

As palavras de Jimin fizeram Jungkook franzir a testa em sinal de preocupação. Quando ele estava prestes a perguntar o que tinha acontecido, o garoto gesticulou para Taehyung, pedindo-lhe para entrar. Jungkook continuou com as sobrancelhas enrugadas, principalmente quando se deparou com a aparência de Taehyung.

O detetive fechou a porta depois de Jimin cruzá-la e se virou de frente para a dupla. Taehyung paralisou no meio da sala no momento em que seu olhar escorregou sobre Ric, deixando-o igualmente surpreso.

— Aconteceu alguma coisa? — Jungkook quebrou o silêncio, atraindo os olhos de Taehyung para os seus.

— Vamos, Taehyung, conte para ele. — Jimin o incentivou.

O detetive cruzou os braços calmamente, como se esperasse pelo seu pronunciamento. O garoto engoliu uma densa camada de saliva antes de tomar as palavras à superfície de sua garganta.

— Eu não estou me sentindo bem, parece que estou sob o efeito de alguma coisa. É estranho porque isso nunca aconteceu antes.

— Você está tomando algum medicamento? — Jungkook perguntou.

— Não.

— Usou drogas?

Taehyung arregalou os olhos.

— Claro que não. — Ele fez uma rápida pausa. — Nenhuma que seja ilegal.

Jungkook avaliou aquelas informações mentalmente, mas elas eram insuficientes para qualquer tipo de análise. Ric, preocupado com a declaração de Taehyung, levantou-se do sofá e se aproximou deles.

— O que você tem usado nos últimos dias?

— Nada de diferente do que eu costumo usar. — Sua mão varreu uma faixa de suor da testa. — A única coisa diferente que eu experimentei foi maconha, mas só um pouquinho mesmo.

Após aquela descoberta, Jimin levantou um olhar assombrado para o amigo, enquanto Jungkook inferia a sua resposta. Ric não reagiu, ele continuou oculto em seu canto. A forma como Jimin lhe encarava deixou Taehyung tremendamente desconfortável e, também, envergonhado.

— Não tem nada de errado em fumar maconha, tem? — Taehyung falou, deixando uma pequena quantidade de ácido arrastar em sua voz. — Foi só uma vez e pronto.

— Não foi a maconha. — Jungkook respondeu. — Os efeitos são outros.

— Alguém pode ter te drogado — sugeriu Ric pela primeira vez, não tirando seus olhos de Taehyung. — Você tem se envolvido com pessoas que usam drogas?

Taehyung balançou a cabeça para os lados, negando.

— Eu vou te levar para o laboratório do FBI para você fazer o exame toxicológico — informou Jungkook. — Se der negativo, então você terá que ir para um hospital.

— Jungkook, eu pensei em uma coisa... — Foi Jimin quem disse, apertando os cantos da boca ao receber os olhos do namorado.

— Eu pensei a mesma coisa, anjo. — respondeu. — Se estivermos certos, vamos ter que levar a sua amiga para o Departamento.

Ric e Taehyung trocaram um rápido olhar, ambos sentindo-se confusos com o diálogo entre eles. Jimin tinha a sensação de que Hannah estava envolvida, principalmente depois de vê-la receber algo de um homem estranho. Talvez, pensou o menino, ele tenha instruído a garota a drogar Taehyung, mas Jimin não entendia o porquê.

— Ric, guarde a papelada, vamos deixar para analisar esses relatórios depois — Jungkook disse, vendo o rapaz balançar a cabeça em entendimento e se apressar para arrumar os papéis. — E você, Taehyung, me acompanhe até o prédio do FBI.

Dito aquilo, Jungkook se afastou para pegar a chave do carro. Enquanto isso, Jimin olhava-o com inquietação. Ele engoliu asperamente antes de lhe dirigir a pergunta.

— Eu não posso ir com vocês?

— É melhor você ficar aqui com o Ric. — O menino não tinha nada contra o agente, mas aquilo havia deixado-o entristecido, porque ele gostaria de estar com Taehyung durante o exame. — O exame será rápido, a demora é o resultado.

— Merda — Taehyung resmungou, parecendo decepcionado. — Por que isso está acontecendo justo hoje? Eu queria tanto ir ao baile.

— O baile ainda está longe de começar. Talvez você se sinta melhor até lá — Jungkook disse, retornando para perto deles. Em silêncio, Jimin ainda processava o pedido do namorado. — Bem, se o que está te deixando assim é uma substância tóxica, você precisa se manter longe dela por algumas horas para se recuperar.

— Eu já disse que não estou tomando nada.

— Ric pode estar certo, Taehyung. — O garoto se calou imediatamente. — Talvez alguém esteja te drogando sem você saber. Foi o que aconteceu com a Hannah.

— Quem faria isso comigo?

— A Hannah. — Um sentimento misto de raiva e confusão subiu sobre Taehyung como uma onda gigante. — Mas só podemos averiguar isso se o exame der positivo.

— Então isso significa que eu não posso voltar para minha casa?

— É melhor você ficar na casa do Jimin até o resultado sair. — Jungkook olhou para o namorado, mas ele não se moveu nem disse nada por um momento.

— Sim, você pode ficar na minha casa.

Taehyung sorriu com os lábios apertados. Ele ainda estava mexido com as hipóteses levantadas por Jungkook, porém nem um pouco surpreso, visto que o comportamento de Hannah nos últimos dias lhe deixou de cabelos em pé.

— Podemos ir? — A pergunta de Jungkook arrancou um suspiro de Taehyung.

— Sim.

Jimin fez uma cara de decepção, embora tenha tentado disfarçá-la, e olhou de relance para Ric, que ainda arrumava os papéis em uma pasta. Ele foi surpreendido quando Jungkook se aproximou dele e segurou seu rosto com as duas mãos, fazendo-o enfrentar seus olhos negros.

— Faça companhia ao Ric, ele acabou de sair do hospital. — Sua voz sussurrou, não como uma ordem, mas um pedido gentil.

Jimin olhou novamente para Ric e então fez que sim com a cabeça, arrancando um leve sorriso dos lábios do detetive. Jungkook roubou um demorado beijo dele, sentindo o toque macio dos lábios do garoto contra os seus, e em seguida selou a sua testa.

Antes de se afastar, Jungkook ofereceu a ele um sorriso encantador, o suficiente para acalentar o coração do menino, que já não estava mais decepcionado por não poder acompanhá-los. Consciente de que dois pares de olhos os observavam, Jungkook o soltou e caminhou até a porta, abrindo-a para que Taehyung passasse.

Quando eles saíram, Jimin virou de frente para Ric, dessa vez com a expressão mais suave, e sorriu amigavelmente. O rapaz retribuiu o gesto de forma rápida, voltando a guardar os papéis na maleta. Quando Ric não fez nenhum comentário, o garoto decidiu se aproximar a passos lentos enquanto fitava-o com a testa franzida.

— O que é isso? — ele perguntou, referindo-se aos documentos que Ric guardou na maleta.

— É sobre um caso que estamos investigando, não posso dar muitos detalhes. — Ele apertou os lábios em sinal de lamentação. — Jungkook não quer que saibam que estamos fazendo isso fora do local de trabalho.

— Entendi. — ele balançou a cabeça e se acomodou no sofá, colocando uma das almofadas em seu colo. — Eu soube que você saiu do hospital hoje. Que bom que está melhor.

— Obrigado, Jimin — ele sorriu. — Ainda não posso voltar a participar das operações em campo, tenho que ficar de observação por uns dias.

— É por isso que você está aqui na casa do Jungkook?

— Ele me deixou ficar aqui por um tempo. — Jimin não respondeu nada, apenas olhou ao redor da sala. — Tudo bem pra você?

— O quê? — Seus olhares se encontraram.

— Tudo bem pra você se eu ficar na casa do seu namorado por um tempo?

Jimin quase congelou. Ele ficou encarando-o, sem conseguir uma resposta rápida. Ele não tinha nada contra Ric, mas não podia fingir que não sentia um pouco de ciúmes da relação que ele construiu com Jungkook. No entanto, se estava tudo bem para Jungkook a sua amizade com Vernon, aquela situação não poderia ser diferente.

— Vocês são colegas de trabalho e amigos, não tem nada de errado nisso. — O garoto respondeu, tentando parecer educado. — Então, não se preocupe com isso, eu não me incomodo.

Ric sorriu, parecendo aliviado com a sua resposta. Jimin não deixou de reparar que ele estava sem camisa, exibindo seu físico atlético. Ele não tinha nenhuma marca no corpo, os músculos de seu abdômen eram desenhados e as suas costas, limpas. Jimin não pôde deixar de se comparar a Ric, visto que as suas costas tinham inúmeras cicatrizes, diferente das dele.

— Jimin — ele o chamou e fez uma pausa, refletindo sobre o que diria a seguir. — Você acha que o Taehyung gostaria de ir comigo ao baile? Jungkook me disse que ele está sem um parceiro.

— Ele vai adorar ir com você. — Jimin respondeu com um sorriso no rosto, tentando esquecer seu pensamento anterior. — Posso falar com ele depois.

— Espero que ele aceite. — havia uma nota de frustração em suas palavras, mas Jimin não entendeu o porquê. Em seguida, Ric chacoalhou a maleta e disse: — Eu vou levar isso lá pra cima, mas não demoro.

Jimin não disse nada, apenas concordou com um balançar de cabeça. Ric se levantou do sofá e caminhou em direção às escadas. O garoto, novamente, não conseguiu desviar o olhar do corpo dele, sentindo o estômago protestar com um aperto.

Ele odiava se comparar com os outros, mas, às vezes, se tornava inevitável, principalmente quando suas inseguranças eram colocadas em destaque pelos seus próprios pensamentos.

Jimin tentou evitar pensar em tais coisas usando o celular para se distrair. O garoto sabia que ignorar o problema não o ajudaria, mas, naquele momento, sua disposição para refletir sobre suas inseguranças era quase igual a zero. E, além disso, ele pensou, tinha problemas maiores para se preocupar no momento.

✮✮✮

Horas tinham se passado e a noite havia chegado em companhia de uma refrescante brisa. Como Jungkook tinha sugerido, Taehyung passou o dia na casa de Jimin por precaução, mas sua memória se manteve presa à imagem de Hannah em busca de respostas.

Ele continuou agitado a maior parte do tempo, mas começou a se acalmar naturalmente. Jimin esteve ao seu lado o tempo todo, igualmente preocupado com a possibilidade de Hannah ter sido a autora de tudo aquilo. Ele tentou pensar em algumas razões e todas as alternativas lhe assustavam.

Jimin permitiu que ele dormisse a tarde toda ou, ao menos, tentasse. Assim que anoiteceu, o garoto decidiu ir até o quarto em que Taehyung se encontrava para ver como ele estava. Jimin deu algumas batidinhas na porta só para avisá-lo sobre a sua presença antes de inserir a cabeça dentro do cômodo.

Taehyung estava penteando o cabelo de frente para o espelho quando seus olhos, de repente, avistaram Jimin através do reflexo, fazendo-o sorrir. O garoto entrou no cômodo depois de confirmar que o amigo já estava acordado e fechou a porta com as costas, ficando recostado nela.

— Então você decidiu ir ao baile? — Jimin perguntou após conferir as vestimentas dele.

— Eu estou me sentindo bem melhor, parece que o efeito passou.

— O resultado do exame ainda não saiu, né? — Taehyung balançou a cabeça para os lados, negando. Jimin suspirou e sentou-se na beirada da cama. — Pelo menos você já está melhor. Confesso que se você não fosse a esse baile, eu também não iria.

— Você deixaria de dançar agarradinho com o Jungkook só porque eu não iria? — Jimin deu de ombros, dando a entender que sim.

— O Jungkook só está indo por minha causa mesmo.

— E isso é muito bom, porque mostra que ele quer ficar perto de você. — Taehyung olhou para os cantos do quarto à procura de algo. — Onde está aquele estojo de maquiagem?

Jimin apontou para a escrivaninha, observando-o se dirigir até lá. Taehyung gostava de usar maquiagem ao sair, ao contrário de Jimin, que preferia a sua pele natural. No entanto, ele sabia que o amigo era apaixonado por maquiagens, por isso comprou um estojo só para ele e deixou-o guardado para que Taehyung usasse sempre que dormisse em sua casa.

Diante das circunstâncias atuais, Taehyung não pôde voltar para casa para pegar a roupa do baile, então Jimin lhe emprestou um de seus ternos. Ele era alguns centímetros mais alto que Jimin, mas a roupa lhe serviu muito bem.

— Você acredita que o Yoongi nem olhou pra mim? — Taehyung comentou enquanto espalhava a base no rosto. Jimin demonstrou confusão diante da pergunta. — Ele sequer foi perguntar como eu estava.

— Ele ainda está ressentido. — Taehyung não expressou nenhuma emoção, mas Jimin sabia que por trás daquela fachada inexpressiva existia um semblante triste. — Eu aposto que ele ficou preocupado com você, só não teve coragem de ir perguntar pessoalmente.

— Às vezes me pergunto se estou sendo duro com ele. — declarou. — Talvez essa seja a lição que eu mereço.

— Você não merece lição nenhuma. Ele só quer um tempo pra pensar e eu acho justo que você também tenha esse tempo. — Taehyung o encarou brevemente pelo reflexo, mas voltou a focar no que estava fazendo. — Aliás, o Ric quer te acompanhar ao baile. Por que você não aproveita esse momento pra ser franco com ele?

De repente, Taehyung parou de se maquiar e virou-se de frente para o amigo, que pôde observar a surpresa estampada no olhar dele.

— Você convidou o Ric?! — perguntou.

— Na verdade, ele perguntou se você aceitaria. Eu disse que ia conversar com você, mas acabei aceitando com antecedência. — Taehyung ainda estava em choque. — Eu acho que, apesar de tudo, o Ric gostaria de ser seu amigo.

Antes que Taehyung dissesse algo sobre aquilo, alguém bateu na porta, atraindo os olhares de ambos na direção do barulho. Foi Jimin quem se levantou da cama e abriu a porta, encontrando Seokjin parado em sua frente.

— Oi, meninos, eu não queria atrapalhar. — Jimin avaliou as vestimentas do homem em silêncio, chegando à conclusão de que ele estava arrumado para um compromisso. — Eu estou de saída e gostaria de saber se vocês querem uma carona até a escola.

— Eu acho que o Jungkook está vindo nos buscar. Ele já deve estar chegando. — Jimin respondeu, semicerrando os olhos em seguida. — Para onde está indo?

— Sabia que a curiosidade matou o gato? — ele apertou o queixo do menino com os dedos, fazendo-o sorrir desajeitadamente. — Eu te conto tudo depois.

— Tá na cara que o seu pai está saindo com alguém. — Taehyung comentou com atrevimento. — Olha a cara dele de quem tá sendo bem servido.

Seokjin olhou com espanto de Taehyung para Jimin e de Jimin para Taehyung, embaraçado pela forma como o garoto verbalizou aquilo. Notando o entrave no semblante do homem, Jimin respondeu:

— Não dê ouvidos a ele, pai, o Taehyung é assim mesmo.

Ele encarou o amigo com um olhar repreensivo, observando-o balançar os ombros e virar-se de frente para o espelho. Jimin voltou-se para Seokjin, ganhando os olhos do homem em segundos.

— Você pode ir para o seu compromisso. — disse o garoto, sorrindo. — Não se preocupe comigo, o Jungkook vai me levar e me trazer intacto.

— E cheio de marcas. — acrescentou Taehyung.

— Taehyung! — ele protestou, envergonhado. — Cale a boca!

Seokjin colocou as mãos na cintura e olhou para Jimin, havia uma pergunta silenciosa transitando em suas orbes. O menino entendeu a mensagem rapidamente, mas se fez de desentendido.

— Ele está se referindo aos confetes. — Taehyung segurou uma risada após ouvir o argumento do amigo. Seokjin apenas balançou a cabeça para os lados, nem um pouco convencido. — Se eu precisar de alguma coisa, te chamo.

— Certo. — ele fez uma rápida pausa, parecendo refletir sobre algo. — Eu vou esperar o Jungkook chegar.

— Por quê?

— Quero garantir que ele venha te buscar. – Jimin revirou os olhos mentalmente, consciente de que aquela não era a resposta certa. — Você sabe, eu tenho que estar por dentro dos seus horários, então quero saber que horas ele pretende te trazer para casa.

— Você não acha que tá exagerando um pouco? — perguntou. — Eu já sou maior de idade, não preciso do Jungkook para controlar meus horários.

— Não quero que ele controle os seus horários, mas que garanta a sua segurança.

Jimin entendia a preocupação de Seokjin depois dos acontecimentos recentes, no entanto não podia fingir que, algumas vezes, se sentia desconfortável pela forma como todos ao seu redor o tratavam. A sensação que tinha era de que todo mundo o enxergava como alguém necessitado de proteção e cuidado o tempo todo.

— Eu vou esperá-lo na sala. — Seokjin informou, dando-lhe um beijo na testa antes de se afastar.

O menino não disse nada em resposta, apenas fez um pequeno gesto com a cabeça em sinal de entendimento. O homem deu as costas e saiu, deixando Jimin parado na porta enquanto o encarava à distância.

— Ele nem disfarça o ciúmes. — comentou Taehyung atrás de si, risonhamente.

Jimin suspirou.

— Ele passou dezoito anos sem saber que tinha um filho, é normal que queira me proteger de tudo. — Ele tentou se convencer de seu próprio argumento. — Eu passei por muitas coisas, ele só quer garantir que nada disso volte a acontecer de novo.

— No lugar dele, eu faria a mesma coisa.

— O único problema é que ele me trata como se eu fosse um bebê indefeso — confessou.

Taehyung sorriu.

— Não dizem por aí que os filhos nunca crescem para os pais? Deve ser assim para o Seokjin também. — Jimin refletiu sobre aquilo. — Além do mais, Christopher também te trata como um bebê. Por que todos te tratam como um bebê? Você tem cara de bebê!

— Pare de falar essa palavra.

— Olhe só para o seu rosto, não tem um fiapo de barba. — ele observou. — Você é claramente um bebê.

Jimin revirou os olhos e suspirou. Seu celular vibrou com a chegada de um torpedo, fazendo-o agradecer ao universo por aquela interferência. Ele procurou o aparelho em seu bolso e leu a mensagem mentalmente, começando a sorrir para ela.

— Jungkook e Ric já chegaram. — Havia uma nota de alívio em seu tom. — Falta muito pra terminar?

— Não, já acabei.

Taehyung deu um giro, analisando pela última vez o seu reflexo no espelho antes de correr para guardar o estojo de maquiagem. Jimin se colocou para fora do quarto enquanto digitava no celular. Seu amigo apareceu atrás de si segundos depois, fechando a porta do cômodo ao sair.

Jimin guardou o celular quando ouviu a voz de Jungkook no andar de baixo e acelerou os passos. Taehyung tentou acompanhá-lo, mas teve que diminuir o ritmo ao alcançar os degraus da escada. Em instantes, Jimin avistou Jungkook ao lado da porta da sala, conversando em particular com Seokjin enquanto Ric admirava um quadro na parede.

O último degrau fez um rangido ao receber o corpo de Jimin, o que serviu para atrair a atenção de todos. Os olhos do detetive se voltaram para os seus e deslizaram, lentamente, pelo seu look, fazendo-o estremecer por dentro, principalmente quando um sorriso atraente brincou em seus lábios.

Naquele momento, Jimin desejou entrar nos pensamentos de Jungkook para descobrir o que ele imaginou ao lhe ver a ponto de fazê-lo sorrir daquele jeito. Com certeza, a resposta o deixaria envergonhado.

As sobrancelhas de Seokjin se ergueram, primeiro para Jungkook, depois para Jimin. O menino engoliu para disfarçar o seu nervosismo e se aproximou deles com um sorriso simpático no rosto. Jungkook umedeceu os lábios para recebê-lo, mas Seokjin não pareceu notar o seu gesto, apenas Jimin, que se inclinou para beijá-lo na boca.

— Você está lindo, anjo. — ele disse ao se afastar, arrancando uma risadinha de Jimin.

— Obrigado.

Jungkook apertou o garoto à lateral de seu corpo, fazendo-o envolver os braços ao redor de sua cintura e deitar a cabeça em seu ombro. Seokjin olhou para aquela cena com as sobrancelhas enrugadas, mas não verbalizou nada. Taehyung e Ric trocaram olhares rápidos.

— Que horas vocês pretendem voltar? — Seokjin perguntou diretamente para Jungkook.

— Seu filho está em boas mãos, Seokjin. Se controle — ele respondeu com um sorriso de canto.

— Responda a minha pergunta, Jeon.

O detetive baixou a cabeça para olhar para o garoto, sua expressão era um misto de tédio e sarcasmo. Jimin não tirou os olhos dele, nem mesmo quando Jungkook voltou a encarar Seokjin. Enquanto isso, Ric e Taehyung decidiram esperar lá fora para não interromper.

— Meia noite está bom? — Seokjin ficou em silêncio por um tempo enquanto refletia sobre a opção que Jungkook lhe deu.

— Meia noite — ele concordou.

Jimin balançou a cabeça, certo de que tinha entendido errado. Ele se afastou de Jungkook rapidamente e olhou para ambos.

— O que é isso? Vocês vão decidir por mim agora? — Ele fez uma careta para as suas próprias palavras e então virou-se de frente para o pai. — Eu volto assim que a festa acabar.

Ele deu seu veredito e então plantou um beijo na bochecha de Seokjin antes de puxar Jungkook pelo braço para fora da casa, não esperando por uma resposta de seu pai. O homem ficou parado enquanto observava-os, seus olhos pesados de preocupação.

Jungkook colocou o braço em volta do garoto, trazendo-o para perto enquanto caminhavam até o carro estacionado do outro lado. O detetive, então, se inclinou para o lado e sussurrou no ouvido de Jimin:

— Você fica uma gracinha quando se aborrece. — Sua provocação arrancou um suave grunhido da garganta do menino.

— Não me provoque.

Jungkook não conteve a risada. Ele beijou os cabelos sedosos de Jimin, fazendo-o enrubescer as bochechas e sorrir meio sem graça. Taehyung e Ric estavam encostados no carro enquanto esperavam pelos dois.

O detetive destravou o carro para que os outros pudessem se acomodar e em seguida abriu a porta do carona para Jimin, convidando-o a entrar. O garoto roubou um selinho do namorado antes de se lançar para dentro do veículo, percebendo, instantes depois, que ele se agradou com a sua atitude.

No momento seguinte, o couro do banco do motorista estalou ao receber o corpo de Jungkook. Ele prendeu o cinto, assim como os demais, e segurou o volante para dar partida. Jimin deitou a cabeça em seu ombro enquanto sentia o carro se movimentar lentamente em direção à estrada principal.

Jungkook olhou para Taehyung pelo retrovisor interno, vendo-o cochichar algo no ouvido de Ric. O que quer que ele tenha dito, fez o rapaz sorrir com os lábios prensados.

— Como você está, Taehyung? — Jungkook perguntou de repente, fazendo-o inclinar a cabeça na sua direção.

— Eu me sinto bem melhor.

Jimin virou a cabeça para o lado e fixou o olhar no amigo, contente por vê-lo recuperado. Jungkook não tirou os olhos da estrada, mas demonstrou satisfação pela resposta recebida.

— O resultado ainda não saiu, né?

— A Layla ficou responsável por pegar o resultado. Ela disse que me ligaria assim que estivesse com ele em mãos. — Após as palavras de Jungkook, Jimin se aninhou ainda mais ao corpo dele, preocupado e com medo.

— Se eu souber que foi a Hannah quem me deu drogas, ela vai se ver comigo. — Taehyung manifestou sua indignação.

— Você não fará nada — Jungkook disse, deixando-o brevemente inconformado. — Se o resultado der positivo, eu cuido disso.

Taehyung suspirou, descontente, mas não se atreveu a objetar. Ele encostou a cabeça na janela enquanto sentia o movimento do carro em seu corpo. Conhecendo-o bem, Jimin supôs que o silêncio do amigo não era um bom sinal.

Minutos depois, Jimin pensou em colocar uma música para tocar, visto que o silêncio instalado no carro estava começando a lhe incomodar. Ele perguntou a Jungkook onde estava o pendrive com as suas músicas favoritas e o detetive lhe indicou o porta-luvas.

Discretamente, Ric beliscou o braço de Jungkook e quando os olhos dele se voltaram para o seus, uma expressão confusa tomou conta do rosto do rapaz. Naquele momento, Jungkook entendeu que Ric estava preocupado com a embalagem de camisinha que deveria ter sido jogada fora, apesar de não significar nada para Jungkook.

— Jimin — Ric o chamou quando ele estava prestes a abrir o porta-luvas. O menino girou a cabeça para encará-lo e o viu se debruçar no assento. — Tem uma rádio que passa muitas músicas boas. Você pode colocar nela? Eu não costumo pedir, mas acho que você vai gostar.

— Tudo bem — Jimin analisou o rosto dele por um momento. — Como é o nome da rádio?

Jungkook olhou para Ric através do espelho do carro de um jeito divertido, ciente de que o rapaz não tinha nenhum nome na mente. Até mesmo Jimin estava começando a desconfiar do motivo por trás de sua pausa. De repente, um brilho iluminou a face de Ric e ele sugeriu o nome de uma rádio muito famosa no país.

Jimin pesquisou o canal até achá-lo, ouvindo-o comemorar com um estalo de dedos. Jungkook riu baixinho e balançou a cabeça para os lados, enquanto Taehyung se divertia com a animação de Ric. De todos os gêneros musicais possíveis, Jimin não imaginou que Ric gostasse tanto de jazz.

Depois de longos minutos na estrada, Jungkook visualizou os muros da escola e as luzes multicoloridas apontando para o céu. Muitos carros estavam dirigindo naquela direção, fazendo-o diminuir a velocidade para acompanhar o fluxo. Jimin olhou para além da janela, observando muitas pessoas conhecidas passando pelo portão.

Jungkook manobrou o veículo em direção a uma vaga próxima, esforçando-se para não deixar o carro à sua frente tomar o lugar. Depois de uma sequência engenhosa no volante, ele conseguiu estacionar no espaço desejado em tempo recorde. Jimin se apoiou no painel quando o carro parou bruscamente, fazendo seu coração se agitar por diversas batidas.

Ric e Taehyung também foram arremessados para frente, mas o cinto de segurança os segurou. Jimin arrumou alguns fios de cabelo que ficaram bagunçados após o súbito movimento do carro. Jungkook foi o primeiro a sair do veículo, sendo acompanhado pelos demais em seguida. Porém, quando Jimin estava prestes a abrir a porta, seu namorado já estava com a mão na maçaneta.

O garoto olhou para a aglomeração de pessoas que formava uma fila para entrar no colégio. Crianças saltitantes, pais acompanhando seus filhos, grupos de estudantes ao lado de seus parceiros e parceiras, amigos e amigas. De repente, Jimin sentiu uma mão macia entrelaçar a sua lentamente, fazendo-o girar a cabeça para o lado e se deparar com Jungkook.

— Vamos? — O menino confirmou com um aceno de cabeça, virando-se para Taehyung, que já estava com o braço enroscado no de Ric.

— Seremos os únicos sem uma máscara. — comentou Taehyung.

— Isso significa que somos exclusivos — Jungkook brincou, arrancando algumas risadinhas de Ric e Jimin.

Em seguida, eles caminharam em direção ao portão de entrada, parando no final da fila improvisada para esperarem a sua vez. Jimin se aninhou perto de Jungkook para se aquecer enquanto observava o porteiro ordenar o fluxo de pessoas para ninguém se machucar. Às suas costas, Taehyung e Ric conversavam baixinho, nem mesmo Jimin conseguia entender o que eles falavam.

Por um momento, Jimin parou para refletir sobre tudo aquilo. Há um dia atrás, um aluno do colégio tinha sido preso em flagrante, ele pensou, e a escola não parecia preocupada em manter a reputação limpa. O garoto imaginou que, após a descoberta da prisão de Josh, a diretora cancelaria o baile. No entanto, a Sra. Torres não quis cancelar os preparativos.

Jimin também soube, de forma alheia, que a professora de biologia tinha sido demitida, mas ele não fazia ideia do porquê. Sabendo que Jungkook investigou esse caso de perto, o menino estava certo de que ele tinha a resposta para essa pergunta.

Um momento depois, eles alcançaram o portão e foram autorizados a entrar no local. A área externa estava ornamentada com luzes verdes, o jardim tinha sido enfeitado com guirlandas de girassóis e havia uma passarela que levava-os até o salão principal. Taehyung cutucou o braço de Jimin para lhe mostrar uma decoração específica, fazendo-o sorrir de forma encantadora.

Eles se dirigiram para o salão principal, sendo recebidos por uma enorme faixa escrita: "Sejam bem-vindos ao nosso baile de boas-vindas!". O espaço estava cheio de pessoas, muitas delas, inclusive, sentadas em algumas mesas decoradas enquanto eram servidas pelos garçons. Alguns grupos de adolescentes tinham ocupado a pista de dança. Para a surpresa de Jimin, ninguém estava usando máscara como Taehyung havia imaginado.

Adiante, havia uma plataforma circular, onde um homem ajustava alguns equipamentos de som para dar animação à festa. Ric indicou uma mesa vazia no canto do salão e eles seguiram até lá. De repente, uma batida forte vibrou nos alto-falantes, arrancando muitos jovens de seus assentos e fazendo-os correr para o meio da pista de dança.

Jungkook ficou atrás de Jimin, quase abraçando-o por trás, para que ninguém se esbarrasse em seu ombro e o machucasse. Ao alcançar a mesa, ele arrastou a cadeira para que o menino se acomodasse, em seguida sentou ao lado dele. Ric e Taehyung sentaram perto um do outro, mas os olhos de Taehyung estavam fixos na pista de dança.

— Você quer dançar um pouco? — Ric perguntou com uma certa curiosidade, recebendo um sorriso animado e um aceno de cabeça em resposta. — Então vamos lá.

Ele esticou a sua mão em um convite e então Taehyung a segurou sem hesitar. Jungkook e Jimin ficaram observando-os, em silêncio, enquanto eles se dirigiam até a pista de dança para se juntar aos outros, que, estranhamente, faziam movimentos esquisitos ao ritmo da música.

— Quer dançar também, anjo? — Jungkook perguntou em seu ouvido, colocando o braço em torno de seus ombros.

Jimin riu.

— Acho melhor esperarmos um pouco.

— Você é quem manda. — O corpo do garoto estremeceu com o tom arrastado de sua voz. — Por falar nisso, você pensa em voltar às aulas de dança?

— Eu tenho pensado nisso nos últimos dias, mas não sei se estou pronto ainda. — respondeu. — Quem sabe um dia eu volte a dançar.

— Quero ser o primeiro a te prestigiar.

— Não se preocupe, se isso acontecer, só você vai receber uma dança particular. — Jungkook encarou seus olhos com um interesse a mais. Jimin escondeu uma risadinha, consciente de que tinha provocado-o.

— É sério?

— Por que você está surpreso?

— Eu não esperava uma dança particular, mas agora confesso que fiquei extremamente curioso. — Jimin mordeu a ponta do lábio inferior e olhou para o salão, tentando não sucumbir às palavras de Jungkook.

— O seu sonho é me ver dançar? — ele perguntou, com os olhos ainda fixados nos corpos eletrizantes pulando na pista.

— O meu sonho é te fazer a pessoa mais feliz desse mundo. — Jimin, instantaneamente, voltou a encará-lo, admirando aquelas orbes negras pousadas nas suas.

— Essa conquista já é sua, gatinho. — O sorriso no rosto de Jungkook se alargou por uma fração.

Jimin foi surpreendido no momento em que o detetive se inclinou e tocou seus lábios. Ele não soube como reagir à princípio, principalmente quando os dedos frios de Jungkook enfiaram uma das mechas de seu cabelo para trás da orelha e tocaram sua nuca.

— Jungkook — Jimin interrompeu o beijo, sentindo as bochechas esquentarem de repente. — Tem muita gente aqui. Eu fico com vergonha.

Muito levemente, Jungkook assentiu de modo compreensivo, deslizando a mão que estava na nuca dele para a sua bochecha escaldada, um gesto que, para Jimin, soou quase protetivo.

— Tudo bem, príncipe — ele disse, traçando o contorno da boca dele com o polegar. Jimin sentiu-se estremecer internamente. — Podemos ir para outro lugar se você quiser. O meu carro parece uma ótima opção, não acha?

— Nós acabamos de chegar — ele sorriu e removeu o dedo de Jungkook da sua boca lentamente. — Se controle, detetive.

Aquele jogo de sedução estava começando a deixar Jungkook entretido. O sorriso no rosto dele aumentou e então Jimin pôde perceber que a sua resposta, de alguma forma, o agradou. Quando Jungkook se preparou para lhe dar uma resposta, alguém o interrompeu.

— Detetive Jeon? — Era a voz da Sra. Torres. Ele direcionou seus olhos à mulher, notando que ela parecia surpresa com a sua presença no baile. — Eu não imaginei encontrá-lo aqui.

— Estou acompanhando meu namorado. — Os olhos da diretora caíram sobre Jimin rapidamente, o suficiente para deixá-lo um pouco inseguro.

Ela limpou a garganta e forçou um sorriso gentil.

— Eu gostaria de falar com o senhor sobre aquilo. — O tom de resistência na voz dela fez Jimin desviar o olhar para outra direção, consciente de que a mulher estava evitando dizer os detalhes na sua frente. — Os professores querem muitas explicações, então eu gostaria que o senhor conversasse com eles.

— Me perdoe, Sra. Torres, mas eu não estou aqui a trabalho — respondeu educadamente. — Podemos deixar essa conversa para outro dia?

— Claro — ela concordou, mas sua expressão não parecia contente com aquela resposta. De repente, a atenção dela voltou-se para Jimin, estudando-o. — Eu não sabia que você tinha terminado com o Vernon, querido.

Talvez Jimin estivesse errado, mas ele identificou um tom ligeiramente mais hostil na voz dela, diferente do momento anterior. Suas sobrancelhas foram arrastadas para cima antes de, finalmente, dar a ela uma resposta.

— Eu não costumo falar sobre minha vida pessoal para qualquer pessoa, Sra. Torres.

A diretora piscou um par de vezes, parecendo afetada pelas palavras do garoto, pois havia uma dose pesada de alegação por trás delas. Aquilo a deixou momentaneamente sem reação.

— Bom, eu espero que vocês aproveitem a festa. — Essa foi a única coisa que saiu de sua garganta após a alfinetada de Jimin. Ela forçou um sorriso e disse: — Vou cumprimentar outros convidados. Com licença.

A mulher deu as costas, fazendo a barra do vestido rodopiar, e caminhou em direção à uma mesa mais adiante. Jimin soltou um suspiro pela boca e revirou os olhos mentalmente. Incomodado pelo comentário da mulher, o garoto se virou de frente para Jungkook, expressando sua indignação.

— Você viu que mulher intrometida? — ele perguntou de forma retórica, sentindo o pulso acelerar. — Por um acaso ela estava insinuando que eu troco de namorado como troco de roupa?

— Não dê ouvidos a ela, anjo.

— E mesmo que fosse, isso não é da conta dela. — Jungkook o lançou um olhar afetuoso, concordando com as suas palavras. — Eu cansei de todo mundo ficar se metendo na minha vida.

— Não se precipite, meu bem. — Ele acariciou seus cabelos, tentando acalmá-lo. — Como você mesmo disse, isso não é da conta dela. Vamos aproveitar o baile.

Aos poucos, a irritação de Jimin começou a diminuir, deixando-o mais refém das carícias suaves que Jungkook distribuía em seu cabelo. Ele não queria estragar a noite por causa de um sentimento de raiva, então ele disse a si mesmo que iria ignorar o momento anterior e focar no motivo que o levou até o baile.

— Você tá certo, eu não vou dar ouvidos a ela. — Jungkook sacudiu a cabeça, sorrindo. De repente, o menino reparou que sua garganta estava seca. — Eu estou ficando com sede, você quer beber algo?

— Sim, mas acho que eles não estão distribuindo cerveja. — Ele olhou ao redor do salão em busca dos garçons. Jimin sorriu para a sua resposta.

— É claro que não, gatinho, isso é um baile de uma escola, eles não entregariam cerveja para os alunos.

— Nem para os convidados? — O garoto agitou a cabeça para os lados, negando. — Tudo bem, eu me contento com um suco ou uma água.

— Um suco não é tão ruim assim.

— Vamos ver o que eles têm.

Jungkook assobiou para um garçom que passou ao seu lado e gesticulou para que ele se aproximasse. O homem segurava uma bandeja com várias taças, cada uma continha um conteúdo diferente. Devido ao barulho da música, o homem teve que se inclinar para ouvir o detetive.

— Quais sabores de suco você tem aí?

— Limão, melancia, laranja, morango e cenoura. — Jungkook olhou para Jimin, perguntando-lhe que sabor ele queria.

— Melancia. — o menino respondeu.

— Limão. — Jungkook acrescentou.

O garçom pegou os respectivos pedidos e entregou na mão deles, despedindo-se com um aceno de cabeça. Jimin saboreou o conteúdo, sentindo o gelo raspar a sua garganta delicadamente. De repente, uma lembrança emergiu em seus pensamentos.

— O meu pai ama suco de melancia. — O garoto comentou, soando melancólico.

— Qual deles?

— Christopher — respondeu. — Eu comecei a gostar por causa dele.

— E do que o Seokjin te ensinou a gostar?

— Cogumelos fritos. — Jungkook esboçou uma expressão de nojo, fazendo Jimin rir. — Não é tão ruim assim, gatinho. Você precisa experimentar antes.

— Eu dispenso.

O menino pensou em dizer a ele o modo de preparo para convencê-lo do contrário, mas antes que pudesse verbalizar o que Seokjin lhe ensinou, duas sombras emergiram na sua lateral e ocuparam os dois assentos ao lado. Ric e Taehyung estavam ofegantes, porém sorridentes.

— Vocês não vão dançar, não? — Taehyung perguntou enquanto revezava o olhar entre os dois. Sua pergunta soou como uma cobrança, mas sua intenção estava longe de ser esta. — Ric dançou tanto que os pés começaram a doer.

— Esses sapatos estão me matando. — O rapaz reclamou, cutucando a parte de trás do calçado. — Se quiserem dançar, fiquem à vontade. Eu vou ficar sentado o resto da noite.

— Não seja dramático. — Taehyung deu uma leve cotovelada em seu braço. — Basta tirar os sapatos e está tudo resolvido.

— Ric quer fugir do compromisso dele porque não consegue dar conta. — Jungkook provocou, lançando uma piscadela para o rapaz no instante em que ele o encarou.

— É mesmo, Jeon? Venha dançar comigo e eu te mostro. — o estômago de Jimin ficou agitado ao ouvir a proposta de Ric.

Se controle, ele disse a si mesmo.

— Está me desafiando, Stewart? — Jungkook perguntou, dando a Ric um olhar que, para Jimin, se aproximava de malícia. — Eu sou bem competitivo, você sabe disso.

— Eu gosto de competições. — Ric acrescentou.

— Quer saber? Acho que o Taehyung está certo. — Jimin disse sobre o barulho da música, levantando-se em seguida. — Eu quero dançar.

Ele esticou a mão para Jungkook, que encarou seu gesto com as sobrancelhas arqueadas e um pequeno sorriso nos lábios. O menino sentiu as batidas de seu coração acelerar, porque sabia exatamente o que seu namorado estava pensando.

Momentos depois, o detetive segurou a mão dele e se levantou, aproveitando a proximidade para deixar um beijo na testa de Jimin. A agitação em seu estômago começou a diminuir naturalmente, embora o beijo de Jungkook tenha contribuído para o resultado.

Quando uma música lenta começou a tocar nos alto-falantes, Taehyung deu um pulo da cadeira, estranhamente animado, e disse:

— Dança de casais, agora sim! — Ele enroscou seu braço no de Ric, deixando-o brevemente confuso. — Só mais uma dança, por favor.

— Taehyung, eu estou morto...

— Eu prometo te largar depois dessa dança! — Ric ficou em silêncio por um tempo, pensando naquela proposta, em seguida soltou um suspiro pela boca, cedendo.

— Só mais uma — ele reforçou para a alegria de Taehyung, que não conteve a animação.

Eles foram até o meio da pista, onde outros casais dançavam abraçados. Jungkook puxou o garoto pela cintura, trazendo-o para perto de seu corpo. Jimin pressionou a bochecha no peito dele, sentindo o coração do detetive bater mais forte com a sua proximidade. Naquela posição, o cheiro de shampoo nos cabelos de Jimin invadiu as narinas de Jungkook.

Ao lado deles, Taehyung dançava com os braços em torno do pescoço de Ric enquanto falava algo no ouvido dele. Jimin pensou em fechar os olhos para sentir o movimento de seu corpo junto com o de Jungkook, mas desistiu quando imaginou muitas pessoas lhe observando de vários ângulos.

Ele sentia saudade das aulas de dança e das relações que construiu ao longo dos ensaios. Jimin pensava em retornar para o grupo do qual fazia parte, mas ele ainda não se sentia preparado para recomeçar no pole dance. Algo em seu interior lhe dizia que ele precisava se recuperar do que aconteceu antes de voltar a praticar.

Com a psicoterapia, o menino tem melhorado seu desenvolvimento com a dança e, inclusive, consigo mesmo. No entanto, as suas camadas eram profundas e nem todas elas tinham sido retiradas por completo. Jimin reconhecia que não tinha se recuperado de tudo, mas que avançou em algumas questões pessoais.

De repente, ele sentiu as mãos do detetive acariciarem a parte de baixo das suas costas lentamente, fazendo um arrepio serpentear pela sua espinha a caminho do pescoço. Jimin ergueu a cabeça para encará-lo, esperando vê-lo olhando para outra direção, mas Jungkook estava sorrindo enquanto lhe admirava.

— O que foi? — o garoto perguntou, sentindo-se nervoso sob o peso do olhar dele.

— Você me deixa sem palavras — confessou. — E também me faz sentir coisas estranhamente boas.

— Que coisas?

Jungkook ergueu as sobrancelhas, como se dissesse a ele que aquele não era o melhor lugar para especificar essas coisas. O garoto arrepiou-se involuntariamente, quase convencido de que o motivo por trás do arrepio estava relacionado ao que sua mente formulou.

— É o que eu estou pensando? — Jimin se arriscou a perguntar, apesar de saber que ele não diria a resposta.

— No que você está pensando, meu bem?

Era estranho pensar que uma simples pergunta vinda de Jungkook tinha uma capacidade extraordinária de desestabilizá-lo. Jimin não queria parecer equivocado em sua resposta, mas não conseguia pensar em outras alternativas.

— Tem a ver com o nosso momento na lancha? — ele tentou novamente, lutando para não dizer as palavras tão claramente.

Jungkook sorriu.

— Não... — Jimin gemeu baixinho, quase como um resmungo. — Mas também pode ser.

— Por que você tá fazendo esse jogo comigo?

— Bom, isso não é um jogo, mas agora eu sei que você não parou de pensar no que aconteceu na lancha. — Aquela afirmação fez o menino esconder o rosto no peito dele para evitar a exposição de suas bochechas rosadas. Jungkook sorriu para a sua reação. — Eu estou te deixando com vergonha?

— Um pouquinho. — Jimin ergueu os olhos para ele, revelando a cor de cereja em sua face. Ele enroscou o dedo indicador na gravata do detetive e disse: — Eu começo a pensar naquele dia e fico com vergonha de mim mesmo, mas isso não é algo ruim.

— Você foi perfeito. — Jimin quase desmoronou com aquelas palavras. — Eu não esqueço disso.

— V-você gostou? — ele sussurrou para ninguém mais ouvir.

— Gostei.

A pele de Jimin começou a formigar de repente. Ele já esperava por aquela resposta, mas a sua reação perante a ela ainda era desconhecida até aquele momento. Por razões que Jimin não sabia explicar, o detetive conseguiu detectar seus tremores internos.

— Podemos ir para outro lugar? — o menino sugeriu depois de se convencer de que a qualquer momento alguém ouviria aquela conversa.

— Você tem algum lugar em mente? — O garoto conseguiu assentir um pouco em confirmação. — Então me leve até lá.

Um minuto depois, Jimin espreitou em torno do salão antes de puxar o braço de Jungkook em direção ao corredor que dava para a biblioteca. Ele driblou alguns casais no caminho, tentando não chamar a atenção. O detetive soube, naquele momento, que o lugar para onde Jimin estava lhe levando era sigiloso, pois ele olhava para os lados a cada dois segundos para se certificar de que ninguém estava observando-os.

Ao virar o corredor, Jimin olhou para Jungkook por cima do ombro, dando-lhe um sorriso ligeiro e cheio de esperteza. Pela expressão do garoto, o detetive supôs que ele tinha pensado em algo muito secreto, o bastante para deixá-lo curioso.

Adiante, Jimin avistou a porta de vidro da biblioteca, parecendo completamente escura, exceto por alguns feixes de luz do salão que atingiam as paredes do corredor e iluminavam uma pequena metade do cômodo. Então Jimin tocou a maçaneta e torceu para estar destrancada, um segundo depois ele a empurrou, ouvindo-a grunhir.

Jimin agarrou a mão do namorado e o puxou para dentro da semi escuridão, tentando não fazer nenhum barulho durante a sua minuciosa atividade proibida. Ele cobriu a boca para não rir de sua travessura, como se estivesse, de fato, invadindo alguma propriedade.

Quando os olhos de Jungkook se adaptaram à escuridão, ele pôde ver a expressão astuciosa do menino com mais clareza. Um sorriso divertido brincou em seus lábios, principalmente quando sentiu as mãos de Jimin deslizando para a sua gravata e puxando-a para um canto mais afastado.

O corpo do detetive foi empurrado suavemente contra uma prateleira de livros que ficava escondida nos fundos da biblioteca, quase de frente para uma sala de estudos. Havia uma pequena janela na lateral, permitindo que o brilho da lua atravessasse o vidro e iluminasse seus rostos.

Jungkook estava prestes a perguntar a Jimin se esse era o plano dele desde o começo, mas o garoto o surpreendeu com um beijo na boca. Em resposta, o detetive segurou a cintura dele com as duas mãos, puxando-o para perto de seu corpo enquanto Jimin contornava os braços em seu pescoço, sentindo a língua alheia tocar a sua com urgência.

Tentando provocá-lo, Jimin mordeu o lábio inferior de Jungkook e puxou-o lentamente, ouvindo-o soltar um suave gemido. Ele soube que sua atitude agradou ao detetive quando sentiu os braços dele apertarem a sua cintura com mais firmeza. Enquanto beijava-o, Jimin mergulhava as mãos trêmulas nos cabelos de Jungkook e apertava-os entre os dedos.

O cotovelo de Jimin acabou batendo em um livro na prateleira, fazendo-o cair no chão, próximo aos seus pés. Eles riram do barulho durante o beijo, ainda mantendo as bocas unidas, e voltaram a pressionar os lábios com mais urgência.

De olhos fechados, Jungkook calculou mentalmente a distância até a sala de estudos e começou a conduzir o garoto naquela direção. Jimin não podia ver o caminho às suas costas, visto que estava andando para trás, mas o detetive parecia saber o caminho exato, por isso ele permitiu que o outro lhe direcionasse.

Jungkook usou uma mão para empurrar a porta da salinha e a outra para levantar Jimin nos braços, colocando-o sentado em cima de uma mesa redonda. O garoto pôde ouvir o estalo da porta no momento em que Jungkook a fechou, deixando o cômodo completamente silencioso, exceto pelo ruído de seus beijos.

A sala tinha paredes de vidro, logo quem estivesse do lado de fora poderia ver quem estava do lado de dentro. Devido a isso, o brilho da lua que penetrava a biblioteca através da janela conseguia iluminar também a pequena sala, permitindo que ambos pudessem ver a expressão um do outro.

— Jungkook — ele o chamou, suspirando, vendo-o se afastar um pouquinho. — E se alguém nos trancar aqui?

— Ficar trancado com você não me parece uma má ideia. — Jimin sorriu para a sua resposta.

— Quer se arriscar?

Em vez de responder com palavras, Jungkook decidiu dar a ele a sua resposta através de um beijo quente, tão quente que quase arrancou o fôlego do garoto. Jimin sentiu os dedos do detetive se enterrando no seu quadril e arrastando-o para perto. Ali, portanto, ele soube qual era a resposta de Jungkook.

Jimin deslizou as mãos para a bunda do detetive de forma discreta, sendo invadido por uma maré de recordações. Obviamente, Jungkook também compartilhou da mesma lembrança que ele, pensou o garoto, pois um pequeno sorriso ameaçou se formar em seus lábios após a atitude de Jimin.

Diferente da primeira vez, o garoto deixou que suas mãos, ansiosas e atrevidas, explorassem aquela região sem permissão. O cérebro de Jimin estava completamente enevoado e o único pensamento que ele conseguia colocar em perspectiva era o de estar beijando Jungkook. Por mais que tenha feito isso dezenas de vezes, beijá-lo ainda era uma novidade para ele.

De repente, quando os olhos de Jimin se abriram um pouquinho, ele viu o reflexo de um movimento na entrada da biblioteca, fazendo-o cortar o beijo rapidamente. Vernon estava parado do outro lado do cômodo, vestido dos pés à cabeça de preto, observando-os. Jimin empurrou o corpo de Jungkook levemente, apenas para avisá-lo que eles não estavam mais sozinhos.

O detetive virou o rosto na mesma direção que os olhos de Jimin, finalmente entendendo o assombro na expressão do garoto. Jungkook recuou duas pegadas, o bastante para Jimin saltar da mesa e se recompor, em seguida encarou o recém-chegado. Vernon ainda olhava para eles de um jeito estranho, parecendo desacreditar de seus próprios olhos.

— Merda — Jimin resmungou baixinho, sentindo as bochechas esquentarem. — O que ele está fazendo aqui?

— Eu vou resolver isso.

— Não, espera! — ele segurou o braço do detetive para impedi-lo de abrir a porta. — Eu acho melhor você não fazer nada. Venha, vamos sair daqui.

Ele segurou a mão de Jungkook e abriu a porta da salinha, puxando-o para fora do cômodo. Os olhos de Vernon ainda estavam petrificados na direção deles. Jungkook sentiu um forte impulso de perguntar se ele perdeu alguma coisa, mas seu autocontrole foi mais forte.

— Oi, Vernon. — Jimin o cumprimentou por educação, observando-o piscar um par de vezes, como se tivesse acordado de um devaneio.

— O-oi, Jimin. — Ele tentou não olhar para o braço de Jungkook que contornou a cintura do garoto. — Oi, detetive Jeon.

— Oi.

— Vocês se conhecem? — Jimin perguntou com as sobrancelhas franzidas. Vernon confirmou com a cabeça. — De onde vocês se conhecem?

— É uma longa história, anjo. Eu te conto tudo depois.

Apesar daquela informação ter deixado-o curioso, Jimin agitou a cabeça em concordância. Enquanto isso, Vernon olhava para eles de forma misteriosa, refletindo sobre o apelido que Jungkook usou para se referir a Jimin.

— E-eu não queria atrapalhar vocês. — Vernon se desculpou às pressas, tentando manter a voz firme. — Acontece que eu ouvi um barulho e decidi verificar se-

— Por que não deu meia-volta quando percebeu que estava ocupado? — Jungkook questionou, erguendo apenas um lado da sobrancelha.

Jimin deu uma leve cotovelada nas costelas do namorado, dando a ele um ligeiro olhar de advertência. O tom de voz de Jungkook pareceu rude, embora não tenha sido essa a sua intenção.

— Bom, nós já estamos de saída — informou Jimin para o recém-chegado, deixando-o brevemente surpreso.

— Eu pensei que você viria para o jogo — Vernon disse antes que ele se movesse, sem intenção de cobrá-lo.

Por um momento, Jimin ficou tentado a inventar uma mentira, mas decidiu ser honesto com ele.

— Eu esqueci do jogo, sinto muito. — Vernon abaixou os olhos por um momento, abalado com as palavras dele, mas não demorou muito para voltar a encará-lo. — O Taehyung não estava muito bem, então eu tive que cuidar dele.

— Ele está melhor?

— Sim, está.

Jungkook massageou os cantos internos dos olhos, sabendo que aquela conversa ia demorar horas. Ele tinha consciência de que Vernon estava puxando assunto propositalmente para Jimin não sair da biblioteca, o que só estava servindo para irritar o detetive.

— Podemos ir? — Jungkook perguntou ao garoto, permitindo, de forma intencional, que Vernon também ouvisse. Jimin fez que sim com a cabeça.

— Detetive Jeon — Jungkook olhou para o rapaz ao ouvir a voz dele chamando-o. — Você parece estar com raiva de mim. É por causa do interrogatório?

— Sem ofensa, garoto, mas eu só quero ficar a sós com o meu namorado e você está interrompendo. Não é nada pessoal — ele respondeu de forma impaciente, não poupando a honestidade. — Mas já que você está relutando tanto para sair, nós faremos isso no seu lugar. Aproveite a biblioteca.

Jimin ficou tão surpreso com as palavras de Jungkook que não conseguiu mover os pés para fora daquele espaço, nem mesmo quando o seu namorado o puxou, gentilmente, para que o acompanhasse. Assim como Jimin, Vernon também ficou espantado a ponto de comer as próprias palavras.

Eles saíram da biblioteca e foram na direção do salão de baile. Jimin olhou para trás para se certificar se Vernon estava observando-os, mas não avistou nada além do vazio, o que significava que o rapaz ainda estava imóvel no mesmo lugar, provavelmente digerindo as palavras de Jungkook.

— O que foi isso? — o menino perguntou enquanto acompanhava os passos do detetive.

— Isso o quê?

— As coisas que você disse pra ele. — Jungkook levantou as sobrancelhas. — Não me diga que ficou com ciúmes.

— Ele precisaria de muito mais para me fazer sentir ciúmes. — Jimin apertou os olhos, nem um pouco convencido de seu argumento. — Eu fiquei irritado por ele ter se intrometido, só isso.

— Você pensa que me engana, detetive.

Jungkook não lhe respondeu dessa vez, mas Jimin pescou o vislumbre de um pequeno sorriso dissimulado se formando em seus lábios, o que deu ao garoto a certeza de que ele, realmente, tinha ficado com ciúmes. Por incrível que pareça, Jimin não se sentiu incomodado.

— Para onde estamos indo? — o garoto perguntou depois de perceber que Jungkook estava levando-o para outro lugar.

— Se queremos privacidade, não é aqui que vamos encontrá-la. — Jimin capturou os olhos dele como se lhe pedisse para ser mais específico. — No meu carro é bem melhor.

Após a sua sugestão, o garoto sentiu uma forte sensação de borboletas no estômago, muito parecido com o que ele sentiu quando ficou a sós com Jungkook na lancha. As situações eram diferentes, mas a sensação era a mesma.

Um momento depois, Jungkook o conduziu para a área externa do colégio, fazendo-o estremecer ao sentir o toque da brisa em seu rosto. Jimin agarrou o braço do detetive com o seu e se aninhou nele para se proteger do frio. Olhares clandestinos se voltaram para o casal à medida que eles caminhavam em direção ao portão.

Jungkook deu um leve tapinha no ombro do segurança para sinalizar que estava saindo, fazendo-o abrir espaço para que eles pudessem passar. Havia um pequeno grupo de adolescentes sentados no meio da calçada jogando o famoso jogo da garrafa.

Muitos carros estavam estacionados na frente do colégio, mas não havia ninguém perambulando por perto; a maior parte dos convidados estava dentro daqueles muros. Os únicos sons que eles conseguiam ouvir eram a música que tocava no baile e o coro dos grilos. Eles tiveram que driblar muitos veículos até localizar o carro de Jungkook em uma área mais afastada.

O detetive destravou o automóvel e abriu a porta traseira para que Jimin entrasse. O menino deslizou para o outro lado, dando espaço para que Jungkook entrasse em seguida. Mesmo sabendo que os vidros eram foscos e que ninguém podia ver o que estava rolando lá dentro, Jimin quis espreitar os arredores do local só para se certificar de que ele e Jungkook estavam, realmente, sozinhos.

— Tem certeza de que ninguém pode nos ver, né? — o garoto perguntou.

— Sim, anjo. — Sua resposta o confortou. — Eu acho que aqui ninguém pode nos atrapalhar.

— Será que Taehyung e Ric vão perceber que sumimos da festa?

— Com certeza, eles já notaram. — Jimin mordeu a pontinha do lábio e relaxou no assento, pousando as mãos entrelaçadas nas pernas. — Você está preocupado com alguma coisa?

— O quê?

— Você parece nervoso. — Ele acariciou os cabelos do garoto e colocou uma mecha atrás da orelha dele. — Tem algo te incomodando?

— Não.

— Tem certeza?

— Eu só estou com um pouquinho de frio.

— Quer o meu casaco? — Jimin balançou a cabeça para os lados, negando, e sorriu em sinal de agradecimento. — É por causa do Vernon? Você não gostou da forma que falei com ele, não é?

Por um momento, Jimin ficou em silêncio.

— Ele é um cara legal. — ele confessou, fazendo Jungkook puxar a sua mão de volta lentamente. — Ele não estava fazendo nada demais.

— Só nos espionando.

— Ele não fez de propósito — respondeu. — Talvez você tenha dito essas coisas porque ficou com ciúmes de mim. Ele só está tentando ser um bom amigo.

— Amigo? — Jungkook disse, sorrindo. — Anjo, eu não tenho o direito e nem a intenção de controlar as suas amizades, então eu não quero que pense que estou tentando te afastar do Vernon. Eu apenas não gosto que fiquem se metendo nas nossas vidas, no nosso relacionamento, nas nossas decisões... Se tivesse sido qualquer pessoa no lugar dele, eu teria reagido da mesma forma.

— Então você não ficou com ciúmes?

Jungkook suspirou pela boca.

— Podemos não falar desse cara? — Jimin apertou os lábios como se já tivesse recebido a sua resposta, apesar de Jungkook fugir dela. — Eu te trouxe aqui para ficarmos juntos, não para falarmos do seu ex-namorado.

— Tudo bem — ele respondeu, virando-se de frente para o detetive. — Já que você foi sincero, eu vou ser também: o Ric vai ficar na sua casa por quanto tempo?

Jungkook apertou as sobrancelhas diante daquela pergunta esquisita.

— Ele está em observação, não sei quanto tempo pode durar. — respondeu.

— Você acha que pode demorar muito?

— Não.

— Onde ele vai dormir? — A expressão de Jungkook disse a Jimin que ele havia entendido o objetivo daquele interrogatório.

— Agora é você quem está com ciúmes, anjo — disse.

Jimin bufou e abaixou os olhos, sentindo-se estranhamente estúpido por trazer aquele assunto à tona. Ele confiava em Jungkook, então não havia motivos para se preocupar com um colega de trabalho dormindo em sua casa.

— Me desculpe — o garoto se expressou. — Eu não quero parecer infantil, mas às vezes fico pensando se você ficaria com ele se não estivesse comigo.

— Você não tem que se preocupar com isso.

— Acontece que eu não controlo meus pensamentos. — Ele fez uma pausa criteriosa depois de reviver uma lembrança. — Eu olho para o corpo dele e sinto inveja, porque eu queria ser como ele. É tão chato ficar me comparando com os outros, mas eu não consigo controlar.

— Eu tenho certeza que muitas pessoas gostariam de ter o seu corpo. — seus dedos fizeram uma suave trilha da orelha até o queixo de Jimin. — Seu corpo é lindo com ou sem marcas.

— Você diz isso porque nunca olhou para ele, não sabe como eu sou por baixo dessas roupas. — Suas palavras soaram tristes.

— Eu consigo imaginar perfeitamente em minha cabeça. — Jimin quase se engasgou com aquela confissão. — Isso te assusta?

O garoto negou com a cabeça.

— Eu só tenho medo de te decepcionar — Jimin esclareceu. — Tenho medo de não corresponder às suas imaginações.

— Anjo, eu quero que saiba de uma coisa — ele segurou o rosto do garoto em cada lado para que ele enfrentasse seus olhos. — Independentemente de como seu corpo seja, eu vou amá-lo da forma que ele merece ser amado.

Foi naquele momento que Jimin se deu conta do quanto Jungkook o amava por inteiro, apesar de todas as suas inseguranças e imperfeições. Ele tinha a impressão, no entanto, de que essa sensação seria passageira e que em breve ele voltaria a ser invadido pelas suas paranoias novamente.

De qualquer forma, Jimin decidiu se entregar às boas sensações que Jungkook despertou em seu corpo com aquela fala, descartando o que poderia vir a acontecer no futuro. Naquele momento, ele só desejava mostrar a Jungkook o quanto o amava.

Firme em sua decisão, o garoto lançou seu corpo para frente e pressionou os lábios nos do detetive, beijando-o com toda emoção. Em resposta, Jungkook circulou a sua cintura com os braços, fazendo-o colar o seu corpo no dele.

Preso no momento, Jimin o empurrou contra a janela do carro lentamente enquanto deslizava as mãos pelo pescoço dele, permitindo que a sensação de calor se espalhasse pelas suas palmas. Jungkook o abraçou com toda delicadeza, sentindo o coração dele martelar com mais força contra as costelas.

Jimin foi surpreendido no momento em que Jungkook trocou as posições, fazendo-o grudar as costas no assento de couro. O detetive quase bateu a cabeça no teto durante os seus movimentos de transição, ficando suspenso sobre o garoto para não espremê-lo.

— Anjo — ele disse contra a boca de Jimin, roçando o seu hálito naquela região. — Eu preciso que você me pare se eu estiver passando dos limites.

A resposta do garoto veio através de um suave aceno de cabeça. Ele prendeu os dedos na nuca de Jungkook e voltou a beijá-lo, como se a preocupação do detetive fosse o menor dos problemas. Naquele momento, Jimin estava focado em sentir o toque macio da língua de Jungkook enroscando a sua.

Até pouco tempo atrás, ele tinha dificuldade para beijar de língua porque associava o ato apenas à prática libidinosa, mas, depois de conhecer Jungkook, ele começou a gostar desse tipo de contato sem se sentir constrangido. Obviamente, a forma como Jungkook lhe beijava havia contribuído para essa percepção: ele era doce e ao mesmo tempo firme, seu beijo não era urgente e sim exploratório.

Era possível ouvir o eco das pessoas caminhando à distância, o barulho das copas das árvores balançando contra o vento e, principalmente, o som dos beijos que eles trocavam naquele pequeno espaço. Jungkook começou a diminuir o ritmo só para deixá-lo com mais vontade. Em contrapartida, o menino mordiscou o seu lábio inferior, pedindo-lhe por mais

Tentando provocá-lo ainda mais, o detetive decidiu brincar com o apetite de Jimin cortando o beijo subitamente. O garoto esticou o pescoço na tentativa de voltar a colidir suas bocas, mas Jungkook se esquivou do alcance dele. Jimin umedeceu os lábios quando entendeu que aquilo não passava de uma provocação e concordou, discretamente, em deixar que ele assumisse o controle.

Jungkook sorriu, satisfeito por seu plano de distração ter dado certo, no entanto, quando estava prestes a conectar suas bocas mais uma vez, ele escutou o barulho de uma câmera, o mesmo escutado na noite em que esteve no parque com Jimin. Naquele momento, sua cabeça girou na direção do som na tentativa de localizá-lo, mas seus olhos não avistaram nada.

Confuso, Jimin se ergueu um pouquinho para seguir o seu olhar e entender o que ele estava observando, mas tudo parecia quieto do lado de fora. Jungkook deslizou para longe do menino enquanto prestava atenção nos arredores da rua, ciente de que aquele som não era fruto de sua cabeça.

— O que foi? — Jimin perguntou baixinho.

— Tem alguém tirando fotos.

— Estamos em um baile, muitas pessoas vão tirar fotos — ele respondeu, sentindo o próprio sangue congelar diante de um pensamento assustador que o invadiu. — Você acha que estão nos fotografando?

— Eu tenho a sensação que sim.

Jimin engoliu uma espessa saliva, começando a ficar assustado internamente.

— Os vidros do seu carro são pretos, ninguém pode nos ver, certo? — O menino esperou que ele respondesse, mas o silêncio de Jungkook o aterrorizou.

Naquele momento, Jimin também conseguiu ouvir o barulho do flash, fazendo-o olhar para o lado de fora às pressas. Ele tinha a sensação de que alguém estava espionando-os entre as sombras, mas a presença dessa pessoa era um espectro, o que dificultava a sua descoberta.

— J-Jungkook, eu estou ficando com medo.

O detetive ainda estava estudando as redondezas, pensando em uma estratégia para atrair o possível autor. Ele tinha consciência de que havia uma pessoa fotografando o seu carro, mas ainda não sabia o porquê. Querendo ou não, isso o instigava a colocar em ação as suas técnicas.

— Eu acho que sei como atraí-lo. — informou o detetive.

Antes de Jimin perguntar o que ele estava pensando, Jungkook se debruçou no assento dianteiro e esticou a mão até alcançar o painel de controle, onde fisgou uma arma embaixo de um pequeno suporte. Com os olhos arregalados, o menino observou-o guardar o instrumento no cós da calça e, em seguida, curvar-se sobre o banco do motorista e sentar-se com as mãos no volante.

Com um gesto de cabeça, Jimin entendeu que ele estava chamando-o para se aproximar. Então, o garoto deslizou para o banco da frente, sentindo as mãos escorregarem quando tocaram o espaldar de couro.

— O que você vai fazer? — Jimin reuniu toda coragem que tinha para perguntar, observando-o colocar o cinto de segurança.

— Vamos descobrir se tem alguém tirando nossas fotos. — Jungkook disse, olhando para o retrovisor externo com uma expressão meticulosa, parecendo analisar cada centímetro da rua.

— E o que você pretende fazer? Dar uma volta de carro?

— Se somos o alvo, ele virá atrás de nós. — o coração do menino começou a palpitar com mais força, não gostando nem um pouco daquela ideia. — Você pode voltar para o baile se quiser, meu bem, mas eu vou tentar pegar esse cara.

— Eu não vou te deixar sozinho! — Jungkook o encarou, esperando encontrar qualquer traço de incerteza nos olhos do garoto, mas ele estava convicto de sua decisão. — Você tem um plano em mente?

— Tenho.

— Como vamos saber quem é o fotógrafo?

— Eu saberei.

Não havia hesitação na voz de Jungkook, o que sugeria que ele tinha calculado circunstanciadamente os próximos passos do possível fotógrafo. Jimin pensou na possibilidade de eles estarem equivocados ao imaginarem que havia uma pessoa escondida dentro de um carro tirando fotos suas durante um baile da escola.

No entanto, apesar disso, ele não se atreveu a objetar, já que Jungkook estava acostumado a trabalhar com esses perfis todos os dias e possuía muito conhecimento de situações estranhas. Portanto, se o seu namorado estava demonstrando preocupação, Jimin sentiu que, por conseguinte, deveria se preocupar também.

— Tem certeza disso, meu bem? — Jungkook perguntou.

— Sim. — ele reforçou com um movimento de cabeça. — Você me empresta uma arma e podemos cuidar dele.

— Eu não posso te dar uma arma. — Jimin arregalou os olhos e abriu a boca em sinal de surpresa.

— E se esse cara for um assassino de aluguel? — Jungkook o encarou lateralmente. — Eu sei usar uma arma, gatinho, você sabe disso. Além do mais, vou precisar de algo pra me proteger.

— Você tem a mim para te proteger. — Jimin fechou a cara, realmente esperando que ele cedesse. — Você tem duas opções: voltar para o baile e me esperar ou vir comigo e ficar no carro. O que você escolhe?

A opção que Jimin queria não havia sido ofertada pelo detetive, que parecia seguro em seu posicionamento. O menino não queria voltar para o baile enquanto Jungkook armava uma emboscada para um intrometido anônimo, pois as chances de ficar tremendamente ansioso eram altíssimas. Portanto, apenas lhe restou escolher a última opção.

Em silêncio, ele colocou o cinto de segurança, fazendo Jungkook compreender a sua decisão. Diante disso, o detetive ligou o motor do carro e deslocou-o para a estrada, desviando, primeiramente, de outros veículos em seu caminho. Ele checou o espelho retrovisor novamente para se certificar se havia algum movimento de faróis que pudesse dar a ele a certeza de que o desconhecido deixou o esconderijo, mas nada aconteceu.

Jungkook verificou o tráfego antes de manobrar o volante para a esquerda, lançando o carro para o cruzamento. Ele dobrou a primeira esquina que avistou, voltando a checar o retrovisor externo na expectativa de ver o carro do sujeito. Ao seu lado, Jimin olhava para além do vidro traseiro, não enxergando nada além de um imenso vazio.

As ruas estavam silenciosas e escuras. Um pressentimento gelado espetou a espinha do garoto no momento em que Jungkook começou a fazer uma contagem regressiva em voz baixa. Ele olhou para o namorado, apreensivo, observando-o dividir a atenção entre a estrada à sua frente e o espelho retrovisor.

— Cinco... quatro... três... dois... um...

Após o fim da contagem, Jimin olhou para a estrada às suas costas, sentindo o coração acelerar no peito quando avistou, em exatos cinco segundos, os faróis de um carro apontarem na esquina. Isso arrancou um sorriso dos lábios do detetive, que afundou o pé no acelerador.

— Eu disse ao meu pai que você me levaria intacto. — Jimin canalizou seus pensamentos em palavras, sentindo a voz estremecer um pouco, como se estivesse sob uma forte corrente gelada. Até os dedos de seus pés tremiam.

— Confie em mim.

Jimin abriu a boca para dizer que confiava cegamente nele, mas imaginou que estaria negando para si próprio o terrível medo que estava sentindo, por isso decidiu ficar em silêncio, não querendo soar pessimista enquanto Jungkook se concentrava no trajeto.

Com as mãos apertadas no volante, Jungkook dirigiu por algumas vias desertas, enfrentou um tráfego movimentado mais adiante e entrou em uma rua silenciosa. Naquele momento, Jimin percebeu que Jungkook não estava dirigindo de forma aleatória, na verdade ele tinha esboçado um plano perfeito para atrair o sujeito e agora estava levando-o para o local da armadilha, ele só não sabia onde era esse lugar.

À distância, o menino enxergou um restaurante japonês ao lado de um beco semi escuro. Naquele pequeno atalho estreito havia duas latas de lixo que serviam para armazenar as sobras de comida que os cozinheiros do estabelecimento jogavam fora. O menino só se deu conta de que Jungkook estava dirigindo naquela direção quando sentiu o carro parar bruscamente.

Ele olhou para trás na tentativa de encontrar o veículo que os seguiu, mas, aparentemente, Jungkook conseguiu se livrar dele. No entanto, Jimin tinha a sensação de que não demoraria muito para o motorista localizá-los, visto que ele continuava em seu encalço.

— O que estamos fazendo aqui? — Jimin perguntou para o namorado.

— Faça tudo o que eu disser, ok? — o menino não gostou nada de ouvir aquilo, pois o seu medo interno, de repente, se intensificou. — Vamos entrar naquele restaurante e agir normalmente. Ele vai entrar logo depois.

— Como você pode ter certeza disso?

— Apenas faça o que eu disser — reforçou calmamente. — Vamos descer do carro.

As pernas de Jimin não cederam a princípio. Ele observou o detetive sair do veículo depois de uma rápida inspeção, parecendo prever o momento exato da aparição do carro do sujeito. Os olhos do menino foram atingidos por um par de faróis que brilhou através do espelho retrovisor, fazendo-o entender a que carro pertenciam. Em instantes, ele pulou na calçada e se apressou na direção do namorado, sentindo-o abraçá-lo pelos ombros.

Jungkook trancou o carro antes de atravessar a rua a passos moderados. Ele não queria dar ao desconhecido pistas de que já sabia que estava sendo perseguido, então tentou agir de forma natural. Em contrapartida, Jimin não conseguia andar em linha reta sem olhar para os lados, antecipando o pavor que estava sentindo por não saber o que iria acontecer.

Eles entraram no restaurante e foram em direção a uma mesa desocupada na retaguarda do estabelecimento. Após analisar o lugar escolhido por Jungkook, o garoto supôs que ele tinha selecionado aquela mesa porque ficava escondida das demais e de frente para a entrada do local, o que facilitava o seu campo de visão.

O detetive pediu ao garoto para que sentasse de frente para a porta do estabelecimento, deixando-o brevemente confuso. Jimin apenas fez o que ele lhe solicitou, pois entendia que fazia parte do plano. Enquanto isso, Jungkook se acomodou na cadeira à sua frente, ficando de costas para a entrada do restaurante.

— O que vamos fazer agora? — o menino cochichou, tentando não falar muito alto para que as pessoas ao seu redor não ouvissem.

— Em alguns segundos ele vai entrar por aquela porta. — Ele presumiu de forma calculada, fazendo Jimin olhar para a abertura à sua frente e se deparar com uma figura masculina entrando no local, segurando uma mochila nas costas. — Ele vai olhar sobre as mesas à nossa procura e, quando nos achar, sentará perto do balcão para pedir uma bebida.

Jimin se assustou quando o observou executar exatamente o que Jungkook narrou. Ele desviou o olhar do marmanjo no momento em que ele o encarou à distância. O garoto sentiu um tremor nas pernas, principalmente quando reconheceu o rosto dele.

— Esse é o mesmo cara que estava conversando com a Hannah. — ele pontuou, começando a tiritar por dentro. — Eu não estou louco. É ele, Jungkook!

O detetive olhou para o reflexo da janela à sua frente, tentando decifrar os traços do homem que foram espelhados no vidro. Naquele momento, ele teve certeza de que Jimin não estava equivocado: as características eram as mesmas. Ele se lembrava da foto que o garoto tirou e levou para o Departamento para fazer o reconhecimento facial, porém Yoongi não tinha lhe passado o resultado até hoje.

— Tenho que descobrir qual é o paradeiro desse cara. — Jungkook disse, atraindo o olhar do garoto de encontro ao seu. — E você vai me dar cobertura.

— Eu?!

— Escute — Ele debruçou sobre a mesa para lhe passar as instruções. — Você vai ficar de olho nele enquanto eu tento atraí-lo para fora. Tudo indica que ele está aqui por minha causa, então em um minuto ele deixará o local depois de mim.

— E se ele não sair em um minuto? — ele perguntou. — Ou pior: e se ele não for atrás de você?

— Se ele não for atrás de mim, isso significa que ele está aqui por sua causa. — Jimin recuou os ombros, assustando-se com aquela afirmação.

— Obrigado por me deixar mais nervoso.

— Me dê seu celular. — Jimin suspendeu as sobrancelhas em uma pergunta silenciosa. — Você vai estar falando comigo o tempo todo. É dessa forma que vamos nos comunicar.

— Jungkook, isso é muito arriscado.

— Eu estou acostumado com o risco. — O tom de sua voz deixou claro que aquilo não era uma brincadeira. — Anjo, se você não estiver na ligação comigo, não poderei fazer nada caso ele tente alguma coisa contra você.

Honestamente, Jimin estava assustado com esse plano, mas ele confiava em Jungkook a ponto de acreditar que ele não o deixaria desamparado, tampouco o arremessaria na boca dos leões. Ciente disso, o menino escavou os bolsos à procura do celular e entregou-o nas mãos do detetive.

Jungkook digitou seu número no aparelho, mas não apertou no botão da chamada. Antes disso, ele fisgou o cardápio ao lado e ofereceu a Jimin, fazendo-o entender a mensagem. Sabendo o que deveria fazer, o menino abriu o menu e recebeu o celular, discretamente, por baixo da mesa, escondendo-o na frente do cardápio para que o marmanjo não visse.

Com um suave gesto de cabeça, Jungkook avisou a ele para se preparar. Em seguida, levantou-se da cadeira e arrancou o celular do terno, levando-o ao ouvido como se tivesse acabado de receber uma ligação importante. Jimin olhou para o homem do outro lado do restaurante, percebendo que ele alinhou a postura depois de observar o detetive saindo do local pela porta dos fundos que dava para o beco.

Encontrando-se sozinho, o menino não esperou para apertar o botão da chamada, sendo rapidamente atendido por Jungkook. Ele continuou observando o sujeito de forma clandestina, escondendo parcialmente o rosto para não ser descoberto enquanto tentava coletar alguma informação importante para passar ao detetive.

Por um momento, o menino temeu que o homem estivesse ali por sua causa, visto que ele não fez menção de levantar da banqueta em nenhum momento. Quase convencido disso, Jimin abriu a boca para dizer a Jungkook que o marmanjo ainda estava parado, no entanto, entre o desespero e a racionalidade, ele priorizou a razão e decidiu esperar mais um pouco.

De repente, o homem olhou para os lados disfarçadamente antes de erguer-se do banco e caminhar em direção à saída. O menino abaixou os olhos bem a tempo de evitar encarar as orbes escuras que o fitaram de soslaio. Depois de vê-lo desaparecer, Jimin segurou o celular com suas mãos trêmulas e disse:

— Jungkook, ele está indo atrás de você. — suas palavras saíram tão depressa que quase se atropelam.

Ok. — essa foi a sua única resposta.

O detetive encerrou a ligação, fazendo Jimin encarar o aparelho com os olhos descrentes por alguns segundos. Ele rolou para fora da cadeira, agitado, e olhou para além da janela que dava para o beco escuro, observando a figura de Jungkook encostada no muro, ainda segurando o celular no ouvido.

Ele estava virado de costas para a entrada do beco. Jimin sentiu um arrepio gelado ondular ao longo de seus braços quando avistou uma sombra se avolumar sobre as costas de Jungkook, parecendo caminhar em câmera lenta até ele. O menino engoliu um soluço no momento em que o marmanjo contornou o braço no pescoço de Jungkook, sufocando-o com uma chave de braço.

Sem pensar duas vezes, o cérebro de Jimin ordenou para que os seus pés corressem para ajudar Jungkook. Embora ele não soubesse como poderia ajudá-lo, seus instintos o fizeram atropelar a porta com força a ponto de tropeçar em um pequeno degrau.

Ele freou os passos quando percebeu que o detetive havia invertido as posições rapidamente, encostando o marmanjo no muro da construção enquanto enforcava-o com o antebraço. O homem tentou fisgar uma lâmina na cintura da calça, mas seu esforço não teve sucesso, pois Jungkook conseguiu desarmá-lo antes que ele tivesse a chance de tocá-la.

Jimin pensou rápido e tentou localizar algum objeto que servisse de arma. O marmanjo deixou o revólver escapar das mãos e cair próximo aos pés do detetive, que a chutou na direção de Jimin. O menino recolheu o instrumento, assustado, e escondeu para que o sujeito não o pegasse de volta. Jungkook arriscou dar um golpe na perna dele para desequilibrá-lo, fazendo-o despencar de joelhos em uma poça de água.

Em instantes, ele sacou a arma e apontou para o homem na sua frente, que paralisou ao flagrar o cano do revólver direcionado para si. Jimin engoliu em seco quando observou um pequeno ferimento na sobrancelha de Jungkook, mas, exceto aquele, não havia nenhum outro.

— Me dê a mochila. — Jungkook ordenou, sentindo a respiração sair pela boca enquanto falava. O marmanjo lhe deu um sorriso dissimulado. — Me dê a porra da mochila!

Muito lentamente, o homem começou a remover as alças da mochila de seus ombros sem tirar os olhos de Jungkook. O detetive tinha quase certeza de que ele estava pensando em alguma estratégia para fugir, por isso ativou a arma na tentativa de intimidá-lo.

Com o coração batendo mais rápido, Jimin deu alguns passos para perto, encurtando a distância entre eles, e então roubou a mochila do homem no instante em que ele a colocou no chão. O garoto recuou após executar aquela tarefa, surpreendendo-o com o seu atrevimento e deixando-o enfurecido.

Jungkook gesticulou a cabeça para o garoto, pedindo-lhe para abrir a bolsa. O marmanjo não tinha dito uma palavra até então, ele continuava olhando para Jungkook como uma fera prestes a dar o bote em sua presa. Através de seu olhar, o detetive pôde notar a sede por carnificina borbulhando na superfície de seus olhos.

Quem quer que seja aquele homem, Jungkook concluiu, ele o tinha seguido para matá-lo. Essa ideia atiçou a sua curiosidade a ponto de desconfiar que o sujeito poderia estar envolvido, também, nos atentados. De uma forma ou de outra, Jungkook estava disposto a descobrir a verdade.

— Ele tem uma câmera fotográfica. — Jimin disse depois de vasculhar a mochila, mostrando o objeto para Jungkook, que roubou um olhar furioso para o prisioneiro. — E também muitas munições.

— Por que estava tirando nossas fotos? — O homem sorriu maliciosamente para ele, mas não se atreveu a respondê-lo. — Responde, filho da puta!

— Ele quer te provocar. — Jimin pontuou. — Não caia nessa.

— Então vamos fazer de um jeito melhor.

Segundos depois, Jungkook tomou o braço dele, fazendo-o retomar o equilíbrio, e o arremessou contra os blocos de cimento do restaurante, retorcendo os braços dele por trás das costas. Ele rosnou quando sentiu um par de argolas de metal contornar os seus pulsos. Apesar de tudo, o cara deixou escapar uma gargalhada trêmula.

A reação dele fez o estômago do menino azedar. Como ele poderia estar rindo de sua própria prisão? Jimin perguntou-se, temendo que tudo aquilo fosse parte de um plano asqueroso. Além disso, o homem não parecia assustado por ter sido pego em flagrante, muito pelo contrário, ele estava se divertindo.

— Já que não quer confessar aqui, vamos ver se numa sala de interrogatório você desembucha. — Jungkook murmurou para o bandido. — Estou louco para conhecer o filho da puta do seu chefe.

Quando o sorriso do homem começou a desaparecer do rosto, o detetive soube que, realmente, existia um comandante por trás de tudo e que a sua suposição tinha surpreendido-o.

— Era de se esperar que um amador como você tivesse um líder. — ele provocou-o, disposto a ferir seu ego estúpido.

E pareceu funcionar, visto que o prisioneiro rosnou com mais fúria e se debateu para se livrar das algemas. O detetive o agarrou com firmeza e o forçou a caminhar para fora do beco. Jimin catou todas as coisas que havia tirado da mochila e guardou-as de volta, sabendo que serviriam de provas.

Em seguida, ele ordenou às suas pernas para que andassem, sentindo-as cambalear sob o peso de seu corpo. Jimin ainda estava assustado com o que viu e ele presumia que aquilo estava longe de acabar.

Talvez, pensou, todo esse tormento seja só a ponta do iceberg.

✮✮✮

Oi, meus amores, tudo bem? Esse capítulo ficou gigante e acredito que o próximo terá a mesma quantidade de palavras. Então se a leitura ficou chatinha, já antecipo as minhas desculpas, porque eu escrevi esse cap quando estava passando por alguns momentos conturbados na minha vida pessoal.

Bom, antes de falar qualquer coisa, gostaria de dizer que terá mais cenas no baile e que os jikook terão um momento de privacidade, que (surpresa!) não será interrompido. Também quero dizer que nos próximos capítulos, alguns personagens que estão sumidos vão aparecer.

Obrigada por terem chegado até aqui, aguardo vocês na próxima atualização. Beijos! <3

Ah, uma dica: prestem atenção no comportamento do sujeito diante do Jungkook e na última fala do Jimin.

Até mais!


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