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DOIS MESES DEPOIS

Com os olhos fixados para além do para-brisa, Jungkook afundou o pé no acelerador e aumentou a velocidade para oitenta quilômetros. Ele estava perseguindo um carro em fuga enquanto se esquivava de outros veículos pelo caminho.

O carro roubado era um Volkswagen vermelho, as lanternas traseiras foram danificadas pelo fugitivo para dificultar a sua localização. Segundo informações externas, ele estava transportando uma refém no banco do carona. A equipe do FBI estava logo atrás, em direções opostas para o encurralar.

O Volkswagen atravessou uma rua estreita, atropelando as lixeiras de metal que se encontravam nas calçadas. Jungkook estava a pouco mais de sete metros de distância de o alcançar, se não fosse um grupo de jovens esperando em uma fila para entrar na discoteca.

Por sorte, ninguém foi atropelado quando o carro em fuga passou por eles em disparada. No entanto, Jungkook foi obrigado a diminuir a velocidade quando a fila se dispersou aos gritos. Quando o caminho ficou livre, o detetive apertou fundo no acelerador.

– Yoongi, está na escuta? – Jungkook perguntou quando localizou o Volkswagen à frente de três veículos.

Sim, senhor. Pode falar.

– O suspeito está indo em direção a uma ponte. Siga para o lado leste. Eu vou por baixo para cercá-lo antes de ele atravessar a ponte. Os demais, acompanhem o Yoongi.

Dito aquilo, Jungkook virou bruscamente o volante para a esquerda, girando o carro para dentro da passagem coberta do túnel. Ele aumentou a velocidade, a agulha do painel estava marcando noventa quilômetros. Quando alcançou o cume do túnel, Jungkook manobrou o volante para a direita com um forte impulso, fazendo os pneus derraparem quando o carro parou abruptamente, bloqueando a passagem do Volkswagen.

Se vendo encurralado pela dianteira, o suspeito no volante tentou dar a ré, mas foi cercado pelos carros do FBI na retaguarda. Jungkook se pôs para fora do carro e sacou a arma do coldre quando registrou a figura do sequestrador atrás do vidro. Ele apontou em sua direção por cima do capô, assim como a equipe do FBI, que também ficou em posição de ataque.

– Saia do carro com as mãos para cima! – Jungkook decretou, fazendo menção de atirar.

Ele pôde observar a vítima no banco do carona, chorando em silêncio. De acordo com a história relatada, ela era a namorada do suspeito, que possuía um ciúme patológico em relação a ela.

– Rowan, saia do carro agora! – Jungkook exigiu mais uma vez. – Se não fizer o que estou mandando, eu atiro!

O suspeito ergueu as mãos em rendição, em seguida abriu a porta do Volkswagen. Ele saiu, fazendo uma lenta inspeção ao redor. Como se estivesse prevendo algo, Jungkook se abaixou bem a tempo de evitar o tiro que Rowan disparou em sua direção. À esquerda, Ric acertou um disparo no joelho dele, apenas para o imobilizar.

Rowan meio choramingou, meio gemeu de dor. Ele cambaleou para trás, o suficiente para Jungkook ter tempo de dobrar à sua direita e neutralizá-lo. O suspeito tentou resistir, mas suas mãos foram desarmadas e seus braços levados às costas. Seu joelho estava espirrando sangue para a sua calça. Jungkook envolveu as algemas nele e o entregou para Yoongi, que muito ligeiramente o colocou no banco de trás da viatura.

Layla retirou a vítima do carro com cautela. Ela estava com uma expressão crua de terror enquanto tentava assimilar o que aconteceu. Layla envolveu uma manta sobre os ombros dela e a convidou para o seu carro. Jungkook guardou o revólver no coldre, sabendo que aquela operação tinha sido encerrada.

– Bom trabalho, Ric. – disse Jungkook quando o viu se aproximar.

– Obrigado, senhor.

– Acho que nós somos merecedores de um brinde, não acham? – Yoongi perguntou, juntando-se a eles. – Minha boca está seca.

– Vamos ter que deixar para outro dia. – disse Jungkook para o desagrado de seu parceiro. – Jared quer falar conosco sobre o novo caso. Sigam para o Departamento, depois discutimos quem será o próximo a pagar a bebida.

– Eu aposto no Ric. – sugeriu Yoongi. – Ele quase nunca paga.

– Talvez seja porque eu quase nunca participo. – ele rebateu, rindo.

Yoongi suspendeu uma faixa de sobrancelha. Jungkook, em contrapartida, sorriu com aquilo.

– Vamos, rapazes. – Layla os chamou à distância.

Após o sucesso da operação, cada um deles entrou em seu respectivo carro. Jungkook havia trocado o seu SUV por uma Mercedes à prova de balas, mas, depois de assumir o cargo de diretor-assistente, sua primeira ordem foi para que todos usassem os carros blindados do FBI por segurança.

Jungkook tinha feito algumas mudanças internas após a sua admissão, entre elas o aperfeiçoamento na proteção de sua equipe. Ele exigiu novos aparelhos tecnológicos para facilitar a comunicação, vestimentas, armamentos e equipamentos adequados. Vale mencionar, também, que Jungkook passou a considerar qualquer e-mail ou telefonema um motivo a ser investigado.

Ele havia dito para a sua equipe que ninguém deveria desconsiderar as novas evidências apenas por acreditar que elas não são úteis. Absolutamente tudo deveria ser checado a partir de agora. Seu trabalho enquanto diretor-assistente era prevenir, não reprimir. Por isso, ele passou a ensaiar exaustivamente ações de segurança, a fim de preparar a sua equipe para uma situação de perigo iminente.

Quinze minutos mais tarde, Jungkook finalmente observou o cume do prédio do FBI à distância. Ele transportou o veículo para a parte interna do estacionamento e estacionou em uma vaga próxima. Os demais vieram em seguida.

Yoongi arrancou o sujeito algemado da viatura e o entregou para dois guardas noturnos que se aproximaram. Ele os orientou a levá-lo para a ala das celas. Jungkook usou o seu cartão de acesso para destravar a porta do elevador. Apenas Layla foi por um outro caminho, com destino a uma sala reservada especificamente para a segurança da vítima. A família dela já havia sido informada sobre o ocorrido.

Minutos depois, eles já se encontravam no andar superior. A equipe de TI ainda estava trabalhando em seus computadores enquanto os estagiários limpavam as gavetas de arquivos. Jungkook olhou para a sala de Jared e o observou para além da janela envidraçada. Ele estava checando algo em seu notebook.

– A reunião é agora? – perguntou Yoongi ao seu lado, mas Jungkook não se virou para ele.

– Sim. Vamos lá.

Ric abriu a boca para dizer algo, mas desistiu quando Jungkook se afastou. Ele apenas o seguiu logo atrás, em silêncio, sendo o último a mergulhar dentro do escritório do Inspetor. Jared levantou o olhar para os três, como se já estivesse aguardando-os.

– Onde está a detetive Layla? – foi a primeira coisa que ele perguntou quando olhou para aquelas três figuras.

– A Layla já está vindo. – Jungkook respondeu enquanto retirava o colete padrão do FBI por cima da cabeça. – E o suspeito foi detido. Obrigado por perguntar sobre a missão.

Jared não levou aquelas palavras como um insulto, ele apenas sorriu sem uma ponta de humor.

– Parabéns. Fizeram um bom trabalho. – disse o Inspetor. – E a refém, como ela está?

– Layla ligou para a família dela. A mãe e o pai já estão a caminho. – foi Yoongi quem disse dessa vez. Ele também havia removido o colete, fazendo de Ric o único naquela sala a permanecer com a roupa da missão.

– Muito bem. Então vamos aguardá-la.

Não demorou mais que três segundos, alguém bateu na porta. Jared autorizou a entrada da pessoa, que colocou a cabeça para o interior da sala instantes depois. Era Layla. Ela estava com um olhar de pura adrenalina, como se tivesse acabado de correr uma maratona.

– Me atrasei? – ela perguntou. Jared sorriu.

– Não. Chegou na hora certa. Fique à vontade, detetive.

Ela entrou na sala enquanto amarrava o cabelo em um rabo de cavalo. Os demais já se encontravam acomodados na mesa de reunião. Percebendo isso, Jared se colocou diante de um painel digital com imagens de satélites, fotos de vítimas e uma rede técnica de investigação.

– Eu já havia informado que vocês teriam um novo caso em mãos. – Jared começou. – Devo ressaltar de antemão que a CIA também está interessada nesse caso, mas nós conseguimos a jurisdição primeiro. Por isso, façam valer a pena o meu esforço.

Quando ninguém disse nada, o Inspetor apertou uma espécie de botão digital e uma imagem brotou no painel. Era uma fotografia de satélites, marcando alguns lugares específicos no mapa.

– O caso em questão traz uma série de assassinatos. Os pontos em amarelo que vocês estão vendo são os lugares onde ocorreram os crimes. Como podem ver, são bairros distantes, o que significa dizer que ele não tem um ponto alvo em específico.

– Como é o padrão de morte? – Layla perguntou.

– Esse cara registrou dezoito assassinatos em pouco menos de seis meses. O seu público alvo são as mulheres. Para ser mais específico, mulheres grávidas. – Jungkook ficou brevemente embaraçado com aquela descrição.

– Então estamos lidando com um ceifador de mulheres grávidas? – Yoongi perguntou de forma retórica.

– Exatamente.

– Ok, isso é muito estranho e incomum. – comentou Yoongi por fim.

– Estranho, sim. Incomum, não. – Jared disse, mostrando a eles uma nova imagem. Dessa vez pertencia a um homem. – Este é Hassel Wood, um serial killer muito famoso na década de oitenta. Seus alvos eram as mulheres grávidas. Elas eram estranguladas com uma corda e os seus úteros eram cortados. Detalhe: ele arrancava o feto pela barriga com as vítimas ainda respirando.

Layla fez uma expressão de choque, como se realmente pudesse sentir a sensação. Diante do silêncio que se seguiu, Jared continuou:

– Hassel foi diagnosticado com Transtorno Dissociativo de Identidade anos depois, ou seja, ele possuía três identidades distintas. Quando a sua personalidade criminosa se manifestava, ele costumava caçar as suas vítimas em bares luxuosos. De acordo com relatos médicos, a segunda personalidade de Hassel era de um homem religioso e a terceira pertencia a um garotinho de apenas sete anos, ambas não tinham acesso aos crimes que a outra identidade cometia. Por isso, ao invés de ser julgado pelo Estado, Hassel foi internado em uma clínica psiquiátrica.

– Você está sugerindo que o serial killer atual também pode ter esse transtorno? – Jungkook indagou.

– Não podemos ter uma confirmação sem o diagnóstico em mãos. – disse Jared, olhando nos olhos de Jungkook. – Mas, de acordo com as minhas análises, acredito que esse assassino que estamos enfrentando seja apenas um fanático pela história de Hassel Wood e esteja tentando copiar as suas ideias.

– Isso significa que o padrão de morte é igual? – Jungkook voltou a perguntar, interessado.

– Sim. Idêntico. – confirmou. – A sua última vítima foi morta na semana passada. Era uma mulher de 23 anos e estava grávida de oito semanas. Foi morta em Glover Park, às 03:30 da manhã.

– O que está me deixando confusa é o fato de ele saber que as vítimas estão grávidas sem necessariamente analisar o tamanho da barriga. – Layla observou. – No relatório está dizendo que uma de suas vítimas foi uma mulher de 30 anos que estava grávida apenas de três semanas. Como ele descobriu isso?

– Algo me diz que ele deve gostar bastante de investigar a vida de suas vítimas antes de escolhê-las. – supôs Jungkook, ganhando o olhar de todos. – É o perfil perfeito dos psicopatas. Eles são atraentes, inteligentes, espertos, manipuladores e investigadores. Conquistar as vítimas é o primeiro passo.

– Jungkook está certo. – o Inspetor assegurou. – Uma coisa em comum entre as vítimas é que todas elas eram mulheres solteiras. Outro ponto que vale destaque é que a maioria foi morta dentro de suas casas, sem qualquer sinal de arrombamento.

– O que significa que o assassino já estava dentro da residência quando o crime aconteceu. – Yoongi adicionou.

O Inspetor pulou as imagens, dessa vez ele mostrou uma sequência de fotos, todas referentes às cenas do crime.

– Como podem ver, o assassino não faz questão de limpar a cena do crime. Isso diz muito sobre o perfil do criminoso. – Jared explicou. – Ele gosta de expor o que faz, sente prazer em saber que a polícia está atrás dele. Então, estejam cientes disso. Com o FBI na cola dele, os crimes vão se tornar frequentes.

Jungkook absorveu cada descrição feita por Jared, ordenando todos os detalhes em sua cabeça. Ric parecia tão perturbado com aquele caso que ele mal conseguia desviar os olhos do painel. Yoongi estava anotando alguns pontos importantes em uma folha de papel, enquanto Layla apenas continuava em silêncio.

– Sugiro começarmos pela última vítima. – disse Jungkook após um momento de análise. – Temos que descobrir se alguém próximo sabia que ela estava conhecendo alguém. O Glover Park pode ter sido o local de encontro.

– Vou solicitar as imagens das câmeras locais. Mesmo que ela não tenha sido morta no Glover Park, ao menos saberemos quem despachou o corpo. – Yoongi complementou, considerando importante anexar aquele tópico.

Todos concordaram com um suave murmúrio. Desse modo, o Inspetor disse:

– Esse caso está nas mãos de vocês a partir de agora. Caso queiram solicitar uma força-tarefa conjunta com a CIA, eu farei a petição imediatamente. – todos concordaram com um balançar de cabeça. – Vocês começam amanhã. Por hoje é só.

– É melhor que se cuide, Layla. – provocou Yoongi, ganhando o olhar frio de sua parceira. – Não saia por aí fazendo sexo sem camisinha.

– Ridículo.

Ele quis rir, mas naturalmente aquela situação não era engraçada. Às vezes, a descontração se tornava uma boa maneira de lidar com situações assustadoras, principalmente para Yoongi. Layla apenas revirou os olhos, sem parecer ofendida pelo que ouviu.

– Por mais que tenha sido uma provocação, devo concordar com o detetive Yoongi. – disse Jared para a surpresa de Layla. Sendo impressão ou não, Jungkook notou que a voz dele reduziu quando se dirigiu para ela. – Por favor, cuide-se. Não quero que você corra esse risco.

– Não se preocupe. Sei como me cuidar. – ela respondeu, mas seu tom estava indiferente.

– Eu tenho certeza que sabe.

Yoongi franziu a testa para Jared, que ainda continuava trocando olhares com Layla.

– Como assim você tem certeza? – ele perguntou para o Inspetor, com os olhos semicerrados. – Vocês estão dormindo juntos?

Aparentemente, Yoongi estava louco para provocar alguém e o seu alvo de chacota estava sendo aquela aparente história entre Layla e Jared. Diante disso, Jungkook o chutou por debaixo da mesa, o que lhe arrancou um protesto furioso. Em seguida, ele limpou a garganta e disse para Yoongi:

– Me ajude a levar essas coisas para o vestiário.

Yoongi deu a ele um olhar assassino antes de se levantar. Ric, da mesma forma que entrou na sala, igualmente saiu: quieto. Um momento mais tarde, eles se colocaram para fora da sala de Jared, que fechou as persianas quando finalmente se encontrou sozinho.

Eles foram em direção ao vestiário, onde arrumaram suas coisas em seus respectivos armários. Havia, também, o vestiário das mulheres, mas Layla preferia colocar os seus objetos pessoais na seção dos homens, próximos ao armário de Jungkook.

Eles removeram as vestimentas do FBI e deram lugar para as suas. Layla arrancou a blusa térmica, ficando apenas de sutiã e calça. Ric tentou não se desfocar de sua tarefa com os seus sapatos, mas, aparentemente, ele teve sérios problemas com isso

– Hoje o dia foi cheio. – Yoongi comentou enquanto vestia as suas calças.

– Não me diga. A única coisa que quero fazer agora é beber uma garrafa de espumante. – Layla disse.

– Podemos marcar um dia. – sugeriu Jungkook. – Talvez no final de semana.

– Boa ideia. – Layla concordou, finalmente vestida. – Bem, já estou indo. Quer uma carona, Ric?

Yoongi parou de tentar vestir aquela calça para olhar para eles. Ric, pego de surpresa, não disse nada por um minuto. Jungkook deduziu que o silêncio de Ric se dava ao fato de ele estar envergonhado com o que os outros — Jungkook e Yoongi — certamente pensariam a respeito daquele convite.

– Você está sem carro hoje, não está? – Jungkook perguntou brevemente a ele, olhando-o à distância. – Eu e Yoongi vamos embora um pouco mais tarde. Aproveite a carona da Layla.

Não era exatamente verdade, mas um pequeno empurrãozinho não faria mal a ninguém. Yoongi apenas assegurou com um murmúrio, terminando de se vestir rapidamente. Layla olhou para Ric, que a encarou de volta.

– Tudo bem, eu aceito a sua carona. – ele disse por fim.

Com apenas um gesto, ela o convidou para fora do vestiário. Antes de saírem totalmente, eles acenaram em despedida para Jungkook e Yoongi, que se entreolharam às gargalhadas quando os dois desapareceram para além da porta.

– Você é o próprio diabo. – Yoongi observou, ainda rindo.

– Qual é, eles precisam parar de engatinhar. – disse. – Há quanto tempo eles estão nisso? Três meses?

– Talvez quatro. – ele supôs. – Tudo que sei é que o Ric vai chegar aqui amanhã tão vermelho quanto um pimentão.

– Não o provoque.

– Vou tentar me controlar.

Jungkook balançou a cabeça para os lados, sorrindo. Yoongi tinha uma personalidade charmosa e extrovertida, assim como genial. Às vezes, porém, ele passava um pouquinho dos limites no quesito provocação.

– Aliás, eu estou indo para a casa do Taehyung. Você vem comigo? – Yoongi perguntou ao seu parceiro, que estava agora trancando o seu armário.

– Por quê?

– O Jimin está morando com ele, não está? Talvez você queira vê-lo. Podemos fazer um programa para casais.

– Não vai dar. – ele finalmente se virou de frente para Yoongi. – Combinei com o Jimin de nos encontrarmos na minha casa. Ele vai passar a noite lá.

Yoongi abriu um enorme sorriso para aquela resposta. Algo próximo de safadeza se passou pelos seus olhos. Se Jungkook não estivesse tão indeciso entre comida mexicana e indiana, certamente teria percebido. Jimin amava os dois pratos, assim como Jungkook, então aquele dilema o cercou por vários minutos.

– Graças a Deus você disse isso. – Yoongi falou, seu humor havia dado um salto. – Digamos que eu e Taehyung gostamos de privacidade. Quando o Jimin está por perto é meio difícil convencê-lo.

– Você não conhece uma coisa chamada motel? – Jungkook sorriu descaradamente.

– Nós fomos em alguns, mas... – ele pausou, como se ficasse subitamente consciente de algo. – Espere um pouco, você estava com o Jimin quando conheceu aquele cara do motel?

Jungkook apertou os lábios para conter uma risadinha. Quando Yoongi lhe acertou um fraco soco no peito, ele deixou a risada escapar.

– Você é um traidor! – ele disse de modo dramático, sem realmente parecer. – Por que não me contou isso? Se bem que eu já desconfiava

– Isso é conversa para outra hora. – ele disse após pegar a chave de seu carro. – Além do mais, o que aconteceu lá passa longe do que você está pensando agora.

Yoongi manteve os olhos treinados nele enquanto o assistia colocar a bolsa com seus documentos no ombro. Ele também recolheu suas coisas, como se soubesse exatamente o que Jungkook diria a seguir.

– Vamos. Eu tenho um namorado à minha espera.

Não precisou de muito esforço para Yoongi perceber que ele estava fugindo do assunto de forma intencional. Talvez se parasse de perguntar, Jungkook eventualmente começaria a lhe contar as coisas.

Com isso, ele apenas seguiu Jungkook para fora do vestiário enquanto contava os minutos na cabeça para ver Taehyung.

✭✭✭

Após um banho quente, Jungkook colocou uma música lenta para tocar, apenas para preencher o silêncio do apartamento. Ele estava usando uma camisa cinza, algumas gotas de água estavam escorrendo de seu cabelo úmido em direção à gola.

Já se passavam das 21:00. Jungkook havia se oferecido para ir buscar Jimin, mas ele garantiu que estava com o motorista. Depois das coisas que aconteceram meses atrás, Jungkook passou a estar atento aos passos de Jimin, obviamente respeitando a sua privacidade. Afinal, ele sabia diferenciar uma atitude de atenção de uma ideia obsessiva.

Depois de ficar mundialmente conhecido como sendo o detetive responsável pelo fim da máfia, sua casa havia sofrido algumas mudanças antecipatórias. Ele trocou os vidros das janelas para outros à prova de balas, as portas passaram a ter trancas automáticas e as paredes eram à prova de som. Essas alterações se davam, também, pelo fato de Yixing ainda estar solto por aí.

O mundo está repleto de organizações criminosas, se Yixing for esperto o bastante, ele irá ingressar em um grupo ao invés de agir sozinho. Talvez o seu objetivo agora não seja traficar pessoas, mas se vingar de quem arruinou os seus planos. Nesse caso, Jungkook.

Ele estava colocando a garrafa de espumante no balde de gelo quando escutou o som da campainha ecoando três vezes seguidas. Duas rápidas, uma devagar. Seu coração deu um salto de felicidade. Aquele era o código estabelecido por ele e Jimin para identificar um ao outro.

Com isso, ele foi em direção a porta e abriu-a. Quando ela deslizou aberta, Jimin pulou em seu colo, rendido pela saudade. Jungkook tropeçou duas pegadas para trás e riu um pouquinho de sua maneira energética de o cumprimentar, então o abraçou carinhosamente, sentindo o doce cheiro de seu perfume.

– Oi, anjo – Jungkook sussurrou contra o seu pescoço.

Jimin finalmente se afastou, ainda com as mãos apoiadas em seus ombros, então abriu um sorriso enorme. Jungkook o encarou com devoção antes de lhe roubar um demorado beijo. Jimin foi atingido por uma crescente sensação de conforto. O beijo de Jungkook, por mais curto que fosse, ainda lhe arrancava suspiros.

– Eu senti sua falta. – disse Jimin, olhando no fundo dos olhos dele. – Estou quase entrando em guerra com o seu novo cargo. Ele te rouba de mim o dia todo.

– Se você continuar falando assim eu vou ser obrigado a pedir férias. – Jimin gargalhou, esperando não parecer tão inclinado a concordar com aquilo. – Férias me faz pensar em viagem. Viagem me faz lembrar que ainda temos duas passagens para a Holanda. Eu não vejo a hora de te levar para o Amsterdam.

– Por que não fazemos isso logo?

A voz de Jimin ficou diferente, então ele se perguntou brevemente se por fora parecia tão desesperado para viajar com Jungkook quanto se sentia por dentro. Eles cogitaram fazer a viagem no período em que Jungkook estava afastado do FBI, mas Seokjin sugeriu a Jimin que começasse a terapia primeiro. O menino, portanto, concordou.

– Nós pegamos um novo caso, anjo. Vamos começar as investigações amanhã. – disse Jungkook, sua expressão era de lamentação. – Não vamos poder viajar enquanto o caso ainda estiver em aberto. Jared propôs uma força-tarefa conjunta com a CIA, então o processo pode ser mais rápido do que pensamos.

O garoto balançou a cabeça em compreensão. Ele tinha esperado dois meses, então podia esperar mais um pouco. Na menção da palavra CIA, Jimin se lembrou de algo, ou melhor dizendo, de alguém.

– Você já conversou com aquela mulher que se diz ser sua irmã biológica? – ele perguntou.

Jungkook fabricou um sorriso pequeno, mas a verdade era que ele não tinha pensado sobre esse assunto em questão. Ultimamente, sua cabeça andava ocupada demais com as exigentes tarefas que seu novo cargo solicitava e isso o impedia de pensar para além dessa bolha.

– Ainda não conversamos sobre isso.

– Que estranho. Pelo que você me falou, ela parecia determinada a te contar a verdade. – Jimin observou. – E já se passaram dois meses desde a aparição dela, não é?

– Quase isso. – Jungkook suspirou. – A verdade é que eu não sei se quero ouvir o que ela tem a dizer. Não quero abrir feridas, nem conhecer a porcaria do meu passado. Por isso adiei essa conversa. E quer saber? Me sinto ótimo.

Jimin não conseguiu acreditar nas últimas palavras dele, mas concordou com um suave balançar de cabeça. É estranho pensar que, mesmo com uma infância terrível, Jungkook cresceu com uma personalidade que parecia inquebrável. Ele aprendeu a ser resistente em qualquer situação, por mais que fosse apenas uma capa de proteção.

– Tem uma coisa que você vai adorar. – disse Jungkook, mudando subitamente de assunto. – Comprei comida mexicana e indiana. Na verdade, eu estava em dúvida, então decidi pedir os dois.

Jimin arregalou os olhos em surpresa e felicidade simultânea. Uma rápida olhada ao redor da sala revelou dois tabuleiros cheios de comida sobre a mesinha de centro e um balde de gelo com uma garrafa de espumante descansando entre os cubos congelados.

– Não acredito! – ele exclamou. – Você pediu minhas comidas favoritas.

– Eu imaginei que você fosse gostar. – ele abriu um sorriso. – Venha. Vamos comer.

Enquanto Jungkook trancava a porta da casa usando um código de segurança, Jimin já se encontrava arrumando uma almofada no chão para se sentar. Ele focou sua atenção nos variáveis petiscos sobre os tabuleiros e sentiu sua boca salivar.

Christopher o havia apresentado inúmeros pratos diferentes quando eles visitaram Mumbai, na Índia, e a partir de então a comida indiana se tornou um dos seus pratos prediletos. O famoso taco lhe dava água na boca, mas não podia negar que a samosa indiana era a sua favorita.

– Então, como está a sua relação com o Seokjin? – perguntou Jungkook, sentando-se ao lado dele.

– Estamos nos dando super bem. – respondeu. – O meu pai voltou para a Grécia, então ele se aproximou mais de mim. Eu sinto que ele se sente mais à vontade quando estamos sozinhos. E, para ser honesto, não me sinto mais estranho por chamá-lo de pai.

– Acho que vamos ter que definir de qual pai estamos falando a partir de agora.

Jimin riu. Racionalmente, as palavras de Jungkook faziam sentido. Ele precisaria descrever melhor a qual pai estava se referindo toda vez que os mencionasse. Mas agora isso não tinha muita importância. Ele passaria a noite com Jungkook e isso era tudo o que sua mente gostaria de pensar.

– Toma. Para você. – Jungkook lhe ofereceu uma taça de champanhe.

Com um sorriso agradecido, Jimin tomou o cálice das mãos dele e engoliu um pouco do líquido, apenas para provar. Ele olhou para Jungkook com um certo fascínio, o assistindo colocar o balde de gelo em outro móvel. Quando os olhos dele encontraram os seus, Jimin sorriu com a taça entre os lábios.

– Está com frio, anjo? – aquela pergunta fez algo dentro de Jimin escorregar. Ele esperou não parecer pego de surpresa. – Vem cá.

Entendendo a sua pergunta, Jimin soltou a respiração. Por um segundo, teve medo de Jungkook perceber que ele estava usando casaco no verão, algo não muito característico. No entanto, ele podia dar a desculpa de que o ar condicionado estava ligado, o suficiente para lhe deixar com frio.

Com isso, Jimin se empoleirou nos braços dele, ficando entre as suas pernas para se aconchegar melhor. Jungkook estava com um cheiro intenso de banho recente e perfume francês. O tremor quente de antes ainda percorria seu corpo, mas ele tentou evitar esses pensamentos tomando mais um gole de champanhe.

Se Jungkook não o perguntasse, ele não teria que mentir.

– Como foi no trabalho? – Jimin perguntou enquanto deitava a cabeça no peito dele.

– Hoje nós perseguimos um suspeito que sequestrou a namorada e roubou o carro dela. Bem, pelo menos conseguimos prendê-lo.

– Menos mal.

– E as suas aulas, quando começam?

As coisas tinham ficado estranhamente silenciosas após aquela pergunta. Jimin estremeceu por dentro. Ele agradeceu por estar com o rosto abaixo de Jungkook, assim ele não poderia ler sua expressão. Então, Jimin tomou um grande fôlego e disse:

– Amanhã.

– Está ansioso por isso?

– De modo ruim, sim. – ele ainda estava agarrado a Jungkook quando falou.

Muito ligeiramente, Jimin supôs que Jungkook olhou para ele de modo especulativo.

– Quer conversar sobre isso, anjo?

Jimin suspirou, então se afastou dele, apenas o bastante para encará-lo nos olhos. A expressão de Jungkook estava suave, atenciosa e preocupada. Seus olhos pretos pareciam mais brilhantes sob a claridade da luz.

– Não sei se estou pronto para voltar à escola. – Jimin assumiu, tentando frear a parte negativa desse anúncio. – Parece idiotice, mas eu sinto que não vou ser bem-vindo.

– Isso não é verdade. Você vai entrar em uma nova turma, conhecer pessoas novas. Tenho certeza que será tão bem-vindo quanto elas.

– Esse é o problema. – Jimin deu um suspiro seco. – Eu não sei o que elas vão pensar de mim. Com certeza o meu rosto estava nas maiores manchetes do país. E se eles me olharem torto? Se ficarem fazendo piadinha sobre mim? Eu não quero passar por isso.

– Anjo, você precisa aprender a ignorar os comentários negativos. – ele disse, soando como um conselho. – Se isso acontecer, o que quer que essas pessoas digam de você, não significa que seja verdade.

– Não é tão fácil quanto parece.

– Por isso se trata de um processo de aprendizagem. – Jimin o encarou bem a tempo de ele apertar o seu narizinho entre os dedos, arrancando um pequeno sorriso dele. – Vamos fazer assim: se alguém te ofender, você me chama e eu resolvo esse problema para você. Fechado?

Um pequeno sorriso agradecido cresceu ao redor do aflito e desesperado rosto de Jimin. Ele não podia negar que se sentia bem quando Jungkook o protegia. Aparentemente, ele se sentia da mesma forma

– Então essa é a vantagem de namorar um detetive?

– Essa e muitas outras.

Eles trocaram um olhar cúmplice, então Jimin colocou a sua taça meio cheia na mesinha de centro e retirou a de Jungkook das mãos dele. Com um flash de movimento, o menino girou de frente para encará-lo, ficando de joelhos entre as pernas dele. Jungkook escorregou a mão direita para o final de sua espinha meio que sem querer.

Jimin sentiu os dedos dele traçarem suas costas enquanto o trazia para perto. Segundos depois, o menino sentou nos próprios calcanhares e elevou os braços para o pescoço de Jungkook. Seu namorado o fitou nos olhos, havia uma mistura de fascínio e expectativa nadando por trás daquelas órbitas.

– Me mostre. – Jimin murmurou.

Um sorriso espontâneo esticou os lábios de Jungkook para cima. Ele acenou sua cabeça em um suave sim, tão suave que seu movimento poderia ter sido imperceptível se Jimin não estivesse tão atento. O menino estremeceu por dentro quando ele o segurou pela nuca, não firme, apenas para incentivar uma aproximação maior.

Com isso, o detetive manteve os olhos fixos nos dele enquanto o trazia de encontro aos seus lábios, sem muito esforço. Jimin pressionou seu corpo mais perto dele enquanto o beijava intensamente. Ele podia sentir as batidas selvagens do coração de Jungkook contra o seu.

Poderiam se passar milhares de anos, mas Jimin sempre reagiria ao beijo de Jungkook como na primeira vez. Suas resistências enfraqueciam toda vez que ele o tocava, seja um simples abraço ou um beijo ardido.

Jimin apertou suas mãos instantaneamente no pescoço dele quando sua boca foi invadida pela língua de Jungkook. Aquele gesto o encorajou a retribuir o contato. Abruptamente, Jungkook começou a diminuir o ritmo, então Jimin o acompanhou. Quando o menino fez menção de sugar o seu lábio inferior, Jungkook recuou a cabeça para trás, esquivando-se propositalmente.

Aquilo soou surpreendentemente normal. Jimin olhou para ele, então mordeu a pontinha do lábio em ansiedade, principalmente quando o viu sorrir. Mas, antes que tivesse a chance de pensar sobre aquela provocação, Jungkook voltou a colar suas bocas.

Para o desagrado de Jimin, o seu estômago roncou de repente. Jungkook sorriu entre o beijo, em seguida finalizou com um selinho. O menino se sentiu traído pelo próprio organismo. Seu rosto ficou ruborizado, como Jungkook imaginou que estaria.

– Está com fome, príncipe? – Jungkook perguntou carinhosamente, arrumando alguns fios na testa dele que ficaram bagunçados.

– Aparentemente, sim.

Jungkook sorriu antes de tomar o rosto dele entre as suas mãos e roubar mais um selinho do garoto, dessa vez mais suave, doce e calmo. Suas palmas eram quentes contra as bochechas dele.

Jimin pôde ver algo no olhar de Jungkook quando se afastou, algo que se inclinava próximo à paixão. Seu coração se contraiu com aquela observação, consciente de que a implicação estava lá, tão claramente quanto ele podia imaginar.

– Vamos comer, então? – seus lábios se curvaram um pouco nos lados.

– Vamos. – Jimin concordou, animado. – Vou pegar os pratos.

Com isso, o menino se pôs de pé e caminhou em direção a cozinha. Ele fisgou os pratos na parte superior do armário e pesquisou os talheres na gaveta. Depois de tanto visitar a casa de Jungkook nas últimas semanas, ele passou a ter conhecimento de boa parte das coisas guardadas.

Quando retornou, percebeu que Jungkook havia reservado um lugar para ele, bem ao seu lado. Isso definitivamente o fez sorrir. Era possível ouvir o som do tráfego à distância, mas a música que ecoava pelo apartamento cobria o barulho agitado do trânsito lá fora.

Jimin colocou os pratos na mesinha de centro bem a tempo de observar Jungkook enchendo os copos com vinho. Com o passar do tempo, ele descobriu que Jungkook gostava de beber vinho na hora do almoço e do jantar.

Após preparar tudo, eles ficaram sentados lado a lado, servindo a comida em seus respectivos pratos. Jungkook abocanhou o bolinho de arroz com molho de pimenta enquanto Jimin saboreava os tacos.

– Você se encontrou com o Yoongi? – perguntou Jungkook após engolir. Jimin agitou a cabeça em um sim.

– Ele vai passar a noite com o Taehyung. – disse. – Até tranquei a porta do meu quarto. Não faço ideia do que eles fazem naquela casa quando não estou. Ou melhor dizendo, em que lugar exatamente eles ficam.

Jungkook estava mastigando quando riu, mas sem mostrar os dentes. Ele tinha uma noção do que Jimin estava falando, e, honestamente, o seu garoto não estava errado. Yoongi já tinha lhe contado algumas histórias sobre suas aventuras eróticas com Taehyung, entre elas, o seu lugar favorito. Apesar de estranho, era igualmente engraçado.

– Ele me perguntou mais cedo se eu ia te visitar. Então eu disse que você passaria a noite aqui. – Jungkook falou, fisgando um nacho da bandeja.

– Com certeza eles estão fazendo uma farra naquela casa.

– Assim como nós. – Jimin o encarou, parando de mastigar. – Mas de maneiras diferentes.

O menino finalmente engoliu, limpando a garganta em seguida.

– Você queria estar como eles? – de repente, a pergunta fluiu para fora de sua garganta, logo fazendo Jimin perceber que foi a coisa mais errada a se dizer.

Os olhos de Jungkook ficaram mais escuros e insondáveis. Jimin se sentiu estranhamente tonto quando o silêncio dele durou mais de três segundos.

– Prefiro comer comida mexicana e indiana com o meu namorado.

O menino não disse nada, apenas o observou. Algo como felicidade se agitou em seu interior. Ele esperava que Jungkook não estivesse dizendo aquelas coisas apenas para lhe deixar menos desconfortável. Apesar de tudo, sua pergunta tinha sido boba.

– A propósito, eles estão namorando? – perguntou Jungkook, deixando o clima mais indizivelmente agradável. – Às vezes eles falam um do outro como se fossem amantes.

Jimin riu espontaneamente.

– Para ser honesto, não faço ideia do que eles são. – ele respondeu, sorrindo. – O Taehyung gosta do Yoongi, mas ele também tem uma quedinha pelo Ric.

– Ric? Eles ficaram apenas uma noite juntos, não?

– Não. Foram várias noites. De acordo com o que o Taehyung me contou, o Ric tratava ele de uma forma diferente.

Jimin não estava certo do que esperar em resposta, mas recebeu uma expressão incerta de Jungkook. Obviamente, ele sabia sobre os sentimentos platônicos de Ric em relação a Taehyung — pelo menos suspeitava a princípio que fosse platônico — mas não sabia que Taehyung também se sentia da mesma forma.

– Ok, mas de quem ele gosta, afinal? Ric ou Yoongi? – Jungkook não esperou que um dia esse assunto fosse se tornar um tópico importante em uma conversa normal com Jimin.

– Yoongi. – Jimin falou e então pausou com um nacho a pouquíssimos centímetros de sua boca. – Mas ele também se sente afetado pelo Ric. É complexo. Só sei dizer que ele quer o seu amigo.

Jungkook suspirou, como se achasse graça do assunto. Jimin mordiscou o nacho, sentindo a tortilha crocante derreter em sua boca. Apesar de não ser um assunto que lhe pertence, Jimin confiava em Jungkook para compartilhar esse tipo de informação, ciente de que ele não contaria para Yoongi, nem para ninguém.

– Quer saber de uma coisa? – Jungkook disse depois de beber todo o vinho de sua taça. Havia uma espécie de provocação contida em sua voz. – Talvez o Taehyung esteja certo. Um romance a três me parece mais fascinante. – Jimin semicerrou os olhos para ele. – O que me diz, anjo? Podemos dividir o nosso namoro com outra pessoa.

– Você quer mesmo me dividir com outra pessoa?

– Eu não iria te condenar se você começasse a gostar de outra pessoa. – Jimin congelou da cabeça aos pés quando o ouviu dizer. – Mas, para ser sincero, isso me machucaria.

Por um momento, o garoto manteve-se em silêncio. Houve uma avalanche de pensamentos dentro de sua cabeça, mas ele esperou agir naturalmente, sem parecer afetado por todos eles.

– Então está descartado o relacionamento a três. – ele disse tão seguramente quanto podia. Jungkook sorriu. – Eu gosto mais da ideia de sermos apenas nós dois.

– Eu também, príncipe.

Jungkook parecia sólido e totalmente confiante, como sempre tem sido. Jimin enxergava nele o que não existia em si mesmo: autoconfiança. Talvez o fato de estar com medo de abrir o jogo sobre seu ex namorado fosse por sua causa, não por Jungkook.

Ele descartou todas as possibilidades de ainda estar apaixonado por Vernon, como também as possíveis reações negativas vindas de Jungkook ao saber a verdade. O grande problema, o qual ele suspeitava ser o seu maior rival no momento, estava dentro de si mesmo. Sua mente. Não era por Jungkook que ele estava com medo, mas por ele próprio.

No entanto, Jimin ainda não havia descoberto o motivo de seu medo e onde localizá-lo.

Minutos depois, eles tinham devorado tudo. Jimin ignorou esses pensamentos e ajudou Jungkook a levar os tabuleiros com os pratos vazios para a pia. O menino estava lavando as mãos na torneira quando foi surpreendido por Jungkook, que o segurou pelo quadril quando ele se virou de frente, mantendo o espaço entre eles comprimido.

Jimin arfou um sorriso, ainda surpreso pelo súbito gesto brincalhão. Sem dizer nada, Jungkook apenas o girou de encontro a bancada de serviço e o empoleirou sobre ela, ficando entre suas pernas de modo inviolável. Jimin pôde sentir a temperatura subindo em suas mãos, talvez pela ansiedade.

Suas pernas ficaram livres pelo ar. Jungkook fechou suas mãos ao redor da cintura dele enquanto abria um sorriso convidativo. O menino lambeu os próprios lábios, cheio de expectativa.

– O que acha de irmos para o meu quarto? – Jungkook propôs, baixinho, sem insinuações. Jimin sorriu ainda mais. – Algo me diz que lá tem uma vista bonita para o céu.

O coração de Jimin começou a martelar muito forte entre as costelas. Ele envolveu seus braços em torno do pescoço de Jungkook e então olhou para a boca dele, beijando-o em seguida, de modo que o fez sentir uma ardente sensação nas veias. Mesmo estando sobre a bancada de serviço, Jungkook continuava sendo um palmo maior que ele.

Um momento mais tarde, Jimin começou a se afastar, mas Jungkook escorregou os lábios para o seu pescoço, onde sugou gentilmente aquela região, sem intenção de deixar marcas. Jimin fechou os olhos diante de seu gesto e inclinou a cabeça para o lado, lhe incentivando a continuar.

– Está pensando o mesmo que eu? – perguntou Jimin através de um sussurro.

Jungkook finalmente se afastou, ficando a pouquíssimos centímetros de distância do rosto dele.

– É o que eu mais quero agora.

Após a sua confirmação, Jimin pulou para fora da bancada e o segurou pela mão, feliz pela ideia de poder olhar as estrelas abraçado com Jungkook. Eles já fizeram isso algumas vezes. Tudo parecia mágico. Jimin gostava de assistir o céu negro ao lado de Jungkook, ver a constelação de estrelas, como se fossem uma rede de joias brilhantes, e também as variações da lua.

A varanda do quarto de Jungkook havia se tornado o cantinho deles, um lugar de paz onde apenas eles poderiam dividir seus sentimentos e segredos. O céu noturno era o único ouvinte, como também o confidente ideal.

✭✭✭

Oi meus bebês, como vcs estão? Espero que muito bem! Algumas coisas já estão surgindo, novos casos, problemas a serem resolvidos no decorrer da história e, obviamente, novas teorias.

Esse capítulo foi curtinho, mas espero que tenham gostado. Vou fazer o possível pra atualizar o segundo capítulo um pouco mais cedo. Enfim, se cuidem e até a próxima atualização <3

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