fourteen᠉
Jimin não imaginou que se sentiria tão nervoso só por estar sentado em uma cadeira de um tribunal. Seu coração estava acelerado, as mãos suadas, o corpo trêmulo, as pernas bambas e os pensamentos confusos; todas as reações que ele esperava ver na sua amiga, a ré, e não em si mesmo.
No entanto, diferentemente de Jimin, Hannah não esboçou nenhuma reação. Ela estava ao lado do advogado de defesa, quieta, sem cruzar o olhar com o de Jimin em nenhum momento. O estômago do menino embrulhou quando o advogado da promotoria começou a apresentar o caso contra Hannah.
Todos na sala de julgamento ficaram atentos ao que estava sendo dito, menos Jimin, que não aguentou ouvir as acusações contra a amiga e saiu discretamente do salão. Ele gostaria de permanecer sentado para apoiá-la caso fosse necessário, mas nem mesmo Hannah parecia preocupada com o seu destino.
Enquanto o advogado de acusação falava, ela roía as unhas, como se estivesse entediada, e bocejava ocasionalmente. Sua postura disse a Jimin que ela havia escolhido se livrar do problema de forma passiva. E esse, também, foi um dos motivos que fizeram Jimin deixar o salão.
Em silêncio, o garoto se dirigiu à saída, onde um policial uniformizado protegia a passagem, parecendo impermeável, e soltou o ar pela boca quando alcançou a parte externa da câmara. Jimin visualizou um assento à distância e decidiu ir até lá para esperar o fim da audiência. Ele não fazia ideia de quantos minutos duraria, mas estava disposto a esperar o tempo que fosse necessário.
Naquela manhã, Jungkook ligou para o seu celular para informar o ponto de encontro. Embora eles não tenham definido o horário para se encontrarem, Jimin pretendia estar lá o quanto antes. O menino tinha a leve sensação de que o seu namorado estava preparando algo especial para ele.
Quando os pensamentos de Jimin mergulhavam nas inúmeras surpresas que Jungkook poderia fazer, seu coração, em resposta, ficava mais acelerado. O garoto nunca esteve em uma lancha antes, o que, obviamente, o fazia antecipar um pequeno frio na barriga.
Horas antes de buscar Hannah para a audiência, Jimin contou a Seokjin que passaria o dia com Jungkook em uma lancha, fazendo seu pai se entreter com a ideia. Embora não tenha recebido muitos detalhes, Seokjin entendeu que o passeio seria romântico.
— Jimin! — A voz de Taehyung veio em sua direção, fazendo-o despertar de seus pensamentos. Quando Jimin olhou para cima, encontrou um par de olhos castanhos olhando-o curiosamente. — Por que você está aqui fora? A audiência ainda não começou?
— Começou, mas eu quis esperar aqui. Não sei se consigo assistir. — Taehyung comprimiu os lábios, dando a entender que sentia muito. — Aliás, o que você tá fazendo aqui?
— Sei que você está com o seu pai, mas eu quis te fazer companhia mesmo assim — respondeu. — E antes que pergunte sobre o meu trabalho, eu pedi para Carly me dar cobertura.
— Taehyung...
— Não vou demorar muito, prometo.
Jimin fingiu estar aborrecido, mas sua fisionomia mudou em instantes, fazendo-o gesticular para o assento ao lado e dizer:
— Tudo bem, senta aí.
Seu amigo acomodou-se na cadeira ao lado e olhou para a porta do salão em que ocorria a audiência. Ele começou a imaginar o que estava acontecendo lá dentro, visto que não conseguia ouvir a sessão. A curiosidade de Taehyung foi interrompida quando a mão de Jimin tocou sua perna.
— Eu não entendo porque isso tá acontecendo com a Hannah — Jimin disse baixinho. — Por que ela está respondendo por um crime se ninguém a denunciou? Por que ela, também vítima de tráfico humano, tem que se submeter a isso sendo que houveram outras mortes por legítima defesa? Eu atirei no Derek e nem por isso estou respondendo por um crime. Não faz sentido.
— Olha, eu não entendo disso, mas se quer uma opinião, acho que o FBI falhou com ela. Eles participaram do caso, sabiam o que aconteceu e ainda assim permitiram que ela fosse julgada. — Jimin balançou a cabeça em concordância. — Sinto que tem algo por trás disso.
— Você acha que a equipe que participou do caso pressionou os detetives responsáveis para que ela fosse julgada? — Taehyung deu de ombros levemente. — A Hannah se voltou contra o FBI por um tempo, mas foi sob influência do Namjoon. Ela foi manipulada e drogada.
— Você deveria saber que agentes do governo agem assim. Talvez eles tenham ficado desconfiados e pensado que a Hannah era uma ameaça à sociedade, já que ela os atacou em defesa do Namjoon — Taehyung explicou. — Não sabemos o que rola por trás. Mesmo que Hannah tenha sido uma vítima, ela trocou de lado e atacou uma agência governamental ao lado de um mafioso.
— A Hannah não era a Hannah.
— Torça para que o juiz leve isso em consideração.
Um lampejo de preocupação passou pelo rosto de Jimin, fazendo-o engolir as palavras. Ele não disse nada, apenas torceu, em silêncio, para que Hannah não fosse presa. Taehyung, em contrapartida, parecia mais tranquilo em relação às circunstâncias.
— Vamos esquecer isso, Jimin. O que for decidido, nós vamos ter que acatar — opinou Taehyung, relaxando no assento. Jimin apenas o encarou em silêncio. — Aliás, eu acho que a Hannah está precisando de um empurrãozinho pra acordar. Talvez essa audiência sirva para isso.
— Você se refere a ela voltar a ser quem era?
— Sim. — Ele pareceu bastante convincente. — Mas não vamos falar disso, vamos falar de coisas boas. Já comprou sua roupa para o baile?
Por um momento, Jimin percebeu que Taehyung estava tentando fugir do assunto, o que não fazia muito sentido na sua cabeça, visto que, a poucas horas atrás, ele tinha ligado, preocupado, para saber se a audiência já havia começado.
— Eu tenho algumas roupas de gala guardadas — Jimin respondeu. — Você quer uma emprestada?
— Não, já comprei a minha. — Ele sorriu largamente. — Você vai se amarrar quando eu te mostrar.
— O que há de tão especial na sua?
Taehyung sorriu ainda mais.
— É diferente de tudo que você imagina. — Jimin espremeu os olhos, deixando-os semicerrados.
— É um vestido? — Taehyung negou com a cabeça. — Uma saia longa? — Outro aceno negativo. — O que é?
— Tenha calma, ursinho, na hora eu te mostro. É uma surpresa.
Jimin revirou os olhos e sorriu.
— O Yoongi já te viu usando ela?
De repente, o sorriso no rosto de Taehyung morreu. Seus olhos ficaram inquietos subitamente, fazendo Jimin entender que havia algo por trás daquele nome.
— Ele não vai mais — respondeu Taehyung para a surpresa de Jimin. — Parece que ele vai estar ocupado com as coisas do trabalho.
— O Jungkook e ele trabalham juntos e o Jungkook vai estar lá... — Jimin pontuou, tentando não soar pessimista. — Será mesmo que é só por causa do trabalho?
— Com certeza, não. — Suspirou. — Yoongi gosta de festas, mas não desse tipo. Ele se sentiria um velho no meio de tantos adolescentes.
— Isso é tão...
— Idiota — adicionou. — Eu sei. Ele acha que já passou da fase de curtir festas de escolas. Mas tá tudo bem, eu vou sozinho. Posso conseguir um novo par até lá.
— A Hannah me disse que quer ir também. Por que vocês não vão juntos?
Taehyung franziu as sobrancelhas e contorceu o nariz, uma expressão que, para Jimin, soou como se ele estivesse dispensando a sua sugestão.
— Eu acho melhor não. — Antes que Jimin perguntasse o porquê, Taehyung decidiu antecipar a resposta. — Essa nova Hannah me deixa um pouco desconfortável. E quer saber? Eu prefiro dançar com um cara.
— Ela tem feito algo que não te agradou? — Jimin tentou obter respostas para as suas recentes suspeitas.
— Ela não fala muito comigo, só quando está na sua frente. — A confissão deixou Jimin intrigado. — Agora que o Yoongi está ficando na minha casa, tenho certeza que ela não vai sequer sair do quarto.
— O Yoongi está na sua casa? — Aquela informação deu a Jimin a certeza de que Jungkook e Yoongi já tinham colocado em ação o plano de infiltração.
— Ele disse que queria passar um tempo comigo, o que é tremendamente estranho.
Jimin franziu as sobrancelhas.
— Por quê? Essa é a sua chance de mostrar a ele que você não está indeciso entre ele e o Ric.
Taehyung o encarou como se guardasse um segredo e desviou o olhar rapidamente.
— Eu ainda sinto algo pelo Ric — confessou. — Mas também sinto algo pelo Yoongi. Sou um cafajeste? Talvez, mas não posso fingir que o Stewart não me afeta.
— É normal se sentir assim.
— Para o Yoongi, não. Ele quer que eu tenha certeza do que sinto por ele antes de darmos o próximo passo. É por isso que nunca houve um pedido de namoro. — Taehyung bufou, como se aquele assunto fosse um saco. — Eu acho essa tradição idiota, mas o Yoongi se importa com ela e quer que sejamos como os outros.
— Por que você não faz o pedido de namoro? — Jimin sugeriu, ganhando os olhos incertos do amigo. — Talvez essa seja a prova que ele tanto procura.
— Aí está, Jimin, nem eu sei o que quero. — Silêncio. — Eu gosto do Yoongi, mas ainda sinto algo pelo Ric, mesmo que ele já tenha dito que não quer mais nada comigo.
— Eu pensei que depois da nossa última conversa você já tinha se decidido...
— Sim... mas o acidente do Ric me deixou muito mal e me fez, novamente, duvidar do que eu sinto pelo Yoongi — Taehyung explicou. — Acho que vai ser melhor se eu me afastar do Yoongi por um tempo e começar a pensar em mim. Não quero machucá-lo, mas também não quero me machucar. Se sentir confuso é uma merda.
— Você precisa conversar com o Yoongi o quanto antes — Jimin aconselhou. — O Jungkook e eu sempre nos entendemos porque conversamos. Mesmo que Yoongi não seja seu namorado, ele se comporta como um, então nada mais justo do que falar a verdade para ele.
— Já conversamos sobre isso...
— E aparentemente não chegaram a nenhuma conclusão — acrescentou. — Você disse a mim que não estava mais indeciso, mas não era verdade. Você sempre esteve indeciso entre os dois. Então, como amigo, eu sugiro que você faça uma escolha antes que alguém se machuque.
— Eu não sei o que fazer — ele disse, cabisbaixo. — Tenho medo de acabar perdendo os dois...
— Se você continuar indeciso, infelizmente é isso que vai acontecer.
Taehyung balançou a cabeça em entendimento. Ele não era o tipo de pessoa que entrava em relacionamentos sérios em um piscar de olhos, mas as circunstâncias estavam levando-o a escolher um lado. Para ser sincero, ele gostaria que a sua relação com Yoongi fosse mais aberta, mas o agente já havia deixado claro que não queria mergulhar nessa aventura "fora do comum".
— Jimin — ele o chamou baixinho. — Será que eu posso visitar o Ric? Eu só quero ver como ele tá.
— Ahn... — Ele fez uma breve pausa. — Eu tenho que falar com o Jungkook primeiro, porque não sei se o Ric está recebendo visitas.
— Ok.
— Você acha que é uma boa ideia visitá-lo agora?
— Não estou fazendo nada de errado, estou? — Jimin não disse nada. — É só uma visita. Prometo que não vou tocar nesse assunto com ele.
— Tudo bem.
Jimin gostaria de direcionar Taehyung à um caminho, mas ele sabia que o amigo tinha de encontrar a resposta sozinho. Ele pensou que depois da última conversa que tiveram na biblioteca, Taehyung fosse fazer uma escolha, mas o garoto parecia ainda mais confuso.
Para ser sincero, Jimin não sabia como era a relação de Taehyung e Yoongi entre quatro paredes, nem o que eles conversavam a sós. Tudo o que sabia sobre eles era o que Taehyung lhe contava. Os dois tinham muita coisa em comum, Jimin observou, o que podia vir a se tornar um perigo, porque a personalidade de ambos é como a de uma bomba relógio.
Não havia equilíbrio. Não havia harmonia. Não havia controle. Não havia estabilidade.
Apenas uma coisa ligavam os dois: o prazer carnal.
— Eu soube por aí que uma certa pessoa vai fazer um passeio de lancha e não me contou — Taehyung mencionou, arremessando Jimin para fora de seu devaneio.
— Foi o meu pai quem te contou, não foi?
— Ele gosta de compartilhar informações como eu — sorriu.
— Dois fofoqueiros, melhor dizendo.
— Não seja dramático — ele disse com divertimento. — Aliás, quero saber de todos os detalhes desse passeio.
— Talvez eu te conte, talvez não. Vai depender do meu humor.
— Aposto que o Jungkook vai preparar uma surpresa pra você — supôs. — Ele é muito apaixonado e romântico, homens desse tipo não perdem a chance de agir feito boiolas.
— Isso é um elogio ou uma ofensa? Vindo de você, eu não duvido que seja uma ofensa.
Taehyung conteve um riso.
— Bem, eu tenho padrões. Não gosto de caras melancólicos, mas confesso que há um lado bom nisso.
— Tipo o quê?
— Se eu namorasse um cara como o Jungkook, ele teria que demonstrar seu interesse por mim todos os dias com presentes. — A resposta de Taehyung soou grosseira aos ouvidos de Jimin.
— Você não muda nunca, né? — Seu amigo ampliou o sorriso, dando a entender que suas palavras anteriores não passaram de uma mera provocação. — Acho que você está precisando de um...
Jimin parou de falar ao perceber que a porta da câmara fora aberta, revelando a imagem de Seokjin, Hannah e seu advogado. Seu corpo se ergueu da cadeira instintivamente e seus olhos caíram sobre as expressões deles, torcendo para que elas lhe dessem algum sinal positivo.
Antes de virar-se em direção à saída, o advogado disse algo para Seokjin e Hannah, que concordaram com um gesticular de cabeça. Cheio de expectativas, Jimin esperou que eles se aproximassem para perguntar:
— E aí, o que aconteceu?
Taehyung também havia levantado para recebê-los, mas, diferente de Jimin, ele não parecia ansioso pela resposta. Seokjin olhou para Hannah, vendo-a de cabeça baixa, e voltou-se para o seu filho.
— Hannah foi inocentada — ele comunicou, sorrindo. — Não havia como contestar as provas, então o juiz não quis prolongar a audiência.
Jimin sorriu de alívio e de felicidade, não contendo a vontade de pular em Hannah e abraçá-la. Ele tomou cuidado para não machucar a barriga dela e a apertou em seus braços. A garota, entretanto, continuou imóvel, sem reação.
Os olhos dela foram de encontro aos de Taehyung, que a encarou por um longo tempo antes de desviar-se. Ele viu Seokjin sorrir para a cena de seu filho abraçado à amiga, mas não disse uma palavra sobre aquilo. Hannah continuou olhando-o até sentir Jimin se afastar para encará-la.
— Eu esperei tanto por isso, Hannah — disse Jimin, sorrindo de orelha a orelha. — Como você está se sentindo?
— Aparentemente, ela não gostou muito da decisão do juiz — Taehyung comentou, arrancando olhares incertos em sua direção. — O quê? Vocês não estão vendo a expressão de felicidade no rosto dela?
— Taehyung...
— Eu só estou confusa com tudo o que vi lá dentro. — Finalmente, Hannah se pronunciou. — Estou feliz, mas também confusa. Quero entender tudo o que mostraram sobre mim.
— Você poderá refletir sobre esse momento com calma, Hannah — Seokjin falou, tocando-a no ombro gentilmente. — Nós entendemos a sua confusão, está bem? Não se preocupe com isso.
Ela ficou em silêncio por um momento, em seguida olhou para Seokjin como se estivesse prestes a lhe pedir algo.
— O senhor pode me levar para casa? — perguntou.
As sobrancelhas de Jimin se franziram. Ele observou que Hannah não estava apenas confusa, mas, também, triste. Diante das circunstâncias, o garoto quis acreditar que Hannah tinha reagido assim devido às provas que o advogado apresentou e não por ter sido inocentada.
— Claro — Seokjin confirmou, olhando para Jimin e Taehyung em seguida. — Vocês vêm conosco?
— Eu tenho que resolver algumas coisas — Taehyung justificou, não dando muitos detalhes de seu compromisso.
Os olhos de Seokjin caíram sobre Jimin, fazendo-o perceber que ele estava aguardando a sua resposta.
— Eu marquei de encontrar o Jungkook, pai — respondeu. — Vejo vocês mais tarde.
O homem se aproximou de Jimin e deu-lhe um beijinho na testa.
— Tome cuidado, ok? Me ligue se precisar de algo — Seokjin disse apenas para ele ouvir, vendo-o balançar a cabeça em afirmação. — Se quiser, posso te levar até ele.
— Não se preocupe, eu pego um táxi.
— Tem certeza?
— Absoluta.
Seokjin decidiu não prolongar o assunto, apenas respeitou a decisão dele. Jimin agradeceu a preocupação de seu pai com um sorriso e foi retribuído com uma carícia nos cabelos. Em seguida, o homem chamou Hannah com um aceno de cabeça e se dirigiu ao carro.
Ainda parado no mesmo lugar, Jimin os observou se distanciar cada vez mais, desviando-se deles apenas quando os viu entrar no carro e dar partida. Hannah não olhou para trás em nenhum momento, não se despediu deles, não os agradeceu nem nada.
— O que deu nela? — Jimin perguntou para si mesmo, mas sua pergunta caiu nos ouvidos de Taehyung.
— Não é de hoje que a Hannah tá estranha — ele pontuou. — Desde o dia que ela começou a morar comigo que está agindo assim.
— Ela nunca deu sinais?
— Sinais de quê?
Jimin se calou. Ele não podia revelar a Taehyung que Yoongi tinha se infiltrado na casa dele para descobrir no que Hannah estava metida. No entanto, podia usar a desconfiança do amigo e sugerir que prestasse mais atenção nos comportamentos dela a partir de agora.
— Eu acho que nós dois devemos prestar atenção nela de agora em diante — Jimin propôs de forma articulada. — Não sabemos se a Hannah pode voltar a ser a Lauren.
— Algo me diz que ela nunca deixou de ser a Lauren — Taehyung disse, causando um terror interno em Jimin. — De qualquer forma, eu ficarei de olho nela.
— Obrigado.
— Vamos pegar um táxi? — perguntou. — Eu tenho que ver o Yoongi antes de voltar ao trabalho.
— Sim, claro. Vamos.
Assim como Jimin, Taehyung também não queria prolongar o assunto. Além do mais, Jimin não tinha intenção de estragar o seu dia com Jungkook, que, por sinal, já o esperava na garagem náutica. O menino decidiu deixar o assunto sobre Hannah para mais tarde para não correr o risco de tomar decisões precipitadas.
Nesse momento, ele só desejava ver Jungkook e passar as próximas horas ao seu lado.
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O lugar em que Jimin estava era enorme e armazenava alguns barcos, lanchas e iates. Ele se sentiu estranho com o barulho do mar, pois não o escutava há meses, mas a sensação de olhar mais uma vez para a imensidão azul o deixou encantado.
À distância, Jimin enxergou uma figura virada de costas sobre uma lancha à beira do mar, parecendo arrumar algo em uma bolsa. Ele sorriu quando identificou as características de Jungkook e andou em direção a ele.
O detetive vestia uma regata branca e um short de tecido claro, semelhante ao que ele costuma usar nos treinamentos de boxe. Embora o seu rosto estivesse virado para a direção contrária à de Jimin, o menino observou que ele estava de óculos de sol.
Percebendo que Jungkook não tinha se dado conta de sua aproximação, Jimin sorriu quando uma ideia surgiu em sua cabeça. Ele começou a se aproximar na pontinha dos pés para não fazer barulho e, após chegar perto o suficiente, deslizou as mãos para os olhos do namorado, cobrindo-os.
Os lábios de Jungkook se ergueram automaticamente e uma sensação familiar o preencheu. As mãos dele foram de encontro as de Jimin, tocando-as, fazendo-o reconhecer seu toque. O menino mordeu o lábio inferior quando o ouviu dizer:
— Eu estava esperando por você... — Jimin abriu um sorriso enorme após escutar suas palavras. — Thomas.
— Thomas?!
Jimin afastou-se rapidamente, ouvindo-o gargalhar de sua reação. O menino recuou um passo e colocou as mãos na cintura enquanto o observava virar-se de frente para si.
— Quem é Thomas, detetive Jeon? — ele perguntou, fingindo estar aborrecido.
Jungkook se ergueu do chão, rindo, e envolveu os braços na cintura do menino. Jimin continuou com as sobrancelhas franzidas em inquérito enquanto seu namorado sorria.
— Você acha que eu ia confundir as suas mãos gordinhas, meu bem? — ele perguntou, fazendo-o arregalar os olhos.
— Jungkook!
— Além do mais... — Ele se inclinou contra o pescoço do menino, beijando-o. — Eu conheço o seu perfume a quilômetros de distância.
Jimin sentiu as suas bochechas esquentarem de repente. Apesar dele conhecer as provocações de Jungkook, o seu corpo reagia como se as desconhecesse. O detetive, em contrapartida, parecia saber exatamente o que o menino sentia só de olhar nos olhos dele.
— Você está ficando muito abusado, detetivezinho — Jimin brincou, tentando esconder o seu nervosismo. — A sua sorte é que eu não sou ciumento.
— É mesmo? — Ele o puxou para perto suavemente, colando seus corpos. — Você não sente nem um pouquinho de ciúmes?
— Talvez um pouquinho...
Jungkook sorriu, mas seu gesto não se prolongou, pois, em seguida, ele tomou os lábios do garoto. Jimin teve dificuldade de corresponder ao beijo, uma vez que eles estavam em público, mas, aos poucos, a confiança começou a se apoderar de seu corpo.
Percebendo que o corpo do garoto estava um pouco rígido, Jungkook finalizou o beijo com um selinho e se afastou para observá-lo. Inconscientemente, Jimin olhou para os lados para se certificar de que ninguém presenciou aquela cena.
— Vamos? — O detetive o chamou enquanto acariciava seus cabelos. O menino sorriu, concordando. — Lá dentro é bem melhor.
As bochechas de Jimin esquentaram novamente. Ele segurou a mão de Jungkook quando o viu esticá-la em sua direção, convidando-o a segurá-la, e, em seguida, foi conduzido à plataforma da lancha.
Jimin desceu as escadas ao passar por uma pequena abertura e entrou na cabine, onde observou uma cama de casal à esquerda e um sofá anexado à estrutura do barco à direita. Havia um estreito corredor na sua lateral que o levava a cozinha, que continha apenas uma pia e um frigobar. Aos olhos do menino, o espaço não era tão pequeno e parecia confortável.
Jungkook tirou a mochila das costas dele e a colocou próxima de suas roupas. Jimin não tinha levado muita coisa para o passeio, exceto uma escova de dente, uma muda de roupa para vestir no final da tarde e um protetor solar.
— Vem cá, quero te mostrar uma coisa — disse Jungkook, convidando-o para que o seguisse.
Eles subiram as escadas e foram em direção ao convés superior. A lancha tinha dois andares e um espaço sofisticado, onde eles podiam descansar de vista para o mar. Jimin ficou encantado quando seus olhos contemplaram as águas do mar refletidas pelos raios solares.
Seus pés caminharam sozinhos até a ponta da lancha, parando somente quando alcançaram a cerca de proteção. À distância, ele pôde observar outras embarcações flutuando pelo mar. Um sorriso espontâneo elevou seus lábios quando os braços de Jungkook o envolveram por trás.
— É tão lindo... — Jimin comentou, enfeitiçado.
— Está falando de mim ou do mar? — brincou.
O menino riu, encarando-o lateralmente.
— É válido para os dois.
Em resposta, o detetive roubou um beijinho dele, fazendo-o sorrir ainda mais.
— Me espere aqui, vou ligar a lancha — Jungkook informou, dando-lhe um último beijo antes de distanciar-se.
Jimin ficou parado enquanto o via se afastar em direção à cobertura, onde estava localizado o volante da embarcação. O menino sentou em um sofá sofisticado que estava anexado à parte da frente da lancha e olhou para o horizonte, sentindo-se admirado.
Em poucos minutos, a embarcação começou a se mover para frente sob os impulsos do vento. Jimin percebeu que em instantes a lancha se alinhou naturalmente à água e começou a se afastar da costa. Ele não tinha certeza se Jungkook sabia manobrar uma lancha até vê-lo fazer isso.
Ele olhou para a cobertura em busca de seu namorado e o encontrou atento ao painel de controle e ao quadro de interruptores. Jimin observou que Jungkook não estava tendo dificuldade em mexer nos instrumentos de motorização, o que significava que ele já havia feito isso antes.
Parecendo sentir o peso do olhar do menino sobre si, Jungkook olhou na direção dele e sorriu, principalmente quando o vento jogou os cabelos de Jimin contra o rosto. O detetive lançou-lhe um beijo no ar, sendo retribuído na mesma hora.
O menino voltou a olhar para o mar, admirando a água correndo por baixo da lancha e deixando seu rastro para trás. Ele só percebeu que havia uma bandeja cheia de petiscos sobre uma mesinha minutos depois. Embora tenha comido antes de sair de casa, Jimin não deixou de experimentar o que Jungkook havia comprado para eles.
Entretido com a comida, o garoto não se deu conta quando Jungkook ancorou a embarcação e a estacionou após alcançar uma distância considerável. A lancha ficou parada na água, boiando, longe de quaisquer olhos humanos, o que, obviamente, favorecia a privacidade deles.
Jimin olhou em volta, vendo, à distância, algumas embarcações velejando em alto-mar em direções diferentes. A garagem náutica já não era mais visível aos seus olhos. O menino sorriu para si mesmo quando chegou à conclusão que ele e Jungkook estariam, finalmente, a sós.
Ele acordou de seu devaneio ao ouvir Jungkook se aproximar. Jimin observou que ele segurava um balde de gelo com uma champanhe e duas taças. O detetive colocou os objetos na mesinha, próximos aos petiscos, e sentou ao lado do menino.
— Aqui é um ótimo lugar pra descansar — comentou Jimin enquanto Jungkook abria a garrafa de espumante. — E pra namorar.
De repente, o detetive parou o que estava fazendo e o encarou com um sorriso sugestivo nos lábios, dando a entender que havia se interessado pela última opção. Jimin escondeu uma risadinha e se fez de desentendido.
— Você quer me provocar, não quer? — Jungkook perguntou, entretendo-se.
— Você é muito bom em adivinhar as coisas, gatinho.
— Eu sou bom em outras coisas também.
Jimin revirou os olhos para o seu comentário atrevido, mas no fundo tinha gostado da resposta. Jungkook riu de sua expressão e o puxou para perto, decidido a roubar um beijo dele. O menino agarrou-o pela nuca antes de encaixar suas bocas.
Eles começaram a se beijar lentamente e foram acelerando o ritmo aos poucos. Jungkook saboreou os lábios recém-molhados de Jimin à medida que se inclinava sobre ele. O garoto deslizou as mãos ao longo dos bíceps do detetive e o puxou, fazendo-o circular um dos braços na sua cintura.
Jimin estava prestes a deitar no sofá quando seu corpo se desequilibrou para o lado, porém o braço de Jungkook impediu a sua queda. Eles riram com as bocas próximas uma da outra, levando a situação na brincadeira.
— Eu acho que esse não é o melhor lugar para nos beijarmos — Jungkook disse, recompondo-se.
— Tem razão, eu já estava ficando quente. — Quando o sorriso no rosto do detetive cresceu, Jimin ficou vermelho. — Me refiro ao calor que está fazendo. Eu devia ter trazido roupas finas.
O sorriso de Jungkook aumentou por uma fração, fazendo o garoto perceber que sua justificativa não o convenceu. De qualquer modo, Jungkook disse:
— Vamos nos refrescar, então. — Ele começou a encher as duas taças com champanhe. — Depois disso, vamos dar um mergulho.
— Eu não trouxe roupa de banho.
— Nem eu.
Jimin arqueou as sobrancelhas.
— E como pretende entrar na água sem uma roupa de banho? — perguntou.
— Eu geralmente entro de cueca.
— Cueca, gatinho? — Ele riu. — Não seria melhor uma sunga?
— Bem, eu não trouxe uma, então vou ter de improvisar — ele respondeu, lançando uma piscadela na direção de Jimin, que balançou a cabeça para os lados enquanto sorria. — Você pode fazer o mesmo se quiser.
Jimin não disse nada em resposta, seus olhos caíram sobre os próprios pés por um momento, tentando não demonstrar seu incômodo. Quando Jungkook lhe entregou uma das taças, ele forçou um sorriso de agradecimento.
— Mas quem disse que para entrar na água devemos tirar a roupa? — Jungkook prosseguiu, deixando o menino momentaneamente confuso.
— Quê?
— Você pode entrar de roupa, anjo — ele acrescentou. — Não quero que se sinta desconfortável.
Jimin ficou aliviado em ouvi-lo dizer aquilo, pois, por um instante, achou que Jungkook tinha esquecido de suas cicatrizes nas costas, porém o detetive estava muito mais atento a isso do que Jimin imaginava.
— Eu adoraria entrar na água, mas eu só trouxe uma roupa fora essa que estou usando — Jimin explicou, apertando os cantos da boca em lamentação. — Se eu molhar essa, vou ter de usar a outra, e não pretendo sujá-la agora.
— É por esse motivo que eu trouxe aquela blusa que você adora vestir quando vai em minha casa. — Jimin ficou surpreso por ele ter se lembrado disso. — Pode usá-la ou, se quiser, pode usar outra blusa minha.
— Você não vai desistir mesmo, não é? — perguntou, sorrindo, vendo-o balançar a cabeça para os lados. — Tudo bem, vamos dar um mergulho.
Jungkook comemorou fazendo um gesto de vitória com as mãos, arrancando mais risadas de Jimin. O menino tomou a taça das mãos dele e levantou, colocando-as sobre a mesinha antes de chamá-lo com um movimento de cabeça. Jungkook gostou de sua atitude e se pôs de pé.
O detetive segurou a mão dele e seguiu para o fundo da lancha, onde havia uma passagem para eles transitarem. Tinha uma cobertura naquela parte que não permitia que eles ficassem expostos ao sol. Jimin viu coletes salva-vidas e equipamentos de proteção guardados em uma caixa no canto esquerdo da lancha.
Jimin deixou de prestar atenção na caixa para observar Jungkook tirar a camisa e o short. Os olhos do menino tentaram disfarçar por um instante, mas seu esforço foi por água abaixo quando eles caíram sobre o abdômen do namorado, apreciando-o.
Jungkook tinha o abdômen definido e os músculos proeminentes, livres de lesões ou quaisquer sinais de contusão. Por ele trabalhar em campo, Jimin sempre esperava ver marcas diferentes de pancada, mas o único machucado que o detetive tinha nesse momento era um simples arranhão no braço por ter pulado do carro em movimento no dia do atentado.
O garoto já tinha visto Jungkook sem blusa diversas vezes, inclusive tocado a sua barriga na noite em que lhe fizera a surpresa. Ele se lembrava perfeitamente da textura macia de sua pele, do volume de cada gominho e da sensação de poder tocá-lo.
— Vamos, anjo? — Jungkook o chamou, olhando para a água para enfatizar o seu convite.
— Você primeiro — respondeu.
O detetive sorriu para Jimin antes de pular na água como um golfinho. O menino perdeu Jungkook de vista após vê-lo mergulhar, mas, em seguida, ele retornou à superfície, o cabelo encharcado cobria seus olhos. Ele arremessou-os para trás e passou a mão no rosto para tirar o excesso de água.
Jimin quase perdeu o fôlego diante do que estava vendo, principalmente quando Jungkook fez um sinal com o dedo, chamando-o. O menino segurou uma risadinha, sentou na borda da lancha e começou a balançar os pés pelo ar só para fazer charme. Jungkook semicerrou os olhos, sabendo que ele queria lhe provocar.
— Eu estava aqui pensando... — disse Jimin, fingindo estar pensativo. — A água do mar tem muito sal, vai estragar o meu cabelo.
Disposto a entrar na brincadeira dele, Jungkook nadou para perto da lancha e se apoiou nela com os dois braços, parando ao lado de Jimin para dizer:
— Eu acho que você vai querer entrar, meu bem.
— Hum... Por quê?
— Dizem por aí que é gostoso beijar debaixo d'água — ele sugeriu com um sorriso travesso nos lábios.
Jimin perdeu as estribeiras e, com elas, toda a sua resistência. Sem pensar duas vezes, ele deixou a brincadeira de lado e mergulhou no mar, sentindo o gelo da água abraçar sua pele e provocar arrepios nas suas costas. Mas, naquele momento, a temperatura não significou nada.
Jungkook se virou para olhar para Jimin bem a tempo de vê-lo colocar a cabeça para fora da margem e cuspir uma pequena quantidade de água. O detetive pegou a mão dele por baixo da água e o trouxe para perto. Jimin deu um demorado selinho nele, sentindo o gosto salgado em sua boca.
— Acho que agora só está faltando testar se o que dizem por aí é verdade — Jimin disse, seu tom era leve, mas sua voz sugestiva.
Atraído pelas palavras de Jimin, Jungkook lambeu os próprios lábios para se preparar e fixou o olhar nos lábios dele. Ele segurou o garoto pela nuca antes de beijá-lo com precisão. O menino quase derreteu quando sentiu um braço envolver a sua cintura e o puxar.
No instante seguinte, seus corpos começaram a descer lentamente para o fundo da água até que suas cabeças fossem cobertas. Jimin sentiu a compreensão da água em seu rosto, ameaçando entrar em sua boca quando começou a movimentá-la contra a de Jungkook.
A sensação era estranhamente gostosa. Jimin não esperava que os lábios de Jungkook pudessem ficar ainda mais macios do que sua textura natural. As ondas cruzavam por entre os espaços que separavam seus corpos, despertando sensações de leveza em ambos.
Jimin contornou as pernas na cintura de Jungkook e embora eles estivessem muito próximos, quase não dava para sentir a pele do outro. Em resposta, o detetive o apertou mais forte, sentindo o sabor salgado misturar-se ao beijo.
No momento que Jimin sentiu a respiração afunilar, ele empurrou a cabeça para fora da água para recuperar o fôlego. Jungkook fez o mesmo, mas, diferentemente do menino, sua respiração parecia mais equilibrada, indicando que ele aguentaria mais tempo debaixo d'água.
— O que achou, meu bem? — Jungkook perguntou.
— Eu prefiro te beijar do jeito tradicional. — O detetive riu e balançou a cabeça, dando a entender que estava de acordo com a opinião dele. — Você já tinha feito isso antes?
— Beijar debaixo d'água? — Jimin confirmou com a cabeça. — Algumas vezes.
— E o que achou?
Jungkook percebeu que ele parecia curioso para saber de seus gostos pessoais.
— Eu prefiro que seja numa piscina — respondeu. — É muito melhor do que no mar.
— Podemos testar numa piscina depois...
Jungkook riu.
— Claro, anjo.
Eles deram um selinho e então Jimin montou nas costas de Jungkook para que ele o levasse, nadando, até a lancha. O detetive se divertiu com sua estratégia e carregou-o como se fosse um coala. O garoto riu de si mesmo, pois tinha a impressão de que estava montado em uma prancha de surf humana.
Jimin se pendurou na base da lancha para receber apoio e sentou-se, deixando a água escoar de suas roupas. Jungkook, em contrapartida, continuou na água, observando-o de baixo. Ele esperou o garoto terminar de arrumar o cabelo para se aproximar e apoiar as mãos em cada lado do corpo dele.
— Eu estive pensando... — disse Jungkook, guardando um milhão de segredos em seus olhos. — Podíamos passar a noite aqui, não acha?
Jimin sentiu-se estremecer depois de ouvir a proposta dele, mas não soube identificar se as vibrações em seu corpo foram por causa da oferta ou por estar completamente molhado.
— Acho que pode ser divertido — Jimin respondeu, sentindo-se quente depois de avaliar o sorriso que Jungkook lançou em sua direção. — Vamos poder ficar juntinhos.
— Sem ninguém para nos atrapalhar — acrescentou.
— Eu vou poder te beijar a noite toda?
— Você tem permissão para fazer o que quiser, meu bem. — Jimin mordeu o lábio inferior, considerando suas opções. — Mas você tem que avisar ao seu pai que vai passar a noite comigo.
A expressão de Jimin disse a Jungkook que essa tarefa não seria fácil.
— Acho que vai ser um pouco difícil convencê-lo a deixar — informou Jimin.
— Não me diga que as crises de ciúme dele são reais.
Jimin riu.
— Não tanto, ele só não quer que eu falte às aulas — explicou. — A não ser que você me leve para casa antes do amanhecer.
— Você é quem manda, meu príncipe.
As bochechas do menino esquentaram após ouvi-lo mencionar aquele apelido. Jimin amava ser chamado de príncipe por Jungkook. Na verdade, qualquer apelido carinhoso que partisse do detetive fazia Jimin amar a sua pronúncia automaticamente.
— Eu vou tomar um banho e trocar de roupa. Esse sal no meu cabelo está me incomodando. — Jimin considerou melhor informar, pois não estava sabendo reagir ao modo como Jungkook lhe encarava. — Onde estão suas camisas?
— Eu coloquei algumas sobre a cama.
— Ok, eu não demoro.
Quando o menino fez menção de se levantar, Jungkook tocou seu pulso, fazendo-o olhar em sua direção. À princípio, Jimin não havia entendido seu gesto, mas tudo ficou claro quando as seguintes palavras saíram da boca do detetive:
— Não está esquecendo nada?
Sabendo a que ele se referia, Jimin sorriu sorrateiramente para a sua pergunta e inclinou o corpo para baixo até alcançar os lábios de Jungkook. O beijo só durou alguns segundos, visto que a posição em que ambos estavam não os favorecia.
Instantes depois, Jimin levantou-se e caminhou em direção à abertura no chão da lancha, que possuía uma tampa translúcida que servia para iluminar o interior do espaço. Enquanto isso, Jungkook aproveitava para dar outro mergulho e se refrescar.
O menino entrou no compartimento após descer a escada e ir direto para a cabine de banho. O espaço era pequeno; o suficiente para caber apenas uma pessoa. Uma cortina escura era tudo o que separava o quarto do banheiro.
Jimin entrou no lugar e tirou a roupa, perdurando-a em um cabide de plástico para secar. Ele ligou o chuveiro e começou a varrer todo o sal de seu corpo com água e sabão. Em poucos minutos, Jimin terminou de se lavar e começou a procurar uma toalha.
Ao se dar conta de que ela estava no meio das coisas de Jungkook, o garoto caminhou em direção à bolsa dele e pegou a toalha, enrolando-a em si imediatamente. Ele se enxugou às pressas e, em seguida, começou a se vestir.
Jimin localizou a camisa que Jungkook disse que lhe emprestaria e vestiu-a. A peça era comprida, o bastante para cobrir metade de suas coxas. Ele gostava de usá-la justamente por causa do comprimento.
De repente, seus olhos tropeçaram em um objeto próximo ao travesseiro. Pelas características do acessório, Jimin concluiu que era uma faixa para cobrir os olhos. Devido a sua convivência com Taehyung, o menino soube que aquele tipo de faixa podia ser encontrado em lojas de caráter erótico.
Por um momento, Jimin pensou na possibilidade daquele acessório pertencer a Jungkook. Embora nunca tenha visto algo parecido nas coisas do namorado, o menino acreditava que a faixa tinha sido comprada por Jungkook para algum momento em específico.
Ao formular os momentos na sua cabeça que pudessem dar sentido à presença daquela faixa, Jimin sentiu-se estremecer por dentro. Ele não queria antecipar as coisas, mas os seus pensamentos não estavam ajudando-o.
O sentimento que prevaleceu em seu peito foi de apreensão, não por imaginar o que o acessório significava, e sim por se recordar de situações passadas que envolviam o mesmo objeto. Diante dessa sensação horrível, Jimin moveu-se para fora do lugar a passos acelerados, tentando ignorar o que seus olhos viram.
Ao deixar a cabine, ele olhou para o lugar em que Jungkook estava quando o deixou sozinho, mas não o encontrou lá. Seus olhos inspecionaram ao redor tentando localizá-lo e o enxergaram sentado na parte dianteira, devorando os petiscos.
Jimin caminhou até ele e antes que pudesse alcançá-lo, Jungkook olhou na sua direção, sorrindo ao vê-lo. O garoto retribuiu o sorriso meio engessado, esperando que Jungkook não notasse sua mudança de humor.
— Ela ficou ótima em você — o detetive comentou, apontando para a camisa que ele vestia. — Em breve ela será toda sua.
— Assim espero.
Jungkook não disse nada por um momento, ele continuou olhando para Jimin como se tivesse pescado algo. Em seguida, esticou a mão para o menino, que demorou três segundos para segurá-la, e o puxou gentilmente, fazendo-o sentar em sua perna direita.
— O que aconteceu, anjo? — perguntou.
— Nada. Por quê?
— Você saiu feliz e voltou triste. Não está gostando do passeio?
— Não é isso, eu estou amando... — Ele fez uma pausa, decidido a tirar suas dúvidas. — É que eu vi uma coisa na cama e fiquei me perguntando se era sua.
— Que coisa?
— Uma venda. — Jungkook não esboçou nenhuma reação que confirmasse a sua suposição. — Foi você quem trouxe?
— Não é minha. Talvez seja da Layla — deduziu. — Ela me disse que tinha deixado algumas coisas aqui e que eu não devia mexer.
— Faz sentido.
Com suas dúvidas esclarecidas, Jimin sentiu-se aliviado por dentro. Mas antes disso ele ficou brevemente constrangido por ter desconfiado que Jungkook teria trazido a faixa por conta própria para realizar uma possível surpresa.
Jimin não tinha nada contra o acessório em si, apenas ficou confuso por achar que Jungkook tinha preparado uma surpresa sem antes saber de suas vontades. Porém, o menino pensou, ele já devia saber que o detetive nunca agiria de tal forma.
— Você pensou que eu tinha trazido a faixa porque passaríamos o dia juntos e achou que em algum momento eu fosse usá-la em você? — Jungkook perguntou, assustando-o internamente por descrever seus pensamentos com precisão.
— Sim. — Jimin pensou que ele reagiria negativamente, mas a expressão dele não se alterou. — Você é diferente daqueles homens, mas eu ainda estou aprendendo a diferenciar isso. Por mais que eu te conheça como um livro aberto, existem sentimentos em mim que fazem eu agir por equívoco.
— Eu entendo você, meu bem. — Seus dedos deslizaram pela bochecha de Jimin, acariciando-a. — Nós já conversamos sobre os seus limites e eu volto a reforçar: não faça nada que você não queira só para me agradar. Por isso é importante que eu saiba se você está confortável ou não com a situação.
— Você é tão atencioso comigo. — Sua voz adquiriu uma entonação mais macia ao dizer aquilo. — Não quero estragar o nosso momento por causa dessa bobagem.
— Falar sobre você não é bobagem, anjo — respondeu.
— Prefiro falar sobre o quão lindo você está hoje. — ele brincou, tentando aliviar o clima que foi instalado, inclusive o seu nervosismo.
Jungkook foi pego desprevenido pelo súbito elogio, o que não significava que ele não tinha gostado. Na verdade, o detetive sabia que Jimin estava tentando fugir do assunto para não se sentir inquieto, portanto, só restava a ele respeitar a sua decisão.
— Eu acho que você está querendo alguma coisa de mim. — Jungkook topou entrar na brincadeira, fingindo estar pensativo. — Eu deveria ter medo da resposta?
Jimin riu.
— Não posso mais elogiar o meu namorado?
— Pode, mas com uma condição... — O menino ergueu um lado da sobrancelha em inquérito. — Me beije a cada elogio. É justo, não é?
— Você não muda mesmo, detetivezinho. — Sua voz foi reduzida para um murmúrio. — Eu posso te dar quantos beijos você quiser a qualquer hora. Essa é a vantagem de me namorar.
— Eu sou um cara de sorte.
— Abusado.
Jimin sonhava com o dia em que Jungkook ficaria corado pelas suas respostas, visto que o detetive reagia às suas provocações como se já esperasse por elas. Então, o garoto chegou à conclusão de que Jungkook, na verdade, era quem estava na posição de provocador e não de provocado.
E mesmo que estivesse na posição de provocado, Jungkook sempre conseguia reverter a situação a seu favor.
— Sabe o que eu queria agora? — Jimin perguntou de repente, ganhando os olhos do namorado. — Estar em Amsterdam com você.
— Eu sonho com essa viagem todos os dias.
— Quando vamos? — Os traços de seu rosto indicavam entusiasmo.
— A viagem está marcada para o próximo mês, meu bem. — Apesar de ser uma boa notícia, Jimin sentiu um pesar nas palavras dele. — Mas depende das circunstâncias.
— Você se refere aos atentados contra o FBI?
Jungkook suspirou.
— Sim, não sabemos com quem estamos lidando. — O desânimo tomou conta do rosto do garoto, fazendo-o olhar para baixo brevemente. — Mas, independente disso, nós vamos viajar juntos. Nada me impede de te levar pra passear de gôndola.
O brilho voltou ao rosto de Jimin de repente, arrancando um sorriso genuíno de seus lábios. Jungkook sorriu na mesma proporção, sabendo que, com sua resposta, conseguiu tirar a tristeza da expressão dele.
— Vamos parar de pensar negativo, anjo. — O detetive sugeriu, abraçando-o pela cintura. — Por que não aproveitamos o dia do nosso jeito?
— No que está pensando, gatinho?
Jungkook esfregou o queixo e fingiu estar pensativo. Enquanto isso, Jimin o encarava como se tentasse ler a sua mente. De repente, o detetive suspendeu o menino pelas pernas e o colocou em seus ombros, deixando-o surpreso com o seu súbito movimento.
— Jungkook, me larga! — ele gritou entre risos, à medida que era carregado para algum lugar. — Eu vou te bater!
Jungkook não lhe deu ouvidos, apenas continuou a caminhar, ouvindo-o resmungar entre uma risada e outra enquanto balançava os pés pelo ar. O detetive subiu para a cobertura com Jimin em seus ombros, como se o peso do corpo do menino não fosse nada demais.
Jimin gostava desses momentos bobos com Jungkook, porque ele conseguia extrair as melhores risadas do fundo de sua garganta sem fazer muito esforço. Eles se divertiam com brincadeiras, conversas, piadas e provocações e desfrutavam da companhia um do outro da melhor forma.
E, assim, as próximas horas se passaram.
Eles ficaram deitados por horas, conversando, se beijando, rindo e comendo. Jimin contou a ele sobre os seus planos para voltar a praticar dança; já Jungkook compartilhou com ele os lugares para onde gostaria de levá-lo quando viajassem para o Amsterdam.
Depois de ficarem deitados por um tempo, Jungkook recolheu a âncora do fundo do mar e acionou o motor da lancha, manobrando a embarcação pelas águas para que Jimin pudesse desfrutar um pouco mais da experiência. O garoto deitou em seu ombro diversas vezes para admirar o horizonte ao redor e sentir a brisa bater em seu rosto.
Jungkook o observou adormecer duas vezes, cedendo seu ombro para que ele pudesse cochilar tranquilamente, mas na maior parte do tempo eles estavam conversando sobre assuntos aleatórios. O detetive chegou a propor a Jimin que ele fosse dormir na cama de Layla, mas o menino recusou e optou por continuar em sua companhia.
O tempo correu assim como as marés; quando Jimin percebeu, o sol já estava indo embora. Eles voltaram para a garagem náutica depois de navegar por horas, dispostos a passarem os próximos minutos na cabine. Jungkook tomou um rápido banho e trocou de roupa enquanto Jimin ligava para Seokjin para informá-lo que iria passar a noite com Jungkook.
O homem não fez tantas perguntas, apenas lhe disse para tomar cuidado. Agora, Jimin estava sentado de pernas cruzadas na cama com um livro aberto nas mãos. Ele conseguia ver os feixes de luz da garagem através da abertura no teto, mas a claridade interna foi a que prevaleceu no ambiente.
O detetive saiu do banheiro usando outra roupa, seus cabelos estavam úmidos e de seu corpo emanava um forte cheiro de sabonete. Jimin levantou os olhos quando o avistou adentrar o cômodo e sorriu. Jungkook seguiu até a cama e se acomodou ao lado do namorado, envolvendo-o com o braço.
— Liguei para o meu pai — Jimin avisou. — Ele disse que está tudo bem e que eu devo tomar cuidado.
— Você disse a ele que não devia se preocupar porque tem um guarda-costa ao seu lado? — ele brincou.
Jimin riu.
— Ele sabe disso, seu bobo.
— Ainda bem que sim, não quero criar problema com o meu sogro.
— Sabe que eu adoro quando você o chama de sogro? — Jungkook levantou as sobrancelhas discretamente. — E pensar que antigamente você o tinha como inimigo declarado.
— As coisas mudaram entre eu e ele. Seu pai é um cara legal, mesmo sendo chato em alguns momentos.
— E o que você acha do filho dele? — De repente, os olhos de Jimin adquiriram um brilho sugestivo.
Jungkook lambeu os lábios diante da pergunta. Ele tinha captado as intenções de Jimin antes mesmo de encará-lo.
— O filho dele é o amor da minha vida — disse.
Jimin sentiu o coração bater mais depressa, como se uma corrente elétrica tivesse atravessado o órgão e acelerado os batimentos. Ele esperava ouvir todos os adjetivos do mundo, menos amor.
— E-Eu sou o amor da sua vida? — perguntou, como se não pudesse acreditar nos próprios ouvidos.
— Claro, meu bem — ele respondeu. — Você ficou surpreso por isso?
— Não. Quero dizer, sim. — Ele piscou um par de vezes. — Eu não esperava ouvir isso tão cedo. — Fez uma pausa antes de concluir. — Mas saiba que você também é o amor da minha vida.
Jungkook olhou para ele com tanto encanto que seus olhos brilhavam. Em resposta, o detetive inclinou-se contra ele e beijou seus lábios lentamente. O contato não durou mais que três segundos, pois Jungkook se afastou para dizer:
— Eu estou tão feliz por você ter me escolhido.
— Foi você quem me escolheu.
— Nós nos escolhemos — respondeu. — Eu não imaginei que minha vida mudaria desse jeito.
— Eu confesso que cheguei a acreditar que a nossa relação não duraria muito. Querendo ou não, você é um agente do FBI que está em contato com o perigo o tempo todo e eu sou apenas um estudante que gosta de dançar e desenhar. Somos diferentes e mesmo assim escolhemos um ao outro.
— Você tem razão. A vida de um agente não é normal como a de outras pessoas.
— Eu nunca namorei um cara como você, o que me causa medo às vezes, porque você é obrigado a se arriscar o tempo todo e eu tenho medo disso. Se dependesse de mim, você seria um agente covarde. Dizem por aí que os covardes vivem mais.
— Bravura, lembra? Está no lema do Departamento. — Jimin suspirou como se dissesse: "É... infelizmente eu lembro". — Mas eu concordo com você, às vezes, a covardia é necessária.
Parando para pensar na trajetória de Jungkook, Jimin chegou à conclusão de que ele nunca se tornaria um agente do FBI. Começando pelos treinamentos arriscados e operações em campo, podendo causar acidentes graves, ferimentos profundos ou até mesmo levar à morte.
Segundo que Jimin se sentia movido, na maior parte do tempo, pela emoção, o que lhe causaria problemas se viesse a se tornar um agente especial, pois não saberia investigar um caso sem demonstrar comoção. Diante disso, o menino concluiu que esse lugar nunca o pertenceria.
— O que achou do nosso passeio? — Jungkook perguntou de repente, lançando-o para fora de seu devaneio.
— Eu amei, gatinho, me diverti bastante. Acho que podemos repetir esse passeio mais vezes.
— Esse e muitos outros que você queira.
O menino deu a ele um sorriso ladino e cheio de novas intenções. Ele se sentia estranhamente feliz quando Jungkook o colocava como prioridade.
— Bem — disse o garoto, cruzando os dedos no colo. — Acho que podemos testar um esporte no qual você é muito bom...
Os olhos do detetive se encheram de fascínio depois de interpretar aquelas palavras. Os pensamentos de Jungkook foram confirmados quando o menino livrou-se do livro em suas mãos e inclinou-se para beijá-lo.
Os braços de Jungkook o puxaram lentamente, fazendo-o rolar para o seu colo. Jimin enroscou os dedos no cabelo dele, travando a respiração do detetive brevemente com o seu gesto. Ele sentiu as mãos de Jungkook deslizarem até o seu quadril sem pressa, como se quisesse explorar suas curvas.
Jimin penetrou a língua na boca do outro, sendo correspondido quase que instantaneamente. Num ritmo lento, eles pareciam querer contemplar cada etapa do beijo, sem intenção de parar ou de acelerar.
Era possível ouvir o barulho do mar e das gaivotas à distância, mas o que prevaleceu nos ouvidos de Jungkook foi o som melodioso dos beijos que eles estavam trocando. Jimin esperou ouvir um gemido dele no momento em que desceu os beijos para a sua garganta, mas a sua primeira tentativa falhou.
Ele deslizou os lábios para o pescoço de Jungkook, trilhou até o ouvido dele e mordeu o lóbulo com a pontinha dos dentes, finalmente arrancando um suspiro que se assemelhava a um leve gemido.
Jimin se afastou bem a tempo de vê-lo com os olhos fechados. O detetive abriu as pálpebras assim que percebeu a ausência do menino e expressou confusão diante de seu olhar observador.
— Por que paramos, meu bem? — perguntou gentilmente.
— Eu quero te mostrar uma coisa.
Ainda confuso, Jungkook concordou com a cabeça, sem entender a que coisa Jimin se referia. Ele continuou imóvel, vendo-o sair de seu colo e andar em direção à própria mochila. O menino se agachou para pegar algo dentro dela e retornou para a cama.
Mais de perto, Jungkook pôde ver um caderno de desenho e um lápis nas mãos do garoto. Jimin sentou-se próximo a Jungkook e apoiou o objeto no colo. No primeiro momento, o detetive pensou que ele queria lhe mostrar um desenho especial, mas as palavras que saíram da boca de Jimin lhe fizeram chegar a outra conclusão.
— Eu trouxe esse caderno porque quero te propor uma coisa. — explicou, sentindo as próprias bochechas esquentarem.
— Diga, anjo.
Jimin engoliu secamente. Ele havia tentado encontrar uma forma de pedir aquilo a Jungkook diversas vezes, mas sem parecer invasivo. Essa não foi uma ideia que surgiu de repente, na verdade ele já havia pensado nela desde o último encontro que tiveram.
— Eu quero te desenhar — Jimin revelou e pausou, tentando formular as palavras seguintes. — Mas... sem roupas.
Um momento de silêncio caiu sobre eles. Jimin escondeu a boca com a mão depois de ouvir as próprias palavras, esperando que Jungkook não as interpretasse mal. No entanto, o detetive sorriu para o seu pedido, o que serviu para acalmá-lo.
— Você preparou tudo isso só para me ver sem roupa? — perguntou Jungkook, para o terror da vergonha de Jimin.
— Bem, eu quero usar o útil e o agradável. Já que sei desenhar, então pensei: não custa nada fazer essa proposta a ele. — enquanto se explicava, o garoto recebia o olhar de Jungkook, mas não era só mais um olhar, era o olhar. — Tá bom, gatinho, eu confesso que não parei de pensar nisso desde o nosso último encontro. Pronto, falei.
Jungkook riu.
— Você deve estar me achando um idiota, né? — ele perguntou, sua voz saiu melancólica, mas sem intenção.
— Claro que não — respondeu. — Bem, eu só acho que não há necessidade de você me pedir algo que pode fazer com suas próprias mãos, meu bem.
— Está me pedindo para eu tirar a sua roupa?
— Não foi isso que você me pediu da última vez, anjo?
O menino ficou imerso naquela pergunta enquanto sua cabeça voltava em retrospectiva para o apartamento de Jungkook. Ele lapidou os momentos daquela noite em seus pensamentos e se recordou de cada palavra dita, cada toque sentido e cada beijo trocado.
— Err... Hoje eu quero que seja você — ele disse, desconcertado. — Prefiro te assistir.
Jungkook sequer pensou em insistir com aquela ideia, visto que o menino demonstrou traços de insegurança. O detetive sabia que eram situações parecidas, porém, diferentemente da outra vez, Jimin parecia estar mais nervoso que o normal.
— Tudo bem, príncipe, eu faço isso. — Os olhos do menino, antes inquietos, se encheram de expectativas. — Mas antes tenho que saber se está seguro com isso.
— Sim, estou. — Ele não hesitou. — Não tem problema nenhum, tem?
Jungkook sorriu e lhe deu um selinho.
— Claro que não.
Às vezes Jimin sentia-se um tolo por fazer perguntas que soavam simples ou, até mesmo, estúpidas para Jungkook; mas ele sabia que não tinha culpa de agir assim, de querer estar sempre precavido, de pensar demais no futuro e menos no presente.
Quando Jimin sentiu o corpo dele se afastar e caminhar em direção aos pés da cama, seus ombros ficaram tensos e seus dedos gelados. Jungkook conhecia o menino bem o suficiente para saber que ele estava naturalmente curioso para os seus próximos movimentos.
Sentindo um terrível dilema em seu interior, o menino pensou se continuava a olhar para ele sem medo de demonstrar que queria vê-lo sem roupa ou se mantinha a compostura e fingia estar pleno para não revelar os seus impulsos estranhos.
— Vamos recriar a cena do Titanic, é? — Jungkook perguntou, tentando mitigar a tensão que petrificava o corpo de Jimin. — Eu sou a Rose e você o Jack. Nada mal.
Finalmente Jimin riu. Ele poderia ter achado a situação mais engraçada se Jungkook não tivesse se livrado da blusa instantes depois, fazendo-o umedecer os lábios com a língua sem perceber. O detetive revelou os gominhos do abdômen sob a fraca luz da cabine o suficiente para que Jimin pudesse admirá-los pela segunda vez no dia.
Jungkook começou a desafivelar o cinto lentamente, jogando-o em um canto mais afastado assim que arrancou o acessório de vez. Os olhos do garoto ficaram fixos nos seus movimentos, sem intenção de desviá-los por um segundo. Ele estava consciente de que cada etapa era importante, embora já tenha visto o corpo de Jungkook inúmeras vezes.
No entanto, desta vez era diferente. Jungkook não estava tirando a roupa para entrar no mar ou no chuveiro, o propósito daquele momento era outro. Por mais que não seja Jimin a pessoa a ficar despida, ele sabia que estava dando um grande passo na relação, pois nunca imaginou que estaria diante de um homem nu novamente, inclusive a pedido seu.
Para muitos, significava uma bobagem, para ele significava um avanço. Jimin estava se dando uma oportunidade de olhar para as coisas e enxergar o lado positivo delas. Se ele ainda estivesse totalmente preso ao passado, o progresso do qual ele se orgulha não existiria.
Seu coração começou a acelerar no momento em que Jungkook deslizou a calça para os pés, ficando apenas de cueca. Como o ambiente estava razoavelmente escuro, as sombras da cabine misturadas ao brilho da lua permitiam que Jimin só enxergasse a parte do corpo de Jungkook que estava exposta à claridade.
O detetive olhou para Jimin calmamente, elevando os cantos dos lábios em um sorriso pequeno e rápido. Ele percebeu que o menino estava quieto demais, tão concentrado em seus movimentos a ponto de não conseguir piscar os olhos.
Jungkook pensou em remover a última peça que faltava, mas seus olhos quiseram prestar atenção nas expressões de Jimin antes de dar a ele o que tanto ansiava. O olhar do menino estava fixo no lobo tatuado em sua perna, parecendo encantado pelos traços do animal.
Quando Jimin viu a tatuagem pela primeira vez, sentiu-se intimidado pelo animal, mas, desta vez, ele desejou se aproximar para admirar a fera mais de perto. A sensação de olhar para o desenho era a mesma, mas o sentimento era outro, ainda mais por saber que, dessa vez, as orelhas do animal não ficariam escondidas na bainha da cueca, pois Jungkook a removeria em instantes.
Como esperado, o detetive começou a descer a cueca devagar, enquanto registrava as reações de Jimin conforme o fazia. O menino contemplou as entradas no quadril de Jungkook e as perceptíveis veias que marcavam a pele dele à medida que se revelavam.
Em instantes, o detetive deslizou a última peça que cobria seu corpo pelas pernas, ficando completamente desnudo. Jimin apreciou seu corpo por inteiro, dos pés à cabeça, da direita à esquerda, incrivelmente chocado com a beleza do corpo dele, e, principalmente, com o tamanho de seu membro.
Pela primeira vez, depois de muito tempo, ele não sentiu nojo ao se deparar com um pênis que não fosse o seu. Em outras circunstâncias, Jimin teria sentido, no mínimo, um embrulho no estômago, mas isso não ocorreu quando seus olhos caíram sobre o membro de Jungkook.
Em vez disso, ele sentiu desejo e fascínio.
Diferente dos outros caras, o corpo de Jungkook lhe transmitia paixão, desejo, gentileza e, principalmente, confiança. Jimin se sentia seguro em saber que o corpo despido na sua frente não representava uma ameaça, tampouco o desagradava.
Jungkook era diferente dos outros porque ele provou ser diferente dos demais. Ele não fingia ser o que não era só para conquistar o menino para os seus próprios interesses. Foi essa característica, inclusive, que encantou Jimin e o fez se apaixonar pelo detetive, o bastante a ponto de fazê-lo amar até mesmo o seu corpo nu nunca visto antes.
— Você... Você é tão lindo — disse o menino, ainda contemplando-o. — Eu te imaginei de diversas formas, mas nada do que pensei se aproxima do que estou vendo agora.
— Devo levar isso como um elogio? — Jungkook perguntou, entretendo-se.
Jimin sorriu.
— Sim, você deve — respondeu. — E-Eu estou impressionado e...
— E...
Jimin engoliu antes de continuar.
— E com vontade de tocar em você.
Jungkook ficou preso na sua confissão, mas não a interpretou mal, muito menos cogitou dispensá-la. Ele queria que Jimin agisse conforme as próprias vontades, mas se percebesse qualquer sinal de desconforto por parte do menino, não hesitaria em interrompê-lo.
— Eu posso? — Jimin reforçou o seu interesse.
— Pode, anjo.
Com as mãos suadas, Jimin tirou o caderno de seu colo e engatinhou em direção a ele, contendo seus olhos para que não deslizassem para baixo. Ele continuou a encarar Jungkook até alcançá-lo, sentando-se sobre os calcanhares para se apoiar.
O detetive acariciou seus cabelos gentilmente, vendo-o fechar os olhos por um breve momento. Quando a mão de Jungkook se afastou, devagar, Jimin abriu as pálpebras na mesma proporção, sentindo a própria respiração tropeçar ao sair de seus lábios.
As mãos do garoto correram, timidamente, para o peito de Jungkook, sentindo-o quente sob o seu toque, e em seguida deslizaram para o abdômen rígido, explorando os gominhos que ele tanto amava. Quando os dedos de Jimin caminharam em direção à virilha alheia, houve uma pausa, como se algo grande tivesse petrificado suas mãos.
Jungkook não soube dizer se o que o paralisou foi a relutância em lhe tocar ou o medo de não saber como o fazer. Diante desse pensamento, o detetive segurou as mãos dele com gentileza e as levou até os próprios lábios, distribuindo uma sequência de beijos lentos em cada uma só para tranquilizá-lo.
Um sorriso espontâneo elevou os cantos da boca de Jimin, minimamente; o suficiente para Jungkook perceber que seu gesto surtiu efeito. Então, ainda segurando nas mãos de Jimin, o detetive disse:
— Está tudo bem, meu príncipe, não tem que se sentir nervoso.
— Isso é uma novidade pra mim — ele pontuou.
— Para mim também.
Jimin ficou brevemente confuso com suas palavras.
— Você nunca fez isso antes? — perguntou.
— Não com você — Jungkook afirmou. — O que torna esse momento ainda mais especial.
Honestamente, Jimin pensava que quando aquele momento chegasse, seria apenas mais um na vida de Jungkook. Ele esperava ser o único a interpretar aquela ocasião como algo especial, mas, para a sua surpresa, o detetive também se sentia da mesma forma.
Embora Jungkook tenha mais experiências do que ele, a sensação de estar pisando em um território novo pertencia a ambos.
— Você disse que queria me conhecer por inteiro — Jungkook disse, trazendo-o de volta à realidade. — Eu estou disposto a te dar isso e a te mostrar como eu sou. Não sinto vergonha de você, meu bem, então não sinta vergonha em me tocar do seu jeitinho.
— Está me dando carta branca? — ele perguntou com um sorrisinho travesso.
— Você sempre teve carta branca, anjo. — Jimin ficou impressionado com a sua resposta. — Eu não quero dizer o que você tem que fazer, por isso, repito: você pode fazer o que quiser e como quiser.
As palavras de Jungkook deram a Jimin mais combustível e, sobretudo, confiança. Ele simplesmente pulou nos braços do detetive e o beijou. Não foi um beijo feroz, e sim cheio de vontade. O menino escorregou as mãos até as nádegas dele, apertando-as suavemente.
Na última vez em que fez isso, Jungkook estava de calça, o que dificultou as chances de Jimin de sentir a pele dele por completo. Agora, no entanto, seu namorado estava pelado e a sensação de apertar a sua bunda desprovida de roupa era triplamente melhor.
Enquanto beijava-o, Jimin arrastava as mãos para o quadril de Jungkook, podendo sentir a espessura de seus músculos levemente endurecidos. Quando seus dedos tocaram, sutilmente, o pênis dele, Jungkook arfou durante o beijo, fazendo o garoto perceber que o contato, por menor que tenha sido, foi prazeroso.
Então Jimin não perdeu tempo e deixou que sua mão, antes trêmula, envolvesse o pau dele lentamente. Após o seu movimento, o garoto não soube dizer se o som que ele ouviu sair da garganta de Jungkook foi um gemido ou um xingamento. De qualquer forma, isso o motivou a querer mais.
Na tentativa de conhecê-lo mais intimamente, Jimin começou a movimentar a mão de forma leve, quase tímida, procurando decifrar os pontos sensíveis de Jungkook quando colocados em contato com os seus dedos. Ele sentiu a textura de uma fina camada de pelos, quase imperceptíveis, e acabou se arrepiando involuntariamente.
O menino queria descobrir se ele gostava de movimentos rápidos ou lentos, agressivos ou suaves, progressivos ou intensos. E, naquele momento, quando Jungkook gemeu contra a sua boca, Jimin teve a sua resposta: ele gostava de movimentos lentos, porém agressivos.
Uma sensação estranha e boa preencheu o peito do menino. Ele estava tão nervoso no começo que chegou a acreditar que não reagiria, no entanto, suas ações provaram o contrário. Naquele momento, um filme se passou na sua cabeça e ele voltou em retrospectiva, lembrando-se de situações desagradáveis pelas quais passou.
Em outras circunstâncias, Jimin teria cogitado parar, no entanto, sabendo que ele é quem estava no controle, seus impulsos o fizeram continuar. Ele escolheu fazer aquilo, o que era bem diferente de ser forçado.
Decidido a conhecer mais o corpo do namorado, Jimin deslizou as mãos para as coxas dele, dedilhando os traços da tatuagem com cuidado; em seguida, caminhou para a região posterior, desfrutando-o, estudando-o, admirando-o, como se quisesse gravar cada pedacinho.
Ele voltou a tocar no pau de Jungkook, sentindo-o mais rígido do que antes, então sua cabeça recuou um pouquinho para encará-lo.
— Você tá muito excitado — Jimin pontuou, mordendo a pontinha do lábio inferior.
— Foram as suas mãos, meu bem.
Jimin não soube dizer se aquela resposta o deixou envergonhado ou orgulhoso.
— Talvez eu tenha que parar... — O menino sugeriu, deixando a frase morrer.
— Então eu vou ter que dar um pulinho no banheiro para resolver esse problema.
Jimin gargalhou.
— Você não precisa fazer isso no banheiro — ele respondeu e tudo caiu em um completo silêncio. — E nem sozinho.
Inconscientemente, Jungkook umedeceu os lábios para esconder o sorriso.
— Eu posso te ajudar com isso. — O menino se ofereceu quando não o ouviu dizer nada. — Minhas mãos são pequenas, mas algo me diz que você gostou delas.
O sorriso no rosto do detetive se ampliou.
— E o desenho?
— Você está mesmo preocupado com o desenho agora, gatinho? — Jungkook mordeu o lábio inferior rapidamente e Jimin se conteve para não o beijar. — Eu tenho a noite toda pra te desenhar, já o seu problema com...
Jungkook calou a boca dele com um súbito beijo, fazendo as palavras de Jimin se dissolverem na garganta. Por mais que tenha sido pego desprevenido, o garoto se agradou com a atitude do namorado e retribuiu o beijo com a mesma intensidade. Jungkook não precisou dizer nada para Jimin saber qual era a sua resposta.
Há muito tempo, Jimin demonstrava querer proporcionar a Jungkook uma satisfação a mais, apesar do detetive afirmar constantemente que ele não estava em busca de satisfações sexuais para com Jimin. No entanto, o garoto não desejava fazer aquilo apenas por Jungkook.
Na verdade, o menino estava buscando sinais de seu progresso e viu na ocasião uma oportunidade para se autodesafiar. Ele sabia que estava correndo risco ao ouvir as suas vontades mais intrínsecas e ao testar os seus limites. Jimin tinha consciência de que, antes mesmo de tentar, ele podia sofrer um gatilho e entrar em crise, mas o resultado o surpreendeu positivamente.
Pela primeira vez, depois de muito tempo, Jimin não sentiu medo de estar na presença de um homem nu, não se culpou por tocá-lo, não sentiu vergonha de olhá-lo, de admirá-lo e de ouvi-lo gemer por sua causa.
Pela primeira vez depois de muito tempo, ele passou a amar o corpo nu de outro homem da mesma forma que esperava se amar um dia.
Esse homem se chamava Jeon Jungkook.
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Olá meus amores, tudo bem? Demorei muito pra postar essa atualização, mas espero que tenham gostado.
Como podem ver na primeira cena, taehyung demonstra estar confuso sobre a relação dele com o yoongi. Cada personagem esconde um conflito, portanto vocês ainda vão saber o que se passa por trás da história deles e o que motiva taehyung a estar em dúvida.
Agora sobre a cena dos jikook... finalmente, o nosso detetive ficou pelado, hein? haha eu quis transmitir algo mais sentimental do que carnal. Como podem ver, a relação dos dois está progredindo e a tendência é que a cada capítulo eu mostre isso.
É isso, espero que tenham curtido e não esqueçam de beber água e dormir bem. Beijinhos! <3
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