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— Fotografados!? — Taehyung perguntou um pouco mais alto do que gostaria.

— Shhh! Fala baixo! — Jimin sibilou em resposta, olhando ao seu redor.

Eles estavam na biblioteca da escola, sentados em uma mesa que ficava distante da recepção onde a bibliotecária roía as unhas em completo tédio. Após confirmar que ninguém havia prestado atenção na pergunta espantosa de seu amigo, Jimin voltou-se para ele e debruçou sobre a mesa.

— Eu não ouvi nada, mas o Jungkook jura que escutou alguém tirando fotos. — Jimin explicou pela segunda vez, sentindo seu estômago azedar após a lembrança da noite passada. — Ele pode ter ficado confuso com algumas coisas e pensou que tinha ouvido alguém tirando fotos.

— Que coisas?

Jimin ficou em silêncio por um momento, não sabendo como contar ao seu amigo que o acontecimento da noite passada esteve em sua cabeça a noite toda, afastando o seu sono para longe. Ele ainda pensava em suas mãos fazendo o caminho até a bunda de Jungkook e na reação dele diante de seu inesperado toque.

Milhares de pensamentos se passaram em sua cabeça, alguns diziam que Jungkook parecia desinteressado, outros deram destaque ao fato de ele não ter recuado. Jimin não soube o que pensar depois, não conseguia sequer lembrar o que disse a ele quando retornaram ao parque de diversões.

Os detalhes começaram a se desfazer na sua cabeça e tudo o que ele lembrou foi da expressão calculista no rosto de Jungkook minutos depois de supostamente terem sido fotografados. Jimin não esperou que Jungkook fosse agir normalmente após o ocorrido, mas também não imaginou que ele ficaria inexpressivo boa parte do tempo.

— Hello... Terra chamando Park Jimin! — Taehyung balançou a mão na frente do rosto dele para chamar a sua atenção. — De que coisas você está falando, criatura? Não me deixa curioso.

— Não é nada demais. — ele deu de ombros, mas seu gesto não convenceu Taehyung. — Nós estávamos nos beijando e de repente ele parou.

— Jimin...

— Ok, ok! Eu peguei na bunda dele. — sua confissão escorregou para fora, fazendo Taehyung arregalar os olhos, não de surpresa, mas felicidade. — Talvez ele não tenha gostado, sei lá.

— Me poupe. É óbvio que ele gostou. — Taehyung disse, bufando. — Quem não gostaria de receber uma pegada na bunda? Se ele cortou o beijo foi porque percebeu que tinha alguém escondido e não porque você agarrou a bunda dele.

— Você acha que pode ter sido o Josh?

Taehyung não escondeu a surpresa pela pergunta. Ele ficou confuso sobre o porquê de Jimin estar mencionando o amigo de Vernon naquela conversa, mas não desconsiderou totalmente a hipótese.

— Por que você suspeita do Josh? — ele perguntou a Jimin, que desviou o olhar para longe instantaneamente.

— Digamos que eu não fui tão bem recebido por ele. — Taehyung continuou com as sobrancelhas franzidas em confusão. — O Josh está pegando no meu pé desde o primeiro dia de aula, então não descarto a possibilidade de ele ter me seguido também.

— Suponhamos que seja o Josh, o que ele faria com essas fotos? Espalharia pelo colégio? E daí? Você estava beijando seu namorado, não a bunda de um cavalo. — Jimin olhou para ele com uma ligeira surpresa. — Além do mais, todos sabem que você está namorando o Jungkook, menos o Vernon, mas isso não vem ao caso.

Jimin não gostou nada de vê-lo entrar naquele tópico, tanto que ele acabou comendo as próprias palavras por um momento. Após ignorar a menção do nome de seu ex, ele disse:

— Eu não sei do que ele é capaz de fazer, por isso não coloco minha mão no fogo. O Josh já provou que não tem caráter, se ele quiser me prejudicar algum dia com certeza não será por coisas bobas.

— O que o Jungkook acha disso?

— Ele não tocou no assunto depois que saímos do parque, mas algo me diz que ele deve estar até agora tentando entender o que aconteceu.

Taehyung suspirou, como se eles estivessem blefando. Ele olhou para a bibliotecária ainda em sua posição de enfado e agradeceu aos céus por ela não ter percebido que ele estava usando o seu horário de trabalho para conversar sobre a noite no parque.

Em outras circunstâncias, a garota teria olhado para Taehyung com uma cara azeda, colocado as mãos na cintura enquanto batia o pé no chão e o xingado por deixá-la cuidar das coisas sozinha. A parte boa em trabalhar com Carly era porque ela ficava entediada muito facilmente, então Taehyung costumava distraí-la com doces para escapar do compromisso.

Naquele momento, no entanto, Carly não estava comendo nenhum doce, então Taehyung já estava consciente de que muito em breve ele ouviria os seus gritos para que fosse arrumar as estantes.

— Eu acho que vocês deveriam esquecer isso. — Taehyung disse momentos depois. — Com certeza deve ter sido um idiota que nunca viu dois caras se pegando.

Jimin estava certo de que não era só aquilo, mas não quis argumentar. Ele estava determinado a encerrar o assunto porque a ideia de uma possível ameaça não o confortava em nada. E, também, não parecia adequado acusar um e outro pelo ocorrido no parque.

Suficientemente conformado, Jimin não disse nada em acréscimo, somente balançou a cabeça em concordância, embora seus pensamentos não concordassem.

— Você e o Yoongi se acertaram? — ele perguntou para Taehyung, disposto a mudar o conteúdo da conversa.

Seu amigo pareceu surpreso pela pergunta, mas tentou disfarçar a reação com uma expressão apática. No entanto, antes dessa mudança, Jimin enxergou um sentimento de angústia por trás de seus olhos.

— Ele não me ligou ainda. — Taehyung disse, ventilando as lembranças para longe e ajeitando o seu boné na cabeça na tentativa de parecer inabalável enquanto falava. — E, bem, eu não vou correr atrás.

Jimin suspirou.

— Taehyung, você agiu de forma errada com ele e sabe disso. — ele foi sincero, mas seu amigo ainda insistia em não olhá-lo nos olhos. — Não foi legal ignorar o medo que ele tem por altura. Você deveria ter conversado antes de tomar aquela decisão.

— Vai ficar do lado dele agora? — ele finalmente o encarou e segurou o seu olhar por um longo tempo antes de prosseguir: — Tudo bem, eu confesso que peguei pesado, mas o Yoongi não colabora em nada. Ele tem ciúmes de mim, quer me forçar a dizer que estamos em um relacionamento sério... Eu não quero ser controlado dessa forma.

— Taehyung... — Jimin murmurou. — Ele gosta muito de você e por isso quer ter um relacionamento sério. Isso não é controle, é paixão.

— Eu não estou acostumado a viver dessa forma. Não gosto de compromissos sérios. — ele arrancou o boné da cabeça com força, realmente parecendo irritado. — Quando eu comecei a me envolver com ele, as decisões foram claras: nada de compromisso sério. E agora sou tratado como a propriedade dele.

— Não diga essas coisas. — Jimin falou sério. — Olha, eu não sei sobre o acordo de vocês, mas eu sei que as coisas podem mudar. O Yoongi não esperava se apegar a você ao ponto de querer ter um relacionamento sério. Isso não é um bicho de sete cabeças como você pensa, Tae, as pessoas podem se apaixonar mesmo depois de selar uma promessa.

— Eu sinto que estou perdendo minha liberdade...

Jimin balançou a cabeça para os lados e disse:

— Namorar alguém não significa que você está perdendo a sua liberdade. Não é difícil ter as duas coisas, até porque elas não estão tão separadas assim. Você pode namorar o Yoongi e ao mesmo tempo ser quem você é e fazer aquilo que gosta. — Jimin pausou apenas para observar a reação dele. — A não ser que esteja indeciso sobre quem você gosta de verdade.

— O quê!? — uma expressão surpresa o golpeou. — Não estou usando o Yoongi, muito menos indeciso sobre quem eu gosto. O grande problema está em mim, pois eu não consigo me envolver de forma séria com ninguém.

— Então temos um problema. — Jimin falou como se fosse óbvio demais. — Você não quer um relacionamento sério, mas o Yoongi sim. Vocês concordaram com isso sabendo que um dos dois poderia se apaixonar, neste caso o Yoongi, então está na hora de assumir a responsabilidade.

Jimin se surpreendeu consigo mesmo por dizer aquelas palavras, ainda mais sabendo que na prática ele também tinha dificuldade de cumprir com as suas responsabilidades. E é justamente por isso que ele estava dando aqueles conselhos para Taehyung, pois não queria vê-lo na mesma situação que a sua.

Fazia tempo que Taehyung não namorava sério, na verdade Jimin não tinha lembranças de um dia ele ter namorado alguém. Seu amigo tinha uma preferência peculiar por se envolver com caras desprendidos de compromisso, assim não corria o risco de ter a sua liberdade ameaçada.

Diante dessa percepção, Jimin perguntou:

— Taehyung, por que você tem tanto medo de entrar em um relacionamento sério?

Espantado pela pergunta de seu amigo, Taehyung engoliu as próprias palavras e nem sequer fez menção de respondê-lo. Pensou em dizer a Jimin que aquela pergunta era um blefe, mas a sensação de gelo seco em sua pele o fez falhar nessa tentativa.

Antes que tivesse a chance de formular uma resposta, o sino tocou nos alto falantes. Taehyung colocou o boné de volta na cabeça e deu a Jimin um vestígio de seu sorriso desconcertado. O menino, no entanto, recolheu a sua mochila do assento ao lado e se levantou.

Taehyung abriu a boca para dizer algo, também se levantando, mas desistiu no último minuto. Jimin esperou a biblioteca esvaziar para falar:

— Depois terminamos essa conversa, tá bom? — ele tinha um sorriso gentil nos lábios, tão gentil que Taehyung se sentiu obrigado a concordar com um breve aceno.

Após colocar a mochila nos ombros, Jimin se despediu com um pequeno adeus e deslizou para fora da biblioteca. Enquanto isso, Taehyung correu para trás do balcão e sentou-se ao lado de Carly, que o fuzilou com um olhar carrancudo.

Fora da biblioteca, Jimin seguiu até o painel com a tabela de horários e verificou qual era a primeira aula do dia. Ele resmungou mentalmente quando leu as palavras educação física, consciente de que deveria marchar para o ginásio. Antigamente ele amava a disciplina, hoje em dia a detestava.

Minutos depois ele já se encontrava no pátio principal, onde observou um aglomerado de estudantes se movendo em direções opostas, parecendo um bando de formigas. Jimin espremeu a mochila no ombro depois de ver tantas pessoas juntas e acelerou os passos em direção ao ginásio.

Após passar pela porta de metal, Jimin espreitou o ambiente ao seu redor, reconhecendo os rostos que pertenciam à sua turma. O treinador Alex estava no meio da quadra passando todas as instruções para o círculo de pessoas em torno dele. Com isso, Jimin colocou a mochila em um dos assentos da arquibancada e ligeiramente se juntou aos demais.

— O esporte de hoje é o vôlei. — informou o treinador. — Eu poderia dividir os times por gênero devido ao que nós chamamos de hormônios, mas vou permitir que vocês joguem em conjunto. Nada de meninos versus meninas, quero times misturados. Aquele que tentar trapacear vai perder um ponto na minha disciplina. Alguma dúvida? — silêncio. — Ok, formem os times!

Em segundos, todo mundo começou a selecionar os membros de cada time. Jimin continuou imóvel enquanto olhava para cada um no círculo de conversa, tentando encontrar os opacos e inacessíveis olhos de Josh. Para o seu alívio, ele não estava presente naquela aula.

Depois de perceber a sua ausência, Jimin soltou uma respiração de alívio e disse a si mesmo que poderia lidar com uma curta partida de vôlei. Sem Josh por perto ele não tinha o que temer, embora continuasse desconfortável naquele ambiente.

— Jimin? — Eve, sua colega de classe, o chamou, tocando seu braço sutilmente. O menino pestanejou, voltando à realidade após sentir o toque dela. — Você quer fazer parte do meu time?

Um momento de silêncio caiu sobre eles até Jimin finalmente abrir um sorriso desconcertante. Não podia negar que ficou surpreso por Eve o ter chamado, mas contente por ela não ter ignorado sua presença.

— Quero, sim. — ele respondeu, fazendo-a sorrir amplamente.

Eve deu um tapinha em seu ombro e então seguiu até o treinador, dando a ele o nome dos integrantes de sua equipe. O homem estava anotando tudo em uma prancheta enquanto ela falava. O treinador Alex tinha um cavanhaque esquisito, um par de braços musculosos, e sempre andava com um apito pendurado no pescoço.

Ele seria legal se não andasse com uma carranca na cara o tempo todo, pensou Jimin, apesar de saber que essa era a sua armadura para amedrontar os alunos que tentassem blefar a sua disciplina.

— Muito bem, pessoal, escolham entre vermelho e amarelo e peguem as camisas que estão naquela bolsa. Vamos dividir os times por cores. — o treinador informou após as divisões serem feitas, apontando para uma bolsa grande no canto da quadra.

Os líderes de cada equipe foram os responsáveis por eleger a cor de seu time. Jimin engoliu uma densa camada de saliva quando percebeu que as camisas não tinham mangas. Ele lembrou-se de seus cortes nos braços e ficou apavorado. A ideia de mostrar os seus machucados para todo mundo não o confortou em nada.

Quando Eve seguiu até ele com uma camisa em mãos, Jimin fitou a peça com uma sensação amarga no estômago. O menino sentiu-se travar momentaneamente enquanto ainda pensava se deveria pegar a veste. Ele considerou mentir sobre estar doente para não ter que passar pela situação que viria a seguir, mas não teve coragem.

Depois de tanto relutar, finalmente Jimin pegou a camisa das mãos dela. Eve prosseguiu distribuindo os uniformes para o seu time enquanto Jimin continuava olhando para a camisa que lhe fora dada. Ele tinha certeza de que não conseguiria colocá-la em seu corpo.

Jimin foi despertado quando o treinador Alex soprou o apito, fazendo todos formarem uma fila. Em seguida, decretou:

— Quero todos no vestiário trocando de roupa. Não se atrasem mais do que três minutos. Andem!

Em instantes o grupo de alunos deslocou-se para o vestiário, conversando e rindo entre si, menos Jimin, que continuou parado no mesmo lugar sem coragem de mover os próprios pés. O treinador Alex olhou para o menino com uma sobrancelha erguida em inquérito e então aproximou-se, parando de frente para ele.

— O que está fazendo, Park? — perguntou firmemente. — Por que não foi com os outros até o vestiário para se trocar?

Os ombros do menino ficaram encolhidos depois de ouvir a pergunta, pois ele sabia que não conseguiria plantar uma resposta convincente na cabeça do treinador. Depois de tanto pensar em uma justificativa cabível, Jimin decidiu usar a mais óbvia.

— Não estou me sentindo muito bem. — ele mentiu. — Hoje eu acordei um pouco tonto, sentindo fortes náuseas e uma dor insuportável no abdômen. Não quis perder a aula, por isso estou aqui.

— Você está se alimentando direito? — o menino fez que sim, apesar de não ter parado para pensar na resposta. — Tem feito exercícios diários e dormido bem?

— Sim, senhor. — outra mentira.

— Tem certeza de que não consegue participar de pelo menos uma partida? — Jimin balançou a cabeça para os lados, fazendo a sua melhor encenação. Alex suspirou em seguida. — Tudo bem, vou te liberar desta aula porque é o nosso primeiro encontro, mas na próxima você terá de participar.

— Obrigado, treinador.

— Vá para a enfermaria e pegue um atestado para que eu justifique a sua ausência no jogo. — Alex o orientou depois de recolher a camisa das mãos dele.

O menino ficou preocupado debatendo se a sua mentira realmente daria certo. Ele teria de tomar os remédios necessários para a melhora de seus falsos sintomas, mas esse não era o verdadeiro problema. Na próxima aula Jimin teria de usar a camisa do time e não poderia simular um novo mal-estar, pois o treinador começaria a desconfiar.

No entanto, ele decidiu aproveitar a carta branca do professor para ter tempo de pensar nas futuras soluções. Depois de um momento de análise, Jimin concordou com um aceno de cabeça e reforçou mais uma vez:

— Obrigado, treinador.

Sem desejo algum de ficar por medo de vê-lo mudar de ideia, Jimin pegou a sua mochila na arquibancada e deslocou-se para fora do ginásio, triste consigo mesmo por perder outra aula por implicância de seus medos.

Em vez de ir para a enfermaria, Jimin dobrou à direita e se dirigiu para o banheiro masculino, sentindo-se aliviado por encontrá-lo vazio. Ele jogou a mochila sobre a pia e se olhou no espelho. A sua aparência não estava desgastada como nos últimos dias, mas a sua expressão parecia deprimida.

Ele agradeceu aos céus por não ter se esbarrado com ninguém no corredor, pois sabia que seria questionado sobre o seu estado emocional. E por mencionar este tópico, outro fato que o estava incomodando era a sessão terapêutica que tinha sido marcada para mais tarde.

Jimin vinha apresentando um grau de dificuldade enorme em se abrir com o profissional justamente por não saber o que dizer. Ao mesmo tempo que parecia guardar um milhão de segredos, também não sabia como contá-los em voz alta. Obviamente, as consequências disso não estavam sendo boas.

Diante desse pensamento, o menino ergueu as mangas de seu casaco e encarou as faixas vermelhas que riscavam sua pele. Elas estavam com um aspecto mais cicatrizado, porém não deixavam de evidenciar a violência que as provocou.

— Jimin? — a voz de Vernon veio às suas costas.

O menino suspendeu a cabeça rapidamente, e, através do reflexo, pôde vê-lo parado na frente de uma cabine aberta, o que sugeria que ele já estava dentro antes mesmo de Jimin chegar. Percebendo para onde Vernon estava olhando, Jimin abaixou as mangas de seu casaco às pressas.

— O que é isso nos seus braços? — Vernon perguntou quando Jimin nem sequer o cumprimentou. — Você está se cortando?

— Não.

— Então o que é isso? — ele voltou a perguntar, embora parecesse saber a resposta, mas Jimin permaneceu em silêncio. — Por que você está se cortando? O que aconteceu?

— Não aconteceu nada. Esqueça o que você viu.

Ele ameaçou abrir a porta do banheiro para sair, mas Vernon bloqueou a sua passagem. Jimin se sentiu um monstro por saber que o estava deixando preocupado, mas não podia fazer nada além de mentir sobre esta parte.

— É por isso que você está usando blusas compridas o tempo todo? — Jimin desviou o olhar após a sua dúvida. — Você nunca gostou de usar roupas de frio no verão. O que está acontecendo, Jimin?

— Não seja tão invasivo. — sua voz soou tão dura que até ele mesmo se surpreendeu. — O que você acabou de ver não é nada.

— Eu sei quando você mente. — Jimin se calou após aquela acusação. — Sei que está mentindo agora mesmo. Por que está mentindo para mim? Por que está tão na defensiva? O que eu te fiz, Jimin?

O menino manteve a expressão dura, esperando parecer inabalável diante das perguntas dele, mas na verdade o seu coração sofreu uma forte pontada, como se alguém tivesse enfiado uma flecha no seu peito. Jimin não queria parecer arrogante depois de tudo o que viveu com Vernon, mas não podia simplesmente fingir que estava tudo bem.

— Me desculpe. — de repente Jimin lamentou-se. — Eu não queria ter te tratado dessa forma.

Ele tinha quase certeza de que Vernon estava com a testa franzida em preocupação, mas não quis levantar os olhos para confirmar esse pensamento. Quando ele não disse nada, Jimin sentiu um aperto de pânico no peito. Ao invés de usar as palavras, Vernon se atreveu a tocá-lo no rosto em um gesto sutil e educado.

— Você ainda sente raiva de mim por eu ter ido embora para Detroit, não é? — o menino sentiu-se endurecer após a sua pergunta. — Me dê uma chance para eu te provar que ainda te amo. Por favor.

— Não. — ele conseguiu dizer sem oscilar a voz. — Não posso te dar uma segunda chance porque eu já estou com outra pessoa.

Vernon deu um passo para trás em completo choque. Jimin conseguiu ver uma mistura de dor e confusão por trás de seus olhos, como se ele estivesse incerto sobre o que ouviu. A mão que antes estava na bochecha de Jimin começou a recuar lentamente.

— Está me dizendo que enquanto eu pensava em nós dois, você estava com outro? — não havia insinuações por trás de sua fala, mas Jimin não gostou nem um pouco de como ele soou ao lhe dirigir a pergunta.

— Nós brigamos antes de você viajar, então eu tomei a decisão de nunca mais olhar na sua cara. — Jimin explicou, evitando ao máximo deixar os detalhes sobre o que ele passou escapar. — Para mim, não tínhamos mais nada.

— Por que você não me contou? Por que deixou que eu corresse atrás de você nesses últimos meses? Por que não veio até a mim dizer que não me queria mais?

Jimin engoliu duramente, sentindo uma intensa vontade de chutar a sua própria cara por não saber como driblá-lo sem parecer que o tinha traído. O seu silêncio não foi intencional, ele esteve em cativeiro durante um ano sem autorização para nada, mas Vernon não tinha conhecimento disso.

— Eu não podia te contar. — Jimin falou um pouco baixo, deixando-o indignado. — Mesmo que eu quisesse te contar, não podia. Me perdoa.

— Como assim você não podia!? Era só ter me ligado e dito: "Ei, palhaço, esqueça tudo o que tivemos, eu estou em outra".

Com lágrimas nos olhos, Jimin explodiu:

— Você não sabe, mas eu fui vítima de tráfico humano! — Vernon ficou horrivelmente pálido e sem palavras. — O cara que eu amo hoje foi a pessoa que me tirou disso.

— O quê?

— É isso mesmo que você ouviu. — ele limpou furiosamente a primeira gota de lágrima que deslizou por sua bochecha. — O Josh não te contou? Ele anda pelos corredores fazendo piadinha sobre isso como se fosse um show de stand-up. A porcaria do meu sofrimento se tornou uma piada para o seu melhor amigo.

— Jimin, eu não sabia...

— Agora você sabe. — ele reforçou. — Eu fiquei mais de um ano sem ter contato com o mundo aqui fora e raramente vi o sol nascer. Eles não me permitiam usar o celular, nem nada que pudesse facilitar a minha comunicação com outras pessoas. Você entende agora o porquê de eu não ter terminado o nosso namoro antes?

Vernon se manteve calado enquanto assimilava a confissão de Jimin. Para ele estava sendo duro saber que o seu ex namorado foi vítima de tráfico humano e ele nem sequer ficou sabendo. E para piorar, aquele que se dizia o seu melhor amigo tinha escondido essa informação dele.

— Eu estou me sentindo péssimo agora. — Vernon disse com uma expressão melancólica, realmente triste e chocado pelo que ouviu. — Sinto muito por tudo o que você passou.

— Esqueça tudo, Vernon. Não estou te pedindo isso apenas para encerrar o assunto, quero que você apague essa conversa de sua cabeça. — o rapaz continuou imóvel, sem dizer e nem gesticular nada. — Não quero que você olhe para mim da forma que está me olhando agora. Eu estou exausto de tanto ouvir comentários piedosos como se a minha vida se resumisse a esse fato.

— Jimin...

— E que fique claro de uma vez por todas que eu não te odeio. — ele o interrompeu, permitindo que mais lágrimas escorressem pela lateral de seu nariz. — Muita coisa aconteceu para que eu começasse a amar outra pessoa, e eu não pretendo romper com ela.

Vernon não parecia confortável com o rumo daquela conversa, mas, para a surpresa de Jimin, ele perguntou algo completamente diferente do que o menino havia imaginado.

— Ele está cuidando bem de você?

Com a garganta apertada e seca, Jimin não conseguiu verbalizar nada, mas sua cabeça fez que sim. Ao ver o rosto de Jungkook em sua mente, o menino cedeu à chegada de mais lágrimas. Ele se sentiu um estúpido por estar chorando, mas não podia fingir que a memória de Jungkook não o afetava positivamente.

Houve um instante de confusão por parte de Vernon, que tentou processar o que estava vendo. Após entender a razão por trás de seu choro, Vernon se inclinou contra ele e o abraçou. Seu gesto foi tão inesperado que a princípio Jimin hesitou, mas logo seu corpo suavizou.

O menino deixou a cabeça cair sobre o ombro dele sem perceber, sucumbindo em seus braços. Vernon não pareceu se incomodar com seu gesto, muito pelo contrário, ele o segurou mais firmemente. Jimin foi o primeiro a se afastar, secando as lágrimas com as costas da mão.

— Você está bravo comigo? — Jimin perguntou depois de um minuto de silêncio.

— Não. — ele sorriu, mas não havia felicidade em seu gesto. — Está tudo bem.

Suas palavras soaram sinceras, observou Jimin, mas o brilho dos seus olhos estava morto. O menino conhecia Vernon o bastante para saber que ele estava se esforçando ao máximo para parecer bem à sua vista.

— Espere um pouco, tenho algo para você. — Vernon disse como se uma memória tivesse surgido em sua cabeça de repente.

Jimin ficou parado no mesmo lugar enquanto o observava andar em direção a uma mochila pendurada no gancho de metal. Ele aproveitou aquele momento para secar o rosto e se recompor. Quando o viu pegar algo dentro da bolsa, seu sangue parou de fluir repentinamente.

Ele não conseguiu discernir o que estava nas mãos de Vernon, mas o objeto tinha um aspecto cilíndrico e estranho. Após um momento de silêncio, o rapaz o alcançou, fazendo-o empurrar as dúvidas para o fundo de sua mente.

— Toma. Pegue para você. — ele esticou o objeto em sua direção, deixando-o que absorvesse a sua oferta. — É um spray que eu costumo usar quando estou com algumas lesões. Ele disfarça as manchas e esconde os ferimentos. Use-o nos seus cortes, assim não vai precisar vestir esses moletons que você tanto odeia.

— Vernon...

— Não me agradeça. — ele deu a Jimin um leve sorriso, em seguida colocou o frasco na mão dele. — Eu usei bastante em Detroit, talvez esteja abaixo da metade agora, mas acredito que ainda sirva.

— Obrigado de verdade.

— Eu te amo muito, Jimin, então cuidar de você é o mínimo que posso fazer. — ele falou com uma expressão de pura gratidão. — Está doendo muito saber que eu te perdi, mas estaria doendo mais se você não estivesse feliz com esse cara.

— Obrigado por me entender — ele agradeceu novamente e acenou para o spray nas suas mãos. — E por isto aqui também.

— Ele é seu agora. — o sorriso de Vernon aumentou, mas a tristeza continuava presente. — Bom, eu tenho de ir. Acho que não há mais nada a ser esclarecido entre nós, não é? Espero que você seja feliz com seu atual namorado e que esteja se recuperando do que passou. — ele desembolsou um pequeno papel e entregou a Jimin. — Esse é o meu novo endereço caso queira conversar ou sair. Não estou morando mais com os meus pais.

Foi difícil para Jimin esconder o interesse por aquela informação. Ele tinha quase certeza de que não necessitaria do endereço de Vernon algum dia, mas não quis recusar para não parecer mal-educado. Para ser honesto, o menino se mostrou brevemente curioso para conhecer a sua casa.

— Podemos assistir a um filme ou jogar videogame. O que acha? — Vernon propôs a Jimin, que tentou pensar em algo muito rápido.

— É uma boa ideia! Podemos combinar depois.

Uma parte de seu cérebro não pensou em uma desculpa convincente tão depressa quanto a sua parte emocional que sentiu pena de recusar e, portanto, agiu mais rápido. Sua resposta arrancou um sorriso dos lábios de Vernon, desta vez havia sinais de uma felicidade genuína.

— Te vejo depois. Até mais! — Vernon disse em despedida, em seguida deslocou-se para fora do banheiro com sua mochila nas costas.

Depois de alguns minutos sozinho, o menino guardou o frasco e o pedacinho de papel na mochila, em seguida pegou as suas coisas e seguiu para a enfermaria. Ele estava disposto a conseguir o atestado para não ter de sofrer as consequências depois.

✮✮✮

Jungkook estava há quinze minutos na sala de Jared, sentado em uma cadeira operacional fixa em frente à mesa. O inspetor solicitou a presença dele em sua sala para que pudessem discutir um assunto particular, entretanto não mencionou do que se tratava.

O monitor do computador estava desligado, não havia papéis sobre a mesa e nem nada que pudesse dar a Jungkook uma pista do que Jared pretendia conversar com ele. O cômodo parecia coordenado, sem uma pasta de arquivo fora do lugar. Diante dessa observação, o detetive concluiu que Jared era um homem organizado e muito cuidadoso com as suas coisas.

Os ponteiros do pequeno relógio na mesa indicavam 8:20 da manhã, o que sugeria que em poucos minutos ele teria de estar em sua sala para discutir o aparecimento de novas evidências do caso do serial killer. Ric ligou para Jungkook na madrugada para dizer que tinha encontrado uma pista, mas não contou-lhe o que era. Até então o detetive tem estado inquieto para vê-lo.

— Bom dia, Diretor. — Jared o cumprimentou quando entrou na sala e sentou em sua cadeira de rotação que ficava de frente para Jungkook. — Desculpe o atraso, eu fui buscar um pouco de chá.

Havia uma caneca branca nas mãos do inspetor que estava soltando fumaça pelas bordas. Ele tomou um gole antes de se dirigir ao detetive, que havia retribuído sua saudação com apenas um gesto de cabeça.

— Eu te chamei aqui porque a nova supervisora quer te ver. — Jared o comunicou sem rodeios, dando a Jungkook tempo para processar a informação. — Ela me ligou hoje cedo para informar que gostaria de conversar com você em particular. Creio que ela já esteja a caminho.

— Bem, ela poderia ter ligado diretamente para mim. — Jungkook pontuou. — Não vejo problema dessa conversa acontecer na minha sala ao invés da sua.

— Ela ainda não te conhece pessoalmente, detetive, talvez esteja querendo manter um compromisso formal. — Jungkook não disse nada desta vez. — Mas não se preocupe, depois de vocês se conhecerem ela vai começar a se dirigir a você.

Jungkook ficou em silêncio achando tudo aquilo cansativo. A nova supervisora e ele estavam a uma ligação de distância, não era tão difícil falar diretamente com ele sobre o conteúdo da conversa. No entanto, Jungkook descartou esse pensamento e focou em esperá-la.

— Eu deveria ter trazido um copo de chá para você — Jared falou com simpatia. — Vejo que não está nada bem. Quer conversar sobre algo?

— Eu não pareço bem? — o inspetor balançou a cabeça para os lados sutilmente. — É, talvez seja porque eu não tive uma noite de sono muito boa. Isso vem acontecendo com frequência.

— Já parou para pensar sobre o que pode estar provocando a insônia?

— Na verdade, eu sei exatamente o que está me tirando o sono.

— Então leve isso para a terapia. Temos uma psicóloga disponível para tratar todos esses problemas. — ele sugeriu com uma sobrancelha retorcida em confusão, como se aquilo fosse óbvio demais para ter de o aconselhar. — Não pode levar os seus problemas para campo, detetive, isso pode tirar a sua concentração do caso.

— Não se preocupe, eu estou ciente disso. — ele falou. — Hoje mesmo eu marcarei uma sessão com a Srta. Morgan.

— Muito bem.

Jungkook não cogitou dizer outra coisa, afinal ele sabia que estava precisando mesmo de uma consulta com a psicóloga do departamento. A Srta. Morgan entrou para a equipe de assistência há pouco mais de seis meses e já estava arrancando elogios da tripulação. Muitos comentavam, inclusive, sobre a sua beleza abundante.

— Se lembra da investigação privada que abri contra o meu pai? — Jared perguntou de repente, não havia calor na sua voz. Jungkook olhou para ele com uma certa curiosidade e acenou. — A perícia encerrou as buscas ontem.

— Encontraram algo?

— Fitas. — a voz de Jared assumiu um tom mais frio. — Ele tinha uma casa em Seattle onde ninguém além de ele mesmo podia entrar. Ele dizia que Seattle era o seu "cantinho de privacidade", que o fazia relaxar e ser ele mesmo. Minha mãe desconfiava que ele estava com outra mulher, mas na verdade a sua companhia eram as fitas.

Jungkook não pôde esconder o interesse depois de ouvi-lo mencionar a palavra fitas.

— O que havia nessas fitas? — a resposta parecia óbvia, mas ele quis ter certeza.

— Meu pai violentou doze pessoas e cada fita pertencia a uma delas. — após a sua assertiva, várias perguntas surgiram na cabeça de Jungkook. — Os filmes estavam marcados com os nomes de cada vítima. A perícia disse que ele separou as fitas em tópicos: insatisfatórias, boas e favoritas. O filme do Steve estava marcado como "favorito".

— Você chegou a assistir as fitas?

Jared balançou a cabeça para os lados.

— Eu não tive estômago para sequer tocar nas fitas. Permiti que a perícia cuidasse de todo o caso, inclusive de verificar as provas por conta própria. — após uma contagem de silêncio, Jared prosseguiu: — Eles me disseram que os estupros ocorreram no vestiário masculino. O meu pai escondeu uma micro câmera no banheiro dos garotos para, além de espiá-los, gravar os abusos.

— Espere um pouco, Robert violentou doze pessoas e apenas o Steve delatou as agressões? Onde estão as outras vítimas?

— É o que estou me perguntando até agora. Não sei se elas foram ameaçadas ou não quiseram contar, tudo o que sei é que a maioria delas está na nossa equipe até hoje. — Jungkook ainda estava confuso com toda aquela história. — Bem, pelo menos é o que diz a lista com todos os nomes que recebi hoje. E se quer uma dica, o agente Andrew está nela.

— Andrew!?

— Sim. — confirmou. — Infelizmente não podemos interrogá-lo, mas os outros terão de passar por um interrogatório para que possamos prestar assistência.

— Acha que eles já não procuraram assistência por conta própria?

— Talvez sim, mas me sinto em dívida com todos eles. — confessou. — Não posso desfazer o que aconteceu, por isso quero conversar em particular com cada um, assim posso me desculpar pelo erro do meu pai.

Apesar do assunto ser polêmico e envolver um membro da família, os olhos azuis de Jared estavam calmos e imperturbáveis, como se ele já tivesse aceitado esse fato. Óbvio que, em termos de afinidade, seus sentimentos por Robert foram estragados, mas ele parecia estar mais conformado com o lado perverso do seu pai.

Uma batida que veio da porta os interrompeu, fazendo Jungkook e Jared olharem simultaneamente na direção do som. Eles ficaram em silêncio por cerca de um segundo até o inspetor levantar-se com sua xícara de chá nas mãos. O detetive continuou sentado, olhando fixo para a cadeira em que Jared estava.

— Bom dia, Inspetor. — uma voz feminina cumprimentou Jared quando a porta foi aberta.

— Bom dia, Sra. Thompson. — mesmo sem olhar para trás, Jungkook supôs que eles deram um aperto de mãos. — Entre e fique à vontade.

Ao ouvir o som dos saltos dela se aproximando, Jungkook finalmente deslocou seu peso para fora da cadeira e virou-se. A mulher estava parada em sua frente com a coluna aprumada, ombros magros, olhos claros e cabelos loiros. Ela o encarava de forma acentuada, sem qualquer sinal de um sorriso.

Diante disso, Jungkook foi o primeiro a cumprimentá-la.

— Bom dia, Sra...

— Scarlett Thompson. — ela terminou por ele, esticando a mão em um cumprimento duro, sem muita cortesia. — Inspetor Jared, poderia emprestar a sua sala para que eu possa conversar a sós com o diretor?

Ainda que a pergunta tenha sido para Jared, ela não tirou os olhos de Jungkook. O inspetor às suas costas trocou um rápido olhar com o detetive, em seguida disse:

— Claro. Com licença.

Quando a porta foi fechada, Scarlett sorriu para o detetive, mas seu gesto não pareceu muito amigável. Um pequeno rio de confusão inundou Jungkook, especialmente quando a mulher, em silêncio, deslizou para a cadeira de Jared, deixando-o imóvel no mesmo lugar. Ela cruzou as pernas e o aguardou virar de frente para ela com um lado da sobrancelha erguida.

— Sente-se, por favor. — ela pediu com educação, mas o seu olhar continuava rígido.

Jungkook retornou para o seu assento ainda sem dizer nada, esperando se convencer de que Scarlett não era tão arrogante como demonstrou ser.

— Como já deve saber, fui encarregada de avaliar o seu cargo como diretor-assistente do FBI. — a mulher começou a falar depois de um instante em silêncio. — Eu confesso que estou admirada por te conhecer e também por saber que o FBI deu a um garoto a tarefa de liderar uma equipe.

Jungkook franziu a testa após a menção da palavra "garoto" e olhou estranhamente para ela.

— Perdão, Sra. Thompson?

— Não me leve a mal, detetive, só estou comentando alguns pontos antes de entrar no assunto que de fato nos interessa.

— E do que se trata esse assunto? — ele perguntou um pouco mais firme agora.

— Creio que o senhor já saiba. — a expressão que Jungkook fez disse a Scarlett que ele não sabia do que ela estava falando. — Deixe-me te lembrar que no caso anterior o senhor não se comportou da maneira correta e isso trouxe muitos prejuízos para o departamento. Se não fosse devido às suas típicas desobediências eu não estaria aqui neste momento.

Entendendo aonde ela queria chegar, Jungkook suspirou e esfregou os cantos dos olhos.

— Me desculpe, Scarlett...

— Sra. Thompson, por favor. — ela o corrigiu.

— Sra. Thompson — ele reformulou com a voz endurecida. — Eu fui impedido de atuar por dois meses antes de ser absolvido de meus erros. Não existe nada pior para um agente do que ser isentado de atuar em campo. Honestamente, não entendo porque este assunto está sendo trazido à tona a essa altura do campeonato.

— É exatamente por isso que este assunto está sendo "trazido à tona". — ela assegurou. — Você se tornou o diretor-assistente do FBI, detetive Jungkook, mas as suas atitudes no caso anterior ainda me preocupam. Não posso simplesmente ignorar que você agiu por conta própria várias vezes e que pode fazer isso novamente agora que está em um cargo superior.

— Não, eu não faria.

— Tem certeza? — Scarlett cruzou os braços sobre a mesa. — O senhor realmente deixou de ser aquele detetive impulsivo que não cumpre com as leis do protocolo em apenas dois meses? Acho que não.

— O que quer que eu diga, Sra. Thompson? — ele perguntou de repente. — Estou em processo de mudança, então precisa confiar no meu trabalho se quiser uma prova de que estou sendo sincero.

— Aí está o problema, detetive, o senhor não é leal a nenhum líder além de você mesmo. — a mulher disparou, fazendo as coisas começarem a esquentar entre eles. — Como posso negar ao senhor uma tarefa se eu sei que terá dificuldades para cumpri-la?

— Como pode ter tanta certeza disso?

— Veja o que você fez com o ex diretor-assistente Seokjin sempre que ele se negava a compactuar com as suas ideias absurdas. — Jungkook realmente estava começando a se sentir ofendido. — Como o senhor se sentiria se soubesse que algum membro da sua equipe agiu por conta própria? Como se sentiria sabendo que a sua palavra não vale de nada?

— Eu-

Ela o interrompeu com um gesticular de dedos e então prosseguiu:

— Não diga nada, eu sei exatamente o que você pensa. — Jungkook apertou os dentes. — Certamente você diria que eles sabem o que estão fazendo e que a sua equipe é muito responsável para agir por equívoco. Estou certa, diretor?

— Não coloque palavras na minha boca. — ele alertou-a. — Se a senhora está aqui para insultar a minha trajetória no FBI, vou pedir para que se retire, ou então eu mesmo me levanto desta cadeira e a deixo falando sozinha.

A mulher se calou brevemente, curiosa, mas não surpresa. Depois de conhecer a reputação de Jungkook, ela já esperava por aquela reação.

— Perdão. — ela se desculpou depois de rever as suas próprias palavras. — Eu não quis parecer tão grossa. O que estou tentando dizer ao senhor é que as suas atitudes no caso passado ainda geram receios por parte dos superiores. Então, como sua nova supervisora, quero garantir que isso não voltará a se repetir.

— E eu já dei a minha palavra de que isso não vai acontecer de novo. — o tom firme voltou à voz de Jungkook. — O caso da máfia ficou no passado, não vejo motivos para limitar o meu profissionalismo àquele caso. Se eu me tornei o novo diretor-assistente é porque eles enxergaram um grande potencial em mim.

— Infelizmente, Sr. Jeon, o passado reflete no nosso presente, então seria hipocrisia da minha parte não me preocupar com a sua atuação depois do que aconteceu no caso anterior. — Jungkook estava começando a se sentir entediado desse assunto. — Não estou aqui para apontar os seus erros, mas para prevenir que venha a cometer novas ações infracionais.

Jungkook tinha completa certeza de que a mulher não estava ali somente para precaver o desrespeito às regras, mas para fazê-lo desistir do cargo em que está. Aparentemente, Scarlett não enxergava nele o perfil ideal para o cargo de diretor, pois a perspectiva que ela tinha dele estava restrita à imagem de um jovem impulsivo e desobediente.

— Eu não quero que volte a cometer os mesmos atos infracionais que foram cometidos naquela época. O senhor está em uma posição maior, muitos poderes foram colocados nas suas mãos, então saiba usá-los no limite da lei. — a supervisora reforçou, mesmo que Jungkook não tenha aberto a boca. — Caso contrário, serei obrigada a requisitar o seu afastamento. Fui clara?

Um músculo na mandíbula de Jungkook saltou um pouco, mas ele foi forçado a engolir sua raiva e dizer:

— Sim, perfeitamente.

Scarlett não parecia ter acreditado nele, mas também não queria prosseguir com aquele assunto. Neste momento, sua intenção era deixá-lo refletir acerca de suas palavras. Ela sabia que havia plantado uma semente na cabeça de Jungkook, então era esperado que ele andasse na linha a partir de agora.

— Bom, agora que o recado já foi dado, preciso voltar para o meu escritório em New York. — a mulher informou, levantando-se, parecendo mais entediada do que quando chegou. — Vou estar aqui semana que vem, mas vou continuar acompanhando o seu trabalho mesmo à distância. Não quero nada fora dos eixos, ainda mais depois de tudo o que conversamos aqui.

Silêncio.

— Conte para a sua equipe sobre a nossa rápida conversa, eles precisam saber o que podem ou não fazer. — ela falou por fim, em seguida deu a volta na mesa, fazendo Jungkook finalmente levantar-se de sua cadeira. — Foi um grande prazer conhecê-lo, detetive Jungkook, espero me dar muito bem com você nos próximos dias. Ah, e me perdoe pelas palavras tão duras, eu não costumo poupar a saliva em situações como esta.

— Deveria praticar. — os olhos da mulher se tornaram duas fendas após ouvir o que ele disse. — Quer que eu a acompanhe até a porta?

— Não. — ela forçou um sorriso. — Obrigada.

Jungkook decidiu não falar mais nada. Scarlett deu a ele um olhar de avaliação que não pareceu positivo sob a visão do detetive. Depois de um momento de silêncio, a mulher deslocou-se para fora da sala sem sequer se despedir.

Ele espremeu os lábios para disfarçar uma risada, pois sabia que a supervisora tinha ficado uma fera com o seu comentário. Às vezes Jungkook controlava o seu humor flácido, mas nem sempre isso era possível.

Depois de ver a Sra. Thompson virando o corredor à esquerda, Jungkook deixou a sala de Jared e seguiu até o Centro de Operações, onde a sua equipe estava para processar as novas informações que chegaram. A madrugada de Jungkook foi destinada aos esboços no quadro de investigação e também às lembranças da noite passada.

Jungkook não tinha como saber se havia mesmo alguém escondido nas sombras fotografando-os, mas aquele som não saía de sua cabeça. No momento, tudo o que ele conseguia imaginar era que alguém o estava perseguindo e que essa pessoa estava dando todos os sinais.

Ao chegar no Centro de Operações, Jungkook observou três figuras viradas de frente para um painel digital, parecendo checar um vídeo de segurança. Layla estava discutindo alguns pontos com Yoongi enquanto Ric, de braços cruzados, olhava atentamente para a imagem refletida na tela.

— Bom dia, pessoal! — Jungkook os cumprimentou, atraindo os três pares de olhos na sua direção. — Estou vendo que vocês encontraram algo.

— Imagens de segurança. — Yoongi adicionou. — Uma casa vizinha da Adelyn tem câmeras de segurança na parte externa. Conseguimos algumas cenas, mas como estava muito chuvoso no dia a imagem não ficou legal.

— O que há nas imagens? — ele perguntou.

Ric moveu-se até o painel para repetir o vídeo, mas Yoongi atravessou em sua frente e apertou o botão antes dele, fazendo-o recuar duas pegadas. Jungkook prestou atenção nos dois antes de focar na gravação. A qualidade estava péssima, mas ainda dava para enxergar uma silhueta masculina entrando na casa de Adelyn.

— De acordo com a gravação, isso aconteceu às 03:14, uma hora antes da Adelyn ser morta. — Layla pontuou enquanto o vídeo reproduzia. — Como podem ver, a Adelyn foi quem o atendeu e ela não parecia assustada por vê-lo em sua casa. Isso me faz pensar que eles já se conheciam.

— A irmã da Adelyn, Emily, disse que ela não estava saindo com ninguém. — Yoongi explicou. — Ela estava em casa com o marido quando descobriu que a irmã foi assassinada. Posso estar errado, mas ainda acho que a Adelyn estava saindo com um garoto muito mais jovem do que ela, e por ser tão jovem, ela encobriu o relacionamento para não ser julgada.

— Mulheres mais velhas são sempre julgadas quando se envolvem com homens muito mais jovens do que elas. Maldito patriarcado. — Layla acrescentou um comentário.

— A polícia encontrou o corpo da Adelyn boiando no poço às 06:37, ou seja, duas horas depois do crime. — Jungkook observou. — Se esse cara não saiu da casa dela antes desse período, então ele é o assassino.

— Verificamos tudo, senhor, e em momento algum ele sai da casa. — Ric sinalizou. — Acreditamos que ele cometeu o crime e fugiu com o corpo da Adelyn pela porta dos fundos. Em um dia chuvoso ninguém vai estar na rua às 04:00 da manhã, por isso não há testemunhas.

— O veículo dele está estacionado um pouco distante da casa, mas ainda é possível enxergá-lo pela gravação. — Yoongi apontou para um automóvel preto a alguns metros de distância sob uma árvore. — Tentei rastrear a placa, mas os números foram alterados e pintados, isso confundiu o meu sistema, que não foi capaz de localizá-lo.

— Consegue fazer a identificação facial? — Jungkook perguntou.

Yoongi apertou os cantos da boca, balançou a cabeça para os lados e disse:

— Se ele não estivesse de capuz o tempo inteiro e a qualidade do vídeo estivesse boa, poderíamos tentar ver se corresponde a alguém na base de dados, mas não é possível ver o rosto.

— Recolha todas as características desse sujeito. — Jungkook ordenou por fim. — Quero detalhes das vestimentas, estatura, biotipo, modo de andar... Repasse tudo o que tiver na imagem para o pessoal do setor de arte forense.

— Outra coisa, um carro parecido com esse foi visto por uma câmera de segurança de uma lanchonete às 04:21 abastecendo em um posto de gasolina, próximo do poço onde o corpo da Adelyn foi encontrado. — Layla frisou, considerando importante mencionar esse ponto.

Jungkook calculou toda a situação antes de dizer:

— Ok, eu e Ric vamos até o posto de gasolina conversar com os funcionários. Layla e Yoongi cuidam de identificar quem é o sujeito no vídeo de segurança. Recolham o máximo de informações possíveis. Tentem descobrir quais dias na semana ele esteve na casa da Adelyn e façam uma nova busca nas imagens de segurança.

— Pode deixar. — Yoongi assegurou.

Ao contrário de Yoongi, Layla não disse nada em acréscimo. Em vez disso, ela pegou uma pasta sobre a impressora e entregou nas mãos de Jungkook, que olhou para o documento com uma linha de confusão entre as sobrancelhas. Diante de seu embaraço, Layla falou:

— Esta é a lista de clientes nos últimos oito meses que você me pediu. E estávamos certos: a maioria das vítimas está na lista. — Jungkook ficou totalmente intrigado com aquela informação. — O assassino conhecia o trabalho da Adelyn e se aproximou dela para alcançar outras mulheres. A irmã está segura de que Adelyn não tinha um namorado, mas talvez ele tenha se infiltrado na instituição sem ninguém perceber.

— Temos de descobrir se realmente é um infiltrado ou uma infiltrada que se diz gestante. — Layla pareceu pensativa. — Não podemos descartar a hipótese do Ric. Se for uma mulher, faz sentido que ninguém nunca tenha desconfiado dela, inclusive a Adelyn.

— Eu avisei... — Ric murmurou.

— Você fez um bom trabalho, Layla. — Jungkook elogiou-a, sorrindo para ela. — Vou analisar a lista depois.

— Na próxima vou querer uma recompensa. — ela disse em divertimento. — De preferência que esteja na categoria de doces.

Jungkook levantou uma sobrancelha sugestivamente e então sorriu. Layla não era o tipo de mulher que fazia as coisas por uma recompensa, mas naquele momento Jungkook entendeu o que "doces" queria dizer: homens.

— Detetive Layla — Jared a chamou quando entrou na sala de operações. A mulher encontrou os seus olhos azuis à distância e ficou séria. — Pode me acompanhar até a minha sala?

Layla olhou para cada um de seus parceiros e por fim encarou Jared, que sorriu para ela de forma conhecedora. A mulher se encolheu mentalmente, sabendo que a reação dele poderia gerar uma interpretação diferente por parte dos outros.

Depois de informar que não demoraria, Layla andou até o inspetor enquanto os outros silenciosamente a observavam. Quando a mulher se aproximou, Jared disse algo a ela, mas Jungkook não conseguiu entender as palavras mudas que seus lábios moldaram. Instantes depois, eles caminharam juntos em direção a sala de Jared.

Ric, ainda olhando no sentido em que eles foram, fez o seu melhor para não demonstrar que tinha ficado desconfortável com a presença do inspetor, mas Jungkook pescou o seu desconforto antes que ele mudasse a direção de seus olhos para longe.

— Eu vou esperar por Layla, vocês já podem ir. — Yoongi disse depois de pigarrear superficialmente.

— Vamos, Ric. — Jungkook finalmente o chamou.

O rapaz acenou de forma atrapalhada, sentindo-se um pouco estúpido pelo seu próprio embaraço, em seguida acompanhou Jungkook até o elevador. No meio do caminho, o celular de Jungkook vibrou com a chegada de uma mensagem. Ele imediatamente pegou o aparelho do bolso enquanto Ric olhava para ele pelo canto de olho.

— Está tudo bem, senhor? — Ric perguntou ao consultar a expressão confusa no rosto de Jungkook.

— É o Jimin. Ele disse para eu ir buscá-lo na U Street NW, próximo da Warby Parker. — ele explicou de forma estranha.

— E o senhor irá?

Jungkook parou para pensar por um segundo e lembrou-se dos avisos da Sra. Thompson. Ele estava indo agora mesmo atrás da possível pista sobre o serial killer, qualquer mudança de planos poderia dar ao criminoso tempo suficiente para se livrar das provas, caso houvesse alguma.

— Não, vou pedir para o Seokjin ir buscá-lo. — ele disse por fim, guardando o celular no bolso esquerdo do casaco. — Depois eu ligo para ele e explico. Vamos.

Em segundos, eles mergulharam dentro do elevador e acionaram o botão de descida. Ali, portanto, Jungkook pôde pensar com calma na localização que Jimin deu através da mensagem de texto e se questionar o porquê de ele estar em um lugar tão longe do colégio.

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Oi meus amores, como vocês estão? Eu queria começar dizendo que >nada< pode passar despercebido neste capítulo, então fiquem atentos rsrs

Espero que tenham gostado do capítulo, não vou falar muito hoje porque minha internet está horrível. Aguardo as teorias de vocês, beijinhos <3

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